sábado, 14 de março de 2015

NOTAS SOBRE A TRADIÇÃO CABALÍSTICA


No primeiro número de L'Initiation do século XX, datado de janeiro de 1901, Papus publicou algumas notas que Saint-Yves d'Alveydre lhe havia endereçado, com o objetivo de trazer sua pedra ao estudo da cabala. Ei-las, em sua íntegra.


Meu caro amigo,

Para mim é um verdadeiro prazer responder à sua apreciada carta. Nada tenho a acrescentar ao seu notável livro sobre a cabala judaica. Ele se coloca entre os melhores, conforme a apreciação tão eminente e tão meritória que dele fez o saudoso senhor Franck, do Instituto, homem mais autorizado a fazer um julgamento sobre esse tema.

Sua obra completa a dele, não somente no que tange à erudição, mas também no que se refere à bibliografia e à exegese dessa tradição especial. Mais uma vez, creio ser esse belo livro definitivo. Mas, sabedor do meu respeito pela tradição e, ao mesmo tempo, da minha necessidade de universalidade e de verificação por todos os procedimentos dos métodos atuais, e conhecendo, além disto, os resultados dos meus trabalhos, você não teme que eu amplie o tema; ao contrário, pede-me que o faça.

Na verdade aceitei apenas como inventariante os livros da cabala judaica, por mais interessantes que sejam. Mas uma vez concluído o inventário, minhas pesquisas pessoais conduziram à universalidade anterior de onde procedem esses documentos arqueológicos, e sobre o princípio assim como sobre as leis que puderam motivar esses fatos do espírito humano.

A cabala dos judeus provinha dos caldeus, via Daniel e Esdras. Já a cabala dos israelitas anteriores à dispersão das dez tribos não-judias, provinha dos egípcios, via Moisés.

Para os caldeus, como para os egípcios, a cabala fazia parte daquilo que todas as universidades metropolitanas chamariam a Sabedoria, ou seja, a síntese das ciências e das artes conduzidas ao seu Princípio comum. Esse Princípio era a Palavra ou o Verbo.

Um precioso testemunho da antiguidade patriarcal pré-mosaica declara essa Sabedoria perdida ou abastardada cerca de três mil anos antes de Cristo. Esse testemunho é Jó e a antiguidade desse livro é assinalada pela posição das constelações que ele menciona: "Que foi feito da Sabedoria, onde estará ela?" - diz este santo patriarca.

Em Moisés, a perda da unidade anterior e o desmembramento da Sabedoria patriarcal, estão indicados sob o nome de divisão das línguas e da Era de Nemrod. Essa época da Caldéia corresponde à de Jó.

Um outro testemunho da antiguidade patriarcal é o bramanismo. Ele conservou todas as tradições do passado, superpostas como as diferentes camadas geológicas da Terra. Todos os que a estudaram do ponto de vista moderno foram surpreendidos por suas riquezas documentais e pela impossibilidade em que se encontram seus possuidores de classificá-las de uma maneira satisfatória, tanto do ponto de vista cronológico quanto do ponto de vista científico. Suas divisões em seitas bramânicas, vishnavistas, sivaístas, para citar apenas estas, aumentam ainda mais a confusão.

Não é menos verdadeiro que os brâmanes do Nepal fazem remontar ao começo do kali-yuga a ruptura da antiga universalidade e da unidade primordial dos ensinamentos.

Esta síntese primitiva retrata, bem antes do nome de Brahma, o de Ishva-Ra, Jesus-Rei: Jesus Rex Patriarcharum, dizem nossas litanias.

É a esta síntese primordial que São João faz alusão no começo do seu evangelho; mas os brâmanes estão longe de considerar que seu Ishva-Ra seja nosso Jesus, Rei do Universo, como Verbo Criador e Princípio da Palavra humana. Sem isto eles seriam todos cristãos.

O esquecimento da Sabedoria Patriarcal de Ishva-Ra data de Krishna, o fundador do bramanismo e de sua trimourti. Ainda aí há concordância entre os Brâmanes, Jó e Moisés, quanto ao fato e quanto à época.

Desde os tempos babélicos nenhum povo, nenhuma raça, nenhuma universidade não possuem mais, senão em estado de fragmentos, a antiga universalidade dos conhecimentos divinos, humanos e naturais, restabelecidos ao seu Princípio: o Verbo-Jesus. Santo Agostinho designa sob o nome de "Religio Vera" esta síntese primordial do Verbo.

A cabala rabínica, relativamente recente como redação, era conhecida a fundo e integralmente em suas fontes escritas ou orais pelos adeptos judeus do primeiro século da nossa era. Certamente ela não tinha segredo para um homem do valor e da ciência de Gamaliel. Como também não o tinha para seu primeiro e proeminente discípulo, São Paulo, tornado apóstolo do Cristo ressuscitado.

Ora, eis o que diz São Paulo na Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo II, versículos 6,7 e 8: "Entretanto, o que pregamos aos perfeitos é uma Sabedoria, porém não a Sabedoria deste mundo, nem a dos grandes deste mundo, que são aos olhos daquele, desqualificados. Pregamos a Sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para a nossa glória. Sabedoria que nenhuma autoridade deste mundo conheceu (pois se a houvessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da Glória)".

Todas estas palavras são pesadas como o ouro e o diamante de quilate, e não há uma delas sequer que não seja infinitamente precisa e preciosa. Elas proclamam a insuficiência da cabala judaica.

Uma vez esclarecida a universalidade da questão que nos interessa, concentremos esta luz sobre esse fragmento dos mais preciosos da Sabedoria antiga que é ou que pode ser a cabala judaica.

Esclareçamos, inicialmente, o sentido da palavra Cabala.

Esta palavra possui dois sentidos, dependendo de ser escrita, como fazem os judeus, com o "Q", ou seja, com a vigésima letra do alfabeto assírio, aquela que traz o número 100, ou com o "C", a décima primeira letra do mesmo alfabeto, e que traz o número 20.

No primeiro caso a palavra significa Transmissão, Tradição, e a coisa permanece assim indecisa; pois tanto vale o transmissor quanto a coisa transmitida; tanto vale o traidor quanto a tradição. (1)

Acreditamos que os judeus transmitiram bem fielmente o que receberam dos sábios caldeus, com sua escrita e a refundição dos livros anteriores de Esdras, que foi ele próprio orientado por Daniel, Grande-mestre da Universidade dos Magos da Caldéia. Mas do ponto de vista científico isto não faz a questão avançar; só faz recuar a um inventário dos documentos assírios e, na sequência, à fonte primordial. No segundo caso, Ca-Ba-La significa o Poder. La, dos XXII, CaBa, já que C = 20 e B = 2.

Mas a questão é então resolvida com exatidão, pois se trata do caráter científico, associado na antiguidade patriarcal aos alfabetos das vinte e duas letras numerais.

Seria necessário fazer desses alfabetos um monopólio de raça, chamando-os semíticos? Talvez, se for realmente um monopólio, não no caso contrário.

Ora, a partir da minha pesquisa dos alfabetos antigos da Caba-La, de XXII letras, o mais oculto, o mais secreto - que certamente serviu de protótipo, não somente para todos os outros do mesmo gênero, mas para os signos védicos e as letras sânscritas - é um alfabeto ariano. Exatamente aquele que fiquei muito feliz te ter comunicado a você, e que eu mesmo resguardo de brâmanes eminentes que jamais tentaram perguntar-me o seu segredo.

Ele se distingue dos outros ditos semíticos por serem suas letras morfológicas, ou seja, falando exatamente por suas formas, o que faz dele um tipo absolutamente único. Além do mais, um estudo atento me fez descobrir que essas mesmas letras são os protótipos dos signos zodiacais e planetários, o que é também de relevante importância.

Os brâmanes chamam esse alfabeto de Vattan, e ele parece remontar à primeira raça humana, pois por suas cinco formas-mães rigorosamente geométricas, ele se auto-assina Adão, Eva e Adamah.

Moisés parece designá-lo no versículo 19 do capítulo II do seu Sepher Bereshith. Além do que esse alfabeto se escreve de baixo para cima e suas letras agrupam-se de maneira a formar imagens morfológicas ou falantes. Os pânditas (2) apagam esses caracteres do quadro-negro tão logo a lição dos gurus é concluída. Eles os escrevem também da esquerda para a direita, como o sânscrito, portanto à européia. Por todas as razões precedentes, esse alfabeto prototípico de todos os Kaba-Lim pertence à raça ariana.

Portanto, não se pode mais dar aos alfabetos desse gênero o nome de semíticos, já que eles não são o monopólio das raças assim denominadas, com ou sem razão.

Mas pode-se e deve-se chamá-los de esquemáticos. Ora, o esquema não significa somente o signo da Palavra, mas também Glória. É a esse duplo significado que se deve prestar atenção ao ler a citada passagem de São Paulo.

Ela existe também em outras línguas como o eslavônio. A etimologia da palavra eslavo, por exemplo, é "slovo" e "slava", que significa palavra e glória.

Esses sentidos já levam bem alto. O sânscrito vai corroborar essa atitude. "Sama", que também encontramos nas línguas de origem céltica, significa similitude, identidade, proporcionalidade, equivalência etc.

Veremos mais adiante a aplicação desses significados antigos. Por enquanto, resumamos o precedente.

A palavra cabala, tal como a compreendemos, significa o alfabeto das XXII Potências, ou a Potência das XXII letras desse alfabeto. Esse gênero de alfabetos tem um protótipo ariano ou jafético. (3) Ele pode ser designado, com toda a propriedade, sob o nome de alfabeto da Palavra ou da Glória.

Palavra e Glória! Por que estas duas palavras são tão próximas em duas línguas antigas tão distantes quanto o eslavônio e o caldeu? Isto se deve a uma constituição primordial do Espírito humano em um Princípio comum, ao mesmo tempo científico e religioso: o Verbo, a Palavra cosmológica e seus equivalentes.

Jesus, em sua última prece tão misteriosa, lança - nisto como em tudo - uma luz decisiva sobre o mistério histórico que nos ocupa aqui: "Ó Pai! Coroa-me com a Glória que tive antes que este mundo fosse!"

O Verbo encarnado faz aqui alusão à Sua Obra, à Sua criação direta como Verbo criador, criação designada sob o nome de mundo divino e eterno da Glória, protótipo do mundo astral e temporal, criado pelos "Alahim" sobre esse modelo incorruptível.

Que o Princípio criador seja o Verbo - a Antiguidade é unânime sobre esse ponto. Falar e criar eram então sinônimos em todas as línguas.

Para os brâmanes os documentos anteriores ao culto de Brahma representam Isou-Ra, Jesus-Rei, como o Verbo criador.

Para os egípcios, os livros de Hermes Trismegisto dizem a mesma coisa; e Oshi-Ri é Jesus-Rei lido da direita para a esquerda.

Para os trácios, Orfeu, iniciado nos Mistérios do Egito aproximadamente na mesma época que Moisés, havia escrito um livro intitulado "O Verbo Divino".

Quanto ao próprio Moisés, o Princípio é a primeira palavra e o objeto da primeira frase de seu Sepher. Não se trata de Deus em sua essência, IHOH, que só é nomeada no sétimo dia, mas de Seu Verbo, criador da Hexada divina: Bra-Shith. Bara significa falar e criar; Shith significa Hexada. Em sânscrito, mesmos significados: BaRa-Shath.

Esta palavra Bara-Shith deu lugar a inúmeras discussões. São João a apresenta como Moisés, desde o começo de seu Evangelho e diz, em siríaco, (4) língua cabalística de XXII letras: "o Princípio é o Verbo". Jesus havia dito: "Eu sou o Princípio".

O sentido exato é desta forma fixado por Jesus, mesmo corroborando toda a universalidade anterior pré-mosaica.

O precedente explica que as universidades verdadeiramente antigas consideravam o Verbo criador como a incidência da qual a Palavra humana é a Reflexão exata, quando o processo alfabético molda exatamente o Planisfério do Cosmos.

O processo alfabético, armado de todos os seus equivalentes, representa então o mundo eterno da Glória, e o processo cósmico representa o mundo dos céus astrais.

É por isto que o Rei-Profeta, eco de toda a Antiguidade patriarcal, diz: "Coeli enarrant Dei Gloriam" (em bom Português, "o mundo astral conta o mundo da Glória divina".) O universo invisível fala através do visível.

Restam aqui duas coisas a serem determinadas:

1) o processo cósmico das escolas antigas;

2) o processo dos alfabetos correspondentes.

Para o primeiro ponto, III Formas-mães: o centro, o raio ou diâmetro e o círculo; XII signos involutivos; VII signos evolutivos.

Para o segundo ponto, ao qual os anciãos concediam o primeiro plano: III letras construtivas; XII involutivas; VII evolutivas.

Nos dois casos:

III + XII + VII = XXII = CaBa

Pronúncia de:

C = 20, B = 2, total 22, C.Q.F.D.

Os alfabetos de vinte e duas letras correspondiam, pois, a um zodíaco solar ou solar-lunar, armado de um setenário evolutivo. Eram os alfabetos esquemáticos.

Os outros, seguindo o mesmo método, tornavam-se por 24 letras os horários dos precedentes, por 28 letras, seus lunares, por 30, seus mensais solar-lunares, por 36 seus decânicos etc.

Nos alfabetos de vinte e duas letras, a Real, a Emissiva da ida, a Remissiva da volta, era o "I" ou "Y" ou "J"; e colocado sobre o primeiro triângulo equilátero inscrito, ela devia formar autologicamente, com duas outras, o nome do Verbo e de Jesus: IshVa-(Ra), Oshi-(Ri).

Contrariamente, todos os povos que abraçaram o cisma naturalista e lunar tomaram por Real a letra "M", que comanda o segundo trígono elementar.

Todo o sistema védico, depois bramânico foi assim ordenado por Krishna, a partir do começo do Kaly-Yuga. Tal é a chave do livro das guerras de IEVE, guerras da Real "I" ou "Y" contra a usurpadora "M".

Você viu, meu caro amigo, as provas bem modernas - quer dizer, de simples observação e experimentação científica - pelas quais a mais antiga tradição foi ao mesmo tempo restabelecida e verificada por mim. Colocarei aqui apenas o estritamente necessário à elucidação do fato histórico da Cabala.

Segundo os patriarcas que os precederam, os brâmanes dividiram as línguas humanas em dois grandes grupos:

1) devanágaris, (5) línguas da cidade celeste ou de civilização reconduzidas ao Princípio cosmológico divino;

2) prácritos, (6) línguas de civilizações selváticas ou anárquicas.

O sânscrito é uma língua devanágari de quarenta e nove letras, o veda igualmente com suas oitenta letras ou signos derivados do ponto do AUM, ou seja, a letra "M".

Essas duas línguas são cabalísticas em seu sistema peculiar, no qual a letra "M" forma o ponto de partida e de retorno. Mas elas foram desde sua origem, e permanecem até hoje, articuladas sobre uma língua de templo de vinte e duas letras, cuja Real primitiva era o "I".

Qualquer retificação se torna possível e fácil, graças a esta chave, aos maiores triunfos e glória de Jesus. Verbo de IEVE, em outras palavras, da Síntese primordial dos primeiros Patriarcas.

Os brâmanes atuais atribuem ao seu alfabeto de vinte e duas letras uma virtude mágica; mas esta palavra não tem para nós outro significado senão superstição e ignorância.

Superstição, decadência e superstição de elementos arqueológicos e de fórmulas mais ou menos alteradas, mas que um estudo aprofundado pode algumas vezes, como é aqui o caso, ligar a um ensinamento anterior, científico e consciente, e não metafísico e místico. Ignorância maior ou menor dos fatos, das leis e do princípio que motivaram esse ensinamento primordial.

De resto, a escola lunar vedo-bramânica não é a única onde a ciência e sua síntese solar, a religião do Verbo, degeneraram em magia. Basta explorar um pouco a universidade terrestre a partir da época babélica para ver uma decadência crescente atribuir cada vez mais aos alfabetos antigos um caráter supersticioso e mágico.

Da Caldéia à Tessália, da Cítia à Escandinávia, dos Kouas de Fo-Hi e dos Musnads da antiga Arábia, às Runas dos Varegues, pode-se observar a mesma degenerescência.

A verdade, nisto como em tudo, é infinitamente mais maravilhosa do que o erro, e você bem conhece, caro amigo, esta admirável verdade.

Enfim, como nada se perde na humanidade terrestre, assim como em todo o Cosmos, o que foi ainda é e testemunha a antiga universalidade de que fala Santo Agostinho em suas Retratações.

Os brâmanes fazem cabala com os oitenta signos védicos, com as quarenta e nove letras do sânscrito devanágari, com as dezenove vogais, semivogais e ditongos, ou seja, toda a massorá (7) de Krishna, acrescentada por ele ao alfabeto vatan ou adâmico.

Os árabes, os persas, os subas fazem cabala com seus alfabetos lunares de vinte e oito letras e os marroquinos com o seu, ou Koreish.

Os tártaros mandchus fazem cabala com seu alfabeto mensal de trinta letras.

As mesmas observações se aplicam aos tibetanos, chineses etc.; mesmas reservas quanto às alterações da ciência antiga dos equivalentes cosmológicos da Palavra.

Resta saber em que ordem esses XXII equivalentes devem ser funcionalmente classificados no planisfério do Cosmos.

Você tem diante dos seus olhos, caro amigo, o modelo de acordo com o que foi legalmente registrado sob o nome de arqueômetro. Sabe também que as chaves desse instrumento de precisão, a ser utilizado nos altos estudos, me foram dadas pelo evangelho, por certas palavras muito precisas de Jesus, que devem ser cotejadas com as de São Paulo e de São João.

Permite-me agora resumir com um mínimo de palavras.

Todas as universidades religiosas, asiáticas e africanas, munidas de alfabetos cosmológicos, solares, solar-lunares, lunares, mensais etc., servem-se de suas letras de uma maneira cabalística. Quer se trate de ciência pura, de poesia interpretando a ciência ou a inspiração divina, todos os livros antigos, escritos em línguas devanágaris e não prácritas, só podem ser compreendidas graças à cabala de suas línguas. Mas estas devem ser levadas aos XXII equivalentes esquemáticos, e estes a suas posições cosmológicas exatas.

A cabala dos judeus é, portanto, motivada por toda a constituição anterior do espírito humano; mas ela precisa ser arqueometrada, (8) ou seja, medida por seu Princípio regulador, controlada pelo instrumento de precisão do Verbo e de sua síntese primordial.

Não sei, caro amigo, se estas páginas irão responder à sua afetuosa expectativa. Tive que resumir capítulos inteiros em algumas linhas.

Queira, portanto, desculpar as imperfeições e ver aqui apenas um testemunho da minha boa vontade e da minha velha amizade.




Saint-Yves d'Alveydre
10 de janeiro de 1901




Fonte: do livro "A CABALA, A TRADIÇÃO SECRETA DO OCIDENTE"
PAPUS (DR. GÉRARD ENCAUSSE)

Fonte da Gravura: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Saint-Yves_d'Alveydre




Esta matéria foi publicada originalmente no número 3, de 1999, da edição francesa de L'Initiation.
A presente tradução foi publicada no número 9, de Abril/Junho de 2003, da edição em língua portuguesa.



NOTAS DO TRADUTOR:

(1) O autor faz aqui um jogo de palavras entre traditeur e tradition, a primeira delas significando "traidor" (francês arcaico, e em voga no século XV) e a outra "tradição", palavras de raiz idêntica e sentidos inteiramente dessemelhantes.

(2) Na Índia, homem estimado por sua sabedoria e/ou conhecimentos. A palavra também é frequentemente usada como título honorífico. Sua origem etimológica se encontra no sânscrito "pandita".

(3) De, ou descendente de Jafet, filho de Noé.

(4) Aramaico clássico.

(5) Segundo o Dicionário Houassis, devanágari é o alfabeto derivado do brami, utilizado na escrita do hindi e de muitas outras línguas da Índia (prácrito, marata, sânscrito etc). Etimologicamente, sua origem é o sânscrito devanágari 'id.', complemento de deva, 'deus' e nágari 'urbano', isto é, 'cidade de Deus', usado para caracterizar o 'alfabeto da cidade de deus'.

(6) Ainda segundo o Dicionário Houassis, "prácrito" é a denominação geral de um grande grupo de línguas e dialetos da Índia, da família indo-européia, ramo indo-ariano, sub-ramo indo-árico, grupo sânscrito, falados em diferentes épocas [De maneira geral, os prácritos eram línguas faladas, por oposição ao sânscrito, que possuía escrita e rica literatura e que com o tempo se tornou língua somente escrita; alguns prácritos evoluíram para línguas literárias antigas e modernas, como o páli, o marata antigo e o moderno.

(7) Segundo o Dicionário Houassis, "massorá" é um conjunto de comentários críticos e gramaticais (soletração, vocalização, divisão em orações e parágrafos etc.] sobre a Bíblia hebraica, feitos por doutores judeus com o objetivo de determinar a forma correta do texto escrito, mantendo-lhe a pureza e evitando que ocorram alterações em sua transmissão. Naturalmente, neste caso, a definição é extendida à tradição hindu.

(8) Submetida à análise do Arqueômetro. Para uma melhor compreensão, sugerimos a leitura do livro Saint-Yves d'Alveydre: A Sinarquia • O Arqueômetro • As Chaves do Oriente, de Yves-Fred Boisset, publicado pela Gnosis Editorial.

AUTOCONHECIMENTO - RELAÇÕES

Compreender todo o processo de si mesmo requer constante vigilância, consciência, na ação da relação. Deve haver um olhar constante de cada incidente, sem escolha, sem condenação ou aceitação, com certo sentido de impassibilidade, de modo que a verdade de todo incidente é revelada. Mas este autoconhecimento não é um resultado, um fim. Não há fim para o autoconhecimento; ele é um constante processo de compreensão, que surge apenas quando a pessoa começa, objetivamente e vai mais e mais fundo por todo o problema do viver diário, que é o “você” e o “eu” em relação.(Collected Works, Vol. VI, 233, Choiceless Awareness)


O autoconhecimento não é uma coisa para ser comprada em livros, nem é o resultado de uma longa e dolorosa prática e disciplina, mas é conscientização, de momento a momento, de cada pensamento e sentimento quando ele surge na relação. A relação não está num nível abstrato, ideológico, mas na realidade, a relação com a propriedade, com pessoas e com ideias. Relação implica existência e, como nada pode viver em isolamento, ser é estar em relação. Nosso conflito é na relação, em todos os níveis de nossa existência, e a compreensão desta relação, completa e amplamente, é o único problema real que cada pessoa tem. Este problema não pode ser adiado nem evitado. Evitá-lo só cria mais conflito e miséria; fugir dele só provoca negligência, que é explorada pelos astutos e ambiciosos. (Collected Works, Vol. VI, 50, Choiceless Awareness)


Interrogante: Que relação tem o observador, meu observador, com outros observadores, com outras pessoas? Krishnamurti: O que queremos dizer com a palavra “relação”? Já estivemos relacionados com alguém, ou a relação é entre duas imagens que criamos um do outro? Eu tenho uma imagem de você, e você tem uma imagem de mim. Tenho uma imagem de você como minha esposa ou marido, ou o que seja, e você tem uma imagem de mim também. A relação é entre estas duas imagens e nada mais. Ter relação com o outro só é possível quando não existe imagem. Quando posso olhar para você e você pode olhar para mim sem a imagem da memória, de insultos e todo o resto, então há uma relação, mas a própria natureza do observador é a imagem, não é? Minha imagem observa sua imagem, se for possível observá-la, e isto é chamado relação, mas é entre duas imagens, uma relação que não existe porque ambas são imagens. Estar em relação significa estar em contato. O contato deve ser uma coisa direta, não entre duas imagens. Isto requer muita atenção, uma conscientização, olhar o outro sem a imagem que tenho sobre a pessoa, a imagem sendo minhas memórias daquela pessoa, como ela me insultou, como me agradou, me deu prazer, isto ou aquilo. Só quando não existem imagens entre os dois, existe relação. (Collected Works, Vol. XVII, 7, Choiceless Awareness)


Portanto, a nossa primeira busca é se é possível terminar o conflito em todos os nossos relacionamentos – em casa, no escritório, em cada área da nossa vida – pôr fim ao conflito. Isto não significa que nos retiremos para o isolamento, nos tornemos monges, ou nos afastemos para algum canto da nossa imaginação e fantasia; significa viver neste mundo para compreender o conflito. Porque, enquanto houver conflito de qualquer tipo, naturalmente as nossas mentes, nossos corações, nossos cérebros, não podem funcionar em sua capacidade máxima. Só podem funcionar plenamente quando não há atrito, quando há claridade. E só há claridade quando a mente, que é a totalidade... está num estado de não-conflito, quando ela funciona sem atrito algum; só então é possível ter paz. (Collected Works, vol. XVI, p 4)




J. Krishnamurti





Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/