sábado, 16 de março de 2013

O MELHOR CONSELHO

Por que é tão mais fácil enxergar as soluções para os problemas dos outros do que descobrir as respostas para os nossos? É como dirigir um carro. Quando estamos no nosso carro, não podemos vê-lo de verdade. Não enxergamos os insetos nos faróis ou a sujeira nas portas e nas rodas. Mas em todos os outros carros que passam, vemos a sujeira tão clara como o dia.

Quando se trata dos desafios que nossos entes queridos enfrentam, às vezes enxergamos as soluções potenciais, e queremos ajudar a remover a sujeira, para que eles possam ter uma viagem melhor. Quantas vezes você quis dizer a um amigo: “Você não vê que se sair desse relacionamento abusivo, ficará muito mais feliz?” ou “Você tem tentado a mesma tática de negócio durante anos e continua falhando. Você não acha que está na hora de tentar uma abordagem diferente?”.

O problema é que eles estão nos seus próprios carros com seus próprios pontos cegos, incapazes de enxergar o que você enxerga. Então, a reação deles pode ser negativa. Eles podem insistir em que você esteja errado ou podem até se sentir ofendidos.

Os kabalistas ensinam que existem dois pré-requisitos para dar conselhos: 

- Uma pessoa só deve dar conselhos quando solicitada a fazê-lo.
- O conselho só deve ser dado se puder ser recebido da maneira correta. 

Isso significa que devemos nos perguntar o seguinte: ”Será que essa pessoa está pronta para escutar isso? Existe uma maneira de dizer isso sem magoá-la?”, “Será que devo esperar até que ela esteja um melhor estado de espírito?” 

Uma das grandes restrições do nosso professor, O Rav, era não dizer aos alunos no que eles precisavam melhorar. O Rav estava em um estado tão elevado de consciência, que via todas as soluções. É claro que, querendo ver seus alunos manifestarem seu potencial pleno, ele desejava compartilhar tudo que via! Mas ao restringir-se, ele nos deu uma coisa muito mais poderosa do que conselho. Ele nos deu a Luz para descobrirmos as respostas sozinhos. 

Não importa quanto amemos alguém, nós não podemos travar suas batalhas. O que podemos fazer é dar-lhes Luz. Podemos ser pacientes e amorosos, oferecendo um ombro para que chorem ou um ouvido para escutar quando eles mais precisarem.

Nosso amor pode inspirar muito mais mudança do que qualquer conselho que desejemos transmitir.

Isso não quer dizer que não existam momentos em que uma intervenção não seja necessária ou em que é realmente certo compartilhar ideias que possam ajudar alguém ao longo do seu caminho. Mesmo nesses momentos, é a Luz que compartilhamos que os ajudará a transcenderem seus desafios, não nossas palavras.



Rav Yehuda Berg



Fonte: Centro de Cabala
www.kabbalah.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O PIOR INIMIGO: A AUTO-SABOTAGEM


Quando estamos bem, quando tudo está correndo como o planejado, entra em cena a AUTO-SABOTAGEM, a traição começa dentro de nós mesmos!

O grande inimigo a vencer não se encontra lá fora e sim dentro de cada um de nós e age no silêncio do dia-a-dia, escondido entre os nossos medos, anseios e dificuldades.

Dificilmente percebemos que nos auto-sabotamos. Por que isso ocorre? O que acontece quando estamos muito bem e as pessoas do nosso círculo não estão bem? 

Na maior parte do tempo nos sentimos culpados! Sentimos que não somos merecedores. Muitas vezes não bastam os obstáculos naturais que a vida e as situações nos colocam, somos mestres na arte de encontrar dificuldades, criar obstáculos e complicar tudo o que puder ser facilitado.

Todos nós queremos as mesmas coisas, que é a realização, o sucesso e a felicidade em todos os aspectos. 

Dentro de nós existem muito mais medos e receios do que podemos imaginar. Apesar de querermos a felicidade usamos mecanismos de auto-sabotagem, sem perceber, colocando muitas barreiras e empecilhos que acabam por nos impedir de atingir nossos objetivos.

Na maioria das vezes, é muito difícil entender que as dificuldades que encontramos no caminho estão saindo exatamente da mesma fonte, ou seja, da nossa cabeça, da nossa maneira de pensar e de agir. Mentimos para nós mesmos! Nos enganamos e usamos muitos disfarces e desculpas. 

Cada vez que duvidamos da nossa capacidade em superar obstáculos, cultivamos um sentimento de covardia interior, que bloqueia nossas emoções e nos paralisa.

Muitas vezes não queremos pensar no que estamos sentindo já que temos dificuldade para lidar com os nossos sentimentos sem julgá-los. Enfrentar nossos sentimentos requer de nós sinceridade e compaixão. Caímos em armadilhas criadas por nós mesmos. 

A auto-sabotagem tem muitas origens e também muitas formas de se manifestar. Para saber como fazemos isso devemos começar respondendo a seguinte pergunta: “O que eu sei de mim mesmo que preferia não saber?”. A resposta deve gerar em nós um autoconhecimento, é através dele que começamos a desarmar o mecanismo de auto-sabotagem. 

