domingo, 17 de março de 2024

A TRADIÇÃO E PRÁTICA DA MEDITAÇÃO CRISTÃ - 2


Laurence Freeman continua explicando: “Os grandes pensadores teológicos e grandes professores espirituais da era moderna – Rahner, Balthasar, Lonergan, Merton, Main, Griffiths – adotaram uma abordagem decididamente mística para enfrentar a crise do Cristianismo no mundo secular. Sucessivos Papas – durante e depois do Concílio Vaticano II – fizeram da recuperação da dimensão contemplativa da fé o tema central da sua agenda pastoral.

A Igreja considerava a contemplação uma vocação especializada. A dimensão contemplativa era vista como um chamado especial de Deus a uma pequena elite, chamado este, geralmente vivido dentro de um mosteiro. Ainda que alguns grandes mestres espirituais como São Francisco de Assis, Catarina de Sena ou as Beguinas e Begards do Norte da Europa renunciaram a ser monásticos convencionais e viveram a sua visão mística perto das pessoas, em contacto diário com o mundo.

Atualmente, o processo de recuperação desta tradição contemplativa da fé para colocá-la na posição adequada dentro da vocação cristã está em um ponto alto: o chamado universal à santidade, como foi chamado pelo Concílio Vaticano II, é dirigido aos estados monásticos e seculares. Ao ensinar a meditação cristã às crianças, vemos um desenvolvimento natural e valioso deste processo e um poderoso sinal de esperança para o futuro da Igreja.

Gostaria de oferecer uma visão desta tradição e descrever, em particular, uma prática simples de oração contemplativa, enraizada na tradição, que revela a universalidade da contemplação.

É importante notar que a meditação é tão antiga quanto a história escrita da humanidade. As primeiras referências à meditação chegam-nos da Índia, por volta do ano 2.500 a.C.

A meditação é o eixo central dos ensinamentos do Buda. O Judaísmo também tem uma tradição de oração mística. Da mesma forma, a meditação caracteriza a revolução espiritual da Era Axial: a era de Confúcio, Lao Tzu, Buda e dos profetas hebreus. Jesus surge como o culminar destes desenvolvimentos e avanços na evolução da consciência humana. Vejamos primeiro onde começa a tradição cristã a partir dos ensinamentos de Jesus. O que Jesus nos ensina sobre a oração revela que tipo de professor ele foi.

Jesus era claramente um mestre da contemplação. Ele era um homem profundamente religioso, mas destacou a diferença que encontramos entre as regras estabelecidas pelo homem e a lei de Deus. Resumiu a moralidade no mandamento do amor e referiu-se à oração em termos de interioridade e presença. Jesus situou seus ensinamentos contemplativos ao lado da ordem de amar nossos inimigos – o moral e o espiritual, o místico e o político unidos, assim, em seus ensinamentos.

Em todas as civilizações desenvolvidas foi gerado algum tipo de vida monástica. O aparecimento do movimento monástico cristão ocorreu muito cedo, mas adquiriu especial relevância no Médio Oriente, concretamente no Egito e na Síria, a partir do século IV. Os ensinamentos dos Padres e Madres do Deserto, com a sua sabedoria espiritual “purificada”, continuam ainda a oferecer as bases fundamentais de uma espiritualidade com grande apelo contemporâneo, especialmente para os jovens. Os Padres do Deserto rejeitaram o clericalismo e a intelectualização. Assim, propõem uma Igreja que dê o sentido adequado ao laicato e à contemplação. A influência do deserto cristão foi introduzida na Igreja Ocidental através das Conferências de João Cassiano, no século V. Estas Conferências constituem um dos mais importantes fundamentos da espiritualidade cristã. Tomás de Aquino os tinha em sua mesa enquanto escrevia sua obra “Summa Theologica”. Bento os incluiu como leitura diária durante as refeições nos mosteiros.” 


Kim Nataraja


Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/pac%C3%ADfico-ioga-medita%C3%A7%C3%A3o-442070/


Para mais detalhes ver:
JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

HERANÇAS CULTURAIS E ESPIRITUAIS


Aqueles que se recusam a ter em conta as experiências dos outros demonstram uma independência mal compreendida. Aliás, quer o reconheçam, quer não, eles não podem deixar de se aperceber disso. O que faz um romancista, um poeta, um filósofo? Vive a sua vida e depois escreve uma obra que é, em geral, um reflexo das suas experiências. É uma herança que ele deixa aos humanos, e estes alimentam-se dela. E assim somos continuamente solicitados e influenciados pelas experiências dos outros. Sejam elas felizes ou infelizes, somos influenciados, absorvemo-las, consciente ou inconscientemente, como experiências a fazer na nossa própria vida, e agimos em função delas. Por isso, é uma felicidade que alguns livros tenham sido escritos por seres que viveram uma vida superior, de sabedoria, de amor, de bondade, de pureza. É uma felicidade existirem heranças de que podemos nos beneficiar verdadeiramente.


Omraam Mikhaël Aïvanhov


Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/flores-borboleta-19830/

A LEI DIVINA É COMO UM CÓDIGO REGULADOR


Que fenômeno se verifica, quando na Terra se encontram o bom e o mau? O primeiro, usando o método do Sistema (unificação), perde, sofre, mas sobe; o segundo usando o método do Anti-Sistema (desunião), vence, frui, mas desce. Este, porém, não poderá subtrair-se ao impulso da evolução, que depois o prenderá nas suas espirais a levá-lo para cima.

Assim, imparcialmente, todos não podem subir e redimir-se senão através da própria dor. E são eles mesmos (que a causaram com a sua própria revolta) que vêm a ferir-se como se estivessem ligados a uma condenação de recíproca perseguição, produto de desobediência da criatura; condenação que, com a experiência da dor, conduz, porém, a redenção e salvação, o que é produto de sabedoria e da bondade de Deus. Tanto os rebeldes do Anti-Sistema se atormentarão entre si, que acabarão por amar-se como criatura do Sistema. Com isso, o bem triunfa sobre o mal; a ordem sobre o caos da revolta e Deus vence, sempre senhor absoluto de tudo.

Tudo o que existe é um fenômeno em movimento, dirigido por uma Lei (Divina) que, distinguindo-se em tantas modificações particulares orienta os movimentos de todos os fenômenos. Esta Lei constitui o código que regula o seu contínuo transformar-se. Pelo fato de representar uma inteligência e uma vontade de ação realizadora, podemos concebê-la como uma manifestação da personalidade de Deus transcendente que deste modo se manifesta imanente nas formas de nosso universo, cujo funcionamento depende daquela Lei que estabelece as normas, segundo as quais o processo do existir se deve desenvolver. Ela abarca também a conduta humana, através da qual fixa uma espécie de trilhos, ao longo dos quais deve atuar. Há, pois, inserido na vida, para além de todo separativismo religioso, um único regulamento de estrada, igual para todos, segundo o qual se deve desenvolver o tráfego, seguindo uma ordem pré-estabelecida. Assim é traçada a via a percorrer, a da evolução do Anti-Sistema para o Sistema.


Prof. Pietro Ubaldi




Fonte: do livro "A Técnica Funcional da Lei de Deus"
FUNDAPU - Fundação Pietro Ubaldi - Campos/RJ
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/eco-ambientalmente-sustent%C3%A1vel-1983516/

A TRADIÇÃO E PRÁTICA DA MEDITAÇÃO CRISTÃ -1


Reconectar-se com o silêncio interior não é importante apenas para os adultos, é também muito necessário para as crianças e jovens de hoje. Um seminário "Meditatio" foi realizado anos atrás em Dublin (Irlanda) sobre o ensino de meditação com crianças. A maioria do público era formada por professores e diretores de escolas, muitos deles provenientes dos Conselhos Diocesanos de Educação. As apresentações foram recebidas com grande entusiasmo e 20 escolas candidataram-se para participar no projecto piloto concebido para introduzir a meditação nas escolas.

Abaixo está a apresentação introdutória do Padre Laurence Freeman, OSB sobre a tradição da nossa prática de meditação.

“Cada vez que meditamos entramos em uma grande tradição. Este sentido de tradição é essencialmente o que define a meditação cristã, porque a própria meditação, claro, é um dos elementos mais antigos e universais da sabedoria humana. O significado e o propósito da meditação são descritos nas tradições mais sagradas: o núcleo contemplativo da própria religião. Do ponto de vista religioso, a consciência do homem evoluiu e continua a expandir-se em direção àquela experiência do transcendente, do mistério infinitamente distante e infinitamente próximo em direção à fonte e plenitude do ser: Deus.

O Cardeal Newman disse uma vez que “a maior evidência de Deus está em nós”. Em nossa época, a existência de Deus como Deus é questionada. A nível filosófico e teológico, Deus é frequentemente rejeitado através do método científico, concluindo-se que ele é um produto da imaginação ou uma projeção da necessidade humana. Este desafio à ideia de Deus que as instituições religiosas têm defendido convencionalmente perturbou profundamente a complacência religiosa. Assim, os religiosos tiveram que reconsiderar os significados fundamentais daquilo que sempre aceitaram e do que foi estabelecido nas estruturas de poder social. A chegada da era secular forçou uma mudança nas regras do jogo da religião no seu relacionamento com as grandes instituições. A religião não pode mais reivindicar automaticamente privilégios sociais ou políticos. Ela deve provar seu valor e ser julgada com base em seu desempenho. O Dalai Lama diz que o teste de qualquer religião é perguntar se ela “torna as pessoas mais gentis”. É um teste justo, mas muito difícil.

Como consequência, a fé cristã foi desafiada a rever radicalmente a sua própria tradição, ou seja, foi forçado a regressar às verdadeiras raízes do Cristianismo. Esta necessidade de renovação foi reivindicada há muito tempo pelo Cardeal Martini quando disse que “a Igreja está ultrapassada e precisa de se reconectar com as necessidades espirituais do mundo moderno”. Esta necessidade de renovação da Igreja desde as suas raízes não é novidade. Nas reformas do século XI sobre as estruturas da Igreja ou nas reformas do século XX sobre a liturgia e a relação teológica com a modernidade, também tiveram que recordar as suas raízes nos processos de renovação. Um novo concílio ecumênico poderá abordar a vida espiritual da Igreja e a compreensão e prática da oração. Já nos encontramos numa época em que são necessários aspectos profundos e esquecidos da nossa própria tradição espiritual.”

Kim Nataraja


Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
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Para mais detalhes ver:
JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

A COMUNICAÇÃO COM O PAI É ATRAVÉS DA ALMA SUPERIOR


O Cristo dizia: «Só se pode chegar ao Pai através de mim.» Isto significa que o homem só pode se comunicar realmente com Deus através da sua alma superior. O Cristo é o Filho de Deus que se encontra em cada ser como uma centelha ainda oculta. Ao ligar-se à sua alma superior, o homem liga-se a esse princípio, o Cristo, e, através dele, a Deus. Só podeis chegar a Deus através da vossa alma superior, pois é ela que representa o que existe de mais puro em vós. Por isso, nunca abandoneis a prática da meditação, pela qual vos desarreigais do plano físico para vos elevardes até à Divindade, o princípio presente na vossa alma superior.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/jesus-f%C3%A9-igreja-cristandade-410220/

O QUE É A "EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA"


É corrente em meios esotéricos ouvir falar em «expansão de consciência». Mas que significa realmente esta expressão?

A expansão de consciência é um processo de ampliação do contexto de observação dos fenômenos. Um ser dotado de consciência limitada situa‑se sempre num raio curto de observação. Apenas consegue ver aquilo que se encontra à sua frente, de modo avulso, sem contexto ou perspectiva. Mas quando a sua consciência se amplia, seres ou objetos que, num determinado momento, pareciam isolados ou separados, subitamente, revelam-se como partes de um todo mais vasto e englobante que lhes confere um sentido diferente. Estes novos contextos modificam o sentido dos fenômenos observados e conduzem a interpretações radicalmente diferentes da sua natureza e função. Vejamos alguns exemplos:

• Um exemplo clássico é o da subida a uma alta montanha, por dois montanheiros, separados por uma certa distância de segurança. À medida que vão subindo, embora observem o mesmo cenário, vêem coisas diferentes. O que vai mais abaixo tem uma visão mais parcelar e limitada, vendo certos objetos separados e desligados, como por exemplo, outros cumes de montanhas ou telhados de casas. Mas, o seu colega que segue mais à frente consegue uma perspectiva mais ampla e global, compreendendo que aqueles cumes fazem, afinal, parte de uma cordilheira maior ou de que aqueles telhados eram apenas a parte visível de uma aldeia distante e remota.

• Para se compreender o comportamento de alguém não basta analisá‑lo como ser individual, mas é necessário compreender o modo como o seu contexto social e familiar e o seu percurso de vida moldaram o seu carácter e personalidade.

• Quando se descobriu que a Terra não se encontrava no centro do cosmos mas num recanto isolado de uma pequena galáxia, a ideia de que o homem fosse um ser especial deixou de fazer qualquer sentido: uma mudança de perspectiva implicou uma interpretação totalmente diferente da sua importância no universo.

• O estado de saúde de um indivíduo não depende apenas de seu componente físico mas está diretamente ligado à qualidade dos seus estados afetivos, emocionais e mentais. Esta situação ajuda a compreender o aparecimento inesperado de doenças graves em pessoas aparentemente saudáveis.

• Quando compreendemos a lógica da Globalização, apercebemo-nos que eventos que decorrem no outro lado do mundo podem ter uma influência direta no nosso quotidiano. Por exemplo, o preço do petróleo ou outras matérias-primas pode depender de desastres climáticos, crises políticas ou conflitos militares em partes remotas do globo.

O mesmo se passa à escala espiritual. Olhar para a vida segundo uma perspectiva espiritualista é completamente diferente de a observar segundo uma lógica materialista.

Do ponto de vista materialista, o ser humano esgota­‑se numa dimensão puramente física e numa vida única que acredita ser marcada pela competição e pela ausência de sentido transcendente; assim, faz todo o sentido buscar o máximo de prazer e de conforto e de assumir uma postura egocentrada em relação aos interesses e conveniências pessoais, não hesitando no confronto e agressividade em sua defesa; mas se mudarmos o enfoque e nos colocarmos numa perspectiva espiritualista, aceitando o homem como sendo uma mônada que evolui reencarnando em diferentes corpos físicos numa lógica de aprendizagem espiritual, fará agora sentido que se coloque a ênfase nos valores que a facilitam: o altruísmo, o desapego, a compaixão, a busca da paz interior. Mudando o contexto, muda o sentido e a importância que atribuímos aos fenômenos.

A principal diferença entre um homem vulgar e um homem espiritual reside no modo como interpretam o mundo exterior. Ao olhar do homem vulgar, as realidades do mundo parecem‑lhe distintas e separadas de si próprio, algo que existe no seu exterior e que pode ser potencialmente ameaçador ou agradavelmente sedutor. Desta dualidade emergem os sentimentos de agressividade e de posse que perpetuamente o dominam. Mas o homem espiritual considera tudo o que existe como partes de si próprio, como extensões do seu próprio ser. Esta visão global desativa quaisquer sentimentos de violência ou egocentrismo pois ninguém teme ou se deseja a si próprio. O homem espiritual encara a imaturidade dos outros como uma imperfeição do seu próprio ser que é necessário corrigir com amor e paciência. Do mesmo modo que nenhum homem normal agrediria partes doentes do seu corpo, procurando, ao invés, curá‑las com o mínimo de agressividade, assim também o homem espiritual considera a violência e o egocentrismo alheios como imperfeições a corrigir e não como inimigos a abater. E desta mudança de perspectiva brotam os sentimentos de altruísmo, compaixão e tolerância que o caracterizam.


José Caldas



Fonte: do livro «ROTEIRO PARA UMA NOVA ERA - Tomo II», de José Caldas, inserido na coleção "Saberes". Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/rosto-alma-cabe%C3%A7a-fuma%C3%A7a-luz-658678/