terça-feira, 10 de março de 2015

A SOCIEDADE É O PRODUTO DAS NOSSAS RELAÇÕES

Por que é que nós, seres humanos, não temos sido capazes de resolver este problema do relacionamento embora tenhamos vivido nesta Terra durante milhões de anos? É por que cada um tem sua própria imagem específica construída pelo pensamento, e o nosso relacionamento está baseado em duas imagens: a imagem que o homem cria sobre a mulher, e a imagem que a mulher cria sobre o homem? Portanto, neste relacionamento somos como duas imagens vivendo juntas. Isso é um fato. Se você se observar muito cuidadosamente, se me permite salientar, você verá que criou uma imagem dela e ela criou uma imagem, uma estrutura verbal, sua. Portanto o relacionamento dá-se entre estas duas imagens. Estas imagens foram construídas pelo pensamento. E pensamento não é amor. (The Network of Thought, p 87)

Por que temos imagens de nós mesmos? Essas imagens separam as pessoas. Se você tem uma imagem de si mesmo como suíço, ou britânico, ou francês, etc., essa imagem não só distorce sua observação da humanidade, mas também o separa dos demais. E onde quer que haja separação, divisão, tem que haver conflito – como há conflito acontecendo por todo o mundo, os árabes contra os israelitas, os muçulmanos contra os hindus, uma igreja cristã contra outra. A divisão nacional e a divisão econômica resultam de imagens, conceitos, ideias e o cérebro agarra-se a estas imagens. Por quê? (The Network of Thought, pp 40-41)

Qual é a relação entre você e a infelicidade, a confusão, tanto dentro como em torno de si? Por certo esta confusão, esta infelicidade, não surgiu sozinha. Você e eu a criamos, não uma sociedade capitalista ou comunista ou fascista, mas você e eu a criamos em nossa relação um com o outro. O que você é interiormente foi projetado no exterior, no mundo; o que você é, o que você pensa e o que você sente, o que você faz em sua existência diária é projetado exteriormente, e isso constitui o mundo. Se você está infeliz, confuso, caótico por dentro, isso, por projeção se torna o mundo, se torna a sociedade, pois a relação entre você e eu, entre eu e outra pessoa é a sociedade – a sociedade é o produto das nossas relações – e se a nossa relação for confusa, egocêntrica, restrita, limitada, nacional, projetamos isso e trazemos o caos ao mundo. (The First and Last Freedom, p 36)

A maioria de nós neste mundo confuso e brutal tenta forjar uma vida privada propriamente sua, uma vida em que possamos ser felizes e pacíficos, e, ainda assim, viver com as coisas deste mundo. Parecemos pensar que a vida diária que levamos, a vida de luta, conflito, dor e sofrimento é algo separado do mundo externo de infelicidade e confusão. Parecemos pensar que o indivíduo, o “você”, é diferente do resto do mundo com todas as suas atrocidades, guerras e motins, desigualdade e injustiça, e que isso é algo inteiramente diferente da nossa vida individual particular. Ao olhar um pouco mais de perto, não somente para sua própria vida mas também para o mundo, você verá que aquilo que você é – sua vida diária, o que você pensa, o que você sente – é o mundo externo, o mundo ao seu redor. (Talks with American Students, p 8)

Este vasto problema do mundo é seu problema e meu problema, ou é independente de nós? A guerra é independente de você? O conflito nacional independe de você, a luta comunitária independe de você? A corrupção, a degradação, a desintegração moral – essas coisas são independentes de cada um de nós? Esta desintegração está diretamente relacionada conosco, e, portanto, a responsabilidade cabe a cada um de nós. Certamente, esse é o problema principal, não é? Isto é, por outras palavras: o problema deve ser deixado para os poucos líderes, quer da esquerda quer da direita, para o partido, para a disciplina, para uma ideologia, para as Nações Unidas, para o perito, para o especialista? Ou se trata de um problema que nos envolve diretamente, o que quer dizer: Somos diretamente responsáveis por estes problemas, ou não? Por certo, essa é a questão, não é? (The Collected Works vol V, p 182)




J. Krishnamurti





Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/