sábado, 16 de dezembro de 2023

O NATAL NÃO É UMA FESTA, MAS UMA CONSCIENTIZAÇÃO


A espiritualidade maior não se entristece com o fato do Natal, para muitos, ser apenas uma festa consumista, onde a maioria esquece-­se do verdadeiro sentido que seria o nascimento do Mestre?

Tenho acompanhado no plano espiritual as verdadeiras comemorações do Natal de Jesus. Tenho visto nos desdobramentos dos quais participo e durante as sessões de tratamento espiritual, os Espíritos lembrarem Jesus através de preces, de lembranças afetuosas e teve uma ocasião em que acompanhei uma espécie de encenação da vida de Jesus quando criança e no seu nascimento por Espíritos. Foi muito interessante porque eu via Espíritos mais elevados em volta de uma espécie de grade, em altura maior do que o palco, vendo a encenação dirigida para Espíritos bem mais simples e inferiores por serem recém­-desencarnados. Os Espíritos que encenavam a peça o faziam justamente para mostrarem aos recém-vindos como naquele ambiente se lembrava de Jesus. Acima desse palco ficava essa espécie de grade em que Espíritos maiores acompanhavam o esforço dos que lhes estavam abaixo e ficavam satisfeitíssimos por verem este esforço tão importante. Ao final da encenação, eu os via aplaudirem. Perguntei ao Dr. Hermann, que me levou neste desdobramento, o que estava acontecendo e ele disse-­me: “É para que você veja que o esforço de cristianizar as pessoas ocorre também no plano espiritual.”


Por que tantas pessoas se entristecem tanto no Natal, ­justamente uma data de alegria pela vinda do nosso Irmão Maior?

Acredito que a tristeza da maior parte das pessoas se deve à solidão que sentem. Não devemos nos esquecer que muitos de nós estamos realmente sozinhos. Nem sempre nos sentimos integrados na maneira de viver e de comemorar o Natal de muitos dos nossos irmãos. Outro aspecto a considerar é a saudade que sentimos dos que já partiram. Não podemos esquecer que também deixamos amigos no mundo dos espíritos que nos aguardam um dia. Do conjunto de todos estes fatores, surge a tristeza existente em muitos de nós. Devemos reagir a este estado de coisas. A saudade do mundo espiritual não pode e nem deve perturbar nosso estágio na presente encarnação. Tenho a certeza que devemos ter nosso sentimento íntimo, mas também tenho certeza que devemos participar das alegrias singelas e sinceras daqueles que vivem ao nosso lado.


Como se sentem no Natal nossos irmãos que ainda estão sofrendo em zonas inferiores?

Alguns deles sequer sabem o período que estamos vivendo. Mas para aqueles que o sabem, o Natal é, em alguns casos, um momento de tristeza, por não terem seus familiares junto a si, e para outros é o momento de reflexão por terem perdido esta oportunidade tão importante de suas vidas espirituais.


Como deve ser a comemoração do Natal num autêntico Centro Espírita?

Em dois níveis: O primeiro deles, a comemoração pelas preces, pelo estudo e pela busca do real sentido da mensagem cristã para o nosso mundo. A este propósito, no Centro Espírita Léon Denis (Rio de Janeiro), e tenho conhecimento também de que em muitos outros Centros, estamos estudando as várias mensagens mediúnicas ou não, que tratam do Natal de Jesus. Este é um objetivo que estamos procurando alcançar. Pelo menos no mês de dezembro falarmos o tempo todo, ou em todas as reuniões de estudos, em Jesus. Este é o primeiro sentido da comemoração. O segundo sentido é lembrarmo-­nos de que os pobres também são convidados de Jesus. Nesta ocasião, aumentamos nossa cota de contribuição aos necessitados, distribuindo mais alimento, mais roupa, mais tudo.

No Centro Espírita Léon Denis, através do seu serviço social, promovemos um almoço de Natal com os nossos assistidos aumentando desta forma nossa comemoração natalina. Também solicitamos a vários companheiros da casa que contribuam com o que puderem para amenizar a pobreza, e temos conhecimento que muitos companheiros, anonimamente, saem no mês de dezembro distribuindo lanche, almoço, jantar etc. aos assistidos. Quero lembrar que fazemos isso durante todo o ano, apenas no Natal aumentamos a nossa participação. Somos de opinião que o Natal deve ser comemorado todo dia.


Qual o objetivo do Natal perante o plano espiritual...?

Estamos nos aproximando de um período em que a Doutrina Espírita e o Cristianismo devem ser divulgados de forma contínua atingindo o modo de ver e de sentir das criaturas que vivem na Terra atualmente. O comércio está ganhando a batalha. Eles estão mostrando um Natal totalmente comercial. E o povo, a grande massa que ainda não sabe discernir exatamente o que deseja, fica à mercê da informação comercial. Por outro lado, vemos nas casas espíritas presidentes e oradores falando em Jesus e sua época. Esquecem de “traduzir” o ensinamento e o comportamento cristão para os dias atuais. Há pessoas no Centro Espírita que ainda falam sobre O Livro dos Espíritos com um linguajar e contexto do ano de 1857. Não “traduzem” o sentido do livro e sua mensagem para os dias de hoje. Tenho certeza que futuramente tanto o Cristianismo como o Espiritismo deverão ser apresentados de modo bem claro para as exigências da sociedade.


Estaríamos falhando na educação de nossas crianças ao valorizarmos tanto a figura do Papai Noel no Natal?

Realmente, os espíritas estão dando mais valor ao Papai Noel do que a Jesus. Temos que reverter o quadro. Não se pode ignorar a figura do Papai Noel que está sendo massificada ao ponto de todas as crianças e até os adultos valorizarem a figura do “bom velhinho”. Mas tenho a certeza de que se soubermos lembrar de Jesus e sua chegada à Terra, estaremos incentivando, ou pelo menos mostrando a todos que tudo começou com Ele.


Mas, apesar de tudo, vemos muitas vezes pessoas com mesas cheias de comida e bebidas, e falam de solidariedade mas, ao mesmo tempo, pessoas morrem de fome ao seu lado, isso não seria hipocrisia?

Isto é ainda o falar daquilo que não se sente realmente. Há pessoas que não são conscientes daquilo que ocorre em sua volta. São almas que realmente estão longe de entenderem a dor humana. Há também criaturas que falam o que não sentem.


As atividades nos Centros Espíritas quase desaparecem nesta época. O que estaria faltando nas Casas Espíritas nesta época do ano?

Não podemos esquecer que estamos vivendo em uma sociedade em que o homem cada vez mais está prisioneiro daqueles com quem convive. Os Centros Espíritas quase que esvaziam neste período, como nos de carnaval, de feriadões, justamente porque as pessoas ou por si, ou pelos seus familiares assumem compromissos e naturalmente as atividades do centro espírita ficam para segundo plano. Bom seria que todos os centros tivessem vários horários e vários dias de atividades para que seus frequentadores tivessem oportunidades variadas para as suas obrigações “religiosas”.


É errado incentivarmos as crianças a acreditar em em Papai Noel?

Creio que não. É uma suave manifestação de carinho, um incentivo ao amor, mesmo um retorno ao espírito infantil que tanto nos faz falta nestes dias de tanta celebração e pouca “inocência”. Papai Noel existe na imaginação das crianças e é incentivado pela chamada mídia e acredito que seria de uma certa forma crueldade do adulto para com a criança se fosse retirado esse “sentimento” em faixa de idade bem pequena.


A espiritualidade comemora o Natal em que data?

Pelo que sei a espiritualidade comemora o Natal de Jesus no período em que a Humanidade assim o faz. Há estudos entre os evangélicos que procuram fixar o período de setembro como o período de nascimento de Jesus. Acredito que ninguém vai saber com certeza a data deste natalício e ficamos, todos nós, com a data de 25 de dezembro, que foi estabelecida por um papa, cujo nome não me recordo agora, como a data da vinda de Jesus à Terra.


Durante os festejos do Natal na Terra, existe um intercâmbio energético maior do que o habitual entre a espiritualidade e os encarnados?

Sim. O homem terreno, de uma forma ou de outra, lembra-­se mais de Jesus e tem como retorno a vibração do mesmo Jesus em seu favor.


Jesus “nasceu” realmente? Nasceu como qualquer mortal, ou esteve entre nós utilizando-­se de um corpo fluídico?

Estou com Allan Kardec: Jesus nasceu de corpo e Espírito. Ele não poderia derrogar a Lei que existe para todos os encarnados que é nascer do ventre de uma mãe. Há estudos que afirmam que Ele teria sido o resultado de uma inseminação artificial produzida no plano espiritual e, neste caso, Maria não teria tido contato com José para ter Jesus. Esta tese engenhosa e atual, dado o conhecimento da técnica da inseminação, pode ser verdadeira. De qualquer modo, sou dos que tem a certeza de que Jesus não derrogaria a Lei. Portanto, tenho a certeza que Ele tinha carne e Espírito como qualquer um de nós.


Jesus ressuscitou fisicamente?

Não. Ele não poderia ressuscitar de corpo. Para mim, o seu corpo deve ter sido dissolvido ou mantido no túmulo e Ele materializou-se para Madalena. Se um Espírito comum pode materializar-­se, imaginemos Jesus. Então devemos acreditar que Ele, nas suas inúmeras manifestações aos discípulos, após sua morte, apenas se materializava. Em favor desta tese, existe o fato de que mal Ele se apresentava, logo desaparecia.


Da mesma forma que hoje comemoramos o natalício de Jesus, seria válido comemorar o dia de nascimento de outros bons Espíritos (Maria, Pedro, Paulo etc.)?

Poderia ser se soubéssemos a data do nascimento destes grandes trabalhadores do mundo espiritual. A Igreja Católica indica dias para comemoração desses próceres religiosos, mas na verdade ninguém sabe a data do nascimento desses grandes Espíritos. O espírita pode e deve lembrar, comemorar a data dos seus próprios grandes trabalhadores: Kardec, Denis, Delanne e outros mais de interesse particular de cada Centro.


A necessidade que existe hoje não é mais tornar o Natal uma festa tão religiosa, mas sim de conscientização?

Sim. Este é o verdadeiro sentido da comemoração do Natal de Jesus.


Nesta época vemo­-nos obrigados a dar presentes aos nossos entes queridos. Como associar o “presente” com o verdadeiro sentido do Natal?

Realmente estamos cada vez mais sendo induzidos a dar presentes mais caros numa festa de maior significado. É o predomínio do comércio sobre o verdadeiro espírito de Natal. Pergunto a você e a todos os demais: Já imaginou você não dar um presente a alguém de sua família direta – esposa, filho, mãe –, numa data como esta? Continuo a afirmar que estamos precisando ir dando espaço para Jesus nessa ocasião. Por enquanto, o comércio está ganhando a batalha.


Mas Jesus não estava em sua tumba quando foram verificar (de acordo com os evangelhos). O que dizer a respeito disso?

A ser verdadeira essa afirmativa, de alguma forma seu corpo foi dissolvido ou levado embora. O espírita não deve deixar-se embalar na tese do corpo fluídico. Repito: seria a derrogação da Lei de Deus que nos manda renascer de igual modo para todos. Veja bem que outros grandes líderes (e não os estamos comparando com Jesus, mas dando a eles o mérito que possuem) não tiveram renascimento fluídico. Todos nasceram de mães e pais carnais. Por que seria diferente com Jesus, mesmo Ele podendo?


O que pensar da “adoração” que alguns fazem à figura de Jesus durante o Natal?

Nestes há realmente adoração, mas não há o sentido consciente da figura de Jesus entre nós. Jesus realmente foi e é o grande diretor de nossas almas. Nossos Espíritos devem a Ele a oportunidade de nascer e renascer para aprimorar a própria existência. Jesus preside a todo este fenômeno de crescimento do nosso espírito. Não devemos ou não precisamos adorá­-lo, mas sim ter um profundo agradecimento a Ele por nos incentivar, sustentar a caminhada em busca da evolução. Nossos destinos estão indelevelmente marcados pela sua lei de amor. Todos os nossos esforços na direção do progresso estão vinculados a este sentimento: A lei de amor. Assim, realmente, Ele deve representar para nós a figura de um grande irmão, de um poderoso líder, de um grande espírito que nos fortalece, encaminha e nos indica sentimentos que ainda não possuímos. Por tudo isso devemos ser muitíssimo gratos a Jesus.


A narrativa evangélica do nascimento de Jesus nos fala de “Reis Magos” que teriam visitado o Menino Jesus. Nos Presépios os vemos presentes! Como se explica essa história de “magos”? Estranha a exaltação a eles justamente no texto evangélico, não?

No meu ponto de vista, eles não eram reis, nem magos e sim homens que visitaram a Jesus. Os evangelhos assim o mostram. Fica no imaginário popular a noção dos seus nomes e seus títulos. Devemos encarar esses personagens como espíritos encarnados que deveriam estar impulsionando alguma comunidade terrena encarnada e que perceberam a chegada de Jesus e foram vê­-lo.


Devem os espíritas celebrar o Natal?

Sim. Jesus é uma figura muito importante para a Humanidade terrena. Os espíritas devem lembrar d’Ele com muito amor e respeito, também com gratidão.



Victor Rebelo
(Entrevista com Altivo Panphiro)





Fonte: do opúsculo "Jesus e o Espiritismo", da Coleção "Sem Mistérios", Vol. 4
Anexo da Revista Cristã de Espiritismo, Editora Escala
www.editoraescala.com.br
Digitalizada por L. Neilmoris, 2008
www.luzespirita.org
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/natal-decora%C3%A7%C3%A3o-bugiganga-bola-3012862/