domingo, 20 de setembro de 2015

CERIMÔNIA DE VESTIDURA MARTINISTA (VESTUÁRIO SIMBÓLICO E RITUALÍSTICO)

Envolto no manto protetor do Iniciado, protegido pelo Segredo da máscara que oculta suas feições daqueles que o cercam, completamente impessoal, o Solitário Desconhecido, que frequenta nossas reuniões, não é obrigado a aceitar ou receber ordens, senão de sua própria consciência.

Indiferente, como personalidade individualizada, ao julgamento de seus Irmãos que não o conhecem. Estudioso e Solitário, sob o pseudônimo que oculta sua personalidade intelectual, assim como o manto e a máscara escondem de todos a sua personalidade física, ele pode sem temer ao sarcasmo - aos ataques de terceiros, ou até mesmo ao sentimento secreto de vaidade, tão difícil de resistir - expor ideias ou discutir teorias.

Essa máscara protetora, isolando-o, ensina, àquele entre nós que a usa, a permanecer invisível. Ela deixa-o frente a frente consigo mesmo e com sua consciência, com toda responsabilidade de seus atos, dando-lhe ao mesmo tempo a liberdade absoluta necessária para agir. Ora, meus Irmãos, não é este o papel do verdadeiro Iniciado?

Portanto, longe de nós essa ideia que talvez pudesse surgir em nosso espírito, de que esse mistério aparente é o resultado de uma desconfiança ridícula, de precauções pueris, ou de nosso temor ao grande dia!...

Nossa razão é mais elevada, e nosso intento mais nobre!...

Queremos, por meio desse símbolo permanente, lembrar continuamente ao estudante que o verdadeiro Conhecimento é impessoal e desconhecido no exterior de suas manifestações, e por consequência não poderia em caso algum ser personificado por um indivíduo.

Que o bem - sob qualquer forma que o pratiquemos - deve permanecer secreto e ignorado; que, sabendo de antemão que aquele por nós auxiliado estará e permanecerá para sempre na ignorância de nossa personalidade, não esperamos dele nem reconhecimento e tampouco palavras de gratidão.

Entidade sintetizada, não somos mais do que uma célula invisível dessa síntese geral que age visando a uma finalidade, para a qual todos tendemos, e que estamos cientes de que nenhum entre nós a atingirá antes dos outros!

Eis o segredo da verdadeira Irmandade!...

Invisíveis e silenciosos, não ferimos nenhuma suscetibilidade, e nosso auxílio pode ser aceito pelo mais orgulhoso, mais independente, mais altivo, sem que ele venha a sofrer em sua consciência ou vaidade.

Eis os Frutos da Fraternidade!...

Deverei falar-lhes de nossa espada?... Não, pois para nós nada mais é senão uma lembrança. Para nós, não servirá nem para atacar e nem para defender, pelo menos para os fins em que geralmente é empregada.

Contudo, se me perguntarem a respeito das leis que orientaram a sua construção dir-lhes-ei que essa lâmina triangular é simbólica, que sua ponta é necessária, e nos é útil no processamento de certas experiências, as quais - estou convencido - representarão em breve o domínio da ciência física mais elementar, e que o modo todo especial com o qual ela é empunhada, corresponde à mesma finalidade e está associada à mesma classe de ideias.

Mas, prossigamos! Tanto mais que o tribunal de Saint-Voehme e as vinganças memoráveis dos Templários não podem mais fazer parte de nossos programas de estudo, porquanto deixamos aos outros o encargo de destruir, não nos ocupando senão em reconstruir o templo que tantas criaturas procuram derrubar.

O Ieschoua que cobre nossa boca tem um significado não menos elevado e menos importante do que a máscara sobre a qual ele está esboçado. Aquele entre vós, meus Irmãos, que apenas tiveram uma ideia superficial acerca dos estudos maravilhosos da Cabala, apreenderão todos os significados esotéricos; quanto aos outros, contentar-me-ei em dizer-lhes que essa palavra misteriosa é a manifestação do VERBO, no que ele tem de mais profundo e mais perfeito. Por fim, o que poderei dizer-lhes a respeito dessa coifa simbólica, que nos lembra a Esfinge?

Deixo a um dos vossos responder-lhes. Eliphas Lévi, um dos Maçons mais eruditos deste século, assim falou em seu estudo maravilhoso sobre o assunto:

A testa humana da esfinge revela a inteligência;
Seus seios o amor, suas garras a luta;
Suas asas representam a fé, o sonho e a esperança;
Seus flancos taurinos a lida aqui na terra!
Se sabes trabalhar, acreditar, amar e defender-te;
Se não estás escravizado às necessidades abjetas;
Se teu coração sabe querer e teu espírito compreender;
Salve, Iniciado! eis-te coroado!

Passemos ao manto: de formato pentagonal, nos sugere a atividade humana em todas as suas manifestações. Temeria ofendê-los meus Irmãos, lembrando-lhes todas as propriedades atribuídas ao pentagrama. Não insistamos pois nesse fato, limitar-me-ei a informá-los que o manto completa o simbolismo da máscara, da qual é o complemento necessário.

Após ter criado sua personalidade, o iniciado aos nossos rituais envolve-se no manto simbólico, que vai protegê-lo contra o mundo profano; será para ele uma fortaleza impenetrável, de onde solitário e inacessível, impassível e solene em seu Santuário inexpugnável, irá assistir à luta das paixões humanas que chegam imponentes e submissas contra a sua personalidade tranquila. Sabe que esse manto é a imagem da proteção que recebe da nossa Ordem e das virtudes que deve adquirir e serve-lhe de salvaguarda.

Seu simbolismo é ainda bem mais extenso, mas prudência sela meus lábios, e só a vocês compete romper esse silêncio, caso julguem necessário.




Jean-Claude Frère





Fonte: do livro "Vida e Mistérios dos Rosa+Cruzes"
Fonte da Gravura: http://www.martinismo.org/

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