quarta-feira, 15 de março de 2017

TRÊS TIPOS DE FÉ - COMO SE LIBERTAR DAS CRENÇAS FALSAS


Todo ser humano tem fé; - fé em alguma coisa, em algum ideal, alguma concepção, alguma religião, alguma fórmula. Mas enquanto a fé de diferentes pessoas tem este ou aquele objeto, a fé em si mesma vem do Mais Alto, e é inerente ao coração de cada ser. A fé é a própria base do nosso ser.

Seja qual for o caminho que seguimos, fazemos isso por causa da fé que temos – a convicção de que este é o melhor caminho. O fato de que o mundo está cheio de convicções falsas se deve às diferentes ideias, crenças e filosofias, que limitam a fé propriamente dita aos meios considerados necessários para alcançar um objetivo específico.

O capítulo dezessete do “Bhagavad Gita” afirma que há três espécies de fé. Existe a fé de qualidade sattva, que é boa e verdadeira; a fé de qualidade rajas, de ação e de paixão; e a fé da qualidade tamas, de indiferença e ignorância. Estas três qualidades dadas à fé são, na verdade, as três limitações colocadas na fé por todo ser humano; porque o poder da fé é, em si mesmo, ilimitado. Nós limitamos continuamente esta energia para que ela opere dentro do alcance de alguns objetos menores, ou de um ideal baseado em coisas externas.

“A alma presa a um corpo tem o dom da fé, e cada homem possui a mesma natureza que o ideal em que ele fixa a sua fé.” O homem tem a fé de acordo com a sua disposição; e ele também adquire continuamente a substância do ideal em que ela se baseia. É evidente, portanto, que deveríamos conhecer com segurança a natureza da fé sobre a qual está colocado o nosso ideal.

Se alguém coloca a sua fé em qualquer coisa externa, seja qual for – deuses ou homens, religiões ou sistemas de pensamento – ela não tem qualquer base firme. O homem impede a força do seu próprio espírito de expandir-se além dos limites do seu ideal. Quando, por exemplo, nós aceitamos a ideia de que nada é real exceto aquilo que podemos ver, escutar, saborear, cheirar ou tocar, estamos colocando nossa fé sobre uma base muito inferior.

Existe uma causa para que haja falsidade em nosso pensamento e na nossa ação, quando pensamos que o momento presente é o único momento, que o mundo externo e terrestre e esta existência atual são a única vida, da qual saímos para ir não sabemos onde, sem saber tampouco qual o propósito disso tudo.

Olhar para todos os seres a partir das nossas próprias limitações mentais e da nossa capacidade de percepção – e ver apenas os aspectos externos da fala e da ação deles – não é vê-los como realmente são. Um Deus externo, ou um demônio externo, uma Lei externa, uma salvação externa dos pecados, e a ideia de que o pecado seja qualquer coisa além da negação da nossa própria natureza divina (o pecado imperdoável), são todos objetos de fé externa, que possuem a natureza de tamas, ou ignorância. A ignorância sempre leva à superstição. A superstição leva à falsa crença, e a falsa crença produz a fé falsa.

Estamos todos em constante conflito uns com os outros por causa da fé que é colocada sobre bases falsas, e pelo próprio fato de que a fé colocada em qualquer coisa tem resultados. Os homens tornam-se cegos para a fé real e verdadeira devido aos resultados que até mesmo a falsa fé produz. No entanto, enquanto tivermos uma fé falsa, continuaremos a criar vidas de sofrimento para nós mesmos. Os resultados que fluem de uma fé falsa colocada em um ideal egoísta trazem-nos necessariamente maus efeitos em condições inadequadas. Eles são as próprias limitações que nós impusemos sobre nós mesmos através de fé colocada em objetos externos em outras vidas, e temos que voltar várias vezes em outros corpos até que nos libertemos dos defeitos que foram produzidos em nossa natureza pela fé em coisas externas.

Devemos obter uma base para o pensamento e a ação que seja melhor do que a fé falsa e hereditária das atrações e repulsões. Nós produzimos os efeitos que vemos. Mas, se mudarmos nossos ideais, não necessitaremos continuar repetindo os mesmos erros uma vida após a outra. Basta encontrar uma base verdadeira para a fé. Temos que colocar nossa fé sobre aquilo que não é externo, mas interno.

O Interno é a própria fonte de todo tipo de poderes que possuímos, e este Interno é o mesmo em todos os seres vivos. Na própria raiz do nosso ser, está aquele Eu imutável que nós só podemos conhecer dentro de nós mesmos. Para podermos alcançar o nosso interior em busca Dele, devemos primeiro renunciar a todas as nossas ideias – a tudo que muda.

Em primeiro lugar, o homem deve renunciar à ideia de que ele é o seu corpo. Ele ocupa o corpo; ele o usa; mas ele sabe que o corpo está sempre mudando, e que nunca, nem por um instante, o corpo é o mesmo que foi no momento anterior. O homem deve renunciar também à ideia de que ele é a sua mente. Porque ele pode mudar as ideias que a compõem – pode expulsá-las, corporalmente, e adotar o próprio oposto delas, se quiser -, e no entanto ainda estará lidando com outras ideias. Nós não somos corpos, não somos mentes, nem somos as duas coisas juntas; mas somos Aquilo que usa e que sustenta o corpo e a mente.

Através de todas as mudanças do passado e do presente, e das mudanças que estão por vir, sempre seremos nós mesmos. Mesmo quando a morte vier, ainda estaremos operando – de uma maneira diferente da maneira do corpo físico. O Eu Imutável coloca o universo inteiro ao alcance da mente de qualquer ser. Esta é uma base estável para o pensamento, a ação e a compreensão interior de si mesmo.

Devemos saber três coisas: cada um é o Eu em sua natureza mais interna; toda força que ele tem surge desse Eu; e todo ser de qualquer espécie é consciente, tendo o poder correspondente ao seu campo de percepção e ação. Todo instrumento está sujeito à limitação da concepção que há sobre a real natureza do indivíduo. O homem nunca poderá compreender sua unidade com a Única Grande Vida olhando para outros seres, nem através de qualquer tipo de fé. Ele só pode obter esta compreensão olhando para sua própria natureza. A sua própria substância é compreendida olhando aquilo que não é a natureza do Eu. Porque qualquer coisa que seja vista, ouvida, sentida, saboreada ou percebida não é o Eu, mas apenas uma percepção do Eu.

O Eu percebe aquilo que pode ser percebido através das suas próprias ideias, de acordo com sua própria fé, mas aquilo que é percebido nunca é o Eu. Dentro de cada ser que faz qualquer ação, ou em qualquer ser em quem percebemos qualquer coisa, há um Eu; mas não o percebemos. Só compreendendo este Eu dentro de nós mesmos poderemos compreender a sua existência dentro dos outros seres todos. Assim, devemos honrar a natureza espiritual de cada um, e esforçar-nos para ajudar aquele ser a ver por si mesmo o caminho verdadeiro pelo qual ele poderá compreender a sua própria natureza! Todos nós temos que pensar e agir tendo como guia esta natureza verdadeira.

Pensamos que estamos impedidos de muitas maneiras de adotar o ponto de vista da verdadeira natureza. Mas isto é apenas uma ilusão que nasce da fé falsa que temos tido. Temos estabelecido ideias, atrações e repulsões, e sentimentos que, devido à lei do retorno das impressões, voltam a nós uma e outra vez. No momento em que tentamos adotar uma atitude oposta, encontramos o resultado da ação combinada de todas estas forças existentes dentro de nós. Isso é o que podemos chamar de “guerra nos céus” – a guerra na própria natureza do homem.

Mas se ele permanecer sincero em relação à sua própria natureza espiritual, estará destinado a vencer. Se ele tiver fé na lei da sua natureza, irá adiante; e, gradualmente, os obstáculos desaparecerão. Devemos perseverar de modo severo, e ter confiança e fé Naquilo que é o único fator Real em toda parte – a própria Vida -, a Consciência. Então serão destruídos os grilhões que construímos para nós mesmos. Todas as forças da natureza começam a agir sobre nós e conosco, porque não temos desejos em relação a nós próprios, mas apenas desejamos o bem e a salvação de todos.  Todas as almas e todas as coisas parecem trabalhar para proveito nosso, mas não porque nós queiramos isso. Começamos a ver o significado espiritual da afirmativa de que o homem que deseja salvar sua vida deve perdê-la. [1] Ele renuncia a tudo o que está no nível da aquisição para si mesmo, dedicando todas as suas energias ao serviço dos outros, e o universo inteiro passa a estar diante dele. Ele pode tomar tudo para si. Mas não deve tomar coisa alguma para si, exceto para doá-la novamente. Não deve aceitar nada, a não ser para colocá-lo novamente aos pés dos outros!

Não se coloca a questão de pecados ou de pecador. Não se coloca a questão de bem e mal. Há apenas uma questão: “Você está trabalhando para você mesmo como você vê a si mesmo, ou está trabalhando para o Eu como você deveria entender que você é, e mais nada?” Se não quiser coisa alguma para si mesmo, se não exigir coisa alguma para este corpo, mas pensar apenas em trabalhar pelos outros, aquilo que é necessário virá de acordo com a lei da própria força em função da qual você produz uma atração.

O apoio vem de todas as direções. Toda a natureza – espiritual, intelectual, psíquica, astral e física – é fortalecida; e até as circunstâncias ao seu redor são melhoradas. É a nossa falta de fé – a nossa ausência de fé Naquilo – que nos coloca onde não gostaríamos de estar. Negar o Cristo interior, o Krishna interior, o Espírito interior, é o “pecado imperdoável”. E, enquanto nós crucificarmos o Cristo interno, iremos sofrer na cruz das paixões e dos desejos humanos. Trabalhar para nós mesmos é uma criação que nos amarra firmemente a condições inadequadas. Podemos tentar obter corpos melhores, posições melhores, posses e propriedades de todos os tipos, qualidades melhores, e uma compreensão melhor apenas sob uma condição, a de que nossa intenção seja a de tornar-nos mais capazes de ajudar e ensinar os outros.

A única fé verdadeira é a fé no Mais Alto – no imutável, Naquilo que cada um é em sua natureza mais interior. O único caminho verdadeiro é o da confiança na lei da nossa própria natureza espiritual. Os homens podem ir de fé em fé, trocando a fé em uma coisa pela fé em alguma outra coisa, e avançar de vida em vida obtendo resultados de acordo com a natureza do ideal sobre o qual está colocada sua fé. Mas o único caminho de saída é o caminho da fé na natureza espiritual e essencial de todos os seres. E não poderia ser dado a qualquer ser humano um dom maior do que o fato inegável de que ele – e cada um – tem o poder de compreender esta fé. Isso faz parte do conhecimento antigo, preservado por uns poucos e colocado em prática por uns poucos. É algo que Eles sempre têm trazido para um mundo baseado em formas falsas de fé, tentando assim ensinar os povos em geral.

Aquele que segue o Caminho da verdadeira fé não se afasta dos seus semelhantes. Os seus semelhantes são mais importantes para ele do que jamais foram antes. Ele vê mais coisas neles. Ele enxerga mais claramente as dificuldades que eles enfrentam, e deseja ajudá-los de todas as maneiras possíveis. Assim, ele está mais vivo como homem. Ele age com mais consciência do que os outros. Ele consegue mais do que eles da natureza, porque vê o todo e vê os aspectos dos indivíduos que compõem o todo. Ele aproveita a vida tanto quanto – e ainda mais do que – o homem que vive para buscar a diversão e a felicidade, o homem cuja ambição é pessoal. Mas ele não vive para si mesmo. O único objetivo da sua vida é que os seres humanos possam conhecer estas verdades, porque ele sabe que o conhecimento significa a destruição das formas falsas de fé, e portanto a destruição de todo o sofrimento e dos horrores da existência física. Assim, a evolução continuará através de saltos e de limitações. Os homens irão libertar-se de lugares aos quais se dedicaram, e irão adiante sem limites, em um universo de possibilidades infinitas.

Quando todas as nossas crenças falsas, nossos desejos e paixões, atrações e repulsões tiverem sido abandonadas como vestimentas velhas, e quando tenhamos reassumido aquela natureza em nós que é divina, então seremos capazes de construir uma civilização tão mais elevada do que a atual quanto seria possível imaginar. Porque não podemos fugir do Carma da raça humana atual, nem daqueles efeitos que foram produzidos por todos nós em conjunto, e que devemos enfrentar juntos.

A melhor maneira, a maneira mais elevada e a maneira mais segura de agir é avançar ao longo da linha da nossa própria natureza interior, e, ao fazer isso, dar elementos para que outros possam compreender as suas naturezas internas. Então, permanecendo Naquilo que é imortal, imutável, sem limites, Naquilo que é o nosso próprio eu e o Eu de todas as criaturas, a compreensão virá; ela virá pouco a pouco, mas certamente virá.