Quando percebemos o mecanismo que estamos acionando, quando começamos a identificar dentro de nós mesmos as razões para nossos fracassos, já estamos com meio caminho andado. O primeiro passo, e que geralmente acontece dentro de um processo de psicoterapia, é rever as próprias atitudes, deixar claro para si mesmo o que se quer da vida e o que se está fazendo para chegar lá. Muitas vezes, aquilo que se quer está claro, mas os métodos que estamos usando para chegar lá estão levando a caminhos totalmente opostos, e exatamente aí pode estar acontecendo a auto-sabotagem. 

Nós nos auto-sabotamos quando saímos do nosso propósito de vida. Somente pelo processo de autoconhecimento, bem como o conhecimento real dos nossos objetivos, anseios e metas, onde queremos chegar e quais os caminhos e métodos que iremos escolher para alcançar, é que podemos entender se estamos ou não nos sabotando. E, se estamos fazendo isso, por que estamos tendo essa atitude, por que estamos sendo inimigos dos nossos próprios sonhos e desejos.

Muitas vezes o medo da mudança é maior do que a força para mudar, pense nisso!



Katia Cristina Horpaczky (Psicóloga)



Fonte: http://clairdeluneatelie.wordpress.com/2010/06/20/o-pior-inimigo-a-auto-sabotagem/

Fonte da Gravura: http://clairdeluneatelie.files.wordpress.com/2010/06/amarras.jpg

SAMSARA

Samsara tem o sentido literal de “perambulação.” Muitas pessoas pensam que esse é o nome Budista para o lugar em que vivemos no momento – o lugar que abandonamos quando vamos para nibbana (nirvana). Mas nos textos Budistas mais antigos samsara é a resposta, não para a pergunta, “Onde nós estamos?” mas para a pergunta, “O que estamos fazendo?” Ao invés de um lugar, é um processo: a tendência de ficar criando mundos e depois se mudando para dentro deles. À medida que um mundo se desintegra, você cria um outro e lá se instala. Ao mesmo tempo, você dá de cara com outras pessoas que também estão criando os seus próprios mundos.

O jogo e a criatividade desse processo pode algumas vezes ser prazeroso. Na verdade, isso seria perfeitamente inócuo se não causasse tanto sofrimento. Os mundos que criamos insistem em desmoronar e nos matar. Mudar para um novo mundo requer esforço: não somente as dores e riscos do nascimento, mas também os severos golpes – mentais e físicos – que resultam ao passar da infância para a maioridade repetidas vezes. O Buda certa vez perguntou aos seus monges, “O que vocês acham que é maior: a água nos grandes oceanos ou as lágrimas que vocês derramaram nessa perambulação?” A resposta dele: as lágrimas. Pense nisso na próxima vez que estiver mirando o oceano ou brincando nas suas ondas.

Além de criar sofrimento para nós mesmos, os mundos que criamos se alimentam dos mundos dos outros, da mesma forma como o deles se alimenta do nosso. Em alguns casos essa alimentação pode ser prazerosa e benéfica para ambos, mas mesmo nesse caso essa situação terá um fim. De modo mais típico, ela irá causar dano a pelo menos uma das partes na relação, com frequência a ambas. Quando você pensa em todo o sofrimento incorrido para manter apenas uma pessoa vestida, alimentada, abrigada e saudável – o sofrimento tanto daqueles que têm que pagar por essas necessidades, bem como daqueles que labutam ou morrem na sua produção – você verá o quão explorador pode ser mesmo o mais rudimentar processo de construção de mundos.

É por isso que o Buda tentou encontrar o caminho para parar essa ‘samsar-ização’. E uma vez que ele o encontrou, ele encorajou outros a seguí-lo também. Porque a ‘samsar-ização’ é algo que cada um de nós faz e cada um tem que parar isso por si mesmo. Se samsara fosse um lugar, poderia parecer egoísta que uma pessoa buscasse a escapatória, deixando os outros para trás. Mas quando você compreende que é um processo, não há de modo algum nada de egoísta em dar-lhe um fim. É o mesmo que abandonar um vício ou um hábito abusivo. Quando você aprende as habilidades necessárias para parar de criar os seus próprios mundos de sofrimento, você poderá compartir essas habilidades com os outros para que eles possam parar de criar os deles. Ao mesmo tempo, você nunca mais terá que se alimentar dos mundos dos outros, portanto, você estará reduzindo o fardo deles também.

É verdade que o Buda comparava a prática de parar o samsara ao ato de ir de um lugar ao outro: desta margem de um rio para a outra margem. Mas os trechos nos quais ele faz essa comparação, com frequência concluem com um paradoxo: a outra margem não possui um “aqui,” nem um “ali,” nem um “no meio.” Sob essa perspectiva, é óbvio que os parâmetros de tempo e espaço do samsara não se referem ao contexto preexistente no qual perambulamos. Eles são o resultado da nossa perambulação.

Para alguém viciado em construir mundos, a ausência de parâmetros conhecidos soa perturbadora. Mas se você estiver cansado de criar sofrimento incessante e desnecessário, talvez queira tentar algo novo. Afinal, você vai sempre poder recomeçar a construir se a falta de “aqui” ou “ali” resultar maçante. Mas dentre aqueles que aprenderam como romper esse hábito, ninguém se sentiu mais tentado a ‘samsar-izar’ outra vez.



Thanissaro Bhikkhu
(Budismo Theravada)



(Desconheço a fonte do texto)
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal