quarta-feira, 30 de abril de 2014

QUANDO TROCAMOS O FIM PELOS MEIOS (A ESPREITA DO EGO)

A religião como geralmente conhecemos ou reconhecemos, é uma série de crenças, de dogmas, de rituais, superstições, adoração de ídolos, de fetiches e gurus que o levarão ao que você quer como meta final. A verdade final é sua projeção, é isso que você quer, que o fará feliz, que lhe dará uma certeza do estado imortal. Assim, a mente presa em tudo isto cria uma religião, uma religião de dogmas, de habilidades sacerdotais, de superstições e adoração de ídolos e nisso você está preso, e a mente fica estagnada. Isso é religião? Religião é uma questão de crença, uma questão de conhecimento das experiências de outras pessoas e afirmações? Ou religião é meramente seguir a moralidade? Você sabe que é comparativamente simples ser moral para fazer isto e não fazer aquilo. Porque é fácil, você pode imitar um sistema moral. Por trás dessa moralidade, espreita o ego, crescendo, se expandindo, agressivo, dominador. Mas isso é religião? Você tem que descobrir o que é verdade porque essa é a única coisa que interessa, não se você é rico ou pobre, não se você está bem casado e tem filhos, porque todos eles chegam ao fim, existe sempre a morte. Assim, sem nenhuma forma de crença, você deve descobrir; você deve ter o vigor, a autoconfiança, a iniciativa, de modo que por si mesmo você saiba o que a verdade é, o que Deus é. A crença não vai lhe dar coisa alguma; a crença apenas corrompe, cega, obscurece. A mente só pode ser livre pelo vigor, pela autoconfiança.


Organizações religiosas se tornam tão fixas e rígidas como os pensamentos daqueles que pertencem a elas. A vida é uma mudança constante, um contínuo se tornar, uma revolução incessante, e porque uma organização não pode ser flexível, ela fica no caminho da mudança; ela se torna reacionária para se proteger. A busca da verdade é individual, não congregacional. Para comungar com o real deve haver solidão, não isolamento, mas liberdade de toda autoridade e opinião. Organizações de pensamento se tornam, inevitavelmente, obstáculos para o pensamento. Como você mesmo está ciente, a ganância por poder é quase inesgotável em uma chamada organização espiritual; esta ganância é encoberta por todos os tipos de palavras doces e autorizadas, mas o câncer da avareza, do orgulho e do antagonismo é nutrido e partilhado. Daí cresce o conflito, a intolerância, o sectarismo, e outras manifestações horríveis. Não seria mais sábio ter pequenos grupos informados de vinte ou vinte e cinco pessoas, sem obrigações ou associação, encontrando-se onde for conveniente para discutir calmamente a abordagem da realidade? Para impedir que algum grupo se torne exclusivo, cada membro poderia de tempos em tempos encorajar e talvez participar de outro pequeno grupo; assim, ele seria extensivo, não estreito e paroquial. Para subir alto deve-se começar baixo. A partir deste pequeno começo a pessoa pode ajudar a criar um mundo mais sensato e feliz.


O que está acontecendo no mundo? Vocês têm um Deus cristão, deuses hindus, maometanos com sua concepção particular de Deus, cada pequena seita com sua verdade particular; e todas estas verdades estão se tornando como muitas doenças no mundo, separando pessoas. Estas verdades, nas mãos de poucos, estão se tornando meios de exploração. Você vai de uma para outra, testando todas elas, porque começa a perder todo o senso de discriminação, pois está sofrendo e quer um remédio, e você aceita qualquer remédio oferecido por qualquer seita, seja cristã, hindu, ou qualquer outra seita. Então, o que está acontecendo? Seus deuses estão dividindo vocês, sua crença em Deus está dividindo vocês e, contudo, você fala de fraternidade do homem, unidade em Deus, e ao mesmo tempo nega a própria coisa que você quer descobrir, porque você se prende a estas crenças como o meio mais poderoso de destruir a limitação, ao passo que elas só intensificam isto. Estas coisas são tão óbvias.


Você sabe o que é religião? Não é o canto, não é a execução do “puja”, ou algum outro ritual, não é a adoração de deuses de metal ou imagens de pedra, não está nos templos e igrejas, não está na leitura da Bíblia ou do Gita, não é a repetição de um nome sagrado ou seguir alguma outra nova superstição inventada pelos homens. Nada disto é religião. Religião é o sentimento de bondade, aquele amor que é como o rio, vivendo, se movendo eternamente. Nesse estado você descobrirá que chega um momento em que não há absolutamente mais busca; e esse fim da busca é o começo de uma coisa inteiramente diferente. A busca por Deus, pela verdade, o sentimento de ser completamente bom – não o cultivo da bondade, da humildade, mas a procura de alguma coisa além de invenções e truques da mente, o que significa ter um sentimento por aquele algo, viver nele, estar nele – isso é verdadeira religião. Mas você só pode fazer isso quando sair da poça que cavou para si mesmo e entrar no rio da vida. Então a vida tem uma forma surpreendente de tomar conta de você, porque então não há você tomando conta. A vida leva você aonde for, pois você é parte dela mesma; então não existe problema de segurança, do que as pessoas vão dizer ou não dizer, e essa é a beleza da vida.





J. Krishnamurti





Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

POR QUE ESCOLHEMOS SER INFELIZES?

Pergunta a Osho: Por que escolhemos ser infelizes?

Esse é um dos mais complexos problemas humanos. Precisa ser examinado a fundo e não é algo teórico, mas algo que lhe diz respeito. É assim que todos têm agido - sempre escolhendo o caminho errado, escolhendo ficar tristes, deprimidos, infelizes. Devem existir razões profundas para isso, e de fato existem.

A primeira razão diz respeito ao modo como os seres humanos são criados. Se você for infeliz, irá ganhar alguma coisa com isso. Se for feliz, perderá.

Desde o início, uma criança atenta percebe essa diferença. Sempre que está infeliz, todos são compreensivos com ela e ela ganha essa compreensão. Todos tentam demonstrar afeto e a criança recebe amor. Mais do que isso, sempre que fica infeliz todo mundo é simpático e ela recebe atenção. A atenção funciona como alimento para o ego, como um estimulante alcoólico. A atenção lhe dá energia, você sente que é alguém. Por isso tanta necessidade, tanto desejo de obter atenção.

Se todos estão olhando, você se torna importante. Se ninguém o olhar, é como se você não estivesse ali: deixa de existir, vira um não-ser. O fato de as pessoas estarem olhando, estarem preocupadas, lhe dá energia.

O ego só existe no relacionamento. Quanto mais as pessoas prestam atenção em você, maior fica o seu ego. Se ninguém o olhar, seu ego se dissolve. Se todo mundo esquecer completamente de você, como o ego pode existir? Daí a necessidade de sociedades, associações, clubes: eles existem para dar atenção às pessoas que não a conseguem de outras formas.

Desde a mais tenra infância, a criança aprende a fazer política. A política é: pareça infeliz e irá atrair simpatia, todos serão atenciosos. Pareça doente e ficará importante. A criança doente fica prepotente: toda a família deve lhe obedecer, o que quer que diga se torna a lei.

Quando ela está feliz, ninguém a ouve. Quando está saudável, ninguém liga para ela. Quando está perfeita, ninguém lhe dá atenção. Desde o começo, optamos pela infelicidade, pela tristeza, pelo pessimismo, pelo lado sombrio da vida. Essa é uma das razões.

A segunda razão está relacionada ao seguinte: sempre que você está feliz, exultante, extasiado e inebriado, todo mundo sente inveja. Isso significa que todos ficam hostis: num segundo, todos viram inimigos. Então você aprendeu a não parecer tão extasiado para evitar que todos virem inimigos: aprendeu a não mostrar a felicidade, a não rir.

Olhe para as pessoas quando elas riem: é um gesto calculado, não é uma risada que sacode a barriga, não vem das profundezas do ser. Primeiro olham para você, avaliam e, então, riem. E riem de uma forma que seja tolerada, que não seja considerada imprópria, que não desperte inveja.

Até nossos sorrisos são políticos. A risada desapareceu, a felicidade passou a ser uma coisa absolutamente desconhecida e é quase impossível chegar ao êxtase, porque não é mais permitido. Se você está infeliz, ninguém vai achar que é louco. Se está exultante, dançando por aí, todo mundo vai achar que você está louco. Dançar e cantar não são coisas aceitas. Quando alguém vê uma pessoa feliz, logo acha que há algo errado.

Que tipo de sociedade é essa em que é permitido se sentir infeliz mas que acusa aqueles que estão em êxtase de loucos e sem juízo? Por causa da inveja, tentamos, de todas as maneiras possíveis, impedir o êxtase dos outros. Chamamos a tristeza de normalidade. Os psiquiatras poderão ajudar a trazer uma pessoa de volta para sua infelicidade normal.

A sociedade não pode permitir o êxtase. O êxtase é a maior das revoluções. Se as pessoas ficarem extasiadas, toda a sociedade vai mudar, porque ela está baseada na infelicidade.

Se as pessoas são felizes, não podem ser conduzidas à guerra. Alguém feliz vai rir e dizer: “Isso não faz sentido!” Se as pessoas são felizes, não se pode fazer com que fiquem obcecadas por dinheiro. Acharão que é loucura passar a vida toda acumulando algo sem vida como o dinheiro.

Se as pessoas estiverem em êxtase, todo o padrão dessa sociedade terá de mudar. A sociedade existe por causa da infelicidade. A infelicidade é um grande investimento para ela. É para isso que criamos nossos filhos: desde a mais tenra infância, fomentamos uma tendência para a infelicidade. É por isso que todos sempre escolhem esse sentimento.

Em todo instante existe a opção de ser infeliz ou feliz. Você sempre opta por ser infeliz porque há um investimento; isso se tornou um hábito, um padrão. A infelicidade parece uma descida, o êxtase parece uma subida.

O êxtase parece muito difícil de alcançar - mas isso não é verdade. O que acontece é justamente o oposto: o êxtase é a descida e a infelicidade é a subida. A infelicidade é uma coisa muito difícil de alcançar porque é antinatural, mas você a alcançou, fez o impossível. Ninguém quer ser infeliz, mas todo mundo é.

A educação, a cultura, os pais, os professores - eles têm feito um grande trabalho. Têm transformado criadores extasiados em criaturas infelizes. Toda criança nasce extasiada. Toda criança nasce um deus. E todo homem morre louco.

Como recuperar a infância, como reivindicá-la? Se você conseguir ser criança outra vez, não haverá mais tristeza.

Não estou dizendo que as crianças nunca sofram - elas sofrem, mas ainda assim não são infelizes. Uma criança pode ficar extremamente infeliz num momento, mas mergulha tão completamente nessa infelicidade, entra em tal comunhão com ela que não há divisão.

Não há uma criança separada da infelicidade. Ela não está contemplando o sentimento como algo à parte dela. A criança é a infelicidade - está completamente envolvida nela. E, quando você e a infelicidade se tornam uma coisa só, a infelicidade não é infelicidade. Se você comunga tão profundamente com ela, até mesmo a infelicidade adquire uma beleza só dela.

Quando uma criança que não foi estragada está com raiva, toda a sua energia se torna a raiva: nada é deixado para trás, nada é contido. A criança se moveu e se tornou a raiva: ninguém está manipulando ou controlando essa raiva. Não há uma mente.

E daí surge a beleza, o fluir da raiva. Uma criança nunca parece feia - até nos momentos de raiva ela é bela. Parece mais intensa, mais viva - um vulcão pronto para entrar em erupção, um ser atômico, com todo o universo pronto para explodir.

Depois de toda essa raiva a criança fica silenciosa, totalmente em paz. Ela se descontrai. Podemos achar que estava muito infeliz no momento da raiva, mas a criança não estava infeliz - ela usufruiu da raiva.

Sempre que você entrar em comunhão com algo, se sentirá em êxtase. Sempre que se separar de algo, mesmo que seja da felicidade, ficará infeliz.

Essa é a chave. Ficar separado como um ego é a base de toda a infelicidade; se ficar em comunhão, fluindo com aquilo que a vida colocar em seu caminho - entranhado nisso tão intensa e completamente que você deixe de existir e se perca nisso -, todas as coisas passam a ser felizes.

A escolha existe, mas até mesmo a consciência disso foi perdida. Fique atento. Cada vez que estiver escolhendo ser infeliz, lembre-se de que é uma opção sua. Imediatamente sentirá a diferença. Seu estado mental terá mudado. Ficará mais fácil se voltar para a felicidade.

Depois que souber que se trata de uma escolha, será um jogo. Se gosta de ser infeliz, seja infeliz, mas lembre-se de que é uma escolha sua - por isso não reclame. Ninguém é responsável por isso.

Não saia por aí perguntando às pessoas como se faz para não ser infeliz. Não saia por aí questionando mestres e gurus sobre como se faz para ser feliz. Os pretensos gurus só existem porque você é um tolo.

Primeiro cria a infelicidade e depois sai perguntando aos outros como se faz para não criá-la. Você continuará a criá-la porque não se dá conta do que está fazendo. A partir de agora, experimente ser feliz e bem-aventurado.





Osho, em "Corpo e Mente em Equilíbrio"





Fonte: http://www.palavrasdeosho.com/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

NADA É INTEIRAMENTE BOM OU INTEIRAMENTE MAU

É difícil pronunciarmo-nos categoricamente sobre o bem ou sobre o mal. Por quê? Porque na Terra nada é inteiramente bom ou inteiramente mau; mesmo as melhores coisas são acompanhadas de alguns inconvenientes. Como não se regozijar com a chegada da primavera? Com a luz e o calor, tudo cresce e se desenvolve, é maravilhoso. Sim, mas os bicharocos nocivos também se desenvolvem: as vespas, as moscas, as lagartas, as pulgas, os mosquitos... E o progresso técnico, é um bem ou um mal? Muitas descobertas que começaram por trazer imensas melhorias à vida dos humanos acabaram por provocar catástrofes porque eles não souberam ser prudentes, clarividentes, e refletir nas consequências! Não é preciso dar mais exemplos, vós podeis constatar isto todos os dias. Portanto, quaisquer que sejam os acontecimentos ou as condições, será sempre necessário tomar precauções. As melhores coisas tornam-se más para os ignorantes porque eles não estão preparados para fazer face a elas. Ao passo que aqueles que refletem e aprenderam a trabalhar conseguem tirar partido até das maiores dificuldades.




Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal