quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A AUTOCONSCIÊNCIA É TRABALHOSA - MUDANÇAS

Por que aceitamos, por que nós seguimos? Seguimos a autoridade do outro, a experiência do outro e, então, duvidamos dela; esta busca pela autoridade e sua sequência, desilusão, é um processo doloroso para a maioria de nós. Nós maldizemos ou criticamos a autoridade uma vez aceita, o líder, o mestre, mas não examinamos nosso próprio anseio por uma autoridade que possa dirigir nossa conduta. Uma vez que compreendemos este anseio, compreenderemos a significação da dúvida.

A autoconsciência é trabalhosa, e desde que a maioria de nós prefere um modo fácil, ilusório, nós criamos a autoridade que dá forma e padrão à nossa vida. Esta autoridade pode ser o coletivo, o Estado; ou pode ser o pessoal, o mestre, o salvador, o guru. A autoridade de qualquer espécie é ofuscante, ela traz negligência; e como a maioria de nós considera que ser reflexivo é ter dor, nos entregamos à autoridade. A autoridade engendra poder, e o poder sempre se torna centralizador e, portanto, completamente corruptor; ele corrompe não só o manipulador do poder, mas também aquele que o segue. A autoridade do conhecimento e da experiência é perversora, esteja investida no mestre, seu representante ou o sacerdote. É sua própria vida, este conflito aparentemente infindável, que é significativa, e não o padrão ou o líder. A autoridade do mestre e o sacerdote afastam você do ponto central, que é o conflito dentro de você mesmo.

Nós ouvimos com esperança e medo; buscamos a luz do outro mas não estamos alertamente passivos para sermos capazes de compreender. Se o liberado parece preencher nossos desejos, nós o aceitamos; se não, continuamos nossa busca por aquele que o fará; o que a maioria de nós deseja é gratificação em diferentes níveis. O importante não é como reconhecer aquele que é iluminado mas como compreender a você mesmo. Nenhuma autoridade aqui ou lá adiante pode lhe dar conhecimento de si mesmo; sem autoconhecimento não há libertação da ignorância, do sofrimento.

A maioria de nós está satisfeita com a autoridade porque ela nos dá uma continuidade, uma certeza, uma sensação de se estar protegido. Mas um homem que queira compreender as implicações desta profunda revolução psicológica deve estar livre da autoridade, não deve? Ele não pode considerar nenhuma autoridade, seja de sua própria criação ou imposta a ele por outro. E isto é possível? É possível para mim não confiar na autoridade de minha própria experiência? Mesmo quando rejeitei todas as expressões exteriores de autoridade – livros, professores, sacerdotes, igrejas, crenças - ainda tenho o sentimento de que ao menos posso confiar em meu próprio julgamento, em minhas próprias experiências, em minha própria análise. Mas posso eu confiar em minha experiência, meu julgamento, minha análise? Minha experiência é o resultado de meu condicionamento, não é? Eu posso ter sido criado como muçulmano ou budista ou hindu, e minha experiência dependerá de minha base cultural, econômica, social e religiosa, assim como a sua. E posso eu confiar nisso? Posso confiar como meu guia, como esperança, como a visão que me dará fé em meu próprio julgamento, que novamente é o resultado de memórias acumuladas, experiências, o condicionamento do passado se encontrando com o presente? Ora, quando me fiz todas estas perguntas e estou consciente deste problema, vejo que só pode haver um estado no qual realidade, inovação, pode surgir, que gera uma revolução. Esse estado existe quando a mente está completamente vazia do passado, quando não existe analista, nem experiência, nem julgamento, nem autoridade de qualquer tipo.

A mudança acontece quando não existe medo, quando não existe nem experimentador nem experiência; só então acontece a revolução que está além do tempo. Mas isso não pode acontecer enquanto estou tentando mudar o “eu”, enquanto estou tentando mudar o que é em outra coisa. Eu sou o resultado de todas as compulsões, persuasões sociais e espirituais, e de todo o condicionamento baseado na ambição – meu pensamento se baseia nisso. Para me libertar desse condicionamento, dessa ambição, eu digo a mim mesmo: “Eu não devo ser ambicioso; devo praticar a não-ambição”. Mas tal ação está, ainda, dentro do campo do tempo, é ainda a atividade da mente. Apenas veja isso. Não diga: “Como vou chegar nesse estado onde sou não-ambicioso?” Isso não é importante. Não é importante ser não-ambicioso; o importante é compreender que a mente que está tentando sair de um estado para outro está ainda funcionando dentro do campo do tempo, e, portanto, não há revolução, não há mudança. Se você quiser, realmente, compreender isto, então a semente dessa revolução radical já foi plantada e isso vai operar: você não tem nada a fazer. (Collected Works, Vol. VIII, 163, Choiceless Awareness)




J. Krishnamurti





Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/

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