sábado, 27 de dezembro de 2014

A MENTE COMO UMA MASSA DE HÁBITOS DE PENSAMENTOS E MEMÓRIAS

Como é possível estar intensamente consciente enquanto se está ocupado com um trabalho particular?

Eu não vejo a dificuldade. Por que não se pode estar intensamente consciente enquanto se trabalha? Seja o trabalho mecânico, científico ou burocrático, estando intensamente consciente enquanto faz esse trabalho, você não apenas o fará mais eficientemente como também ficará consciente de por que está fazendo, quais são os motivos por trás de seu trabalho. Você descobrirá se tem medo de seu chefe; observará como você fala com seus subordinados e com aqueles acima de você. Estando intensamente consciente em sua relação com os outros, saberá se está criando inimigos, ciúme, ódio; você verá todas as suas próprias reações na relação, esteja você aqui, num ônibus, em seu escritório ou na fábrica. Tudo isto está implicado na consciência intensa. Também, se você está intensamente consciente, pode desistir de seu trabalho. Por isso, a maioria de nós não quer estar intensamente consciente; é muito perturbador; nós preferimos continuar com o que fazemos, mesmo que seja muito aborrecido. Na melhor das hipóteses, saímos daquilo que nos aborrece e encontramos um trabalho menos aborrecido, mas este também logo se torna rotina. Assim, ficamos presos no hábito: no hábito de ir ao escritório toda manhã, no hábito de fumar, no hábito de ideias, conceitos, no hábito de ser inglês...

Nós funcionamos no hábito. Estar intensamente consciente do hábito tem seu próprio perigo, e temos medo do perigo. Temos medo de não saber, de não estar certo. Há grande beleza, há grande vitalidade, em não estar certo. Não é insanidade estar completamente inseguro; isto não significa que a pessoa se tornou psicótica. Mas nenhum de nós quer isso. Nós preferimos romper um hábito e criar um hábito mais agradável. (Collected Works, Vol. XIII, 212, Choiceless Awareness)


Penso que a maioria de nós fica consciente, talvez só raramente já que a maioria de nós está terrivelmente ocupada e ativa, mas penso que estamos conscientes, algumas vezes, que a mente está vazia. E, estando conscientes, temos medo desse vazio. Nós nunca investigamos nesse estado de vazio, nunca entramos nele profundamente; temos medo e, então, nos desviamos dele. Nós lhe demos um nome, dizemos que é “vazio”, é “terrível”, é “doloroso”; e esse próprio nomear já criou uma reação na mente, um medo, um escape, uma fuga. Ora, pode a mente parar de fugir, e não dar nome, não dar a isto a significação de uma palavra como vazio a respeito da qual temos memórias de prazer e dor? Podemos olhar para isto, pode a mente estar consciente desse vazio sem nomeá-lo, sem fugir dele, sem julgá-lo, mas simplesmente ficar com ele? Porque, então, isso é a mente. Então, não existe um observador olhando para isto; não há censor para condenar; existe apenas aquele estado de vazio com o qual todos nós estamos bem familiarizados mas que todos nós evitamos, tentando preenchê-lo com atividades, com adoração, preces, conhecimento, com toda forma de ilusão e excitação. Mas quando toda excitação, ilusão, medo, fugas param, e você não está mais lhe dando um nome e, por isso, o condenando, o observador é diferente da coisa que é observada? Certamente, lhe dando um nome, condenando, a mente criou um censor, um observador, fora dela mesma. Mas quando a mente não confere um termo, um nome, condena, julga, então não existe observador, apenas o estado dessa coisa que chamamos de vazio. (Collected Works, Vol. IX, 23, Choiceless Awareness)


Então, eu devo, primeiro, compreender a futilidade da resistência ou do esforço para romper um hábito. Se isto estiver claro, o que acontece? Eu fico consciente do hábito, totalmente consciente dele. Se eu fumo, observo a mim mesmo fazendo isto. Eu fico consciente de colocar minha mão no bolso, pegar os cigarros, tirar um do maço, batê-lo na unha ou em alguma outra superfície dura, colocá-lo em minha boca, acendê-lo, apagar o fósforo, e dar baforadas. Estou consciente de cada movimento, de cada gesto, sem condenar ou justificar o hábito, sem dizer que é certo ou errado, sem pensar, “Que terrível, devo me livrar disto”, e assim por diante. Eu estou consciente sem escolha, passo a passo, conforme vou fumando. Tente isto da próxima vez, se quiser romper o hábito. E compreendendo e rompendo um hábito, mesmo superficial, você pode entrar na enorme totalidade do problema do hábito: hábito do pensamento, hábito do sentimento, hábito de imitar e o hábito de ansiar para ser alguma coisa, pois isto também é um hábito. Quando você combate um hábito, dá vida a esse hábito, e o combate se torna outro hábito, em que a maioria de nós fica presa. Nós só conhecemos a resistência, o que se tornou um hábito. Todo o nosso pensar é habitual, mas compreender um hábito é abrir a porta para a compreensão de todo o mecanismo do hábito. Você descobre onde o hábito é necessário, como no discurso, e onde o hábito é completamente corruptor. (Collected Works, Vol. XIII, 204, Choiceless Awareness)


Se eu o compreendo corretamente, a conscientização por si só é suficiente para dissolver tanto o conflito como sua fonte. Estou perfeitamente consciente, e tenho estado por longo tempo, de que sou “esnobe”. O que me impede de me livrar do esnobismo?

O interrogante não compreendeu o que quero dizer com conscientização. Se você tem um hábito, o hábito do esnobismo, por exemplo, não é bom simplesmente dominar este hábito com outro, seu oposto. É inútil combater um hábito com outro hábito. O que livra a mente do hábito é inteligência. Conscientização é o processo de despertar inteligência, não criar novos hábitos para combater os antigos. Assim, você deve se tornar consciente de seus hábitos de pensamento, mas não tente desenvolver qualidades opostas ou hábitos. Se você está totalmente consciente, se está nesse estado de observação sem escolha, então perceberá todo o processo de criar um hábito e, também, o processo oposto de dominá-lo. Este discernimento desperta inteligência, o que liquida todos os hábitos do pensamento. Nós ficamos ansiosos para nos livrar daqueles hábitos que nos causam dor ou que descobrimos serem sem valor, criando outros hábitos de pensamento e afirmações. Este processo de substituição é inteiramente não inteligente. Se você observar, descobrirá que a mente não é mais do que uma massa de hábitos de pensamento e memórias. Mas simplesmente dominando estes hábitos com outros, a mente continuará, ainda, na prisão, confusa e sofrendo. Apenas quando compreendemos profundamente o processo das reações de autoproteção, que se tornam hábitos de pensamento, limitando toda ação, existe a possibilidade de despertar inteligência, que pode dissolver o conflito de opostos. (Collected Works, Vol. III, 73, Choiceless Awareness)





J. Krishnamurti






Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: 
www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/