quarta-feira, 19 de junho de 2013

COMPREENDER PALAVRAS

Eu não sei se você pensou ou investigou todo este processo de verbalizar, dar um nome. Se o fez, é realmente uma coisa espantosa e uma coisa muito estimulante e interessante. Quando damos um nome para alguma coisa que experimentamos, vemos ou sentimos, a palavra se torna extraordinariamente significativa, e palavra é tempo. Tempo é espaço, e a palavra é o centro disto. Todo pensamento é verbalização, você pensa em palavras. E pode a mente se libertar das palavras? Não diga “Como vou me libertar?”, isso nada significa. Mas faça essa pergunta para si mesmo e veja quanto você está escravizado a palavras como Índia, Gita, comunismo, cristão, russo, americano, inglês, a casta abaixo da sua e a casta acima. A palavra amor, a palavra Deus, a palavra meditação; que extraordinária significação nós demos a estas palavras e como estamos escravizados a elas.



J. Krishnamurti 



Fonte: "The Book of Life"
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

CONVITE À FELICIDADE

"O meu reino não é deste mundo." (João 18,36)

Desnecessária a fortuna a fim de frui-la.

Secundária a juventude de modo a gozá-la.

Dispensável o poder para experimentá-la.

A felicidade independe dos valores externos, sempre transitórios, sem maior significação, além daquela que se lhes atribuem

Quando na velhice, o homem repassa as evocações, os sucessos e lamenta a juventude vencida.

Na enfermidade, considera os tesouros da saúde e sofre-lhe a ausência.

Diante da constrição da pobreza lembra as dádivas das moedas e experimenta amargura por não as possuir.

Sob condições de dependência, padece não ser forte no mundo dos negócios ou da política, deixando-se afligir desnecessariamente.

Acicatado por problemas morais, angustia-se ao verificar o júbilo alheio daqueles que transitam guindados a situações de destaque ou exibindo sorrisos de tranquilidade.

Isto por ignorar o testemunho de aflição que cada um deve doar no panorama da evolução inadiável, de que ninguém se pode eximir.

Felicidade é construção demorada, que se realiza interiormente a tributo de laboriosa ação sacrificial.

Sem características externas, a seu turno, quando invade o ser, exterioriza-se qual luz brilhante aprisionada em redoma de delicado cristal...

Mesmo quando o homem consegue adicionar a juventude, o poder, a fortuna e a saúde aparente a felicidade não está implicitamente com ele.

Por essa razão, lecionou Jesus que o Seu Reino não é deste mundo, como a corroborar que a felicidade não pode ser encontrada na Terra, por ser ainda o Orbe o domicílio expiatório e de provações onde todos forjamos a felicidade real, que virá só futuramente.

Realiza o teu quinhão de dever com devotamento e faze sempre o melhor a fim de que o aplauso da consciência tranquila te conduza ao pórtico da felicidade real.

Não te exasperes face à desdita aparente. Nem te apegues ao júbilo momentâneo também ilusório.

De tudo e todos os estados retira o proveito da aprendizagem e, assim fazendo, a pouco e pouco perceberás que a felicidade é conseqüência da auto-iluminação libertadora, como decorrência do amor exercido em plenitude fraternal.


Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis



Fonte: "Convites da Vida", Ed. LEAL. Cap. 23
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A CRISE COMO REAJUSTE

“Eu dormia e sonhava que a vida era alegria. Acordei e vi que a vida era serviço. Servi e descobri que o serviço é alegria.” (Rabindranath Tagore)

O acordar-se é sempre rebelde, difícil e doloroso. Por isso podemos relacioná-lo com as diversas crises humanas. Caracteriza-se por ser um verdadeiro choque contra a inércia. Abala-se a vida rotineira, e a personalidade humana entra em crise por estar cristalizada nas mesmices, futilidades e aspectos ilusórios do cotidiano. É “a prisão de cada um”, como bem o disse o psicanalista Dr. Paulo Rebelato.

