segunda-feira, 30 de março de 2015

LIBERAÇÃO

As cargas mentais negativas possuem a nefasta força de desorganizar as engrenagens psicológicas e físicas do ser. Acostumando-se-lhes, será necessário ingente esforço para destrinçá-las nos sutis emaranhados dos campos de energia geradora da vida.

Recordações desagradáveis, pensamentos perturbadores, ideias viciosas, frases deprimentes do ontem, ressumam como necessidades de queixas, ressentimentos guardados, iras conservadas, depreciação de si mesmo, desamor, num conjunto de ingredientes destrutivos, que terminam por desorganizar o ser que se lhes permite vitimar.

Não se pode evitar o haver nascido em um lar agressivo, entre pessoas hostis, sob injunções sócio-morais e econômicas penosas. Tal acontecimento faz parte do passado e a lamentação somente complica-o, ao invés de eliminá-lo.

Submeter-se às reminiscências deploráveis torna-se uma forma de infeliz masoquismo, que vitaliza o que não se tem como eliminar, embora os recursos de que se dispõe para sobrepô-las e esquecê-las.

Toda vez que alguém se apóia à autocompaixão diante do insucesso da existência planetária, acomoda-se ao sucedido e preserva-o por conformismo. Faz-se, então, inadiável, a decisão para ser feliz, revertendo o ocorrido.

A reencarnação conduziu-te a um lar que consideras inadequado para o teu progresso, e que te faz sofrer. Talvez, tu mesmo o hajas elegido para adaptar-te desde cedo ao processo reparador.

Cada um se vincula aos seres de que necessita para a evolução. Permanecer, porém, ergastulado a esses eventos afligentes é atitude acomodatícia com o negativo e perturbador, quando dispões de valiosos meios para a libertação.

Problemas existem, para serem solucionados.

Dificuldades são testes para desafiar os valores latentes do conhecimento, da capacidade de luta de cada um.

Se preferes a autopiedade, ninguém te poderá ajudar.

O ressentimento, o medo, a queixa, a reclamação do passado, mais te farão dependente do acontecido, no qual inconscientemente te apóias a fim de não lutares pela restauração da paz e o logro da alegria.

Não podes nem deves incorporar à existência os vaticínios danosos que te fizeram, as expressões chulas que te dirigiram, as frases deprimentes que te endereçaram, as agressões verbais, morais e físicas de que foste vítima. Isso já passou e não tens como fazer, para que não houvessem sucedido. Desviar-lhes, porém, os efeitos daninhos, sim, cabe-te realizá-lo.

Sabes que não és o que te acusaram. Mas, se por infortúnio da tua fragilidade psicológica, incorporaste à personalidade as investidas aleivosas e te crês conforme te definiram, rompe as algemas e ensaia a tua libertação.

És uma gema bruta por lapidar. Se, exteriormente, a ganga é impura, tens no íntimo o brilho das estrelas, que te cumpre liberar.

Começa agora o novo processo da tua vida.

Dá-te a oportunidade de provar a ti mesmo quanto possuis, e conseguirás produzir.

Experimenta o prazer de construir o teu futuro e, de pronto, começarás a ser uma pessoa ditosa.


Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis





Fonte: do livro "Momentos de Saúde", cap. 4, LEAL
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

RAIVA, VIOLÊNCIA E SEGURANÇA

Pergunta: Como lidamos com a violência em outra pessoa? Krishnamurti: Meu vizinho é violento: como lido com isso? Dou a outra face? Ele vai achar bom. Que devo fazer? Você faria essa pergunta se fosse realmente não violento, se não houvesse nenhuma violência em você? Escute bem essa pergunta. Se no seu coração, na sua mente, não houver violência alguma, ódio algum, nem amargura, nem sentimento de realização, nem desejo de ser livre, nenhuma violência, você faria essa pergunta sobre como lidar com o vizinho violento? Ou você saberia o que fazer com ele? Outras pessoas poderão chamar de violência o que você faz, mas você pode não ser violento; naquele momento em que o seu vizinho age violentamente, você saberá como lidar com a situação. Mas uma terceira pessoa, observando, poderá dizer: “Você também é violento”. Mas você sabe que não é violento. Portanto, o que importa é ser completamente livre de violência – e não o que outra pessoa diga de você. (Beyond Violence, pp 83-84)

Quando se defronta com a violência, o cérebro passa por uma rápida mudança química; ele reage muito mais rapidamente do que o golpe. O corpo todo reage e há resposta imediata; a pessoa pode não revidar, mas a própria presença da raiva ou do ódio causa essa resposta e existe ação. Na presença de uma pessoa com raiva, veja o que acontece quando se está ciente disso sem que haja resposta a isso. No momento em que se está cônscio da raiva de outrem, e não se reage, há uma resposta muito diferente. O instinto da pessoa é responder ao ódio com ódio, à raiva com raiva; há uma injeção química que enseja reações nervosas no sistema. Mas acalme tudo isso na presença da raiva, e uma ação diferente se manifestará. (Questions and Answers, p 23)

Será que existe raiva justa? Ou só há raiva? Não há boa influência ou má influência, só há influência; mas, quando você está influenciado por algo que não me agrada, chamo isso de má influência. No momento em que você protege sua família, seu país, um pano colorido chamado bandeira, uma crença, uma ideia, um dogma, a coisa que você exige ou possui, essa mesma proteção indica raiva. Então, será que você pode olhar para a raiva sem nenhuma explicação ou justificação, sem dizer: “Preciso proteger os meus bens”, ou “Eu estava certo em ficar com raiva”, ou “Como fui estúpido em ficar com raiva”? Você consegue olhar para a raiva como se ela fosse algo em si mesma? Consegue olhar com completa objetividade, o que significa sem a defender nem a condenar? (Freedom from the Known, p 52)

Psicologicamente, em nosso relacionamento com ideias, pessoas e coisas, queremos segurança, mas será que existe segurança em algum relacionamento? É claro que não. Querer segurança psicológica é negar a segurança exterior. Se quero estar psicologicamente seguro como hindu, com todas as tradições, superstições e ideias, identifico-me com o grupo maior, que me dá grande conforto. Assim, adoro a bandeira, a nação, a tribo, e me isolo do resto do mundo. Essa divisão, obviamente, traz insegurança física. Quando adoro a nação, os costumes, os dogmas religiosos, as superstições, isolo-me dentro dessas categorias e, então, é claro, preciso negar a segurança física para todos os outros. A mente busca segurança física, a qual é negada quando ela busca segurança psicológica. (The Flight of the Eagle, pp 57-8)



J. Krishnamurti






Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/