terça-feira, 16 de setembro de 2014

IDEIAS - PENSAMENTOS - CONCEITOS - FÓRMULAS - IDEALISMO

O idealista é o homem com uma ideia, e é ele que não é revolucionário. As ideias dividem, e separação é desintegração, não é, absolutamente, revolução. O homem com uma ideologia está preocupado com ideias, palavras, e não com ação direta; ele evita a ação direta. Uma ideologia é um obstáculo à ação direta. (Commentaries on Living, Series II)

É muito importante compreender por que nós criamos ou formulamos uma ideia. Por que a mente formula uma ideia realmente? Quero dizer com “formular”, uma estrutura de ideias filosóficas ou racionais ou humanistas ou materialistas. Ideia é pensamento organizado; e nesse pensamento organizado, crença, ideia, o homem vive. É isso que todos nós fazemos, sejamos religiosos ou não-religiosos. Eu penso que é importante descobrir por que os seres humanos ao longo dos tempos conferiram tal extraordinária importância às ideias. Por que formulamos ideias realmente? Formamos ideias, se a pessoa observar a si mesma, quando há desatenção. Quando você está completamente ativo, o que exige total atenção – que é ação – nisso não há ideia; você está agindo. (Collected Works, Vol. XV, 89, Action)

Nós damos tal extraordinário significado ao pensamento, às ideias, conceitos, fórmulas. Existem fórmulas físicas que são necessárias, mas as fórmulas psicológicas são, de fato, necessárias? Eu não estou dizendo que devíamos ser estúpidos, desinformados, obtusos; mas por que conferimos tal extraordinária importância à mente, ao pensamento, ao intelecto? Se a pessoa não dá importância ao intelecto, dá importância ou a valores sensatos ou a emoções. Mas como a maior parte das pessoas tem vergonha de emoções e valores sensatos, elas adoram o intelecto. Por quê? Por favor, quando eu fizer uma pergunta, vamos todos descobrir a resposta juntos. Livros, teorias e todo o campo intelectual são considerados muito importantes em nossa vida. Por quê? Se você for esperto, pode conseguir um emprego melhor. Se for altamente treinado tecnicamente, isso pode ter certa vantagem, mas por que damos importância às ideias? Não é porque não podemos viver sem ação? Toda relação é um movimento e esse movimento é ação. As ideias se tornam importantes quando separadas da ação. Para a maior parte de nós a ação não é importante, relação não é importante; as ideias são muito mais importantes do que todos estes outros fatores. Nossas relações, que incluem nossa vida, se baseiam na memória organizada como ideia. A ideia domina a ação; e, por isso, relação é um conceito, não uma ação verdadeira. Pensamos que a relação deveria ser isto ou aquilo, mas de fato, não sabemos o que é relação. Não sabendo o que relação de fato é, efetivamente as ideias se tornam importantíssimas para nós. O intelecto se torna importantíssimo, com suas crenças, ideias e teorias de como deveria ou não deveria ser. A ação tem sua natureza ligada ao tempo; ou seja, a ação envolve tempo, pois a ideia está no tempo. A ação nunca é imediata, nunca espontânea; ela nunca está relacionada com o que é, mas com o que deveria ser, com uma ideia e, assim, existe conflito entre a ideia e a ação. (Collected Works, Vol. XV, 141, Action)

Quando você observa por que uma ideia se torna importante, quando está ciente de por que o padrão assumiu tal extraordinária significação, pode ver por que isto acontece. Porque, em primeiro lugar, ele tende a adiar a ação: eu sou violento e tenho esta maravilhosa ideia da não-violência, que é um ideal, e eu posso ir ao encalço desse ideal e não agir, pois ainda estou tentando ser não-violento. Portanto, isto é uma fuga do fato da violência. Se eu não tiver ideal de não-violência, posso lidar com o fato. Assim, o ideal se torna uma distração; o ideal é uma ficção, um mito; ele não é uma realidade. A realidade é o que existe, que é violência. E pensamos que, tendo um ideal como a não-violência, podemos arrancar a violência de nós mesmos – o que nunca acontece, o que nunca pode acontecer. Porque só quando lidamos com fatos, existe uma operação, não quando lidamos com ideias. Então, essa é uma das razões: uma ideia ou um padrão oferece um meio de adiar, de fugir do fato; e a ideia se torna importante para dar continuidade a um ato particular. Eu fiz isto ontem, farei isto hoje e amanhã – ela dá continuidade ou se torna um hábito que impede a ação. Isto é, meramente, levar a cabo certa fórmula e, por isso, se torna mecânico. A vida não é mecânica; ela tem que ser vivida, sua ação mudando a cada minuto. Assim, as ideias oferecem um meio de adiar a ação. Então, quanto mais ideias, quanto mais ideais você tem, mais inativo você é. Por favor, veja isto: quando você age a partir de uma ideia, você não está ativo, pois está vivendo sua vida em um mundo de ficção sem qualquer realidade. Assim, fugir, adiar, oferecer continuidade, que lhe dá um hábito, e funcionar no hábito – isso é memória e, portanto, mecânico. Então você pode ver, ideias não geram paixão; para fazê-lo, você deve ter sentimentos fortes; de outro modo, se torna mecânico. Você não pode ter sentimento e paixão forte, intensa, imediata se você tem ideias. (Collected Works, Vol. XIV, 69, Action)




J. Krishnamurti





Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal