É comum aos espiritualistas em geral, a assertiva da evolução do Espírito através da reencarnação e do tempo... Os textos esotéricos milenares, dentro de uma simbologia mística própria, que limitava de uma forma intencional a sua compreensão por aqueles ainda não preparados para os vôos mais elevados do aprendizado, ensinavam aos seus iniciados através de lendas ou histórias repletas de comportamentos sobre-humanos, de caracteres míticos, que exigiam um conhecimento aprofundado de astrologia, alquimia e outras ciências iniciáticas restritas a poucos. Justificava estes cuidados o pequeno número de almas que se destacavam da grande massa humana em busca da sua independência espiritual. Nos dias atuais, com a humanidade renovada em seus conceitos existenciais e mais receptiva às realidades eternas, os véus das simbologias começam a se esvaecerem, permitindo acesso ao conhecimento iniciático a uma coletividade numericamente maior.
A antiga história do semideus Hércules e suas tarefas, um clássico da cultura grega traduzido em diferentes línguas, filmes e seriados, destaca um homem, materialmente falando, com força extraordinária que o coloca na condição de um herói que muitos, intimamente, o desejariam ser. Há, no entanto, uma verdade oculta por trás desta figura, rica em simbologia e ensinos.
Alice A. Bailey apresenta-nos interessante análise sobre a vida deste antigo herói demonstrando que, em uma visão transcendental, realidades espirituais podem ser apreendidas nas diferentes etapas de sua vida. O grande interesse que hoje se observa pela vida eterna, a verdadeira vida, é justificativa suficiente para o presente estudo.
A Maçonaria, com sua característica iniciática e colocando-se acima dos rótulos religiosos, cultuando G.A.D.U. e caminhando pelas trilhas da simbologia, é terreno fértil e propício para o presente estudo e síntese. Os ensinos maçônicos nos permitem uma crescente conscientização da divindade inata do Homem e de que é, verdadeiramente, feito à imagem de Deus; de que seu destino é a evolução e o progresso da ignorância à Sabedoria, do desejo material à conquista espiritual; de que é um “Peregrino” da eternidade que avança pelo “Caminho” com a face voltada para a “Luz”. A “Senda” é árdua e longa, porém, a alegria de cada conquista é o combustível de sua motivação e o estímulo da continuidade.
A história de Hércules é a síntese simbólica da luta da Alma em busca de sua “Libertação”. É o resumo de uma jornada heróica de um aspirante ao “Caminho dos Iniciados”. Neste “Caminho” desincumbiu-se de determinadas tarefas de natureza mística, vivendo episódios e trabalhos que caracterizam o Homem que busca a sua independência espiritual.
“Ele [Hércules] representa o Filho de Deus encarnado, mas ainda imperfeito, que definitivamente toma em suas mãos a natureza inferior e, voluntariamente, submete-se à disciplina que fará emergir o divino que carrega consigo. É a partir do homem que falha, mas que é sinceramente sério e inteligentemente consciente do trabalho a ser realizado, que se forma um Salvador do Mundo”. (Os Trabalhos de Hércules, Alice A. Bailey)
A descrição de suas tarefas, a história dramática de seus fracassos e conquistas, demonstram a mesma luta que enfrentamos nos dias de hoje em nossa própria evolução, pois, certos acontecimentos e episódios retratam, em qualquer época, a natureza do treinamento e realizações que caracterizam o “Caminho” de qualquer homem que busca e se aproxima de sua “Libertação”.
Hércules era o nome de sua Alma, enquanto Herakles do homem material; o primeiro nome era a expressão de sua origem paterna divina – o Espírito, enquanto o segundo era a expressão de sua origem materna humana – a Matéria. Daí a simbologia de semideus. Esta dualidade é representada, também, pela notícia de seu irmão gêmeo, por ele assassinado ainda na infância, fato que simboliza a unificação do Corpo e da Alma em uma só unidade.
Os relatos da morte de duas serpentes com as próprias mãos, quando ainda infante, representam o estrangulamento da serpente da matéria e da ilusão, demonstrando-o pronto para a tarefa a desempenhar. Na simbologia mística são descritas três serpentes, uma representando a matéria, outra a ilusão, e a terceira a Sabedoria. Somente se descobre a serpente da Sabedoria, quando as duas primeiras são eliminadas.
Na sequência, tem-se a notícia de seu casamento e do nascimento de três filhos. O casamento é forma simbólica da união de sua Razão com sua Alma, e os filhos a conscientização de seus três corpos, ou os três aspectos da personalidade: o físico, o astral e o mental.
Conta-nos, então, a história, que Hera, nome representativo do Psiqué ou Alma, levou-o a loucura com seu ciúme, fazendo com que matasse seus filhos, amigos e todos os demais de seu relacionamento. Este estado doentio é comum em muitos candidatos ao iniciato, quando, entusiasmados com os novos horizontes ou dimensões que a Alma lhe faculta, escolhe o caminho do fanatismo e dos extremos para seu progresso espiritual, tornando-o desequilibrado e de difícil convívio. O caminho do meio e do equilíbrio é momentaneamente esquecido. Estes momentos de desequilíbrio são exemplificados pelos fanáticos sacrifícios feitos no Oriente, ou de excessos da Inquisição que a história relata, pela incompreensão da interpretação de determinadas verdades por ângulos diferentes daqueles que se iniciavam em determinada corrente de pensamentos.
Sua lenda representa a luta de toda Alma que, vencido as etapas iniciais da evolução comum, candidata-se à evolução consciente dos Iniciados.
O significado de um “Iniciado”, ou “Aspirante a...” corresponde à etapa final da evolução na qual o Homem, ainda imperfeito, toma em suas mãos, intencionalmente, sua evolução e impõe a vontade de sua Alma sobre sua natureza inferior ou material. Seu trabalho consiste em libertar-se dos laços maternos (a Matéria), para assim responder ao amor do pai (o Espírito).
Segundo os antigos textos esotéricos, há dois caminhos para evolução da alma humana:
1. Um lento e contínuo crescimento evolutivo, levado avante sob o efeito das Leis da Natureza, ciclo após ciclo, até que gradualmente o lado divino começa a se expressar no homem;
2. Ou o resultado de sistemática aplicação e disciplina por parte do aspirante, que permite o desabrochar mais rápido do poder e vida da Alma.
Em sua história, Hércules percorre os doze signos do zodíaco. Esses elementos fazem parte da estrutura simbólica de todo Teto Maçônico que são, em seu devido tempo e em diferentes momentos, apresentados aos Irmãos nos Graus que haverão percorrer. O Teto dos Tetos, propositadamente, reflete a imagem do Universo, local onde as constelações que representam os signos repousam, expressos nas Colunas que ladeiam sua sala de reuniões.
“O Zodíaco, propriamente falando, é aquele cinturão nos céus através do qual passa o aparente caminho do Sol; seu ponto inicial é o do Equinócio Vernal que, como sabemos, está em movimento retrógrado contínuo através de um círculo de constelações que ficam perto da eclíptica. O Zodíaco está dividido em doze porções iguais de 30 graus cada, quase que correspondendo às doze constelações de Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. (O Zodíaco: Uma síntese da Vida, Walter H. Sampson)
“A segunda coisa, pois, a lembrar, é que há dois Zodíacos, o maior e o menor. O primeiro compreende as doze constelações através das quais o Sol e o Sistema Planetário parecem passar num grande ciclo de mais de 25.000 anos. O outro é o mesmo círculo de constelações através das quais a Terra parece passar em sua revolução anual em torno do Sol, e é nesse que os astrólogos apoiam suas predições e traçam os horóscopos. Assim nós temos nesses dois Zodíacos o símbolo do progresso da Vida formando um Sistema Solar, um planeta, um Homem. (A Mensagem de Aquária, Homer Curtiss)
Cada signo sujeita o Homem que nele está trabalhando às influências de certas forças que o distinguem, e abastece-o com certas tendências. Relacionadas com cada signo do Zodíaco, serão encontradas três outras constelações que, simbolicamente encarnam o problema de um candidato e lhe indicam a solução. As constelações simbolizam os aspectos tríplices do Espírito.
Nos relatos sobre a vida de Hércules e seu caminho pelos signos, encontramos preciosas informações que definem suas características específicas, influências espirituais e os dons que estas constelações permitem adquirir.
Não é da Astrologia tradicional que trata a história do herói sob análise, mas sim da transcendental, pois, no momento em que o ser assume voluntariamente sua evolução, a Astrologia comum perde seu valor. “O horóscopo da Alma não será feito com base em nosso conhecimento tradicional, uma vez que as Leis de Tempo e Espaço não exercem influência alguma sobre a Alma”. (Astrologia Esotérica, Alice A. Bailey)
Todo homem dominado pela vida material se caracteriza pelo medo, pelo individualismo, pela competição e pela cobiça, ao contrário do iniciado, que traz em si a confiança espiritual, a cooperação, a consciência grupal e o altruísmo.
Obviamente, em sua marcha evolutiva consciente, necessário se faz ao Homem alcançar determinadas conquistas pessoais, para que possa se candidatar à Grande Iniciação a que a história de Hércules se refere:
1. Deve adquirir o entendimento de que a toda a expressão material do Universo é simbólica e transitória, inclusive seu próprio corpo. “Todas as coisas externas e tangíveis são símbolos de forças criativas internas, e é esta a ideia que serve de fundamento a toda simbologia. Um símbolo é a forma externa e visível de uma realidade espiritual”. (Os Trabalhos de Hércules, Alice A. Bailey)
2. A realidade de Deus é indiscutível, e verdade absoluta na consciência dos iniciados.
3. Que é um Filho de Deus, criado à Sua imagem.
Com estas conquistas plenamente definidas e integradas em seu coração, o Homem deixa de identificar-se com a matéria e passa a identificar-se com a Alma.
A partir desse momento está pronto para iniciar Os Doze Trabalhos Iniciáticos de Hércules. Está pronto para ultrapassar os Portais das Iniciações.
Ao estudar os seus Trabalhos, acompanharemos sua carreira no decurso de sua passagem ao redor do Zodíaco, a partir de Áries, que é o signo do começo, passando por Touro, Gêmeos etc., até Peixes, o signo da morte e da consumação.
É importante destacar que Hércules, a Alma despertada, reverte o procedimento usual e segue pelo Zodíaco no sentido oposto dos ponteiros do relógio, portanto, o caminho inverso do homem comum. O homem que está imerso no corpo físico e segue necessariamente o caminho da ilusão e das aparências, acompanha a trajetória dos ponteiros do relógio.
M.’.M.’. Alfredo Roberto Netto
A.’.R.’.L.’.S.’. União e Solidariedade - 387
Bibliografia (utilizada pelo autor):
1.Os Trabalhos de Hércules - Alice A. Bailey
2. O Zodíaco: Uma síntese da Vida - Walter H. Sampson
3. A Mensagem de Aquária - Homer Curtiss
4. Astrologia Esotérica - Alice A. Bailey
Outras indicações bibliográficas:
1. A Astrologia e os Sete Raios - Alan Oken
2. Auto-realização Através da Astrologia - Clara Weiss
3. Signos, Zodíaco e Meditação - Louise Huber
4. Compreenda a Astrologia Esotérica - Louise Huber
5. As Estações Astrológicas - Luiz A. W. Salvi
6. Sinfonia do Zodíaco - Torkom Saraydarian
7. Hora de Crescer Interiormente (Mito de Hércules Hoje) - Trigueirinho
8. A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mistérios - Ricardo Lindemann
9. Los Doce Signos - T. Subba Row
Fonte:
http://pt.scribd.com/doc/99398402/os-doze-trabalhos-de-hercules-e-a-evolucao-da-alma
Fonte da Gravura: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hercules_Musei_Capitolini_MC1265.jpg
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