sexta-feira, 2 de novembro de 2012

SUFISMO - A UNIÃO COM A EXISTÊNCIA


O que é o sufismo?

Habitualmente, quando queremos saber algo acerca de um tema novo, consultamos os livros. Mas o sufismo aborda um domínio onde a compreensão não se adquire através das palavras e das explicações, é uma consequência da experiência individual. 

O mundo da verdade é de uma natureza diferente e precisamos de outras ferramentas para o compreender. Podemos explicar isto imaginando a dificuldade que temos em criar uma imagem exata das ondas, campos magnéticos, eletromagnéticos e dos campos de energia. Como é que os podemos ver? Como é que os podemos experimentar? Na verdade, trata-se de realidades sem dimensões, que não dão para compreender com as percepções sensoriais e para as quais não temos “traduções mentais”. 

O sufismo diz respeito precisamente às realidades sutis que escapam às dimensões e que as percepções sensoriais e os pensamentos não permitem compreender, tornando necessário a experiência individual. Deste modo, o primeiro passo para conhecer o sufismo é libertar-se dos pensamentos, dos preconceitos e das análises pessoais, pois um vaso cheio não pode receber mais e nós queremos avançar para uma coisa da qual não sabemos nada. 

As bases do sufismo repousam sob os ensinamentos de profetas, como Abraão, Moisés, Jesus e Maomé. Estes profetas conseguiram ligar-se à Energia criadora e penetrar o segredo da Existência. Mas, o que os distingue de nós? Os profetas eram livres de quaisquer limites dimensionais e puderam, deste modo, descobrir o reino da alma deles. Para isso, basta uma disciplina e uma educação especiais. 

É isso que podemos aprender na Escola da Via Oveyssi Shahmaghsoudi MTO ou, para o dizer de outro modo, o que o sufismo, ou ‘Erfân nos ensina. Chamamos khaneghah ao sítio onde se reúnem os alunos para participarem num curso de sufismo. Khaneghah significa literalmente a casa do tempo ou lugar de presença. Entendemos com isto, uma presença consciente com o coração, o pensamento e os sentidos em cada momento. O sufismo ensina-nos a olhar para o nosso interior, algo que seria simples, se não estivéssemos habituados no nosso dia-a-dia a olhar sempre para fora de nós (prestar atenção à nossa família, aos nossos amigos, às pessoas que nos são próximas e todos aqueles com quem nos cruzamos todos os dias). A nossa ligação conosco próprios é fraca e não temos consciência dos nossos atos. Nós não olhamos para nós próprios. 

Os grandes mestres sufistas, para ilustrar, como exemplo, como a realidade vital deveria ser descoberta por cada indivíduo, no seio dele próprio, dizem que basta um copo de água para descobrir as águas dos vastos oceanos, porque também o copo de água vem do oceano. Nós somos como este copo de água, uma gota criada no oceano da Existência e somos da mesma natureza que esta verdadeira fonte. Somos uma manifestação da fonte da Vida e é esta que pulsa dentro de nós. Para se conhecer esta fonte, a Existência ou Deus, o indivíduo tem de se virar para o seu próprio interior, pois nada é mais próximo dele do que o seu próprio ser íntimo: o Eu. Por isso é que os profetas convidavam o homem a ir à procura dele mesmo. O retorno de quem procura é dirigido ao seu interior. Para nós, tal retorno é difícil, porque estamos habituados, desde pequenos, a olhar para um ponto afastado no céu, quando este está connosco e cogula em nós. 

Não dizem que Ele é infinito e onipresente? Isso não significa que Ele também está em Mim? É por isso que esta voz é o itinerário para uma viagem de mim para Mim. Os ensinamentos sufistas dirigem a nossa atenção para pontos que fazem parte da nossa natureza profunda, sem que tenhamos consciência disso. Fazem-nos ver como os nossos julgamentos, a nossa compreensão e a nossa percepção das coisas são influenciadas por quadros culturais, tradições, modos de pensar, a educação e as percepções sensoriais. 

Tudo isto cria em nós questões e Eu sou o centro dessas questões: Como posso meter tudo de lado, para poder ser quem sou? Como posso ver as coisas como elas são e não como as imagino? Como posso ser este Eu livre separado de todos estes hábitos, pensamentos e influências exteriores? Como posso conhecer o verdadeiro Eu? Quem sou eu e qual é o desígnio da Existência para mim? 

Todas as pessoas têm de encontrar o seu caminho para a fonte da ciência que se encontra no interior de cada um. Podemos dar o exemplo da criança que aprende a andar e que possui o conhecimento desta ação. O papel dos adultos limita-se a ativar este conhecimento na criança. Dito de outra forma, não explicamos à criança como é que se anda, ajudamo-la. 

A verdadeira ciência existe no interior de nós e não tem qualquer relação com a ciência que se adquire. A escola do sufismo islâmico MTO ensina-nos a ter uma vida sã e equilibrada, pois o equilíbrio, o que se baseia na verdade e na ciência, é a condição para alcançar a ciência absoluta. Aquele que sai do equilíbrio fica sujeito às influências exteriores e materiais e não pode, portanto, aceder à verdadeira ciência.

O sufismo ensina-nos a tomar consciência do nosso comportamento e das nossas reações, para que as possamos corrigir. Tal como o escultor, que elimina progressivamente o material supérfluo da sua obra, para dar origem à forma que tinha em mente, devemos fazer o mesmo para fazer aparecer a nossa verdadeira identidade. A perseverança, a disciplina, o amor e a submissão são as condições necessárias para realizar este objectivo. É através da submissão que o homem poderá ficar em harmonia com a Existência e poderá ser guiado pela sua fonte interior. 

É necessário sublinhar que a aprendizagem e o conhecimento não passam do início. O importante é praticar. Sem esta prática, o que aprendemos na escola do sufismo não passa de uma bela teoria. 

O objetivo do sufismo é fazer a união com a Existência. A chave deste trabalho é o amor. É apenas graças ao amor que podemos ultrapassar as dificuldades do caminho e nos manter constantemente purificados e conscientes. A purificação é o esforço para não misturar os nossos pensamentos pessoais acerca da compreensão das coisas tal como elas são, de modo a que a aprendizagem seja possível. Isto necessita de uma atenção permanente que só é possível graças ao amor: só quando agirmos por amor e livres de todas as pressões é que as nossas ações poderão ser duráveis e não conhecer o cansaço. 

O atual mestre da Escola do sufismo islâmico, Hazrat Salaheddin Ali Nader Shah Angha, disse numa entrevista para a revista alemã MUT: “O sufismo é a verdade e a essência da religião, ultrapassando os costumes e tradições. O sufismo é a via e o método em que a ferramenta é a própria existência do indivíduo, para que possa descobrir as suas aptidões escondidas e que, de seguida, possa descobrir a infinita Existência. 

Nos ensinamentos do sufismo, o homem é uma imagem perfeita da criação. As ciências universais do infimamente pequeno ao infimamente grande fluem nele, tudo, desde o universo físico ao universo metafísico e os buracos negros no espaço, passando pelo universo magnético, está tudo nele. As próprias galáxias não passam de uma imagem da nossa existência e do nosso ser. Tudo o que existe no universo também existe em nós.” “A única herança da humanidade é a ciência e a verdadeira procura é a única maneira de a alcançar.”



Hazrat Nader Angha, Mestre Oveyssi



Fonte: http://mto.org/school/index.php?id=8&L=12
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/museu-mevlana-mevlana-dervixe-6527798/

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