quarta-feira, 14 de outubro de 2015

CONSCIENTIZAÇÃO, NÃO-ESFORÇO E SENSIBILIDADE

Interrogante: Qual é a diferença entre conscientização e sensibilidade? Krishnamurti: Será que existe alguma diferença? Você sabe, quando você faz uma pergunta, o importante é descobrir por si mesmo a verdade do assunto e não, meramente, aceitar o que alguém diz. Então, vamos descobrir juntos o que é estar consciente. Você vê uma bela árvore com suas folhas brilhando depois da chuva; vê a luz do sol reluzindo na água e nas penas matizadas dos pássaros; você vê os aldeões caminhando para a cidade carregando fardos pesados, e ouve o riso deles; ouve o latido de um cão, ou um bezerro chamando a mãe. Tudo isso é parte da conscientização, a consciência do que está a sua volta, não é? Chegando mais perto, você nota sua relação com as pessoas, com ideias e coisas; você está consciente de como considera a casa, a avenida; você observa suas reações ao que as pessoas lhe dizem, e como sua mente está sempre avaliando, julgando, comparando, ou condenando. Tudo isso é parte da conscientização, que começa na superfície e vai, então, mais e mais fundo, mas para a maior parte de nós a conscientização pára em certo ponto. Nós percebemos os ruídos, as canções, as paisagens belas ou feias, mas não estamos conscientes de nossas reações a elas. Dizemos, “Isso é belo”, ou, “Isso é feio”, e vamos adiante; nós não examinamos o que é beleza, o que é feiura. Certamente, ver quais são suas reações, estar mais e mais alertado a todo movimento de seu próprio pensamento, observar que sua mente está condicionada pela influência de seus pais, de seus professores, de sua raça e cultura – tudo isto é parte da conscientização, não é? (Think on These Things, 202, Choiceless Awareness)

Se você sentar na margem de um rio depois de uma tempestade, você vê a correnteza passando, carregando uma porção de entulhos. Do mesmo modo, você tem que olhar o movimento de si mesmo – acompanhar cada pensamento, cada sentimento, cada intenção, cada motivo – apenas olhar. Esse olhar é também ouvir; é estar cônscio com seus olhos, com seus ouvidos, seu insight, de todos os valores que os seres humanos criaram, e que condicionaram você, e é apenas este estado de total conscientização que encerrará toda busca. Por favor, ouçam isto. A maior parte de nós pensa que conscientização é uma coisa misteriosa a ser praticada, e que devíamos ficar dia após dia falando sobre conscientização. Ora, você não chega à conscientização desse jeito realmente. Mas se você está cônscio de coisas externas, a curva da estrada, a forma de uma árvore, a cor do vestido da outra, o contorno das montanhas contra o céu azul, a delicadeza de uma flor, a dor no rosto do transeunte, a ignorância, a inveja, o ciúme dos outros, a beleza da terra, então, vendo todas estas coisas externas sem condenação, sem escolha, você pode percorrer a maré da conscientização interna. Então você ficará consciente de suas próprias reações, de sua própria insignificância, de seu próprio ciúme. Da consciência exterior você chega à interior, mas se você não está consciente do exterior não pode, possivelmente, chegar ao interior. Quando há conscientização interior de cada atividade de sua mente e seu corpo, quando você está consciente de seus pensamentos, seus sentimentos, os secretos e os acessíveis, conscientes e inconscientes, então, a partir dessa conscientização surge uma clareza que não é induzida, não construída pela mente. E sem essa clareza faça o que fizer, procure céus e terra e as profundezas, mas você nunca descobrirá o que é verdadeiro. (Collected Works, Vol. XV, 242, Choiceless Awareness)

O esforço não significa uma luta para mudar o que é no que não é, ou no que devia ser, ou no que deveria se tornar? Estamos constantemente fugindo do que é, para transformá-lo ou modificá-lo. Só quando não há conscientização exata do que é, então o esforço para transformar acontece. Então, esforço é não-conscientização. A conscientização revela o significado do que é, e a completa aceitação da significação traz liberdade. Assim, conscientização é não-esforço; conscientização é a percepção do que é sem distorção. A distorção existe quando existe esforço. (Collected Works, Vol. IV, 117, Choiceless Awareness)

Interrogante: Senhor, se não houver esforço, se não houver método, qualquer transição para o estado de conscientização, qualquer mudança para uma nova dimensão, deve ser um acidente completamente fortuito e, consequentemente, não afetado por nada que você possa dizer sobre o assunto. Krishnamurti: Ah, não, senhor! Eu não disse isso. Eu disse que a pessoa tem que estar cônscia. Estando cônscia, a pessoa descobre como é condicionada. Estando cônscio, sei que sou condicionado – como hindu, budista, cristão; eu sou condicionado como nacionalista: inglês, alemão, russo, indiano, americano, chinês – sou condicionado. Nós nunca tratamos disso. Esse é o refugo que somos, e esperamos que alguma coisa maravilhosa surja disto, mas receio que não seja possível. Estar consciente não é acontecer uma eventualidade, uma coisa irresponsável e vaga. Se a pessoa compreende as implicações da conscientização, não apenas seu corpo se torna altamente sensível, mas toda a entidade é ativada; há uma nova energia dada a ela. Faça isto, e você verá. Não sente na margem e especule sobre o rio; mergulhe e siga a corrente desta conscientização, e você descobrirá por si mesmo como nossos pensamentos, sentimentos e nossas ideias são extraordinariamente limitados. Nossas projeções de deuses, salvadores e mestres, tudo isso se torna muito óbvio, muito infantil. (Collected Works, Vol. XV, 138, Choiceless Awareness)




J. Krishnamurti





Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/