A Revelação Divina, ou o Plano Divino, vai-nos demostrando, aos poucos, a situação mundial, a nossa própria situação existencial e a nossa relação e interação com o Plano. Isto gera uma interação que, no início, é inconsciente, mas que vai atuando e calando em nosso interior. Posteriormente, e com o amadurecimento evolutivo, os primeiros obstáculos vão surgindo e as crises se instalam a partir da progressiva conscientização e paralela rebeldia do eu inferior (personalidade).

Sabe-se, conforme a psicanálise integral do Dr. Norberto Keppe, que a presunção (teo mania) causa a  tentativa neurótica da inversão dos papéis Criador-criatura, macrocosmo-microcosmo, gerando assim, as vãs tentativas patológicas de luta, fuga, recusa, ódio, rejeição, negação, omissão, agressão, alteração, projeção, racionalização, fantasia etc. Tudo isto para tentar disfarçar ou inconscientizar o superior, o macrocosmo, o natural, a verdade, o bem, o belo e a realidade. Assim, o ser humano custa aceitar sua condição de “pequeno”, de “cegueira”. É o eu inferior, a personalidade humana não aceitando, por presunção e ignorância, que haja algo maior nele mesmo, o eu superior, a alma, o espírito. Portanto, o homem não sofre de doenças, mas de atitudes doentias que o levam à crises  por confronto com a Luz Divina que poderosamente passa a atuar em seu ser.

As crises do mundo e as crises pessoais estão relacionadas entre si, e cada uma impulsiona e desencadeia a outra. Mas, em meio a isso, a Vontade Divina se faz “ouvir” em todos os lugares. E este “ouvir” nos intui saber que cada um de nós possui uma certa medida e dose de capacidade de auxílio aos problemas do mundo e de necessidade de crescimento. E isto está relacionado com a percepção interior, com o contato interior, com a luz da alma que é o ponto divino em cada um, e que está sempre disposto a nos fazer verdadeiros servidores e buscadores de patamares mais altos na escala evolutiva. Neste ritmo, os significados do que ocorre no mundo, na humanidade e em nós mesmos, são percebidos sob a luz da intuição, sob a luz da alma.

A crise de reajuste é como o nosso diário acordar, o despertar lento do sono e confuso, não obstante seja o que nos afina, calibra e nos impulsiona como verdadeiros seres. É difícil e doloroso, porém gratificante e prazeroso, mesmo que em nossa civilização ainda não o pareça, e que adotemos diante dos problemas da humanidade uma indiferença cúmplice.

Muita força, coragem e senso de responsabilidade nos é necessário para vencermos essa indiferença e indisposição ao verdadeiro crescimento além das nossas ilusões. É preciso confrontar um senso comum embrutecido e anestesiado nosso e do mundo. E muita luz intuitiva do nosso ser interior é exigido para que se esclareça, aos poucos, a nossa real situação e a situação mundial. Essa Presença Divina em nós, a alma, o Deus de nossos corações, é o que ou quem nos dá o suporte para avançarmos.

Com o passar do tempo, e por experiência, observamos que a situação mundial e a nossa situação pessoal, à luz dos acontecimentos vivenciados, erros e acertos, estarão requerendo uma sintonia melhor com a vida inclusiva e total. A experiência desastrosa dos apegos, da busca de aprovação e simpatia para o (auto)engrandecimento pessoal, ou de grupos, está demonstrando que o caminho da humanidade precisa ser reavaliado.

O trabalho de conscientização e de reavaliação deve ser tanto em direção à consciência da patologia quanto em direção à consciência da verdade (uma dialética), conseguido através da interiorização.

Vê-se, então, que o problema em si não é a consciência (ou a inconsciência). Tudo é uma questão de atitudes, de maneiras de tratar a realidade, de aceitação, de humildade, pois a realidade permanente  continua sempre existindo independente do reconhecimento ou não do homem. Teimamos em ver a consciência da realidade como a causadora de sofrimento e não a nossa resistência em não vê-la.

As crises são verdadeiramente laboratórios de onde saem as nossas melhores e permanentes experiências. Experiências que são repletas de intuição e força para percepção das condições pessoais, grupais e planetárias, bem como suas possíveis soluções. É a bendita “dor” que nos torna “obreiros do Reino”, fiéis servidores do Plano Divino.




Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)




Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal