quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

ABRA ESPAÇO PARA A LUZ


O grande kabalista Baal Shem Tov geralmente viajava pelas cidades da Europa, ensinando e ajudando as pessoas, e numa dessas ocasiões teve que escolher entre ficar na casa de um kabalista erudito ou na casa de um ladrão.

Você pode se surpreender, mas ele escolheu ficar na casa do ladrão! Embora o kabalista fosse um estudioso, ele também tinha um enorme ego. Baal Shem Tov dizia: "Onde quer que haja ego, não há espaço para Deus". O ladrão, no entanto, mesmo com toda a sua negatividade, não se sentia melhor do que ninguém. Praticava ações negativas, mas não possuía ego. Ele tinha espaço para aprender a mudar. Enquanto o kabalista, como qualquer pessoa que pensa ter todas as respostas, não enxergava a necessidade de mudar.

Essa é uma das minhas histórias favoritas, porque ilustra um ensinamento essencial para nós que estamos no caminho espiritual: entender que não sabemos tudo é pré-requisito para alcançar a sabedoria.

Isso não se aplica apenas ao nosso estudo de Kabbalah. Aplica-se a absolutamente todos os aspectos da nossa vida. Se entrarmos em qualquer situação, achando que temos todas as respostas, ou até mesmo acreditando que possuímos grande sabedoria espiritual, não aprenderemos as lições que a Luz tem a intenção de nos ensinar. Isso se aplica a tudo, desde uma reunião de negócios até um simples almoço com um amigo. Para ser um recipiente, um receptor de Luz, precisamos ser humildes. Precisamos nos esvaziar do ego e do nosso conhecimento. Precisamos nos dar conta de que cada pessoa em nossa vida é um mensageiro de Luz, se estivermos abertos para escutar.

Esse entendimento também pode nos dar uma perspectiva renovada quando chega a hora de encarar nossos desafios. Muitas vezes, quando não temos as respostas ou quando não encontramos as soluções para os nossos problemas, nos sentimos frustrados. Mas são nesses exatos momentos que estamos mais abertos para receber a Luz, se fizermos nosso trabalho espiritual. 

Quanto mais estivermos ocupados com nossos pensamentos egoístas, menos haverá espaço para a Luz.

Esvazie-se de suas ideias e a Luz vai encontrar a porta para entrar.




Rav Yehuda Berg




Fonte: Centro de Cabala
www.kabbalah.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

BRANCA DE NEVE


A fase dos complexos edípicos é uma das mais importantes no desenvolvimento humano. Assim sendo, não poderiam deixar de serem retratados nos contos de fadas, aparecendo em grande número deles. 

O complexo de Édipo pode ser definido como: Uma constelação emocional especifica dentro da família – de um tipo que pode causar impedimentos sérios para o crescimento e amadurecimento bem integrado da pessoa, enquanto, por outro lado, é fonte potencial do mais rico desenvolvimento da personalidade (BETTELHEIM, 2000, p. 234). 

Aqui, assim como em Chapeuzinho Vermelho, a morte não significa o fim da vida, pois Branca de Neve é como que ressuscitada. Nesse caso, a “morte” de Branca de Neve representa o desejo da madrasta de tirá-la de cena, em virtude dos conflitos edípicos. Assim também acontece com a criança, ela deseja que o pai do mesmo sexo (com o qual compete) seja retirado de cena, que deixe seu caminho livre, para que não precise competir com ele, e não que ele morra realmente. 

Ao tratar das questões edípicas, os contos de fadas passam a mensagem de que tudo isso pode ser superado, levando-nos a uma vida emocional mais madura, a um fortalecimento da personalidade.

Portanto todas as versões de Branca de Neve (que são várias) tratam especificamente dos conflitos edípicos. Algumas versões mais antigas do conto traziam essa questão de forma ainda mais explícita, as versões modernas deixam mais em nível pré consciente e inconsciente. Podemos observar esse fato ao analisar que a mulher com quem Branca de Neve “compete” é a sua madrasta e a pessoa de quem ela teme dividir com Branca de Neve não é citada, assim, os problemas edípicos ficam por conta da imaginação do ouvinte. 

As dificuldades edípicas, sejam declaradas ou sugeridas, e a forma como o indivíduo soluciona-as são básicas para o desenrolar da sua personalidade e relações humanas (BETTELHEIM, 2000, p.240). 

Os contos de fadas, ao tratarem de forma sutil sobre o assunto, permite-nos refletir e concluir sobre ele, ainda que de forma inconsciente.

Na história de Branca de Neve, temos claro o narcisismo da madrasta. Na realidade, realmente os pais narcisistas são os que se sentem ameaçados quando os filhos começam a crescer, pois isso significa envelhecimento. A história adverte também para as consequências desagradáveis do narcisismo. 

No curso normal dos acontecimentos, as relações dos pais entre si não são ameaçadas pelo amor que um deles, ou ambos, dediquem a criança. A menos que as relações conjugais sejam ruins, ou um dos pais seja muito narcisista, os ciúmes pela criança a quem um dos pais favorece é pequeno e bem controlado pelo outro pai (BETTELHEIM, 2000, p.243). 

A criança na fase edípica sente ciúmes de seus pais, da relação que mantém e até mesmo de seus privilégios como adultos. No entanto, esse sentimento é muito ameaçador para ela, sentindo dificuldade em lidar com isso. Sendo assim, é muito mais fácil e tranquilo projetar esses sentimentos em, por exemplo um personagem, como a madrasta. Também é comum que o sentimento existente seja projetado no adulto, ou seja, a criança acredita que a mãe ( no caso da menina) sente muito ciúme dela e tenta boicotar sua presença junto ao pai. 

Esse comportamento se repete também na adolescência, onde é comum que o adolescente tente “competir” com seus pais. Os pais, por sua vez (se forem narcisistas ou não terem vivido suficientemente de forma plena a sua adolescência) também competem com os filhos, querendo parecer tão jovens ou atraentes quanto eles. É exatamente essa problemática que ocorre em “A Branca de Neve”. Também devemos considerar que durante esses conflitos, a criança quer se livrar do pai do mesmo sexo, mas isso também lhe causa culpa. A solução é projetar também esse desejo nos pais. Por isso é comum nos contos os pais quererem se livrar dos filhos. 

Assim, como em outros contos, a figura paterna é representada inconscientemente por uma outra figura masculina. Muitas vezes por um caçador. Isso porque antigamente (especialmente na época em que os contos eram muito difundidos) a caça era uma atividade da aristocracia, portanto, um caçador seria uma figura importante, pois só assim poderia ser comparado a figura paterna. Além disso, no inconsciente, o caçador é tido como símbolo de proteção. Num nível mais profundo, representa aquele que subjuga as tendências animais, associais e violentas no homem (BETTELHEIM, 2000, p. 245). 

Uma mensagem implícita desse conto é a de que não se resolve os problemas psicológicos com os pais através da fuga, mas sim através do amadurecimento psicológico. Amadurecimento que só acontece com o tempo (representado pelo sono de Branca de Neve), que nos fará controlar os impulsos diversos e sentimentos negativos. Por isso, a bruxa é forcada a dançar com sapatos de ferro em brasa até morrer, representando aí todos os sentimentos indesejáveis que temos. Só a morte da rainha ciumenta (a eliminação de toda a turbulência interna e externa) pode contribuir para um mundo feliz (BETTELHEIM, 2000, p.254) 

O despertar de Branca de Neve representa um novo viver, em um novo estágio psicológico mais avançado, mais maduro, que na verdade é um objetivo comum a todos os seres humanos. 



(Anônimo)



Fonte: http://pt.scribd.com/doc/6810908/Anonimo-InterpretaCAo-de-Alguns-Contos-Infantis-Muito-Bom
Fonte da Gravura: http://www.ligadanasdicas.com/wp-content/uploads/2012/12/fantasia-branca-de-neve..jpg