quarta-feira, 5 de abril de 2023

5ª FEIRA SANTA - LAVA-PÉS


A NECESSIDADE DA PURIFICAÇÃO PERFEITA

I. "Se eu não te lavar, você não terá parte comigo" (Jo 13, 8).

Ninguém pode tornar-se participante da herança eterna e ser co-herdeiro de Cristo, se não estiver purificado espiritualmente, pois assim se diz na Escritura: "Nenhuma coisa poluída entrará" (Ap 21, 27). "Senhor, quem habitará em seu tabernáculo?" (Sl 14, 1). "O inocente de mãos e de coração limpo" (Sl 23, 4). Como se dissesse: "Se eu não te lavar", você não ficará limpo, e se você não for limpo, "não terás parte comigo."

II. "Simão Pedro diz a ele: Senhor, não apenas meus pés, mas minhas mãos também, e a cabeça" (Jo 13, 9).

Pedro apavorado oferece-se para ser lavado, atormentado pelo amor e pelo medo. Pois, como se lê no "Itinerário" de Clemente, ele uniu-se de tal modo à presença corporal de Cristo, a quem ele amara com muito fervor, que quando ele se lembrou, depois da Ascensão de Cristo, de sua dulcíssima presença e santíssimo tratamento, se pôs todo em lágrimas a ponto de suas faces parecerem queimadas. É necessário saber que no homem existem três membros principais que devem ser purificados: a cabeça, que é a parte superior; os pés, que constituem a parte inferior, e as mãos, que ocupam um lugar intermediário. Da mesma forma, no homem interior, isto é, na alma, está a cabeça, que é a razão superior, com a qual a alma se adere a Deus; as mãos, ou seja, a razão inferior, que trata das obras ativas, e os pés, que são os da sensualidade. O Senhor sabia que seus discípulos estavam purificados no que se refere à cabeça, porque estavam unidos a Deus pela fé e pela caridade; e quanto as mãos, porque suas ações eram santas; mas quanto aos pés, eles tinham alguns apegos terrenos a causa da sensualidade. Mas Pedro, temendo a ameaça de Cristo, não apenas consentiu na ablução dos pés, mas também das mãos e da cabeça, dizendo: "Senhor, não apenas meus pés, mas também minhas mãos e minha cabeça." Como se tivesse dito: não sei se preciso da ablução das mãos e da cabeça, pois "minha consciência nada me contesta e pesa, mas não é por isso que sou justificado" (1 Cor 4, 4). Portanto, estou preparado para a ablução não apenas dos pés, isto é, dos apegos inferiores, mas também das mãos, isto é, das ações, e da cabeça, ou seja, da razão superior.

III. "Jesus diz a ele: Aquele que está limpo precisa apenas lavar os pés. E você está limpo" (Jo 13:10).

Orígenes diz que eles estavam limpos, mas que ainda precisavam de mais limpeza; porque a razão deve sempre buscar melhores qualidades, deve sempre elevar-se às mais elevadas virtudes, brilhar por uma perfeita justiça. Quem é santo, que seja mais ainda santificado (Ap 22, 11).


PREPARAÇÃO DE CRISTO AO LAVATÓRIO DOS PÉS

"Levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se" (Jo 13,4).

I. Cristo mostra-se servo por amor à humildade, segundo São Mateus: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas servir e dar a sua vida em redenção por muitos" (Mt 20, 28). Para ser um bom servo são necessárias três coisas:

1º) Que seja circunspecto para ver todas as coisas que podem faltar no serviço; seria de grande inconveniência, para isso, estar sentado ou deitado; é portanto a atitude do servidor é ficar de pé. Por isso ele "se levanta da ceia". E diz o evangelista Lucas: "Porque qual é o maior, o que está sentado à mesa, ou o que serve?" (Lc 22, 27)

2º) Que seja agilizado para poder executar convenientemente todas as coisas necessárias ao serviço; e para isso o excesso de roupas é um obstáculo. Por isso que o Senhor "tira suas vestes". Isso foi simbolizado no Gênesis quando Abraão escolheu servos diligentes (Gn 17).

3º) Que seja pronto para servir, isto é, que possua todas as coisas necessário para o serviço. No Evangelho de São Lucas é dito que "Marta estava cheia de serviço nos afazeres da família" (Lc 10, 40). Daí que o Senhor "pegou uma toalha e envolveu-se" com ela, a fim de estar preparado, não só para lavar os pés, mas também para enxugá-los. Diante disso, aquele veio de Deus e voltou para Deus, nos ensina a quebrar toda soberba, lavando os pés.

II. "Então ele derramou água em uma bacia e começou a lavar os pés do discípulos, e enxugá-los com a toalha com que estava cingido" (Jo 13,5).

Aqui se expressa a essência de Cristo, que brilha em sua humildade, de três maneiras:

1º) A natureza do serviço: Foi muito humilde, ou seja, o Senhor da Majestade abaixou-se para lavar os pés dos servos.

2º) A quantidade do serviço: Pôs a água na bacia, lavou pés, enxugou-os etc.

3º) O modo do serviço: Não o fez por intermédio de outrem ou com ajuda dos outros, mas por si mesmo, cumprindo o que está escrito no Eclesiástico: "Quanto mais velho você for, mais te humilhes em todas as coisas" (3, 20).


TRÊS CONSIDERAÇÕES MÍSTICAS EM TORNO DO LAVA-PÉS

"Derramou água em uma bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e a secá-los com a toalha com que estava cingido" (Jo 13,5).

Aqui pode-se entender misticamente três coisas:

1º) Pela ação de por água na bacia significa a efusão de seu sangue sobre a Terra. Porque o sangue de Cristo pode ser chamado de água pela virtude que possui de lavar. Daí que simultaneamente saíra água e sangue de seu lado para dar a entender que aquele sangue lavava os pecados. Também pode ser entendido pela água da Paixão de Cristo, pois "derramou água em uma bacia", ou seja, imprimiu nas almas dos fieis, pela fé e devoção, a recordação de sua Paixão. "A lembrança de meus tormentos e minhas misérias é para mim absinto e veneno" (Lam 3,19).

2º) Pelo dito "e começou a lavar", alude-se à imperfeição humana. Porque os apóstolos, depois de Cristo, eram mais perfeitos, porém necessitavam da ablução porque tinham algumas máculas. Entendendo-se, por isso, que mesmo o homem perfeito necessita aperfeiçoar-se ainda mais. Como diz Provérbios (20,9): "Quem poderá dizer: Limpo está o meu coração, sou puro de pecado?" Entretanto, tais imperfeições as possuem somente os pés. Outros, não só estão manchados ou imperfeitos nos pés, senão que totalmente, pois se maculam totalmente com as impurezas terrenas pela convivência com elas. Daí que aqueles totalmente apegados, afetivamente e sensorialmente, ao amor terreno, sejam inteiramente imundos. Mas os que estão de pé, isto é, os que com o espírito e o desejo tendem às coisas celestiais, só contraem manchas nos pés. Pois assim como o homem que está de pé se vê obrigado a tocar a terra, pelo menos com os pés, da mesma maneira, enquanto vivermos nesta vida mortal, que necessita das coisas terrenas para sustento do corpo, contraímos algumas impurezas, pelo menos pelos prazeres dos sentidos. Por isso o Senhor mandou a seus discípulos que sacudissem o pó de seus pés (Lc 9,5). Foi dito: "começou a lavar", porque a ablução dos apegos terrenos começa aqui e termina no futuro. Assim, pois, a efusão de seu sangue está simbolizada pela ação de haver posto água na bacia, e a ablução de nossos pecados está simbolizada pela ação de haver começado a lavar os pés dos discípulos.

3º) Aparece também a aceitação, por Cristo, de nossas penas sobre si mesmo. Pois não só lavou nossas manchas, senão que tomou sobre si as penas (consequências) devidas. Porque nossas penitências não seriam suficientes se não estivessem acimentadas nos merecimentos e na virtude da Paixão de Cristo. Tudo isso está simbolizado pelo ato de haver limpado os pés dos discípulos com a toalha, ou seja, com suas próprias vestes.


Tomás de Aquino



Fonte: do livro "Meditações Escolhidas de Suas Obras"
Compilação, arranjo e prólogo de Fr. Z. Mézard O.P.
Tradução do latim por Luis M. de Cádiz
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/igreja-janela-janela-da-igreja-1881232/

4ª FEIRA SANTA - UNÇÃO EM BETÂNIA


Fonte: Sociedade Antroposófica no Brasil
https://www.sab.org.br/
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