quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

ESSE LONGO SONHO CHAMADO VIDA

Temos um hábito profundamente enraizado de acreditar que nossa realidade cotidiana — esse longo sonho que chamamos vida — é inerentemente verdade. Isso é ignorância. Como não reconhecemos que estamos sonhando, temos apego ou aversão pelas diferentes circunstâncias que surgem. Apego, aversão e ignorância perpetuam o sonho. Ao sonharmos, criamos mais sonhos. Como nossa sabedoria é obscurecida pela confusão e venenos mentais, podemos fazer muito pouco. Contudo, ao praticar os métodos do caminho do bodhisattva, podemos realizar a verdadeira natureza desse sonho para não mais nos perdermos nele. Os 84 mahasiddhas, bodhisattvas altamente realizados da Índia Budista, atingiram completa realização da verdade absoluta e eram tão conscientes da qualidade de sonho da realidade que podiam deixar pegadas em pedras e voar pelo céu.

Através da meditação, nós também podemos acordar para a verdade absoluta e ver através de nossa experiência, nos tornando mestres da ilusão. O grande Shantideva afirmou que a natureza da mente não pode ser experimentada com o intelecto ou compreendida por conceitos ordinários. No entanto, precisamos começar de algum lugar, e palavras podem ser úteis. Elas são como um dedo apontando para a lua, dando alguma indicação de onde encontrá-la. Mas para termos uma experiência real de nossa verdadeira natureza, precisamos meditar.




Chagdud Rinpoche




Fonte: “Change of Heart“
http://darma.info/trechos/2006/11/esse-longo-sonho-chamado-vida
Fonte da Gravura: www.imageafter.com

NÃO EXISTE LIBERDADE DE PENSAMENTO

Não sei se está claro para cada um de nós que vivemos num estado de contradição. Nós falamos de paz, e preparamos a guerra. Falamos de não-violência, e somos fundamentalmente violentos. Falamos de ser bons, e não somos. Falamos de amor, e somos cheios de ambição, competitividade, cruel eficiência. Então existe contradição. A ação que brota dessa contradição só gera frustração e mais contradição. Vejam, senhores, todo pensamento é parcial porque a memória é o resultado da experiência, então o pensamento é a reação de uma mente condicionada pela experiência. Todo pensar, toda experiência, todo conhecimento é inevitavelmente parcial; portanto, o pensamento não pode resolver os muitos problemas que temos. Você pode tentar raciocinar logicamente, sensatamente, sobre estes problemas, mas se observar sua própria mente verá que seu pensar está condicionado por suas circunstâncias, pela cultura em que você nasceu, pela comida que come, pelo clima em que vive, pelos jornais que lê, pelas pressões e influências de sua vida cotidiana. Então devemos compreender claramente que nosso pensar é a resposta da memória, e a memória é mecânica. O conhecimento é sempre incompleto, e todo pensar nascido do conhecimento é limitado, parcial, nunca livre. Então não existe liberdade de pensamento. Mas nós podemos começar a descobrir uma liberdade que não é um processo de pensamento, e na qual a mente está simplesmente vigilante a todos os seus conflitos e a todas as influências impostas sobre ela.




J. Krishnamurti




Fonte: The Book of Life
www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: www.imageafter.com

O PONTO DE VISTA

A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. A morte nada mais restará de aterrador; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a que dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa mansão de bem-aventurança e de paz. Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor.

Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos. E não há o que não faça para conseguir os únicos bens que se lhe afiguram reais. A perda do menor deles lhe ocasiona causticante pesar; um engano, uma decepção, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que seja vítima, o orgulho ou a vaidade feridos são outros tantos tormentos, que lhe transformam a existência numa perene angústia, infligindo-se ele, desse modo, a si próprio, verdadeira tortura de todos os instantes. Colocando o ponto de vista, de onde considera a vida corpórea, no lugar mesmo em que ele aí se encontra, vastas proporções assume tudo o que o rodeia. O mal que o atinja, como o bem que toque aos outros, grande importância adquire aos seus olhos. Aquele que se acha no interior de uma cidade, tudo lhe parece grande: assim os homens que ocupem as altas posições, como os monumentos. Suba ele, porém, a uma montanha, e logo bem pequenos lhe parecerão homens e coisas.

É o que sucede ao que encara a vida terrestre do ponto de vista da vida futura; a Humanidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perde-se na imensidade. Percebe então que grandes e pequenos estão confundidos, como formigas sobre um montículo de terra; que proletários e potentados são da mesma estatura, e lamenta que essas criaturas efêmeras a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que por tão pouco tempo conservarão. Daí se segue que a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura.

Se toda a gente pensasse dessa maneira, dir-se-ia, tudo na Terra perigará, porquanto ninguém mais se iria ocupar com as coisas terrenas. Não; o homem, instintivamente, procura o seu bem-estar e, embora certo de que só por pouco tempo permanecerá no lugar em que se encontra, cuida de estar aí o melhor ou o menos mal que lhe seja possível. Ninguém há que, sentindo um espinho debaixo de sua mão, não o retire, para se não picar. Ora, o desejo do bem-estar força o homem a tudo melhorar, impelido que é pelo instinto do progresso e da conservação, que está nas leis da Natureza. Ele, pois, trabalha por necessidade, por gosto e por dever, obedecendo, desse modo, aos desígnios da Providência que, para tal fim, o pôs na Terra. Simplesmente, aquele que se preocupa com o futuro não liga ao presente mais do que relativa importância e facilmente se consola dos seus insucessos, pensando no destino que o aguarda.

Deus, conseguintemente, não condena os gozos terrenos; condena, sim, o abuso desses gozos em detrimento das coisas da alma. Contra tais abusos é que se premunem os que a si próprios aplicam estas palavras de Jesus: Meu reino não é deste mundo.

Aquele que se identifica com a vida futura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquele cujos pensamentos se concentram na vida terrestre assemelha-se ao pobre que perde tudo o que possui e se desespera.

O Espiritismo dilata o pensamento e lhe rasga horizontes novos. Em vez dessa visão, acanhada e mesquinha, que o concentra na vida atual, que faz do instante que vivemos na Terra único e frágil eixo do porvir eterno, ele, o Espiritismo, mostra que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do Criador. Mostra a solidariedade que conjuga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Faculta assim uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto a doutrina da criação da alma por ocasião do nascimento de cada corpo torna estranhos uns aos outros todos os seres. Essa solidariedade entre as partes de um mesmo todo explica o que inexplicável se apresenta, desde que se considere apenas um ponto. Esse conjunto, ao tempo do Cristo, os homens não o teriam podido compreender, motivo por que ele reservou para outros tempos o fazê-lo conhecido.




Allan Kardec




Fonte: do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", cap. 2
Fonte da Gravura: www.imageafter.com