sábado, 22 de fevereiro de 2014

YOGA: UMA PALAVRA PROFANADA NOS TEMPOS MODERNOS

Muito se fala a respeito do Yoga. Muitas definições foram dadas, mas sempre temos a sensação de que alguma coisa fica faltando; de que ele se recusa a ficar aprisionado numa definição. Porque essas quatro letras juntas significam muitas coisas. E o Yoga acaba sendo sempre mais do que as palavras podem dizer.

O Yoga é uma visão peculiar sobre o ser humano e seu papel na ordem das coisas, bem como um caminho de autoanálise que pode ser colocado em prática, prescindindo de qualquer teoria ou crença. Um caminho que conduz o homem a compreender verdadeiramente a si mesmo.

Todo mundo já ouviu dizer que Yoga significa em sânscrito união, mas Yoga igualmente significa trabalho, aplicação. Ou seja, Yoga seria o meio e o fim ao mesmo tempo. Jaideva Singh, no comentário do Vijñanabhairava (p. XIII), um antigo texto tântrico, afirma:

“A palavra Yoga é usada tanto no sentido de união (com o Divino) como no de veículo (upaya) para essa união. [...] Desafortunadamente, nenhuma palavra foi tão profanada nos tempo modernos como a palavra Yoga. Andar sobre o fogo, tomar ácido lisérgico, parar o batimento cardíaco etc. se consideram Yoga, quando, a bem da verdade, não têm nada a ver com ele. Mesmo os poderes psíquicos [siddhis] não são Yoga. Yoga é consciência; transformação da consciência humana em consciência divina.”

Yoga também é liberdade. Libertar-se de condicionamentos e preconceitos, por exemplo. Está escrito na Bhagavad gita: Yogaskarmasu kausalam (Yoga é perfeição na ação). Essa é uma visão tão ampla como simples da prática: qualquer ato pode fazer-se como sadhana, contínuo e constante.

Mas aqui temos um paradoxo: o que significa perfeição? A perfeição na ação não deve tomada literalmente no sentido de fazer uma ação “perfeita” em seus detalhes (por essa conta, um hábil batedor de carteiras poderia ser considerado um yogui), mas em fazer as ações em harmonia com o bem comum e com o reconhecimento de que nosso privilégio é agir, e não tentar controlar ou escolher os resultados das ações.

Noutras palavras, perfeição significa viver consciente. Patañjali explica o mesmo com outras palavras: “Discernimento constante é o meio para destruir a ignorância.” (Yogasutra, II:26).

Por outro lado, o Yoga não fica no plano das ideias nem se restringe unicamente a uma série de exercícios feitos na sala de prática. Com isso em mente, podemos dizer que praticar o Yoga é como participar de um jogo: conhecendo as regras, jogamos por amor, relaxados, para conviver e estar junto àqueles que amamos.

Mesmo se você não tiver nenhuma experiência com Yoga, saiba que suas atividades diárias, como trabalhar, criar os filhos ou estudar, também podem ser encaradas como um sadhana. É por isso que o Yoga é um jogo, cuja única regra é permanecer totalmente consciente o tempo todo, de cada ato, a cada momento.

Talvez você possa achar, como muita gente, que o Yoga é algo separado de si próprio ou do seu dia a dia. Algo que você faz, como ir às compras ou falar ao telefone. O Yoga é para ser vivido, de maneira atenta e equânime. Esse viver consciente, essa atentividade constante, é a essência da prática e ao mesmo tempo o fruto do amadurecimento interior, que é um processo gradual.

Por isso, não convém dizer “eu faço Yoga”, pois, em verdade, você não faz Yoga. Ele já está feito! Você ‘desliza’ para o Yoga (união) em certos momentos, através das atitudes equânimes. Isso tem a ver com a sua existência, com o seu momento presente, com o ar que entra por suas narinas no mesmo instante em que você está aqui sentado lendo, pois o sadhana aponta para colocar a visão em prática. Se você não for usar o Yoga, para que vai querer estudá-lo? Isso equivaleria a contentar-se com ver uma foto da praia, ao invés de ir pessoalmente dar um mergulho nela.

O Yoga é para todos. Não é apenas para pessoas sadias ou só para doentes. É para seres humanos, e não consiste em substituir o sistema de valores ou mitologias do mundo ocidental por outro exótico, não é escapismo ou uma resposta desesperada ao vazio que a sociedade oferece.

A partir da definição que o sábio Patañjali dá no Yogasutra, “Yoga é a supressão da identificação com as modificações da psiquê“, vemos que a prática começa numa sede profunda de transcender os condicionamentos humanos; vemos a necessidade de tornar cósmico o homem, de desenvolver as suas potencialidades para conquistar a iluminação. O método através do qual o Yoga pretende atingir esse objetivo é a reflexão sobre si mesmo, aliado a práticas que possuem como único objetivo aniquilar os condicionamentos que nos escravizam.

Os condicionamentos não nos deixam viver em paz e nos fazem repetir os mesmos erros, ano após ano, "ad eternum". Para ‘sair da roda do karma’, ou seja, alcançar a liberdade verdadeira, o yogui precisa aniquilar um a um esses condicionamentos na sua própria fonte: o inconsciente, a parte ‘escura’ do ser.

Dizem os shastras que o caminho do Yoga começa ‘quando o homem consegue quebrar a prisão das suas misérias’. O Yoga parte da condição humana desamparada, nua e crua, e tem o mérito sem par na história do pensamento de descobrir o verdadeiro potencial do homem: o da sua espiritualidade. A vida espiritual sempre começa no conflito interior, na sede de transcendência. E, neste kaliyuga, a era dos conflitos, requer muita mais pureza de coração, coragem e determinação que em outro tempo qualquer.

Precisamos quebrar o casulo da identificação com o ego para compreender quem somos. A Katha Upanishad diz que o Yoga é ao mesmo tempo dissolução e emergência, morte e renascimento (Yogah prabhavapyayau). É preciso matar o apego às coisas do ego para vivermos livres. Os ensinamentos do Yoga são somente acessíveis através da práxis: o praticante deve pôr sob o jugo seu corpo e sua psique para compreender que já é a liberdade que está buscando.

Múltiplo em suas diferentes correntes e manifestações, ele é sempre fiel a um modo de ver o homem e de servi-lo: após a severidade e paciência exigidas pela prática, sente-se a calidez da sua solicitude carinhosa por todos e respeito por todo o criado. Seu caminho é radical mas acessível e nos leva à conquista da liberdade.




Pedro Kupfer




Fonte: Texto originalmente publicado 24 de julho de 2000 em www.yoga.pro.br
EKADANTA YOGA
http://www.ekadantayoga.com.br/
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/


DESAPEGO - DEIXA PARA LÁ - RESPEITO

Quando nos consideramos convidados, ficamos leves nas ações e nos relacionamentos. Somos hóspedes do corpo. Somos hóspedes do mundo também. Já que somos hóspedes, porque deveríamos ter apego? Quando somos hóspedes, somos também desapegados. Quando somos desapegados, aumentamos nosso poder de discernimento. Nesse estado é possível ler os sentimentos que estão no coração dos outros. Assim é possível responder às solicitações de forma gentil, precisa e pacífica.

Quando alguém me diz: eu não gosto da sua ideia, é bem provável que eu me sinta insultado. Mas será que alguém pode me machucar? Somente se eu deixar adormecer a consciência de quem sou e ficar apegado à ideia. Veja as crianças. Mesmo que alguém faça algo, elas esquecem e logo voltam a brincar. Porém, quando crescemos, nos tornamos muito sensíveis. Uma simples palavra causa tanta dor. Nessa hora, precisamos entender nossas emoções e, então, deixar para lá, porque essa dor é autocriada.

Respeito pelos outros é reconhecer seus esforços para melhorar. Isto nos encoraja a focalizar mais a atenção no potencial deles do que em seus erros. De fato, esse é o método para ajudar as pessoas a ficarem livres de seus defeitos. Uma oportunidade para julgar a qualidade da nossa percepção espiritual. Ver quanta fé nós temos na transformação definitiva daqueles que convivem conosco. Essa fé é respeito verdadeiro.



Brahma Kumaris





Fonte: www.bkumaris.org.br
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

POR QUE NÃO LEMBRAMOS DE NOSSAS VIDAS ANTERIORES?

O esquecimento das vidas passadas é uma realidade no processo de reencarnação. Realidade justa e necessária, diga-se de passagem, como não poderia ser diferente, já que vem de Deus. Mas então podemos inquirir: não seria melhor se lembrássemos de tudo para então saber o porquê de certas coisas que nos acontecem agora, para termos uma melhor visão geral das coisas e assim buscarmos nossa reforma íntima?

Certamente isso poderia ser útil para alguns, a saber: a minoria composta por aqueles de moral elevada e sempre prontos para perdoar seus inimigos. Como a maior parte da humanidade não se encontra - nem nunca se encontrou - nesse estágio de evolução moral, o esquecimento é mais uma bênção de Deus para conosco.

Todos temos erros passados a serem corrigidos, pessoas por nós derrubadas e humilhadas em outras encarnações que agora devemos ajudar a se erguerem do abismo em que a empurramos. Tais pessoas podem ser agora nossos pais, irmãos, tios, primos, vizinhos, colegas de trabalho, não se sabe. Mas como reagiríamos se, ao vermos um filho nosso nascer, reconhecêssemos nele a pessoa de um carrasco em uma vida passada? Alguém que nos arruinou completamente aquela vida! Iríamos dar a ele todo o nosso amor? Iríamos estar sempre prontos a atender o seu choro durante a noite depois de tudo o que ele nos fez?

O véu lançado sobre esses acontecimentos anteriores é uma ajuda da misericórdia divina que nos coloca em uma posição favorável à reconciliação com nosso próximo. Criando aquela criança desde pequena aprenderemos a amá-la, não mais importando o mal que ela nos causou em outras vidas. E esse amor que lhe devotarmos fará com que também ela nos dedique seu amor e o passado sombrio seja finalmente deixado para trás. Sem esse esquecimento a vida poderia ser quase impraticável devido ao nosso baixo nível de fraternidade uns para com os outros:

Imagine os senhores de engenho reencarnando em um local onde estejam alguns de seus antigos escravos.

Imagine judeus - vítimas do holocausto - encarnando junto a nazistas que foram seus algozes ou de seus familiares.

Imaginemos, acima de tudo, tempos sombrios da humanidade, como a Idade Média, onde tanta maldade fora feita de forma totalmente gratuita e legalizada.

Sem o lançamento desse límpido véu sobre nossas vidas anteriores o mundo correria um altíssimo risco de se afundar em um círculo vicioso de ódio recíproco entre os homens.

Temos que ter em mente que a existência espiritual da alma é a sua existência normal. As existências corpóreas não são senão intervalos, cuja soma iguala apenas uma parte mínima da existência normal.

Vale lembrar ainda que tal esquecimento não é definitivo. O espírito desencarnado pode sim lembrar - desde que julgue útil e de acordo com a sua evolução moral adquirida - de acontecimentos de vidas passadas, sejam quais forem; isso o auxilia, inclusive, na sua preparação para uma nova encarnação.

Além disso, uma nova encarnação não faz de uma pessoa um novo ser. Apenas o corpo muda, sendo o espírito o mesmo, com o seu caráter moral e intelectualidade particulares, guardando assim todos os seus instintos e pré-disposições, sejam bons ou ruins.




Fonte: Momento Espírita
http://www.momento.com.br/
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

O CONHECIMENTO ADMITE A AUTORIDADE

Não existe movimento de aprender quando há aquisição de conhecimento; os dois são incompatíveis, são contraditórios. O movimento de aprender implica um estado em que a mente não tem experiência anterior acumulada como conhecimento. O conhecimento é adquirido, ao passo que aprender é um movimento constante que não é processo aditivo ou aquisitivo; portanto, o movimento de aprender implica um estado no qual a mente não tem autoridade. Todo conhecimento admite autoridade, e uma mente que se defende na autoridade do conhecimento não pode aprender. A mente só pode aprender quando o processo aditivo cessou completamente. É bem difícil para a maioria de nós diferenciar entre aprender e adquirir conhecimento. Através da experiência, da leitura, de ouvir, a mente acumula conhecimento; é um processo aquisitivo, um processo de adicionar ao que já se sabe, e desta base de conhecimento nós funcionamos. Ora, o que nós geralmente chamamos aprender é este mesmo processo de adquirir nova informação e adicioná-la ao depósito de conhecimento que já temos. Mas estou falando de algo inteiramente diferente. Por aprender não quero dizer adicionar ao que você já sabe. Você só pode aprender quando não existe apego ao passado como conhecimento, ou seja, quando você vê alguma coisa nova e não traduz em termos do conhecido. A mente que está aprendendo é uma mente inocente, ao passo que a mente que está meramente adquirindo conhecimento é velha, estagnada, corrompida pelo passado. Uma mente inocente percebe instantaneamente, está aprendendo todo o tempo sem acumular, e só essa mente é madura.




J. Krishnamurti




Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/