sexta-feira, 31 de março de 2017

A EGRÉGORA


Já aconteceu com você de sentir-se particularmente feliz num lugar qualquer, particularmente à vontade, sem razão aparente? Na floresta povoada de claros-escuros cintilantes, sentiu, como o Conde de Gabalis, o roçar sutil dos gnomos, dos silfos e das salamandras, hóspedes espirituais desses locais? Após uma reconfortante reunião, você saiu satisfeito, sentindo-se em união perfeita com todos? Quanto a mim, lembro-me de um concerto de danças caucasianas, onde a sala inteira encontrava-se unida como um só ser. Lembro-me de um extraordinário solo de Heifetz no silêncio religioso de quinhentas respirações suspensas ao som cristalino do violino, silêncio que permaneceu por alguns segundos após a última nota do virtuose, antes da explosão das aclamações.

Por outro lado, aconteceu com você de sentir-me oprimido ao pisar nos restos dos campos de concentração, nos campos de batalha de Oradour-sur-Glane? Diz-se que o sangue dos mártires de todas as ideologias clama ao céu sua dor e que a imagem dos acidentes impregna os cruzamentos onde se produziram. No metrô parisiense, que transporta tantos espíritos heteróclitos* e libera uma infinita tristeza, quantos têm o coração apertado pela atmosfera que lá impera e pela morosidade dos viajantes que nos cercam; privados também da "bolha de ar" necessária ao bem-estar de nossa aura, sufocamos. 

Esses estados de espírito podem vir de nossa percepção da egrégora do lugar.

Que é uma egrégora?

Ao se reunirem, os seres formam, pela união de sua vontade, um ser coletivo novo chamado Egrégora. La Voix Solaire (A Voz Solar) em seu número de março de 1961, dava-nos a seguinte definição: "Egrégora, reunião de entidades terrestres e supra-terrestres constituindo uma unidade hierarquizada, movidas por uma ideia-força".

Esta palavra poderia originar-se no grego "egregoren", que significa "velar". No Livro de Enoch está escrito que os anjos que tinham jurado velar sobre o Monte Hermon teriam se apaixonado pelas filhas dos homens, ligando-se "por mútuas execrações**".

Papus, em seu Traité élémentaire de Science Occulte (Tratado elementar de Ciência Oculta) introduz uma nova noção: As egrégoras são "imagens astrais geradas por uma coletividade" (p. 561).

Em La Voie Initiatique (A Via Iniciática), Serge Marcotoune constata que a energia nervosa se manifesta por raios no plano astral: "O astral está cheio de miríades de centelhas, flechas de cores das ideias-força. Sabemos que cada pensamento, cada intenção a que se mistura um elemento passional de desejo, se transmite em ideia-movimento dinâmica, completamente separada do ser que a forma e a envia, mas seguindo sempre a direção dada. As ideias-força são os elementos mais elementares do plano astral; elas seguem sua curva traçada pelo desejo do remetente" (p. 195). É por isso que precisamos controlar nossos desejos a fim de que eles não pesem sobre nós, acorrentando-nos, imprimindo à nossa aura cores diferentes. A meditação e a prece do iniciado regeneram-no, permitindo-lhe emitir ideias sadias e tranquilizantes. No astral, os "spiritus directores", os espíritos-guias, canalizam as ideias-força para zonas determinadas.

Em La Clef de la Magie Noire (A Chave da Magia Negra), Stanislas de Guaita analisa a história da Convenção, desmascarando as entidades homicidas coletivas e os atos sanguinolentos delas decorrentes (p. 324). De fato, no mundo astral as coisas semelhantes aglutinam-se para criar um coletivo, graças às suas vibrações idênticas. A egrégora, ser astral, possui seu centro e seu eixo nesse plano e busca um ponto de apoio terrestre para assegurar-se das formas estáveis.

O iniciado aproxima-se assim dos seres superiores e elevados. No astral nascem os germes das grandes associações, das grandes amizades, das proteções. Em constante modificação, em evolução, as formas das egrégoras são, na maior parte do tempo, efêmeras. As egrégoras não possuem ponto de apoio. Elas podem obstruir nosso caminho ou ser utilizadas por um operador.

Marcotoune escreve: "As egrégoras que podemos considerar como prontas formam uma classe à parte. São as egrégoras da cadeia iniciática ou das grandes religiões. Elas servem à obra sacrifical de expiação do Filho de Deus para salvar a humanidade. São dirigidas diretamente pelos seres reintegrados e pela vontade divina. Situadas no cume do plano astral, perdem-se na fusão com os planos espiritual e divino" (p. 206). Elas realizam o destino cósmico de todo o universo.

Os antigos...

Basta que o mundo invisível seja um poderoso auxiliar para os seres humanos, para convencê-los de ler os textos antigos. Se os homens criaram mitos, foi porque se viram confrontados com forças imensas, incompreensíveis, dissimuladas nas profundezas ocultas da Natureza. Sabiam que cotidianamente eram travados combates na terra e no céu.

Zeus luta contra os Titãs; Rama combate os demônios gigantescos do Ramayana; Krishna ajuda o guerreiro Ariuna em seus embates com a Vida, os exércitos vindos do invisível são confrontados com os do manifesto. No Règlement de Guerre (Regulamento da Guerra) dos essênios, vê-se o mundo angélico inteiro empenhado na batalha terrestre. Na China, o Culto dos Ancestrais estabelecia um equilíbrio ente a Terra e o Céu por meio da Egrégora familiar astral. Papus cita Ovídio no Traité Elementaire de Science Occulte: "Quatro coisas devem ser consideradas no homem: os manes, a carne, o espírito e a sombra. Essas quatro coisas são colocadas cada uma em seu lugar: a terra cobre a carne; a sombra flutua em redor da tumba, os manes estão no inferno e o espírito voa para o céu" (p. 404). Os egípcios pensavam que não só o ser humano possui um duplo (Kha), mas também todos os animais e todas as coisas em que a vida se faz sentir: as cidades, as províncias, as nações. Henri Duville o observa na sua A Ciência Secreta (La Science secrète).

E nós...

Estamos convencidos, como Beaudelaire que: "A Natureza é um templo onde viventes pilares deixam às vezes escapar confusas palavras. O homem nela passa através de florestas de símbolos que o observam com olhares familiares..."

Somos convidados com insistência a decifrar o que está oculto (ocultismo), a descobrir o que está fora das coisas (esoterismo), a aprofundar o que nos espanta porque, diz Aristóteles, "do espanto vem a Sabedoria".

A noção de egrégora libera dos grilhões religiosos. Na verdade somente o Amor ao Bem e à Verdade, somente nossa ação e nosso Coração nos conduzirão à família espiritual que nos corresponde, segundo a densidade de nosso espírito.

Como Swedenborg, viajaremos em grupos unidos, sendo ensinados pelos diversos grupos de anjos que formam sociedades à parte, elas próprias reagrupadas em um grande corpo porque, diz ele, "o céu é um grande homem". Paulo, na Epístola aos Romanos (12) e em 1 Coríntios 12, escreve: "Formamos um único corpo com o Messias"... "Sim, o corpo é um, mas há vários membros e todos os membros do corpo, que são numerosos, formam um único corpo". Tal é a comunhão dos Santos.

Jesus dissera: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei entre eles".

No Apocalipse, João faz os Anjos responsáveis pelas Nações intervirem, porque somos responsáveis pelos erros coletivos cometidos. Ninguém pode lavar as mãos, como fez Pilatos: guerras, fomes, massacres diminuem nossa liberdade, porque participamos da egrégora da Terra; da mesma forma que os genes de nossa hereditariedade marcam a história de nosso corpo. Segundo a Bíblia, cidades inteiras foram punidas por causa de sua egrégora envenenada. Phaneg escreveu: "Todo coletivo constitui na verdade uma família no espiritual e tem seu chefe. É a este chefe que o Espírito fala..."

Compreende-se, nessa ordem de ideias, que jamais se deve responder ao ódio com ódio, porque então as duas egrégoras selariam uma aliança estreita para nossa maior danação. Devemos estar convencidos que nenhuma de nossas aspirações para o Bem se perde e que nossa vida deve produzir Ideias-força poderosas. É o segredo da prece dos "fracos". Se utilizamos ritos é porque eles constituem um apelo às forças elevadas. Se realizamos uma Cadeia de União, é para ligar o visível ao invisível num campo magnético fechado onde as forças perpendiculares se projetarão. Ela é ao mesmo tempo criadora e receptora; escudo protetor e receptor de influências astrais e espirituais. As egrégoras são dinamização das auras num objetivo preciso.

Todo o esforço da vida iniciática tem por meta utilizar, da melhor maneira possível, nossa vida, nossos ímpetos, nosso amor, para equilibrá-los e fazer deles uma base sólida num esforço de continuidade e de ascensão.

Metamorfoseemo-nos pela mutação de nosso coração; é a via cardíaca martinista.


* heterogêneos, diferentes (obs. deste blog)
** ações não consagradas; não sagradas (obs. deste blog)



Michèle Séguret




Fonte: Hermanubis Martinista
http://www.hermanubis.com.br/index.html
Fonte da Gravura: http://elishean-portesdutemps.com/wp-content/uploads/2015/01/famille-d%C3%A2mes.jpg

A ESSÊNCIA DO FUTURO HUMANO


Um Conhecimento Adequado da Lei do Carma Levará a Humanidade à Felicidade Suprema

O equilíbrio que surge do conhecimento filosófico produz uma satisfação duradoura. Para obter esta conquista, devemos adotar uma visão de longo prazo em relação à vida, esforçar-nos para viver corretamente, e aprender com os nossos erros.

A Lei do Carma constitui a chave e o código que levam desde o sofrimento até a felicidade. O conhecimento da lei do universo liberta o buscador da verdade.

O pensador Robert Crosbie escreveu:

“Na realidade, a Teosofia não exagera de modo algum a importância do ‘lado árido’ da vida. Ela explica com lógica e bom senso as coisas que ocorrem; e uma vez que o ser humano entende em função de que a meta da vida existe e qual é o seu verdadeiro significado, e percebe as suas grandes possibilidades, ele não pode mais concentrar-se no ‘lado árido’, mas sente uma imensa confiança, uma grande esperança e alegria – e tem uma base verdadeira para este sentimento.”

Crosbie acrescentou:

“O fato de que a Lei do Carma governa todas as coisas e cada circunstância é uma evidência de que a mais exata Justiça é a lei da vida. Quando o ser humano vê que não há um ‘Deus’ que o condenará ou punirá, e percebe que só receberá o que é justo e que seguramente receberá tudo o que pertence a ele porque o Universo é regido pela Lei, então ele não tem mais motivo para sentir-se ‘sem alegria’; mas se sente satisfeito, responsável e confiante.” [1]


O Dhammapada Ensina a Ser Feliz

O pessimismo constitui uma característica dos ingênuos. Esse sentimento é frequentemente infantil. Está ligado à falta de uma autoconfiança profunda, e pode ser curado através da busca da verdade. Mohini M. Chatterjee escreveu sobre o fato de que a Teosofia é um caminho para a felicidade. [2] O “Dhammapada” budista examina cuidadosamente o processo pelo qual o desapego leva à bem-aventurança. Em um estilo que inclui um grau de repetição mantrâmica, esta obra clássica afirma:

“Devemos viver, pois, livres do ódio e felizes entre os que odeiam. Entre os homens que odeiam, que nós vivamos livres do ódio. Devemos viver, pois, livres da doença da cobiça e felizes entre os que sofrem desta doença. Entre os homens que têm a doença da cobiça, que vivamos livres desta doença. Devemos viver, pois, livres da ansiedade e felizes entre os que estão consumidos pela preocupação. Entre os ansiosos, que nós vivamos livres da ansiedade. Devemos viver com felicidade, pois, nós que nada possuímos. Vivamos como os Seres Iluminados, alimentados pelo contentamento.” [3]

É um fato que a primeira nobre verdade do budismo é Dukkha, uma palavra frequentemente traduzida como Sofrimento. No entanto, as outras três nobres verdades do budismo ensinam sobre o caminho que vai do Sofrimento para o Nirvana, ou Felicidade.

Um pensamento lúcido e uma visão equilibrada da vida nos permitem compreender pouco a pouco o fato de que Sabedoria é Felicidade; e perceber, também, que toda satisfação verdadeira e durável deve emergir como resultado natural de uma vida correta.


Três Verdades Sobre o Futuro Humano

Os sábios ensinam que a humanidade está no rumo correto. O futuro não corre perigo. As crises e os renascimentos fazem parte da aprendizagem. O inverno e a primavera são necessários à natureza. Nada há de separado ou isolado no universo, e a ajuda mútua é a lei. No final do século 19, Mabel Collins publicou alguns princípios fundamentais da filosofia esotérica em relação à evolução dos seres humanos.

Ela escreveu:

“Há três verdades que são absolutas e não podem ser perdidas, mas podem permanecer em silêncio por falta de quem as expresse. A alma do homem é imortal, e o seu futuro é o futuro de algo cujo crescimento e esplendor não têm limites. O princípio que dá vida habita em nós e fora de nós. Ele é imortal e eternamente benéfico; não é ouvido, nem visto, nem sentido pelo olfato, mas é percebido pelo homem que deseja a percepção. Cada homem é o seu próprio absoluto legislador, produzindo para si glória ou trevas; é o decretador da sua vida, da sua recompensa, da sua punição. Estas verdades, que são grandes como a própria vida, são tão simples como a mais simples das mentes humanas. Alimenta com elas os famintos.” [4]

A competição egoísta é a marca dos desinformados. Na verdade, a felicidade surge da combinação de fatores como boa vontade e discernimento, cooperação e responsabilidade própria, autonomia e confiança mútua.

A chave para o futuro está no fato de que um conhecimento adequado da Lei do Carma leva a humanidade à felicidade suprema.

A vida é sempre simétrica. Ao ajudar, recebemos ajuda. Ao observar e compreender a dor, nos libertamos dela. Quando abrimos o nosso próprio caminho para a satisfação duradoura do auxílio mútuo, tornamos mais fácil a caminhada de todos os seres. Um Mestre escreveu:

“… Olhe para o futuro; cuide para que o contínuo cumprimento do dever, sob a orientação de uma Intuição bem desenvolvida, possa manter sempre o equilíbrio. Ah! Se seus olhos estivessem abertos, vocês poderiam ter tamanha visão das bênçãos potenciais para vocês mesmos e para a humanidade, que repousam no germe do esforço de agora, que teriam suas almas incendiadas pela alegria e pelo entusiasmo!” [5]




Carlos Cardoso Aveline




Fonte do Texto e da Gravura: Blog "Filosofia Esotérica"
http://www.filosofiaesoterica.com/a-essencia-do-futuro-humano/




NOTAS:

[1] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, Theosophy Co., Los Angeles, 1945, 415 pp., ver p. 197.

[2] “Theosophy as the Path to Happiness”, artigo de Mohini M. Chatterjee. O texto pode  ser encontrado em nossos websites associados.

[3] “O Dhammapada”, capítulo quinze. A obra está publicada em nossos websites.

[4] “Luz no Caminho”, de M. C., tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, 85 páginas. A obra foi publicada em 2014 por The Aquarian Theosophist. Ver nota de pé de página à p. 29.

[5] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, 1996, Carta 20 da primeira série, p. 66.


O texto acima foi publicado pela primeira vez em inglês em janeiro de 2012. Título original: “The Essence of Human Future”. Ele também é um dos capítulos do livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Aveline. A presente tradução – feita pelo próprio autor e portanto não literal – foi liberada para publicação em fevereiro de 2012.

INSTINTOS → EMOÇÕES → INTELECTO → INTUIÇÃO


O intelecto deleita-se com discussão e disputa. Uma vez que você cede à tentação da dialética, levará muito tempo para escapar de seus grilhões e desfrutar da bem-aventurança. Portanto, esteja ciente da limitação da razão. A lógica deve dar lugar ao amor e à devoção. O intelecto pode ajudá-lo por uma pequena distância ao longo do caminho para Deus, o resto é inspirado e iluminado pela intuição. E muitas vezes, o egoísmo tende a encorajar e justificar a selvageria, pois uma pessoa é conduzida pelo caminho errado por sua própria razão, se esse for o caminho que ela gosta! Você muitas vezes chega à conclusão que deseja alcançar! A razão só pode ser domada pela disciplina, pela aplicação sistemática do jugo da compaixão, da calma, da tolerância e da resistência (Dhaya, Shantham, Kshama, Sahana). Treine-a para caminhar tranquilamente ao longo de pequenos trechos de estrada e depois que você estiver confiante de sua docilidade, você pode levá-la ao longo do tortuoso caminho sêxtuplo das tentações - luxúria, raiva, cobiça, ilusão, orgulho e ciúme. (Discurso Divino, 12 de abril de 1959)



Sathya Sai Baba





Fonte: http://www.sathyasai.org.br
Fonte da Gravura: Pinturas de Freydoun Rassouli
http://www.rassouli.com/