sábado, 23 de janeiro de 2016

OS FATORES DO MEDO 3

Pergunta: Você observa o medo e percebe-se fugindo dele. O que é que você deve fazer? Krishnamurti: Primeiro, não resista à fuga. Para observar o medo, você precisa prestar atenção; e na atenção você não condena, não julga, não avalia, mas só observa. Quando você foge é porque sua atenção se desviou, você não está presente – há falta de atenção. Fique desatento, mas esteja consciente de estar desatento – essa percepção da sua desatenção é atenção. Se você estiver cônscio da sua desatenção, fique cônscio disso, não faça coisa alguma sobre isso, exceto ficar cônscio de que você está desatento; então essa própria percepção é atenção. É muito simples. Uma vez percebendo isso, terá eliminado todo o conflito; você estará cônscio sem escolha. Quando você diz: “Tenho estado atento, mas agora já não estou atento e preciso ficar atento”, há escolha. Ficar cônscio significa ficar cônscio sem escolha. (Beyond Violence, p. 71)

Temos uma grande diversidade de medos, e procuramos resolver tais medos de modo fragmentário. Parece que não somos capazes de ir além disso. Se pensamos ter compreendido determinado medo e tê-lo resolvido, outro medo aparece. Quando conscientes do medo, tentamos fugir dele, tentamos encontrar uma resposta, tentamos descobrir o que fazer, ou tentamos suprimi-lo. Como seres humanos, desenvolvemos, com perspicácia, uma rede de meios de fuga: Deus, diversões, bebidas, sexo, qualquer coisa. Todas as fugas dão no mesmo, quer feitas em nome de Deus ou da bebida! (The Collected Works, vol. XVI, p. 174)

Não há somente os medos conscientes, dos quais todos estão cônscios, mas também aqueles que estão bem fundo, nos recessos ocultos da mente. Como lidar com medos conscientes e ainda com aqueles que são ocultos? Certamente, o medo está na fuga a “o que é”; é a fuga, o escape, o evitar da realidade que redunda em medo. Também, quando há qualquer tipo de comparação, há criação de medo – a comparação daquilo que você é com aquilo que você pensa que deveria ser. Por conseguinte, o medo está na fuga ao que é real, e não no objeto do qual você foge. Nenhum desses problemas do medo pode ser resolvido por meio da vontade, dizendo a si mesmo: “Não ficarei com medo”. (Beyond Violence, p. 64)

Neste momento, enquanto estou sentado aqui, não estou temeroso. Não tenho medo no presente, nada está me acontecendo, ninguém está me ameaçando ou tirando coisa alguma de mim. Mas, para além do momento atual, há uma camada mais profunda na mente que, consciente ou inconscientemente, está pensando no que poderá acontecer no futuro, ou está preocupada com que algo do passado possa alcançar-me. Portanto, estou com medo do passado e do futuro. Dividi o tempo em passado e futuro. O pensamento chega e diz: “Cuide para que isso não ocorra de novo”, ou “Prepare-se para o futuro. O futuro pode ser perigoso para você. Você conseguiu alguma coisa agora, mas pode perdê-la. Você pode morrer amanhã, sua esposa pode fugir, você pode perder o emprego. Talvez você nunca fique famoso. Poderá ficar solitário. Você precisa ter certeza do amanhã.” (Freedom from the Known, p. 42)

Como é que surgem esses medos psicológicos? Qual é a sua origem? Essa é a questão. Há o medo de algo que aconteceu ontem; o medo de algo que pode acontecer mais tarde, hoje ou amanhã. Há o medo daquilo que conhecemos, e há o medo do desconhecido, que é o amanhã. Pode-se perceber por si mesmo, muito claramente, que o medo surge por meio da estrutura do pensamento – pensando sobre o que aconteceu ontem (coisa de que se tem medo), ou pensando sobre o futuro. Certo? O pensamento produz o medo, não é verdade? Por favor, certifiquemo-nos disso. Não aceitem o que diz o palestrante; fiquem absolutamente certos, por si mesmos, sobre se o pensamento é a origem do medo. (The Flight of the Eagle, p. 12)




J. Krishnamurti





Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Tumblr.com