Robert Crosbie





Fonte: do Blog "Filosofia Esotérica"
http://www.filosofiaesoterica.com/tres-tipos-fe/
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NOTA:

[1] Veja Mateus, 10:39. (CCA)

O texto acima foi traduzido da obra “The Friendly Philosopher”, de Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 1945, 416 pp., ver pp. 354-359. Título original do texto: “Three Kinds of Faith”.

NÃO-APEGO À AÇÃO (KARMA SANYASA)


Ação encontra realização quando a sabedoria nasce. A ação santificada (Karma) é o caminho para alcançar a sabedoria espiritual (Jnana). Toda atividade valiosa deve resultar na purificação da mente. Portanto, ninguém, nem mesmo um recluso ou monge pode desistir de se engajar em boas ações. Essas ações devem se originar espontaneamente e não devem deixar qualquer vestígio de orgulho na mente. Nem devem deixar qualquer apego ao resultado da ação que leva a um desejo de reivindicá-lo para si mesmo. A renúncia deve ser a única fonte de alegria. A Gita recomenda a "inação na ação" e afirma que a "inação" é a "ação" mais gratificante para aqueles que lutam pela paz suprema. Esta atitude é chamada Karma Sanyasa (não-apego à ação). A ação ou atividade é geralmente associada apenas ao corpo, mas a mente também está ocupada com o mundo. Apenas o Atma é a testemunha não afetada. Assim, o segredo da "inação na ação" consiste em buscar refúgio no Atma e em reconhecer todos os seres vivos como fundamentalmente o Atma. (Discurso Divino, 2 de janeiro de 1987)





Sathya Sai Baba






Fonte: https://www.sathyasai.org.br/
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MORTE, UM TEMA QUE AINDA GOLPEIA ANSEIOS E AFLIGE SENTIMENTOS

O homem contemporâneo, que investiga desde o micro ao macrocosmo, cambaleia, ante os vestíbulos da sepultura com a mesma amargura dos egípcios, dos gregos e dos romanos de épocas recuadas. Os milênios que arrasaram civilizações e refundiram povos, não transformaram a emblemática expressão do túmulo. Infinitos ponto de interrogação, a morte continua ferindo sentimentos e torturando inteligências. O homem tem sentido perturbação e temor perante a expectativa da desencarnação. E esse receio tem sido alimentado por uma mistura de falsos conceitos religiosos, senso comum e crenças pessoais arraigadas.

O problema do medo da morte é que ele pode impedir que se tenha encanto na vida e minar a confiança de que a vida tenha maior significado. As religiões textualistas são especialmente responsáveis por gerar uma série de fobias e mitos a respeito da inevitável viagem ao túmulo. A má formação religiosa tem deixado muitas pessoas confusas a respeito da situação dos mortos no além-tumba. Os destinos, que incluem o céu, inferno, purgatório, limbo, vão desde o misterioso até o absolutamente assombrador. Por outro lado, obra Death -The Final Stage of Growth afiança que a morte é uma parte integrante da nossa vida, é normal, é o fim natural de todos os organismos vivos. Tal crença materialista, por sua vez tem fomentado uma filosofia niilista e o comportamento pessimista.

Há pessoas que sofrem de tanatofobia (receio mórbido da morte). Psicólogos têm examinado os efeitos mentais e sociais causados por pensar na morte. Segundo alguns, pensar na morte nos torna mais nacionalistas, mais preconceituosos e reforça atitudes igrejeiras ou inconscientemente religiosas, bem como afetam as crenças políticas. Narram que a morte nos deixa mais punitivos e conservadores. A lembrança da morte alimenta o desejo por fama comumente associado a uma imortalidade simbólica, daí a busca pela imortalidade nas tais academias de letras.

Será que pensar mais na morte pode nos tornar mais punitivos e preconceituosos? Talvez n’alguns tais efeitos possam ocorrer justamente porque estejam desacostumados a pensar e falar sobre a morte. Entendemos que pensar diariamente sobre a inexorável lei da desencarnação pode nos tornar mais sóbrios diante dos desafios do dia-a-dia. Reconhecemos além disso que o viver tentando ocultar na consciência a futura desencarnação demonstra uma evidente pusilanimidade (*falta de coragem) diante dos necessários obstáculos da reencarnação.

O problema do medo da morte é que ele pode impedir que tenhamos liberdade e prazer de viver. Daí o conforto que a Doutrina Espírita nos traz, ao instruir sobre a vida do espírito aqui e no além. Somos espíritos eternos, nossa vida não principia nem termina em uma única existência. Da mesma forma, as legítimas afeições são para sempre. As afeições não morrem com a desintegração do corpo físico. Os sentimentos não pertencem ao corpo, mas ao espírito e os transportamos conosco. A morte apenas dilata as concepções e nos aclara a introspecção, iluminando-nos o senso moral, sem resolver, obviamente, de maneira absoluta, os problemas que o Universo nos propõe a cada passo, com os seus espetáculos de grandeza.

A desencarnação é a única regra para a qual não há exceção. Todos pereceremos, portanto não há como iludirmos o pensamento tentando camuflar esse impositivo da natureza. Em face disso, permitamos que o pensamento sobre a “morte” componha de forma ininterrupta e serena nossos estados mentais, reflexão sem a qual estaremos desaparelhados para a desencarnação ou até despreparados para enfrentarmos com resignação a “morte” dos nossos entes queridos.

A “morte” física não é o extermínio das aspirações e anseios no bem, porém o ingresso para a existência autêntica, para a vida real. Sim! A existência física é ilusória, fugaz, transitória demais. A separação do corpo pela “morte” não é uma anomalia da natureza. Simplesmente transfere-se da dimensão física, para o ambiente espiritual. Todavia, efetivamente, importa refletir que “morrer” (término da vida biológica) e desencarnar (desligamento do perispírito) são fenômenos que nem sempre acontecem simultaneamente. Os intervalos de tempo para desligar-se do corpo variam para cada Espírito. Para uns podem ser mais demorados, para outros podem ser passagens ligeiras.

Nossas ações tecem asas de libertação ou grilhetas de cativeiro, para a nossa vitória ou nossa perda. A maior surpresa da morte física é a de nos colocar face a face com própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal, nesse sentido a ninguém devemos o destino senão a nós próprios.

O intervalo de tempo entre a “morte” biológica e a desencarnação tem relação direta com os pensamentos e ações praticados enquanto encarnado. Ninguém topará com o “céu” ou o “inferno” do lado de “lá”, porquanto o “empíreo” e a “geena” são conteúdos mentais construídos aqui no plano físico. Após o fenômeno da desencarnação cada Espírito irá deparar com o cárcere ou a liberdade de consciência a que faz merecer como fruto do desleixo ou disciplina mental que cultivou durante a experiência física.

São indescritíveis flagelações no além, que vão da inconsciência descontínua à loucura completa, senhoreiam as mentes torturadas, por tempo variável, conforme as atenuantes e agravantes da culpa, induzindo as autoridades superiores a interna-las no plano físico (reencarnação), quais enfermos graves, em celas físicas de breve duração, para que se reabilitem, gradativamente, com a justa cooperação dos Espíritos reencarnados, cujos débitos com eles se afinem. Os endividados que se afundaram nos excessos, nas viciações, nos prazeres mundanos, cunham intensas impressões e vínculos magnéticos na matéria, e unicamente alcançarão a liberação desses laços após um intervalo de tempo muito longo. Lembrando que mesmo após a ruptura dos embaraços magnéticos, que o algemavam à vida física, padecerá no além, por tempo indefinido, os tormentos disseminados nas vias de suas experiências no mal (eis aí a símbolo do inferno).

Já os que vivem com mais dedicação às coisas do Espírito, esses encontram maiores elementos de paz e felicidade no futuro. Todos os que alcançaram aproveitar a encarnação, sem viciações e apegos, os que cumpriram a lei de amor, tornam-se menos densos os laços magnéticos que prendem o Espírito ao corpo. Nesse caso, a desencarnação será rápida, proporcionando adequada liberdade, até mesmo antes de sua consumação. Para os que sofreram mais, em razão da sua renúncia aos apelos da vida mundana, a morte é um remanso de tranquilidade e de esperança. Encontrarão no além a paz ambicionada nos seus dias de lágrimas torturantes (eis aí a metáfora do céu).
(*observação deste blog)




Jorge Hessen




Fonte: do Blog "Artigos Espíritas"
https://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com.br/
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