segunda-feira, 1 de julho de 2013

O “CORAÇÃO” COMO NOSSO CENTRO

O Centro, o Eu Sou, o Coração, a Rosa no Centro da Cruz e tantas outras denominações são as tentativas de explicar o inexplicável, de mostrar simbolicamente aquilo que é a origem, o princípio, a essência do nosso ser. Mas a simbologia é sempre válida e pode muito nos brindar e sugerir diversas reflexões. E quando a ciência espiritual fala em Coração não está se referindo ao coração físico, ou a sentimentalismo, ou a emocionalismo, porém a um Ponto simbólico que coincide com a nossa região peitoral e que possui relação com o centro energético cardíaco.

Sabemos que todo aquele que se fundamenta nesse Centro, começa a perceber a unidade de consciência e, consequentemente, a vida real. É-nos ensinado que o Coração percebe o âmago das coisas, o íntimo e o ponto de partida de tudo. De fato, esse Ponto neutro percebe a síntese, e em síntese, porque está em íntimo contato com a Realidade Última.

“O Reino de Deus está dentro de vós, … prepara teu coração para que esse esposo possa se dignar vir a vós e em vós morar.” Entenda-se aqui, que o “esposo” é o estado crístico a atingirmos por evolução, a Divina Presença, o Eu Sou, a “Shechinah”, a “Tifereth”. Eis mais uma alusão à realidade que nos aguarda vivenciar, e que é descrita, simbolicamente, em todas as tradições.

A glória do amor cósmico revela-se no Coração que gradativamente remove os obstáculos causados pela ignorância, ou seja, devemos “preparar” o nosso Centro, centralizarmo-nos e equilibrarmo-nos para que o amor-sabedoria esteja atuando em nossa vida. O Amor do Coração do Altíssimo quer atuar no Coração dos homens porque constitui-se a própria Presença. Porém, os homens necessitam vivenciar em profundidade essa caminhada, essa “escada de Jacó”, para que seja isso uma realidade e não uma teoria.

O Amor Divino é totalmente imparcial; não há um Ser Supremo pessoal, ou grupal, ou nacional, ou de uma denominação religiosa, mas, por outro lado, os amores humanos apegam-se a objetos particulares com a exclusão de outros. Os amores humanos causam sofrimento porque são estreitos, limitados e mesclados com o egoísmo. O Amor do Absoluto é puro, é o desejo total de dar. Não procura nada para si mesmo, não exclui nada de sua criação (emanação), porque se pudesse fazê-lo já não seria o Absoluto, por haver algo fora de si.

Isso nos leva a refletir que o Coração, como Centro, quando bem orientado, dirigido e percebido, faz o ser humano superar a sua natureza inferior e buscar o estado mais elevado possível de consciência numa determinada faixa evolutiva. Portanto, percebemos que só o Coração faz o homem dedicar-se ao bem comum e à ideias e ideais elevados. Pois Ele é a grande estação de luz e amor que orienta os seres humanos ao “retorno à casa do Pai”.

Por sua característica profunda, esse Ponto central nos seres, é um verdadeiro facilitador à recepção e ao entendimento esotérico, pois ele aspira simplesmente o “ser” e não o “ter”, quando corretamente direcionado. Sacrifica-se a tudo e a todos, é o nosso Mestre na busca da síntese, é o Amor em ação. É a simplicidade, o empenho e a responsabilidade que sentimos dentro de nós. É a Lei que confraterniza e congrega. Fala sem palavras quando silenciamos a nossa personalidade humana ruidosa. É o cálice onde bebemos do Amor Divino. O próprio viver e compreensão esotérico em nossa senda evolutiva.

A percepção e o conhecimento sobre o Coração, como um Foco de Luz, é importante  à vida, à unidade de consciência. Constitui-se num “refúgio”, onde podemos, conforme os ensinamentos budistas, perceber o Buda (a essência), o “dharma” (a lei) e a “sangha” (a vivência e convivência real dos seres). Basta, para tanto, a união íntima de nossos Corações com o Coração Divino. Tal união leva, por tal fato, ao entendimento, a uma luz clara sobre a verdade, à fé, ao serviço e ao Plano Divino.

Esse Centro está em toda a parte e para sua presença não há obstáculos, só a exigência de que floresça a Rosa no centro de nossa cruz, de que seja burilada a pedra bruta da personalidade até atingir a Pedra Cúbica da individualidade, a alma, simbolicamente falando.

É neste enfoque que místicos, esoteristas e espiritualistas de todas as épocas relacionavam o Coração a uma chama, a um “ardor” divino, a um atrito íntimo da cruz com a rosa, tendo como consequência um “aquecimento”. Vê-se, pois, que o calor é aconchegante e proporciona uma aproximação congregante de vontades em torno de ideais elevados. E só o Coração, como ponto focal, como uma lente, pode gerar esse calor, esse “fogo”, um propulsor evolutivo.




Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)




Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal