segunda-feira, 18 de março de 2024

SECTARISMO: O FLAGELO DA HUMANIDADE


O sectarismo em todas as suas nuances acompanha uma grande parte da humanidade. Seja na religião, seja na ciência ou em qualquer outro ramo do pensamento e conduta dos humanos tem pervertido e comprometido as relações humanas gerando vários conflitos através da história.

É sabido que pessoas com uma mentalidade sectária tende a ver os outros como objetos, não como indivíduos com suas próprias crenças, valores e experiências, daí surgem as guerras e conflitos sociais.

Em outras palavras, é possível afirmar que a mente sectária causa, dentre inúmeros outros fatores, o seguinte:

- Reduz a complexidade dos outros, pois mente sectária coloca as pessoas em caixas, categorizando-as como "nós" e "eles". Essa categorização leva a uma visão simplista e estereotipada dos outros, ignorando suas individualidades e aspirações;

- Desumaniza os outros porque desvaloriza a humanidade dos outros, tornando-os objetos a serem manipulados ou controlados. E isso pode levar à indiferença ou até mesmo à crueldade em relação aos outros, especialmente aqueles que são considerados "diferentes";

- Nega a autonomia dos outros. A mente sectária nega a capacidade dos outros de pensar e agir por conta própria. As pessoas são vistas como seguidores passivos de uma ideologia ou líder, sem autonomia ou autodeterminação.

Por exemplo, um membro de uma seita religiosa que acredita que somente o seu grupo será salvo pode ver os membros de outras religiões como "hereges" ou "pecadores". Um nacionalista extremista que coloca seu país acima de tudo pode ver os cidadãos de outros países como "inimigos" ou "uma ameaça". Consequentemente, essa maneira de pensar pode levar a uma série de consequências negativas, como: discriminação, intolerância, violência, desumanização.

Cabe lembrar que todos nós somos suscetíveis a ter pensamentos sectários de vez em quando. No entanto, é importante estar ciente desses pensamentos e desafiá-los, reconhecendo a humanidade e a individualidade de cada pessoa.

Podemos evitar a mente sectária através da educação, do diálogo e da promoção da empatia. É importante aprender sobre diferentes culturas e perspectivas, e desenvolver a capacidade de se colocar no lugar do outro. Ao reconhecer a humanidade dos outros, podemos construir um mundo mais justo e tolerante.

Uma análise sobre a mente sectária será articulada quando se aborda de forma abrangente os diferentes aspectos desse fenômeno. Destacar claramente como a mente sectária reduz a complexidade dos outros, desumaniza e nega sua agência, resultando em consequências negativas, como discriminação, fanatismo e violência é o primeiro passo para que sua insistência na mente humana seja desarticulada. Cabe, então,oferecer insights sobre como combater a mentalidade sectária, enfatizando a importância da educação, do diálogo e da empatia. Reconhecer a humanidade e a individualidade de cada pessoa é essencial para esse fim.

É importante ainda que cada um de nós esteja consciente dessas tendências e trabalhe ativamente para superá-las, buscando sempre o verdadeiro entendimento e respeito às diferenças entre as pessoas. Ao fazer isso, podemos contribuir para que isso ocorra de forma saudável e pacífica.



Prof. Hermes Edgar M. Jr.


Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/argumento-homem-bravo-silhueta-4057664/

domingo, 17 de março de 2024

A TRADIÇÃO E PRÁTICA DA MEDITAÇÃO CRISTÃ - 2


Laurence Freeman continua explicando: “Os grandes pensadores teológicos e grandes professores espirituais da era moderna – Rahner, Balthasar, Lonergan, Merton, Main, Griffiths – adotaram uma abordagem decididamente mística para enfrentar a crise do Cristianismo no mundo secular. Sucessivos Papas – durante e depois do Concílio Vaticano II – fizeram da recuperação da dimensão contemplativa da fé o tema central da sua agenda pastoral.

A Igreja considerava a contemplação uma vocação especializada. A dimensão contemplativa era vista como um chamado especial de Deus a uma pequena elite, chamado geralmente vivido dentro de um mosteiro. Ainda que alguns grandes mestres espirituais como São Francisco de Assis, Catarina de Sena ou as Beguinas e Begards do Norte da Europa renunciaram a ser monásticos convencionais e viveram a sua visão mística perto das pessoas, em contacto diário com o mundo.

Atualmente, o processo de recuperação desta tradição contemplativa da fé para colocá-la na posição adequada dentro da vocação cristã está em um ponto alto: o chamado universal à santidade, como foi chamado pelo Concílio Vaticano II, é dirigido aos estados monásticos e seculares. Ao ensinar a meditação cristã às crianças, vemos um desenvolvimento natural e valioso deste processo e um poderoso sinal de esperança para o futuro da Igreja.

Gostaria de oferecer uma visão desta tradição e descrever, em particular, uma prática simples de oração contemplativa, enraizada na tradição, que revela a universalidade da contemplação.

É importante notar que a meditação é tão antiga quanto a história escrita da humanidade. As primeiras referências à meditação chegam-nos da Índia, por volta do ano 2.500 a.C.

A meditação é o eixo central dos ensinamentos do Buda. O Judaísmo também tem uma tradição de oração mística. Da mesma forma, a meditação caracteriza a revolução espiritual da Era Axial: a era de Confúcio, Lao Tzu, Buda e dos profetas hebreus. Jesus surge como o culminar destes desenvolvimentos e avanços na evolução da consciência humana. Vejamos primeiro onde começa a tradição cristã a partir dos ensinamentos de Jesus. O que Jesus nos ensina sobre a oração revela que tipo de professor ele foi.

Jesus era claramente um mestre da contemplação. Ele era um homem profundamente religioso, mas destacou a diferença que encontramos entre as regras estabelecidas pelo homem e a lei de Deus. Resumiu a moralidade no mandamento do amor e referiu-se à oração em termos de interioridade e presença. Jesus situou seus ensinamentos contemplativos ao lado da ordem de amar nossos inimigos – o moral e o espiritual, o místico e o político unidos, assim, em seus ensinamentos.

Em todas as civilizações desenvolvidas foi gerado algum tipo de vida monástica. O aparecimento do movimento monástico cristão ocorreu muito cedo, mas adquiriu especial relevância no Médio Oriente, concretamente no Egito e na Síria, a partir do século IV. Os ensinamentos dos Padres e Madres do Deserto, com a sua sabedoria espiritual “purificada”, continuam ainda a oferecer as bases fundamentais de uma espiritualidade com grande apelo contemporâneo, especialmente para os jovens. Os Padres do Deserto rejeitaram o clericalismo e a intelectualização. Assim, propõem uma Igreja que dê o sentido adequado ao laicato e à contemplação. A influência do deserto cristão foi introduzida na Igreja Ocidental através das Conferências de João Cassiano, no século V. Estas Conferências constituem um dos mais importantes fundamentos da espiritualidade cristã. Tomás de Aquino os tinha em sua mesa enquanto escrevia sua obra “Summa Theologica”. Bento os incluiu como leitura diária durante as refeições nos mosteiros.” 


Kim Nataraja


Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/pac%C3%ADfico-ioga-medita%C3%A7%C3%A3o-442070/


Para mais detalhes ver:
JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

HERANÇAS CULTURAIS E ESPIRITUAIS


Aqueles que se recusam a ter em conta as experiências dos outros demonstram uma independência mal compreendida. Aliás, quer o reconheçam, quer não, eles não podem deixar de se aperceber disso. O que faz um romancista, um poeta, um filósofo? Vive a sua vida e depois escreve uma obra que é, em geral, um reflexo das suas experiências. É uma herança que ele deixa aos humanos, e estes alimentam-se dela. E assim somos continuamente solicitados e influenciados pelas experiências dos outros. Sejam elas felizes ou infelizes, somos influenciados, absorvemo-las, consciente ou inconscientemente, como experiências a fazer na nossa própria vida, e agimos em função delas. Por isso, é uma felicidade que alguns livros tenham sido escritos por seres que viveram uma vida superior, de sabedoria, de amor, de bondade, de pureza. É uma felicidade existirem heranças de que podemos beneficiar verdadeiramente.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/flores-borboleta-19830/

A LEI DIVINA É COMO UM CÓDIGO REGULADOR


Que fenômeno se verifica, quando na Terra se encontram o bom e o mau? O primeiro, usando o método do Sistema (unificação), perde, sofre, mas sobe; o segundo usando o método do Anti-Sistema (desunião), vence, frui, mas desce. Este, porém, não poderá subtrair-se ao impulso da evolução, que depois o prenderá nas suas espirais a levá-lo para cima.

Assim, imparcialmente, todos não podem subir e redimir-se senão através da própria dor. E são eles mesmos (que a causaram com a sua própria revolta) que vêm a ferir-se como se estivessem ligados a uma condenação de recíproca perseguição, produto de desobediência da criatura; condenação que, com a experiência da dor, conduz, porém, a redenção e salvação, o que é produto de sabedoria e da bondade de Deus. Tanto os rebeldes do Anti-Sistema se atormentarão entre si, que acabarão por amar-se como criatura do Sistema Com isso, o bem triunfa sobre o mal; a ordem sobre o caos da revolta e Deus vence, sempre senhor absoluto de tudo.

Tudo o que existe é um fenômeno em movimento, dirigido por uma Lei (Divina) que, distinguindo-se em tantas modificações particulares orienta os movimentos de todos os fenômenos. Esta Lei constitui o código que regula o seu contínuo transformar-se. Pelo fato de representar uma inteligência e uma vontade de ação realizadora, podemos concebê-la como uma manifestação da personalidade de Deus transcendente que deste modo se manifesta imanente nas formas de nosso universo, cujo funcionamento depende daquela Lei que estabelece as normas, segundo as quais o processo do existir se deve desenvolver. Ela abarca também a conduta humana, através da qual fixa uma espécie de trilhos, ao longo dos quais deve atuar. Há, pois, inserido na vida, para além de todo separativismo religioso, um único regulamento de estrada, igual para todos, segundo o qual se deve desenvolver o tráfego, seguindo uma ordem pré-estabelecida. Assim é traçada a via a percorrer, a da evolução do Anti-Sistema para o Sistema.


Prof. Pietro Ubaldi




Fonte: do livro "A Técnica Funcional da Lei de Deus"
FUNDAPU - Fundação Pietro Ubaldi - Campos/RJ
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/eco-ambientalmente-sustent%C3%A1vel-1983516/

A TRADIÇÃO E PRÁTICA DA MEDITAÇÃO CRISTÃ -1


Reconectar-se com o silêncio interior não é importante apenas para os adultos, é também muito necessário para as crianças e jovens de hoje. Um seminário "Meditatio" foi realizado anos atrás em Dublin (Irlanda) sobre o ensino de meditação com crianças. A maioria do público era formada por professores e diretores de escolas, muitos deles provenientes dos Conselhos Diocesanos de Educação. As apresentações foram recebidas com grande entusiasmo e 20 escolas candidataram-se para participar no projecto piloto concebido para introduzir a meditação nas escolas.

Abaixo está a apresentação introdutória do Padre Laurence Freeman, OSB sobre a tradição da nossa prática de meditação.

“Cada vez que meditamos entramos em uma grande tradição. Este sentido de tradição é essencialmente o que define a meditação cristã, porque a própria meditação, claro, é um dos elementos mais antigos e universais da sabedoria humana. O significado e o propósito da meditação são descritos nas tradições mais sagradas: o núcleo contemplativo da própria religião. Do ponto de vista religioso, a consciência do homem evoluiu e continua a expandir-se em direção àquela experiência do transcendente, do mistério infinitamente distante e infinitamente próximo em direção à fonte e plenitude do ser: Deus.

O Cardeal Newman disse uma vez que “a maior evidência de Deus está em nós”. Em nossa época, a existência de Deus como Deus é questionada. A nível filosófico e teológico, Deus é frequentemente rejeitado através do método científico, concluindo-se que ele é um produto da imaginação ou uma projeção da necessidade humana. Este desafio à ideia de Deus que as instituições religiosas têm defendido convencionalmente perturbou profundamente a complacência religiosa. Assim, os religiosos tiveram que reconsiderar os significados fundamentais daquilo que sempre aceitaram e do que foi estabelecido nas estruturas de poder social. A chegada da era secular forçou uma mudança nas regras do jogo da religião no seu relacionamento com as grandes instituições. A religião não pode mais reivindicar automaticamente privilégios sociais ou políticos. Ela deve provar seu valor e ser julgada com base em seu desempenho. O Dalai Lama diz que o teste de qualquer religião é perguntar se ela “torna as pessoas mais gentis”. É um teste justo, mas muito difícil.

Como consequência, a fé cristã foi desafiada a rever radicalmente a sua própria tradição, ou seja, foi forçado a regressar às verdadeiras raízes do Cristianismo. Esta necessidade de renovação foi reivindicada há muito tempo pelo Cardeal Martini quando disse que “a Igreja está ultrapassada e precisa de se reconectar com as necessidades espirituais do mundo moderno”. Esta necessidade de renovação da Igreja desde as suas raízes não é novidade. Nas reformas do século XI sobre as estruturas da Igreja ou nas reformas do século XX sobre a liturgia e a relação teológica com a modernidade, também tiveram que recordar as suas raízes nos processos de renovação. Um novo concílio ecumênico poderá abordar a vida espiritual da Igreja e a compreensão e prática da oração. Já nos encontramos numa época em que são necessários aspectos profundos e esquecidos da nossa própria tradição espiritual.”

Kim Nataraja


Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/buda-budismo-est%C3%A1tua-religi%C3%A3o-525883/

Para mais detalhes ver:
JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

A COMUNICAÇÃO COM O PAI É ATRAVÉS DA ALMA SUPERIOR


O Cristo dizia: «Só se pode chegar ao Pai através de mim.» Isto significa que o homem só pode se comunicar realmente com Deus através da sua alma superior. O Cristo é o Filho de Deus que se encontra em cada ser como uma centelha ainda oculta. Ao ligar-se à sua alma superior, o homem liga-se a esse princípio, o Cristo, e, através dele, a Deus. Só podeis chegar a Deus através da vossa alma superior, pois é ela que representa o que existe de mais puro em vós. Por isso, nunca abandoneis a prática da meditação, pela qual vos desarreigais do plano físico para vos elevardes até à Divindade, o princípio presente na vossa alma superior.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/jesus-f%C3%A9-igreja-cristandade-410220/

O QUE É A "EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA"


É corrente em meios esotéricos ouvir falar em «expansão de consciência». Mas que significa realmente esta expressão?

A expansão de consciência é um processo de ampliação do contexto de observação dos fenômenos. Um ser dotado de consciência limitada situa‑se sempre num raio curto de observação. Apenas consegue ver aquilo que se encontra à sua frente, de modo avulso, sem contexto ou perspectiva. Mas quando a sua consciência se amplia, seres ou objetos que, num determinado momento, pareciam isolados ou separados, subitamente, revelam-se como partes de um todo mais vasto e englobante que lhes confere um sentido diferente. Estes novos contextos modificam o sentido dos fenômenos observados e conduzem a interpretações radicalmente diferentes da sua natureza e função. Vejamos alguns exemplos:

• Um exemplo clássico é o da subida a uma alta montanha, por dois montanheiros, separados por uma certa distância de segurança. À medida que vão subindo, embora observem o mesmo cenário, vêem coisas diferentes. O que vai mais abaixo tem uma visão mais parcelar e limitada, vendo certos objetos separados e desligados, como por exemplo, outros cumes de montanhas ou telhados de casas. Mas, o seu colega que segue mais à frente consegue uma perspectiva mais ampla e global, compreendendo que aqueles cumes fazem, afinal, parte de uma cordilheira maior ou de que aqueles telhados eram apenas a parte visível de uma aldeia distante e remota.

• Para se compreender o comportamento de alguém não basta analisá‑lo como ser individual, mas é necessário compreender o modo como o seu contexto social e familiar e o seu percurso de vida moldaram o seu carácter e personalidade.

• Quando se descobriu que a Terra não se encontrava no centro do cosmos mas num recanto isolado de uma pequena galáxia, a ideia de que o homem fosse um ser especial deixou de fazer qualquer sentido: uma mudança de perspectiva implicou uma interpretação totalmente diferente da sua importância no universo.

• O estado de saúde de um indivíduo não depende apenas de seu componente físico mas está diretamente ligado à qualidade dos seus estados afetivos, emocionais e mentais. Esta situação ajuda a compreender o aparecimento inesperado de doenças graves em pessoas aparentemente saudáveis.

• Quando compreendemos a lógica da Globalização, apercebemo-nos que eventos que decorrem no outro lado do mundo podem ter uma influência direta no nosso quotidiano. Por exemplo, o preço do petróleo ou outras matérias-primas pode depender de desastres climáticos, crises políticas ou conflitos militares em partes remotas do globo.

O mesmo se passa à escala espiritual. Olhar para a vida segundo uma perspectiva espiritualista é completamente diferente de a observar segundo uma lógica materialista.

Do ponto de vista materialista, o ser humano esgota­‑se numa dimensão puramente física e numa vida única que acredita ser marcada pela competição e pela ausência de sentido transcendente; assim, faz todo o sentido buscar o máximo de prazer e de conforto e de assumir uma postura egocentrada em relação aos interesses e conveniências pessoais, não hesitando no confronto e agressividade em sua defesa; mas se mudarmos o enfoque e nos colocarmos numa perspectiva espiritualista, aceitando o homem como sendo uma mônada que evolui reencarnando em diferentes corpos físicos numa lógica de aprendizagem espiritual, fará agora sentido que se coloque a ênfase nos valores que a facilitam: o altruísmo, o desapego, a compaixão, a busca da paz interior. Mudando o contexto, muda o sentido e a importância que atribuímos aos fenômenos.

A principal diferença entre um homem vulgar e um homem espiritual reside no modo como interpretam o mundo exterior. Ao olhar do homem vulgar, as realidades do mundo parecem‑lhe distintas e separadas de si próprio, algo que existe no seu exterior e que pode ser potencialmente ameaçador ou agradavelmente sedutor. Desta dualidade emergem os sentimentos de agressividade e de posse que perpetuamente o dominam. Mas o homem espiritual considera tudo o que existe como partes de si próprio, como extensões do seu próprio ser. Esta visão global desativa quaisquer sentimentos de violência ou egocentrismo pois ninguém teme ou se deseja a si próprio. O homem espiritual encara a imaturidade dos outros como uma imperfeição do seu próprio ser que é necessário corrigir com amor e paciência. Do mesmo modo que nenhum homem normal agrediria partes doentes do seu corpo, procurando, ao invés, curá‑las com o mínimo de agressividade, assim também o homem espiritual considera a violência e o egocentrismo alheios como imperfeições a corrigir e não como inimigos a abater. E desta mudança de perspectiva brotam os sentimentos de altruísmo, compaixão e tolerância que o caracterizam.


José Caldas



Fonte: do livro «ROTEIRO PARA UMA NOVA ERA - Tomo II», de José Caldas, inserido na coleção "Saberes". Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/rosto-alma-cabe%C3%A7a-fuma%C3%A7a-luz-658678/

sábado, 16 de março de 2024

DESCONTENTAMENTO: INGENUIDADE OU INTELIGÊNCIA ?


Ainda não foi suficientemente sublinhado quão importante é nos sentir contentes, satisfeitos, e a maioria das pessoas não veem a gravidade do seu hábito de estarem sempre descontentes com tudo e com todos. Mas o mais grave é que existe uma tendência crescente para se considerar o contentamento como um sinal de ingenuidade, de estupidez, e, inversamente, o descontentamento e a crítica como um sinal de inteligência. Um descontentamento prolongado, mantido consciente ou inconscientemente, estraga sempre alguma coisa em nós. O descontentamento só é aceitável se estivermos descontentes conosco mesmos. Mas as pessoas estão descontentes com o Senhor (Ele não fez bem as coisas!), com a existência, com toda a humanidade. Pois bem, esta atitude perniciosa dar-nos-á, interiormente, muito maus conselhos. Estejamos, pois, vigilantes! Como não podemos impedir que um sentimento se manifeste, teremos cada vez mais um rosto sem brilho, um olhar sombrio, gestos bruscos, uma voz áspera, e tudo isso nos tornará antipáticos aos olhos daqueles que nos rodeiam.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/fam%C3%ADlia-p%C3%B4r-do-sol-praia-felicidade-2611748/

O VERDADEIRO CAMINHO DA MEDITAÇÃO


No caminho da meditação, vemos cada vez mais claramente que é um caminho de amor, nada mais e nada menos que o caminho do Amor. Apreciamos o quão valioso é o guia que a meditação nos fornece para compreender a dinâmica do amor: amor a si mesmo, amor ao próximo e amor a Deus. Quando meditamos vivenciamos o retorno para casa, onde realmente nos sentimos – talvez pela primeira vez – à vontade e unidos conosco mesmos.

A meditação não é uma competição. Não estamos competindo com o nosso desempenho passado; não competimos com mais ninguém; nem com São João da Cruz, nem com o resto dos meditadores do nosso grupo.

Isto é algo que devemos lembrar frequentemente porque o ego é competitivo e individualista por natureza. Quando há separação do outro, há competitividade. Podemos até ter divisões dentro de nós e, assim, tentaremos competir conosco próprios no nosso próprio caminho espiritual.

A meditação também não é ambiciosa. Não tentamos adquirir nada, porque não há nada para adquirir. É precisamente o oposto. O que pretendemos na meditação é perder, deixar ir. E é nesta perda, neste desapego, que encontraremos tudo o que temos, tudo o que nos foi dado.

Às vezes, esse “deixar ir” ocorre de forma drástica se for forçado por alguma experiência que irrompe de forma dramática e repentina em nossas vidas. Pode ser devido a uma doença que ocorra, a uma nova visão da vida ou, simplesmente, como resultado do desenvolvimento das etapas da nossa própria vida.

De alguma forma, devemos aprender a “deixar ir” se quisermos viver livremente. Na meditação temos o dom precioso de aprender a “deixar ir” do nosso centro todas as posses e competitividade que acumulamos. O que parecia uma prisão vira escola; o que parecia uma alienação nos mostra como conexão.


Seleção de “Aspects of Love” de Laurence Freeman OSB


Transcrição de Carla Cooper


Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/religi%C3%A3o-medita%C3%A7%C3%A3o-f%C3%A9-luz-nuvens-3491357/

Para mais detalhes ver:
JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

sexta-feira, 15 de março de 2024

PLANO MONÁDICO E DIVINO - PLANOS E DIMENSÕES

 


O plano monádico é o espaço onde o Logos Solar “gera” as mônadas, suas “filhas” que, um dia, evoluirão como seres humanos. Segundo informações provenientes de diversos quadrantes espiritualistas, existirão no plano monádico cerca de 40 a 60 biliões de mônadas em evolução no nosso sistema solar.

Tanto quanto sabemos, estas mônadas são formadas por um processo em que o Logos Solar isola segmentos da sua consciência com “membranas porosas” formadas de matéria monádica que permite dois resultados:

– por um lado, cria unidades / centros de consciência, individualizadas e auto-conscientes que irão evoluir no universo solar;

– por outro, permite que elas se mantenham em contacto e comunicação permanente através da porosidade dessas membranas individualizadoras.

É também neste plano que as mônadas desenvolvem aquela parte da sua evolução que não passa pela encarnação nos planos inferiores e sobre a qual nada se conhece.

O plano divino é um espaço “privado” do Logos Solar, provavelmente onde serão planeadas as estruturas e diretrizes fundamentais do seu universo – o sistema solar – conjuntamente com outras “atividades” que ignoramos completamente.

Como atrás referimos, alguma literatura “espiritualista” descreve os planos suprafísicos de uma forma algo romanceada que sugere serem lugares diáfanos e etéreos, uma espécie de “paraíso do universo”, onde se viveriam estados eternos de lazer e felicidade sem nada para fazer senão a sua fruição infinita. Ora, uma eternidade onde nada houvesse que fazer senão “contemplar” Deus infinitamente, em pouco tempo se tornaria algo de tão profundamente monótono e fastidioso que pouco se assemelharia ao “paraíso celestial” proposto pelas religiões tradicionais. Claro que nada disto corresponde minimamente à verdade. Estes mundos, habitados por um número de seres incomensuravelmente superior aos encarnados no plano físico, são lugares de trabalho e evolução onde cada ser desenvolve e aperfeiçoa capacidades e qualidades determinadas, interage com outros seres e aprende a tornar-se um criador e um auxiliador da humanidade. Existem no universo muitas trajetórias evolutivas que nada têm a ver com a nossa, com as quais nunca nos cruzamos e sobre as quais pouco ou nada sabemos. É um erro tipicamente humano pensar que o universo somos nós e que a vida e forma humanas são as únicas que existem e contam. Nós somos apenas uma espécie no seio de milhões de outras, com formatos e objetivos evolutivos diferentes dos nossos.

Para se ter uma pequena ideia da grandeza e vastidão da vida nos planos suprafísicos, valerá a pena apresentar aqui um pequeno excerto de uma mensagem transmitida por um Mestre da Grande Fraternidade Branca, Morya, um dos mais conhecidos Mestres da Sabedoria:

“Cada raio de ação divina sobre a Terra é composto por inúmeras cidades espirituais repletas de trabalhadores em corpo astral e em corpo causal. Somente em relação ao Raio Azul, o Raio de Poder Divino, Vontade Divina e Ordem Divina, temos uma quantidade incalculável de núcleos de operação sobre a Terra, como se fossem para vós, milhares de células de um organismo. Estas células do organismo vivo do Raio Azul são como cidades de uma nação, cidades de planeamento e execução das estratégias de aplicação da Vontade Divina sobre a Terra, através de milhares de mecanismos.

Dentre esses mecanismos, as religiões são também, desde sempre, parte das nossas atribuições sobre o vosso planeta. Os representantes espirituais das religiões, de tempos em tempos, descem à Terra para controlar os impulsos humanos e fomentar o progresso, a elevação, os conhecimentos de ordem metafísica e manifestar a vontade divina de que a sabedoria e a luz se ancorem definitivamente na Terra.

Em cada uma dessas cidades, em que laboram devotados seres de envergadura inquestionável, existem centenas e centenas de especialistas de cada área do conhecimento espiritual universal e planetário. Em cada uma delas, a extensão e a arquitetura das cidades comporta ministérios, laboratórios, templos, teatros abertos, jardins, salões imensos para palestras, cursos e debates sobre os assuntos terrenos, canais de telecomunicação, de informação, de reciclagem de arquivos de sabedoria planetária, escoadouros de lixo astral provindos de vossas mentes, e assim por diante.

Em cada uma dessas estâncias, por sua vez, trabalham em regime de dispensação do raio azul milhares de almas comprometidas com o bem e com a iluminação das consciências.

Podem imaginar uma metrópole grande da vossa Terra e imaginar o funcionamento de todos os órgãos de poder, de ensino, de artes, de política, de administração de instituições, de comunicação, de lazer etc.? Temos milhares delas assim, em dimensão superior, mas ainda no plano astral. Agora imaginem, irmãos da Terra, os núcleos que não se situam na dimensão astral e sim na dimensão causal.”

Nas obras esotéricas, confundem-se por vezes as noções de “planos e dimensões”. Existe contudo uma diferença entre elas:

– A noção de “plano” refere-se à estrutura material e atômica de cada plano e patamar do universo e do sistema;

– A noção de “dimensão” remete para os níveis de consciência, o grau de abrangência com que um ser compreende o mundo onde vive. Quanto mais sutil for a matéria, mais ampla e abrangente é a visão que se possui do universo, no espaço e no tempo e vice-versa.

Uma ilustração deste fenômeno poderá ser dada pela imagem de um alpinista a escalar uma montanha. Quanto mais alto sobe, mais ampla e desimpedida é a visão que tem do horizonte. Aquilo que ele é capaz de observar a partir do topo da montanha, embora seja invisível a quem se encontra em patamares inferiores, sempre existiu e existirá. O que acontece é que a sua visualização só é possível a partir de uma certa altitude. Para quem ainda não atingiu essa altitude, essa panorâmica é como se não existisse. Isto significa que a capacidade de apreender e compreender o lado oculto da vida e do universo está vedado aos seres cuja consciência se encontre ainda focada nos planos materiais da existência. No sistema solar, só partir da 6.ª dimensão (a dimensão da alma) é que é possível começar a ter uma visão integrada e unificada da vida e do universo.


José Caldas



Fonte: do livro «AO ENCONTRO DA TEOSOFIA (O Homem e o Universo à Luz da Sabedoria Antiga)», de José Caldas, inserido na Coleção "Luz do Ocidente". Parte do Cap. "O TERRITÓRIO EVOLUTIVO DO SER HUMANO – O SISTEMA SOLAR" - "PLANO MONÁDICO - PLANO DIVINO - PLANOS E DIMENSÕES" - pp. 93 a 97
Fonte da Gravura: a capa do livro em questão

A PALAVRA: ENTRE O PENSAMENTO PURO E REALIZAÇÃO NA MATÉRIA


«Faça-se luz!» Segundo o Gênesis, foi a partir do momento em que Deus pronunciou estas palavras que começou a Criação. Esta “fala” de Deus, que não tem qualquer relação com aquilo a que podemos chamar palavras, é simplesmente uma maneira de exprimir a ideia de que, para criar, Deus projetou algo de Si próprio. Dizer que Deus “falou” significa que ele teve vontade de Se manifestar. Achais que isto é muito difícil de compreender... Não! Consideremos um exemplo da vida corrente. Vós tendes uma ideia, mas onde está ela? Podemos vê-la ou localizá-la em alguma parte do vosso cérebro? Não. E também temos de reconhecer que não sabemos de que matéria ela é feita. Mas, no momento em que exprimis essa ideia por palavras, desde logo se começa a perceber a sua existência. E quando, por fim, agis em conformidade com essa ideia, ela encarna-se na matéria, torna-se visível. A palavra é um intermediário entre o plano do pensamento puro e o da realização na matéria.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/%C3%ADcone-de-fala-voz-falando-audio-2797263/

ALÉM DE RELAXAR O CORPO


Vivemos em um mundo obcecado por conquistas e sucesso. Mesmo a meditação é muitas vezes vista apenas como uma forma de aumentar as capacidades do nosso cérebro para sermos mais produtivos e funcionais. Basta ir a uma livraria e perceber como na seção de auto ajuda as estantes estão repletas de livros que nos falam sobre as virtudes da meditação: como ela melhora a nossa saúde, o nosso corpo e a nossa mente e, portanto, a nossa conta bancária.

Não nego que seja absolutamente importante cuidar do corpo e da mente para mantê-los em ótimas condições de saúde. Até Evágrio Pôntico (Monge) disse: “Nosso santo e asceta mestre (Macário, o Grande) declarou que o monge deveria sempre viver como se fosse morrer amanhã, mas, ao mesmo tempo, deveria cuidar de seu corpo como se não fosse morrer, conviver com ele por muitos anos.” Cuidar do nosso corpo com alimentos saudáveis ​​e em quantidades modestas e praticar exercício físico adequado como Yoga, Tai Chi ou Chi Kung, é claramente de extrema importância.

Também vemos essa abordagem orientada para resultados na meditação. Claro, é possível praticar meditação apenas pelos seus benefícios para a saúde, que pesquisas provaram ser inúmeros. Claro, é maravilhoso parar o interminável murmúrio da nossa mente e nos libertar do estresse e da tensão. Isso nos fará sentir bem, ficar livres de preocupações, ansiedades, desejos e medos que costumam nos assediar e assim impedir o desperdício de energia de nossa mente girando continuamente.

Porém, se meditarmos apenas com esse propósito, estaremos desperdiçando uma grande oportunidade, pois a meditação nos traz muito mais do que apenas benefícios fisiológicos para o corpo. Um meditador comprometido considera o cuidado corporal e o relaxamento como uma preparação essencial para alcançar o verdadeiro propósito da meditação: transformar a mente e a forma como encaramos a realidade. Quando conseguimos isso, descobrimos a parte espiritual do nosso ser e a nossa conexão total com a fonte de todo o ser. Portanto, a meditação é uma disciplina espiritual que envolve permanecer na solidão e no silêncio em que abandonamos todas as experiências sensoriais, imagens, emoções e pensamentos: o nosso ego. Somente quando nos reconectarmos com a nossa essência espiritual, o nosso verdadeiro eu, poderemos viver uma vida plena com significado autêntico, porque então as nossas ações fluirão da profunda consciência do Divino e sentiremos conexão, responsabilidade e preocupação pelos outros.

A compaixão, a preocupação com os outros, é o verdadeiro sinal de que a nossa mente está se transformando. Evágrio disse: “Feliz o monge que vê o bem-estar e o progresso de todos os homens com tanta alegria como se fossem os seus .” Só podemos preparar-nos para esta transformação aquietando o nosso corpo e a nossa mente, abrindo-nos à obra do Espírito Santo. Porque é a sua função: “O Espírito Santo tem compaixão das nossas fraquezas e, conhecendo as nossas impurezas, visita-nos frequentemente. Se encontrar o nosso espírito em oração, por amor à Verdade, então desce sobre nós e dissipa todos os pensamentos que nos assombram.”


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/garota-ioga-praia-medita%C3%A7%C3%A3o-4300034/

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

INSPIRAÇÃO CELESTIAL


A nossa imaginação é como um balão-sonda que pode ir muito longe no espaço e registar os esplendores do Céu para, em seguida, vir comunicá-los à nossa consciência. Foi assim que numerosos pintores, poetas e músicos encontraram inspiração. Em vez de a procurarem nos subterrâneos, como a maioria dos artistas fazem agora, eles visitavam em espírito as regiões sublimes, de onde traziam visões, impressões, que depois tentavam traduzir pela pintura, pela poesia, pela música. Procurai, pois, conduzir mais frequentemente a vossa imaginação para as regiões celestes, a fim de que ela contemple esses mundos de beleza que deixarão nela a sua marca.



Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sábado, 24 de fevereiro de 2024

AUTOCONHECIMENTO COMO PRIMEIRO PASSO EM DIREÇÃO AO DIVINO


Quando iniciamos o caminho do silêncio, a presença de um professor espiritual pode ser realmente muito valiosa. Na tradição cristã, Jesus é a nossa âncora e também a nossa porta de acesso ao reino espiritual. A energia e o Espírito de Jesus continuam presentes na consciência universal para que possamos nos conectar com Ele. Esse é o verdadeiro significado de Suas palavras: “Eu sempre estarei lá”. Muitos místicos entendem a segunda vinda de Jesus não como um evento histórico futuro, mas como uma chegada pessoal interior que pode ocorrer a qualquer momento. Mestre Eckhart, como Santo Agostinho, via isso como “o nascimento de Cristo na alma”.

Para muitas pessoas hoje, é muito difícil ter esta visão espiritual de Jesus devido aos muitos condicionamentos religiosos negativos que existem. Mas como diz Laurence Freeman no seu livro “Jesus, the Inner Teacher”: “Ignorar Jesus por causa das imperfeições da Igreja é um erro grave”. Não só o Cristianismo deve transformar-se, nós também devemos.

A experiência espiritual que o Mestre Eckhart lhe ensinou é que a passagem da consciência da realidade comum para a realidade superior ocorre antes da transformação da consciência do nosso ego. Muitos meditadores em nossa tradição tiveram essa mesma experiência, muitas vezes ainda no início da jornada. Nas palavras de Laurence Freeman: “No início, teremos apenas um vislumbre fugaz de sua presença, algo que devemos simplesmente esperar” ( Jesus, o Mestre Interior ). No entanto, esta visão momentânea é suficiente para nos acordar, como diriam os primeiros cristãos, e vermos tudo o que fazemos e pensamos desde uma nova perspectiva. Este é o dom do amor, a graça do Espírito, o Cristo interior que nos alcança. Depois de vislumbrarmos o amor que vive em nosso centro e sabermos que somos aceitos como somos, ganhamos coragem para enfrentar nossas próprias limitações. Podemos aceitar o nosso lado negro e integrá-lo na totalidade do nosso ser, o que nos permite aceitar também com compaixão o lado negro dos outros.

Com esta nova percepção, tomamos consciência de quão desfigurada tem sido a nossa percepção da realidade devido ao múltiplo condicionamento do ego. Assim, progressivamente, estamos nos transformando. Ao não sermos dominados e aprisionados pelo passado podemos permanecer no momento presente, onde está a Realidade Divina. Após esse despertar, inicia-se o processo de “purificação do nosso coração”, que é conhecido como etapa de purgação no caminho espiritual. Gradualmente, com o passar do tempo, o amor nos torna cada vez mais conscientes das limitações do nosso egocentrismo e nos permite caminhar em direção à liberdade de ser, transcendendo o “ego”, tornando-nos mais centrados no outro, mais centrados em Cristo. Enquanto antes “olhávamos através de um espelho obscuramente”, à medida que nossa percepção se torna mais clara, vemos e “conhecemos” Cristo como Ele realmente é e nos vemos como realmente somos.

Basta prestar atenção à nossa palavra, ouvir profundamente e estar abertos ao que nos é dado. “Em silêncio começaremos a nos voltar um para o outro, a nos deixar para trás. E isso é amar” (Jesus, o Mestre Íntimo).



Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/mulher-ioga-medita%C3%A7%C3%A3o-logotipo-luz-5485664/

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

UMA CHAMADA À PLENITUDE DA VIDA


Uma das coisas que aprendemos na meditação é a prioridade do ser sobre a ação. Na verdade, nenhuma ação tem verdadeiro significado se não brotar do fundo do nosso ser.

Esta é a razão pela qual a meditação é um caminho que nos leva da superficialidade à profundidade. E somos convidados para isso. Aprender a ser é aprender a viver a vida ao máximo. É o aprendizado de começar a ser gente plena. O que há de misterioso na revelação cristã é que quando vivemos plenamente as nossas vidas, experimentamos as consequências eternas da nossa própria criação. Desta forma, não vivemos como se estivéssemos esgotando um tempo limitado de vida que recebemos ao nascer. O que Jesus nos ensinou é que nos tornamos infinitamente cheios de vida quando permanecemos unidos com a fonte do nosso ser, o nosso Criador, aquele que se descreve como “Eu Sou”.

A arte de viver, de viver a nossa vida como seres humanos, é a arte de viver a novidade eterna da nossa origem e de viver plenamente a partir do nosso centro, o nosso espírito, que brota da mão criativa de Deus. O que há de terrível na vida moderna e materialista é que ela pode tornar-se tão superficial que nos priva do reconhecimento da profundidade do nosso ser e das possibilidades que existem para cada um de nós. Este reconhecimento ocorre, gradualmente, se passarmos algum tempo iniciando na disciplina da meditação.

Os cristãos são guiados para esta fonte do nosso ser através de Jesus, o homem plenamente realizado, a pessoa totalmente aberta a Deus. Quando meditamos, podemos não reconhecer o nosso guia. É por isso que o caminho cristão é sempre um caminho de fé.

Porém, à medida que nos aproximamos do centro do nosso ser, quando entramos nas profundezas do nosso coração, somos capazes de reconhecer o nosso guia, o nosso professor interior. E ali, no fundo de nós, somos recebidos pelo Ser que chama cada um de nós à plenitude pessoal do ser. As consequências ou resultados da meditação são esta plenitude de vida: harmonia, unidade e energia, uma energia divina que encontramos no nosso próprio coração, no nosso próprio espírito. Essa energia é a energia de toda a criação. E como Jesus nos diz, essa energia é a energia do Amor.



Transcrito por Carla Cooper



Fonte: “A Call to the Fullness of Life”, trecho do livro “Christ Moment”, de John Main (Nova York: Continuum, 1998), pp. 110-111.
WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/ioga-zen-medita%C3%A7%C3%A3o-lua-relaxamento-5046282/



Nota: Para mais detalhes ver:

* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html

* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

AMARRAS COM O MUNDO TERRENO


Todos os dias devemos lutar contra as nossas próprias trevas, contra aquilo que de mais denso há em nós. Sim, lutar todos os dias. Perguntar-me-eis: «Mas até quando isso irá durar?» Enquanto o homem vier encarnar-se na Terra, deverá ter um corpo físico, e um corpo, por natureza, é pesado, grosseiro, não pode escapar à ação da matéria. No dia em que cortar definitivamente as amarras com o mundo terreno, no final da sua evolução (terrestre), o homem escapará a esse esmagamento, a essa escuridão, mas, enquanto estiver na Terra, não poderá escapar-lhe; não há que ter ilusões nesse sentido. A única diferença está em que o verdadeiro espiritualista, que está consciente destes processos, luta, aferra-se ao Senhor, à luz, ao amor, à esperança, à fé. Ele ora, medita e, interiormente, vai conseguindo libertar-se cada vez mais desse peso.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

A DESORIENTAÇÃO DE HOJE


(...) Uma das principais características do nosso tempo é a desorientação, qualidade negativa, expressão da atual fase involutiva. Enquanto a palavra de ordem do nosso tempo se mostra nas diretivas conceituais: razão e analise, a da época que se seguirá: intuição e síntese. Se se atentar para a palavra dos nossos homens de pensamento observar-se-á que ela está carregada de erudição e ciência, sendo complexa e difícil, mas que lhe falta orientação da suprema simplicidade da sabedoria e do verdadeiro.

É uma complicação crescente, que marcha para a confusão babélica, com que no fim desse século (20) se encerrará, mesmo no cérebro do dirigente, a nossa assim chamada civilização, para que, desta decomposição possa nascer uma nova civilização, baseada em outros princípios, sustentada por outros cérebros, próprios de um tipo biológico diferente.

O corpo social desta corrente de pensamento que a exauriu o seu ciclo e completou a sua tarefa, com a atual civilização, está se desfazendo. Nesta decomposição prosperam todos os princípios patogênicos que têm função biológica de acelerar a destruição. Em todo campo hoje tudo é destruição. Mas é na putrefação do corpo morto que a vida depõe a semente das suas novas formas. Os grandes criadores, pois, nascem e operam agora, lançando essa semente.

A civilização futura não é muito compreensível aos espíritos de hoje. Pela observação de algumas normas mentais do nosso mundo atual, verificamos que este, se é indiscutivelmente muito forte no campo da desorientação e da destruição é, de outro lado, fraquíssimo no campo da compreensão. Como é possível dirigir povos, provocar e desencadear guerras, legislar, impor isto ou aquilo, agir em qualquer campo sem ter compreendido o que seja a vida e a morte, a finalidade de cada coisa, o próprio plano do universo? O instinto que tudo guia, basta para o bruto, e ainda que em grande parte o homem esteja embrutecido, o problema da vida se tornou, atualmente, muito complexo para que esses instintos possam bastar. No mundo político, social, econômico, religioso, cultural, movemo-nos em um mar de contradições. Falamos de matéria, espírito, eletricidade, justiça, liberdade, direitos e deveres etc., sem compreender o que exatamente sejam e sem saber colocar cada conceito no seu devido lugar, como parte integrante de um plano que logicamente tudo engloba. Na cultura somos muito fragmentários e divergentes, perdidos em particularidades e em sutilezas inconcludentes. No campo prático se mata, rouba-se, age-se para o bem ou para o mal, sem saber a exata consequência das próprias ações. Não o sabe nem quem faz o bem nem quem pratica o mal. Apenas névoas. Existe a fé mas a fé não é exata, é vaga. E a razão de muito pouco vale. Impõe-se tudo esclarecer e tudo demonstrar, para que o homem tudo possa compreender seriamente.

Estranha transformação está sofrendo o materialismo! Escava e escava na matéria e eis que encontra o espírito que havia negado. E as religiões que clamam pelo triunfo porque vêem na ciência uma confirmação, encontrarão uma alma individualizado, designada com aqueles termos e conceitos que antes lhes pareciam tão adversos e demolidores. Hoje todos se encontram divididos sem conhecer a verdade pela qual lutam. Quem realmente luta pela verdade, que é una, simples, única, não pode estar dividido. Quem está dividido, está nas seitas, nos partidos, nos agrupamentos e interesses humanos, no próprio egoísmo, mas não na verdade. Quanto ainda estamos longe de a haver compreendido. A unidade esta no amor recíproco, filho da compensação que ainda falta. Deus e a vida estão na unidade. No exclusivismo e separatismo está "satanás", isto é, a involução e a morte.

O ridículo e o horror da nossa atual situação serão compreendidos pelas gerações futuras. Então se verá a imensa estupidez de matar, porque se concluía que não se mata uma pessoa destruindo-lhe o corpo. Os chamados mortos permanecem junto a nós mais vivos do que antes e, segundo foram por nós tratados, assim também nos tratarão. Aqueles que se arvoram em juízes e justiceiros, não o são mais do que por um momento, desempenham, para fins que eles mesmos o ignoram, uma dada função biológica. Eles serão, por sua vez, de acordo com o que fizeram, julgados e mesmo justiçados. O papel de rico e pobre é instável, e o de vencedor e vencido, é, como nos demonstra a história, transitório para os povos. As revoluções quase sempre devoram os próprios autores e filhos. Quem utiliza a espada perecerá pela espada. Trata-se de equilíbrios de forças, equilíbrios que obedecem a leis invioláveis que se resolvem em esquemas que o homem ignora e contra os quais nada podem. Como é efêmero para quem quer que seja, em tal ordem de coisas, exclamar vitória.

Os próprios imperialismos dissimulados sob máscaras diversas, sempre iguais, não constituem senão uma forma de obediência a Lei, que concede a palma ao vencedor, apenas para confiar-lhe o encargo de, dominando, coordenar, nutrir e permitir a evolução de outras nações menores. E estas, pela mesma lei, se deixam dominar, nutrir, guiar e instruir até se tornarem adultas, para então rebelar-se e se tornarem, como se diz, livres. É o mesmo que se dá com os novos rebentos que crescem sobre o velho tronco, nutrindo-se da sua ruína. Sempre o mesmo esquema: dualismo, centro e periferia, núcleo positivo e elétrons negativos que giram em seu derredor, pai e filhos. Crescidos os filhos, o pai nada mais tem a fazer. O mesmo se passa com as nações imperialistas. E todos, servos da mesma lei, todos enquadrados no desenvolvimento dos ciclos históricos do tempo. É fatal.

Mas hoje não estamos numa época de compreensão e sabedoria. As ideias são magras e poucas, frequentemente erradas; há trevas nas mentes e enormes vácuos. Que terríveis provações serão necessárias para apenas chegar-se a compreender pouca coisa Mas é necessário, porque a sabedoria não se pode conquistar com a eficiência alheia, mas apenas com a própria dor.

Assim progride lentamente o caminho da história. O destino é um desenvolvimento lógico e, quando se lhe conhecem todos os elementos, visto que o efeito esta fatalmente ligado à causa, pode-se então o rever o futuro, para o indivíduo e para os povos. Então a história estará toda presente e o tempo assinala por si só a sucessão de quadros conhecidos, e então também o tempo estagna no pensamento, a intuição supera essa dimensão e tudo aparece permanentemente no presente. O problema está em se conhecer todos os elementos construtivos do sistema de forças formado pelo eu individual, como pelo coletivo de um povo.

Hoje se age ao acaso, em geral por interesses materiais e imediatos, pouco se cuidando do depois que se ignora. Ouçamos as últimas palavras de Buda aos seus discípulos:

"Semeia um pensamento e colheras uma ação.
Semeia uma ação e colheras um hábito.
Semeia um habito e colheras um caráter.
Semeia um caráter e colheras um destino."

Hoje sabe-se pouco ou nada da realidade do imponderável em que se registra tudo quanto pensamos ou fazemos e do qual tudo renasce. Mas hoje domina o involuído e este tipo biológico vive na periferia, não procurando o poder senão na matéria, na força, no dinheiro. O evoluído de amanhã viverá mais em demanda do centro e procurará o poder no espírito, no mérito, na convicção das almas. Ele será mais rico, porque estará mais vizinho da fonte da vida que está no interior, no centro — Deus. Então a conquista imperialista pela guerra será substituída pela conquista das almas, pelo exemplo, pela iluminação, pela paz.

Que imensos continentes inexplorados serão alcançados pela ciência e pela mente de amanhã! É a descoberta feita com espírito de verdade e não com o utilitarismo de hoje, que cumprira o encargo de arredar todas as barreiras do medievalismo espiritual, que ainda nos asfixiam dentro do exíguo âmbito de suas paredes. O pensamento moderno está ainda encerrado em castelos torreados que fazem guerra entre si. O futuro forçará as portas e derrubará os muros. A vida está a céu aberto. As arquiteturas lógicas do passado são agora prisões e não casas. Quando se houver experimentalmente provado aquilo que agora a intuição me diz, isto é, que o espírito é um organismo de forças individualizáveis por onda, frequência e potencial, e que a sua vida se exprime em oscilações dinâmicas ou vibrações de um comprimento de onda que se situa além dos raios ultravioletas, então se poderão construir aparelhos radio-receptores de tais ondas, que revelarão o pensamento incorpóreo humano e super-humano. Então se poderá fazer mecanicamente tudo aquilo que hoje poucos sensitivos o fazem, sós e incompreendidos. Para penetrar-se cientificamente no mundo do espírito, é necessário atingi-lo através da decomposição do sistema dinâmico nas zonas de máxima frequência, assim como para atingir o mundo da energia se decompôs o sistema atômico da matéria nas zonas mais evoluídas, mais velhas e mais complexas. No fundo da matéria, além da energia que já encontramos nela, encontraremos o espírito. Isto é lógico e análogo no fisio-dínamo-psiquismo, trino-monismo do universo. As descobertas já feitas serão comparadas, com as do amanhã, a coisas pueris. Eis o imenso futuro.



Prof. Pietro Ubaldi




Fonte: do livro "Ascensões Humanas"
Tradutores: Erlindo Salzano, Adauto Fernandes Andrade e Medeiros Corrêa Júnior
FUNDAPU - Fundação Pietro Ubaldi
Campos/RJ
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/continentes-bandeiras-silhuetas-975936/

O DESPERTAR DO CRISTO INTERNO


Com a ressurreição estamos isentos da necessidade de objetivar Deus. Não precisamos mais falar com Deus para suplicar ou acalmá-lo. “Seu pai sabe quais são suas necessidades antes que você pergunte a ele”, Jesus nos assegura. A partir daquele momento eterno em que Jesus despertou para a sua união com o Pai, a humanidade superou a sua infância espiritual. A partir desse momento amadurecemos na “dimensão plena de Cristo”. Este momento de Cristo encontra-se no centro do nosso ser, nos nossos próprios corações, onde o seu Espírito vive e cresce como uma semente enterrada na terra.

Encontrar esse momento é o trabalho da meditação. É um trabalho alegre que nos enche de vitalidade porque percebemos que o momento já amanheceu e nasce de forma imperecível. Uma vez que descobrimos esta união na nossa própria experiência, toda a nossa existência renasce. Estamos unidos a uma totalidade que é santidade. E tudo isso é obra de um momento, o momento de Cristo.

Não apenas estamos libertos da necessidade de ver a nós mesmos e a Deus de uma forma dualista. Na verdade, somos convidados a não fazê-lo. “Chegou a hora, na verdade chegou”, em que somos chamados a adorar a Deus em espírito e em verdade. Ao dizer isto à mulher samaritana, Jesus chama-nos a todos para uma nova dimensão de consciência espiritual. Não poderemos mais persistir no dualismo da infância espiritual e estar na verdade do momento de Cristo. A presença do Espírito de Cristo em nós não é apenas um dom, é uma oferta especial, uma graça que podemos aceitar ou rejeitar. É a realidade, a porta que nos leva à união sem limites.



Transcrição de Carla Cooper



Fonte: Trecho do livro “O Cristo Presente”, de John Main, publicado em “Mosteiro sem paredes: cartas espirituais de John Main”, ed. Laurence Freeman (Norwich: Canterbury, 2006), p. 163 .
WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/jesus-cristo-amor-divino-cora%C3%A7%C3%A3o-4715280/


Nota: Para mais detalhes ver:
* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

SENSAÇÃO DO ESPÍRITO AO REENCARNAR


Em que se fundamenta a doutrina da reencarnação?

Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles que não tiveram a oportunidade de melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem perdão. (Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos", questão 171)

.......

Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.

Não obraria Deus com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se condenasse para sempre os que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio onde foram colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento. Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa.

A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.

O homem, que tem consciência da sua inferioridade, haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele.

Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem a ideia de que aquela inferioridade não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante novos esforços, dado lhe será conquistá-lo.

Quem é que, ao cabo da sua caminhada, não deplora haver tão tarde ganho uma experiência de que já não mais pode tirar proveito? Entretanto, essa experiência tardia não fica perdida; o Espírito a utilizará em nova existência. (comentário de Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos", questão 171)


Sensação do Espírito ao Reencarnar


No momento de encarnar, o Espírito sofre perturbação semelhante à que experimenta ao desencarnar?

Muito maior e sobretudo mais longa. Pela morte, o Espírito sai da escravidão; pelo nascimento, entra para ela. (Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos", questão 339)


É especial para o Espírito o instante da sua encarnação? Pratica ele esse ato considerando-o grande e importante?

Procede como o viajante que embarca para uma travessia perigosa e que não sabe se encontrará ou não a morte nas ondas que se decide a afrontar. (Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos", questão 340)

........

O viajante que embarca sabe a que perigo se lança, mas não sabe se naufragará. O mesmo se dá com o Espírito: conhece o gênero das provas a que se submete, mas não sabe se sucumbirá.

Assim como, para o Espírito, a morte do corpo é uma espécie de renascimento, a reencarnação é uma espécie de morte, ou antes, de exílio, de clausura. Ele deixa o mundo dos Espíritos pelo mundo corporal, como o homem deixa este mundo por aquele.

Sabe que reencarnará, como o homem sabe que morrerá. Mas, como este com relação à morte, o Espírito só no instante supremo, quando chegou o momento predestinado, tem consciência de que vai reencarnar.

Então, qual do homem em agonia, dele se apodera a perturbação, que se prolonga até que a nova existência se ache positivamente encetada. À aproximação do momento de reencarnar, sente uma espécie de agonia. (comentário de Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos", questão 340).

.......

Quando chega a ocasião de reencarnar, o Espírito sente-se arrastado por uma força irresistível, por uma misteriosa afinidade, para o meio que lhe convém. É um momento terrível, de angústia, mais formidável que o da morte, pois esta não passa de libertação dos laços carnais, de uma entrada em vida mais livre, mais intensa, enquanto a reencarnação, pelo contrário, é a perda dessa vida de liberdade, e um apoucamento de si mesmo, a passagem dos claros espaços para a região obscura, a descida para um abismo de sangue, de lama, de miséria, onde o ser vai ficar sujeito a necessidades tirânicas e inumeráveis. Por isso é mais penoso, mais doloroso renascer que morrer; e o desgosto, o terror, o abatimento profundo do Espírito, ao entrar neste mundo tenebroso, são fáceis de conceber-se: é mais penoso, mais doloroso renascer do que morrer. (Léon Denis, "Depois da Morte", 17ª ed., p. 246)


Série de Palestras



Fonte: Editora Auta de Souza
Sociedade de Divulgação Espírita Auta de Souza
Taguatinga Sul - Distrito Federal
www.ocentroespirita.org.br
www.editoraautadesouza.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/ressurrei%C3%A7%C3%A3o-morte-sonhe-espa%C3%A7o-7036772/