quinta-feira, 30 de abril de 2020

MEDITAÇÃO NA EXPERIÊNCIA DE THOMAS MERTON

                             O monge trapista Thomas Merton ao lado de Dalai Lama em 1968


Anotações de Martha Pires Ferreira* para palestra ao Grupo da Meditação Cristã
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2006.


Thomas Merton nasceu em Prades, em 31 de janeiro de 1915, sob o signo de Aquarius, no sul da França e viveu nos EUA. Morreu em Bancoc em 1968 para onde foi em viagem pregar retiro e fazer conferências. Para este monge beneditino, trapista, a meditação é uma profunda integração pessoal em Deus, numa escuta vigilante e cuidadosa “do coração”. É uma entrega total, sem palavras, do coração e em silêncio.

Thomas Merton em sua obra Poesia e Contemplação (1972) deixou-nos muitas páginas dedicadas às questões tão preciosas que são as reflexões sobre a meditação.

Toda a sua obra, em geral, desde a Montanha dos Sete Patamares, nos fala, essencialmente, da vida contemplativa, da vida silenciosa, da vida meditativa intelectualmente e em radical experiência interior. Thomas Merton foi um contemplativo por excelência.

A vida contemplativa é vida de meditação com ou sem palavras. Em comunhão com a vida ativa, a vida de oração passiva, é vida de extrema entrega silenciosa às grandes experiências do amor de Deus.

No final de sua vida, Thomas Merton viveu junto à natureza como eremita numa ermida, no meio do bosque do Mosteiro de Nossa Senhora de Gethsemani.

Merton faz pontuações muito sensíveis; para ele é inseparável a unidade do silêncio e da oração. Merton cita em Poesia e Contemplação como foi bem descrita pelo monge Isaac de Nínive esta visão da unidade: “Muitos procuram avidamente (esta unidade), porém só encontram os que permanecem em contínuo silêncio… Todo homem que se regozija com uma multidão de palavras, mesmo que diga coisas admiráveis, é vazio interiormente. Se amais a verdade, sede amante do silêncio. O silêncio como a luz do sol, vos iluminará em Deus e vos libertará dos fantasmas da ignorância. O silencio vos unirá ao próprio Deus…

“Acima de tudo, amai o silêncio; ele vos traz frutos que a palavra não pode descrever. No início, temos de esforçar-nos a ser silenciosos. Porém, nasce então algo que nos atrai ao silêncio. Possa o Senhor dar-nos uma experiência deste ‘algo’ que brota do silêncio. Se somente praticardes isso, uma luz indizível brilhará sobre vós como consequência (…) depois de algum tempo, certa doçura nasce no coração, deste exercício e o corpo é atraído, quase que à força, a permanecer em silêncio”.

Para Merton sem virtude (fortaleza), não pode haver verdadeira contemplação. Sem o trabalho da disciplina, não pode haver tranquilidade no amor.

E cita Pedro de Celles, beneditino do séc XII:

“Deus opera em nós enquanto repousamos n’Ele. Essa obra do Criador ultrapassa todo entendimento; repouso que é, em si, criativo. Pois, trabalho como esse excede, em sua tranquilidade, todo repouso. Este repouso, em seu efeito, brilha e irradia, sendo mais produtivo do que qualquer trabalho. Assim, deixemos esta ação, ou este repouso de nossa contemplação, ser modelada de maneira a reproduzir, ainda que em linhas apenas esboçadas e apegadas, um modelo (de trabalho e repouso em Deus)… Essas coisas não se realizam na sombra e na noite, mas durante o dia e na luz, do sol da justiça. Pois quem ronca na noite do vício não pode conhecer a luz da contemplação”.

Thomas Merton nos remete, também, a São Gregório Magno sobre a vida contemplativa:

“A vida contemplativa consiste em permanecer com toda a força da mente entregue ao amor de Deus e do próximo; repousando, porém, de todo movimento exterior e unindo-se unicamente ao desejo do Criador”.

Noutra passagem ele se refere ao contemplativo do séc. XIII, XIV, Ruysbroeck:

“O homem interior entra em si de maneira simples, acima de toda atividade e de todos os valores, a fim de aplicar-se a um simples olhar no amor de fruição. Ali, encontra Deus sem intermediário. E, da unidade de Deus, penetra nele o brilho de uma luz simples. Essa luz simples demonstra ser treva, nudez e ‘nada’. Nessa escuridão, o homem é envolvido e mergulha num estado sem categorias, no qual se perde. Assim desnudado, toda consideração e distração em relação às coisas lhe escapam e ele se vê penetrado por uma luz simples. Nesse nada, ele vê todas as obras como inúteis, pois se encontra submerso pela atividade do imenso amor de Deus e, pela sua frutífera inclinação de seu Espírito, torna-se um só espírito com Deus”. 

Poesia e Contemplação é um convite à compreensão da meditação; a oração intelectual e a oração existencial. Nesta mesma obra Merton escreveu:

“A oração contemplativa é, de certo modo, simplesmente, a preferência pelo deserto, pelo vazio, pela pobreza. Alguém começa a conhecer o sentido da contemplação quando, intuitiva e espontaneamente, procura o caminho obscuro e desconhecido da aridez, de preferência a qualquer outro. O contemplativo é alguém que escolhe antes o não saber do que o saber. Antes não fruir do que fruir. Antes não ter provas de que Deus o ama. Aceita o amor de Deus na fé, num desafio a toda evidência aparente. Essa é a condição necessária – e uma condição muito paradoxal – para a experiência mística da realidade de Deus e de seu amor por nós. Somente quando somos capazes de ‘largar’ tudo o que há dentro de nós, todo desejo de ver, de saber, de provar e de experimentar a presença de Deus, é que nos tornamos realmente capazes de ter a experiência dessa presença com a convicção e realidade avassaladoras que revolucionam nossa existência inteira”. 

“A contemplação cristã não é algo de esotérico e perigoso. É simplesmente a experiência de Deus dada a alguém já purificado pela humildade e a fé. É o ‘conhecimento’ de Deus na obscuridade do amor infuso” (…) “A contemplação infusa é um conhecimento quase experimental da bondade de Deus ‘saboreada’ e ‘possuída’ por meio de um contato vital nas profundezas de nosso ser. Por meio do amor infuso, nos é dado apreender, de maneira imediata, a própria substância de Deus”.  Repousamos, então, na percepção obscura e profunda de sua presença e de sua ação transcendentes dentro do mais íntimo do nosso interior. Assim, nos entregamos inteiramente à obra de seu Espírito transcendente”.

Podemos seguir seu pensamento em Direções Espirituais e Meditação, publicado aqui no Brasil em 1962:

“A meditação é para os que não se satisfazem com um conhecimento meramente objetivo e conceitual em relação à vida, em relação a Deus – em relação a realidades de primeira importância. Querem entrar em contato íntimo com a própria verdade, com Deus. Querem experimentar as mais profundas realidades da vida, vivendo-a. (…) Não nos esqueçamos jamais de que o fecundo silêncio em que as palavras perdem seu poder de expansão, e os conceitos nos escapam, é, talvez, a mais perfeita meditação. (…) devemos regozijar-nos e repousar na noite luminosa da fé. Esse é um degrau mais alto de oração. A finalidade última da meditação deve ser uma comunhão mais íntima com Deus, não só no futuro, mas também aqui e agora.

E termina este livro fazendo eco: “Santa Teresa de Ávila acreditava ser impossível a alguém que se mantivesse fiel à prática da meditação vir a perder a sua alma”.

Em 1938, aos 23 anos, Thomas Merton conheceu, através de seu amigo Seymour, o monge Doutor Bramachari, originário da Índia, é o que relata em Montanha dos Sete Patamares (1947), onde faz referências a este monge:

“Eu buscava (…) e procurava um gênero de vida que tivesse Deus como centro, conforme a dele”. “Afinal, não deixava de ser um tanto irônico que eu me houvesse voltado, espontaneamente, para o oriente em minhas leituras e conhecesse um oriental. Ele nunca tentou explicar a crença religiosa da Índia”.

O interesse de Merton pelo misticismo da cultura oriental se deu a partir das leituras de Aldous Huxley, em especial, Meios e Fins. Antes de conhecer o monge Bramachari, Merton tinha particular sede de vida espiritual.  Sua tese de conclusão na Universidade teve como título: A Natureza e a Arte em William Blake, um artista essencialmente místico. Para Merton a experiência artística, a mais alta, era de fato análoga à experiência mística.

Thomas Merton não se restringiu aos textos da Philokalia e às fórmulas hesicastas dos padres do Deserto, assim como a “Oração de Jesus”; procurou conhecer muitas técnicas de meditação das grandes tradições das culturas do Oriente. Em sua obra Reflexiones sobre Oriente – La filosofia oriental a la luz del misticismo occidental (textos de 1965 a 1968), nos relata sobre o taoísmo, o zen, o hinduísmo, o sufismo e as variantes do budismo.

Em 4 de novembro de 1968, em sua viagem à Índia, teve uma audiência com o monge do Budismo Tibetano, Sua Santidade Dalai Lama, e escreveu; “Toda a conversa versou sobre religião, filosofia e, especialmente, sobre os caminhos da meditação”. Dias depois, menos de um mês de sua morte, foi ao eremitério do Rimpoche Chatral:

“O maior Rimpoche que já conheci até hoje”. “Gostaria de estar mais com Chatral” (O Diário de Ásia, 1973). Depois de sua morte, em 10 de dezembro, Bancoc, as questões da meditação aparecem com presença constante em suas obras publicadas.

No ocidente a meditação, como experiência pelos cristãos, reiniciou-se, no mundo contemporâneo, provavelmente, através dos monges beneditinos, na França (outros?), com as aplicações práticas das disciplinas da Raja-Yoga à oração e à meditação. Isto se verifica nos textos da obra; O caminho do silêncio ou Yoga para cristãos, de J. M. Déchanet (3ª edição/1957) onde encontramos no capítulo “As fases da meditação silenciosa” a invocação “Veni, Domine. Vem, Senhor”. Obra que provavelmente Merton conheceu, e, o mesmo interesse se dando com as aberturas do Concílio Vaticano II. Verifica-se que somente no início dos anos 60 é que ele começa a escrever a série de trabalhos referentes ao Oriente. Nos anos 50 muitas obras sobre meditação oriental foram publicadas na França. Em 1953, L’hésychasme, Yoga chrétien, em Yoga, science de l’homme integral – Cahiers du Sud, Paris.

Nos anos 60, Merton fez contatos pessoais e profundos com o filósofo e sábio, do Japão, Daisetz Suzuki, mestre do Zen Budismo, e escreveu; Zen e as aves de rapina (1968). Antes, em 1961, escreveu Místicos e Mestres Zen, e, em 1965 A via de Chuang Tzu (o grande filósofo e poeta chinês), e Gandhi, a não violência. Vê-se o grande interesse pela sabedoria oriental.

Para Merton a contemplação passiva não exclui as atenções para com a vida ativa, muito pelo contrário, maior é o amor responsável e profundo para com o seu próximo, onde devem estar presentes as preocupações para com o mundo e suas complexidades. Thomas Merton lutou de forma veemente contra as guerras, a violência, os preconceitos raciais, religiosos e quaisquer outros (desde os finais dos anos 50 passou a ter bons entendimentos com protestantes, anglicanos, judeus e mesmo ateus), e, se indignava diante das injustiças sociais e da vergonhosa exploração e violência para com as classes oprimidas. Sua obra Sementes de Destruição, 1964, é um grito de desespero e de advertência profética diante da alienação e das perversidades do mundo moderno. Em Questões Abertas, 1960, sua expressão de amor ao próximo revela grande sensibilidade: “Onde não existe a possibilidade de um nível de vida decente, quando não há liberdade, justiça, educação na sociedade humana, como pode o Reino do amor ser nela edificado? (…). O Reino de Deus, não se compõe unicamente de grandes homens santos, é um organismo vivo, místico, constituído de homens comuns, com suas fraquezas, suas limitações, sua boa vontade, seus talentos, suas deficiências – tudo isso elevado e divinizado pelo Espírito Santo, de maneira a que o Cristo viva e se manifeste em cada um e em todos”.

Para Thomas Merton, por natureza, o contemplativo colabora efetiva e essencialmente com a humanização e a santificação do mundo, em silenciosa doação afetiva, em comunhão com o Mistério de Deus. Intenso era o seu contato com as manifestações da Natureza, em plena observação amorosa. A experiência da meditação contemplativa, para ele, é um dom de Deus de se estar sendo no mundo. É uma entrega radical em silêncio. Os contemplativos “participam da crise e da tragédia que assola o mundo, mas que eles veem e entendem de maneira inteiramente diferente do resto do mundo”. (…) “suas verdadeiras perspectivas são aquelas do Reino escatológico de Deus”. Merton sentia-se feliz por ser membro da raça humana, de ter no outro a humanidade de Jesus Cristo.

Thomas Merton foi meu mestre maior na compreensão do mistério da encarnação de Jesus Cristo. Merton nasceu na França, 31 de janeiro de 1915, já dito, e morreu, de maneira inusitada, em Bancoc, Índia, em 10 de dezembro de 1968. Descendente de pais anglo americanos escreveu mais de 70 livros sobre espiritualidade, poesia, justiça social, ensaios, religiões comparadas – Zen, Tao, Sufi. Foi ativista social ferrenho. Foi o primeiro monge no ocidente a travar diálogo com asiáticos como DT Suzuki, Dalai Lama e Thich Nhat Hanh.


Martha Pires Ferreira


* Martha é mais Maria, mística de pés descalços, artista plástica de alma irrequieta, contemplativa próxima do povo. Vive sua vocação eremítica nas ladeiras e ateliês do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Foi uma das precursoras na direção de grupos de leitura de Thomas Merton no Brasil.



Fonte: https://merton.org.br/
Fonte da Gravura: CNS/Thomas Merton Center na Universidade de Bellarmine

AS GRANDES LEIS NATURAIS DA EVOLUÇÃO


Com o auxílio de algumas prováveis noções que sobre o destino do ser adquirimos, podemos elevar-nos à pesquisa de algumas das grandes leis do Universo. Vimos que a evolução é o grande princípio da lei universal. Todas as leis que a regem parecem reduzir-se a três essenciais: a lei do esforço, a lei da solidariedade, a lei do progresso.

1º) A lei do esforço – Segundo essa lei, todo ser chegado a um rudimento de sensibilidade e de consciência deve contribuir ativamente para o progresso evolutivo. Seu desenvolvimento pede esforços perpétuos inumeráveis, os quais constituem o próprio mérito desse desenvolvimento.

A filosofia naturalista por vezes torceu, numa certa medida, o sentido geral dessa lei, reduzindo-a, toda ela, à luta pela vida. Em realidade, a luta pela vida não passa de um modo especial da lei de esforço, de outro modo vasta e geral. Quanto ao resto, os naturalistas modernos de mais a mais se põem de acordo, no sentido de dar à seleção natural não o papel primordial e indispensável na evolução, mas um simples desempenho favorecedor dessa evolução. De um mundo a outro, a lei do esforço é a causa das grandes diferenças de pormenores e, num mesmo mundo, responde por inumeráveis discrepâncias ali verificadas quanto à forma. É ela – a lei do esforço – o fator essencial das numerosas e consideráveis desigualdades das partes evolucionárias. Resulta ela na ativação da evolução, criando as variedades e desigualdades.

2º) Lei de solidariedade – Por si, não é nem menos importante nem menos evidente que a lei de esforço, implicando na solidária evolução de todas as partes constituintes de um universo. Essas partes – as mais diversas, como as mais afastadas – só podem evolver umas com as outras e umas pelas outras.

Os efeitos dessa lei podem ser observados por tudo e em tudo: entre os mundos de um mesmo sistema (e também, provavelmente, entre os sistemas vizinhos), fixados em volta de um ou de muitos astros centrais, e solidários pela atração, bem como por certos fenômenos magnéticos ou elétricos etc.; entre as porções constituintes de um mesmo mundo, forçosamente solidários material, intelectual e moralmente; entre os minerais, os vegetais e os animais, inseparáveis uns dos outros, apesar do grau diferente de evolução, pelo só fato das necessidades orgânicas e funcionais. Entre as porções constituintes de um ser organizado. Com efeito é sabido que, na realidade, um ser é constituído por um agregado de seres elementares e solidários no conjunto. Há, além disso, no ser, matéria, força e inteligência, ou seja – na hipótese de se admitirem as teorias monistas –, aparências diversas do princípio único, mas sempre inseparáveis e solidárias no seu progresso.

Agora se compreende o propósito e a necessidade das encarnações, da associação da alma e do corpo. Ambos não podem evoluir senão correlativa e simultaneamente.

A lei de solidariedade subdivide-se em leis secundárias:

a) lei de atração entre os mundos e os átomos;

b) lei de afinidade ou de simpatia, pela qual a solidariedade entre as partes evolucionárias é tão mais ativa e potente quanto mais aproximadas, por sua fase e seu nível e evolução, o forem essas partes.

Assim, a inteligência é solidária da força, sobretudo, e a força, da matéria, o que faz com que esta seja o intermediário necessário para a ação daquela sobre a matéria. Existe, graças a essa divisão da lei de solidariedade, gradação de solidariedade do animal ao homem; do selvagem ao homem civilizado; deste ao compatriota, aos parentes etc. Tal é a lei de solidariedade plena. E ela apresenta uma consequência capital: atenua os deploráveis efeitos da luta pela vida e restabelece, no conjunto, a igualdade nos pormenores, destruída pela lei do esforço. A solidariedade não é um simples princípio de moral, mas uma necessidade absoluta, a mola real, a engrenagem essencial da evolução.

É por não haver, às claras, colocado a lei de solidariedade ao lado da luta pela vida que o transformismo pode, tão frequentemente, ser mal interpretado; e foi por isso que ele provocou o estonteante julgamento de uma certa escola: “a natureza é imortal!”

Vimos como as noções novas sobre o destino individual fazem antecipadamente surgir a lei de solidariedade, colocando-a no primeiro plano, na evolução progressiva da natureza e dos seres. Todo ser adiantado possui a consciência, ou ao menos a intuição dessa grande lei: “Aquele é o melhor – diz Guyau –, o que mais consciência tem de sua solidariedade com os outros seres e com o todo.”

3º) Lei de desenvolvimento indefinido – Essa lei só pode ser admitida com um caráter de probabilidade e não de certeza.

Parece, de fato, que necessariamente ela resulta das noções que sobre o destino dos mundos e dos seres acabamos de expor. Não se concebe uma possível regressão geral, nem o estancar do processo evolutivo. Se verdadeira é essa lei, o mundo inteiro deve evoluir, quaisquer que sejam as condições físicas ou químicas exteriores, se bem que sempre conforme a essas condições. O mundo inteiro deve originar manifestações vitais e intelectuais.


Dr. Gustav Geley



Fonte: "O Ser Subconsciente" - Dr. Gustav Geley
Texto retirado do site "Vade Mecum Espírita"
http://www.vademecumespirita.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O CENTRO INTERNO DE EQUILÍBRIO


Um Ponto de Vista Correto Para Olhar a Realidade 

Exatamente no centro da Terra há um ponto de perfeito equilíbrio. Vacilar a partir dele em qualquer direção provoca uma perda de equilíbrio e coloca em ação forças instáveis. Este é um fato multidimensional.

Cada esfera, desde um átomo até o sistema solar, tem o seu ponto de equilíbrio. É nele que todas as forças têm igual influência e a harmonia reina suprema.

É nele que podemos encontrar o nosso lugar, num plano que não é demasiado elevado, nem demasiado baixo. Este é o ponto que podemos considerar realmente nosso. Ele não é nosso no sentido de posse pessoal, mas no sentido de que nele encontramos o lugar próprio para aquilo que é Supremo.

Uma vez que encontramos o ponto de equilíbrio em nós próprios, reconhecemos que ele está em toda parte, e o vemos como Aquilo sobre o qual todos os mundos se apoiam. Não chegamos ao ponto de equilíbrio indo para um ou outro lugar, mas simplesmente reconhecendo-o.

Quando isso acontece, podemos observar com clareza a ação das forças que fluem do mundo interno para o mundo externo, e do mundo externo para o interno. Os pares de opostos da vida podem ser vistos então como simples linhas de energia, divergentes, vibrantes, espalhando-se desde o centro para a circunferência ilimitada do círculo, e vindo de volta para o centro, passando pela sombra externa que rodeia o eu superior.

Expressões como “uma meta estável”, ou “meditação de uma vida inteira” [1] só fazem sentido quando  vemos que uma coisa é agir em qualquer direção a partir deste centro, e outra coisa, muito diferente, é deixar que a consciência siga esta ou aquela linha de força, até que a consciência fique identificada com tempo, lugar e condição. A identificação com o que é agradável ou desagradável, com dor e prazer ou esperança e desânimo, é o resultado desta perda de equilíbrio.

Este lugar não é um “lugar” situado no espaço e no tempo. Quando ele é percebido pelo sentimento e pela compreensão, então nós vemos que o nosso dever mais elevado consiste em esforçar-nos com uma firme determinação para permanecer em paz e em contato com o centro de equilíbrio, sem perturbar-nos por coisa alguma que possa acontecer. Nosso dever consiste em agir desde este centro para equilibrar gradualmente todas as causas e efeitos dentro da nossa esfera de ação, mesmo que sejam necessárias várias encarnações para conseguir a meta. O chamado mito da “música das esferas” não é um mito, mas uma realidade transcendental.

Deste ponto de vista, parece simplesmente absurdo que alguma vez tenhamos desejado cumprir um dever que não era o nosso, ou ocupar o lugar de outra pessoa, por mais agradável que ele pudesse parecer quando comparado com a desarmonia e as limitações que nos rodeiam.

Cada ser humano deve fazer os ajustes adequados dentro da sua própria esfera. Ao fazê-los, ele não trabalha apenas para o seu bem individual, mas para o bem de todos, porque percebe que este centro é o único Centro de tudo o que há. [2]

Assim, é inútil arrepender-se ou lamentar-se, ou ter vontade de estar em qualquer outro lugar diferente daquele em que se está. Em algum momento, em algum lugar, cada indivíduo deve realizar esta tarefa. Mantendo uma firmeza de sentimentos, podemos erguer-nos e dedicar-nos, com uma decisão inabalável, ao cumprimento do nosso dever.


John Garrigues


Fonte do Texto e da Gravura: FilosofiaEsoterica
https://www.filosofiaesoterica.com/o-centro-interno-de-equilibrio/


NOTAS:

[1] Em teosofia original, pratica-se meditação ou contemplação durante as 24 horas do dia. Isso pode ser chamado de “meditação da vida inteira”. Veja o texto “A Contemplação”, de Damodar Mavalankar, que pode ser encontrado nos Websites Associados. (CCA)

[2] Segundo a filosofia esotérica, a vida é um círculo cuja circunferência não está em parte alguma, e cujo centro está em toda parte. O chamado “círculo de Pascal” é discutido em “A Doutrina Secreta”, de H. P. Blavatsky. (CCA)


Nota Editorial:

A matemática e a geometria têm dimensões sagradas, e o texto acima estimula uma visão geométrica da vida. A partir de uma percepção da unidade de cada indivíduo com o planeta Terra, o artigo mostra a relação direta inevitável que há entre três fatores: 1) A obtenção de um verdadeiro autoconhecimento; 2) O desenvolvimento de uma visão planetária e impessoal da vida; e 3) O cumprimento individual do dever ético. O texto é um guia para meditação, e está diretamente ligado às primeiras páginas do Proêmio da obra “A Doutrina Secreta”, de Helena P. Blavatsky.

“O Centro Interno de Equilíbrio” foi publicado pela primeira vez, sem nome de autor, na revista “Theosophy”, de Los Angeles, em maio de 1922, p. 221. Uma análise do seu conteúdo e estilo indica que foi escrito por John Garrigues (1868-1944). Título Original: “A View-Point”. 

(Carlos Cardoso Aveline)

REENCARNAÇÃO E GENÉTICA


Como o acaso não existe no vocabulário espírita, tudo na reencarnação acontece sob a égide de Deus, o Senhor da Vida. Sendo esta programada, os Espíritos Superiores atuariam como construtores ou geneticistas, no fluxo da vida, selecionando o óvulo e o espermatozoide, na formação do ovo, que em última análise, originará aproximadamente os 70 trilhões de células do corpo físico; sempre que possível, o Espírito reencarnante colabora em ação conjunta nessa iniciativa.

De "Missionários da Luz" (1), extraímos: "(...) passou a examinar os mapas cromossômicos, com a assistência dos construtores presentes. (...) examinando a geografia dos genes nas estruturas cromossômicas a fim de certificar-me até que ponto poderemos colaborar (...), com recursos magnéticos para organização das propriedades hereditárias. (...)"

Solicitada a natureza das provas pelo reencarnante, ou estabelecidas as expiações, os Espíritos Superiores a tudo estão atentos na execução do projeto de recorporificação. Até mesmo nas reencarnações compulsórias, o Espírito reencarnante, mesmo não colaborando no processo, tem conhecimento do programa estabelecido, por mais relutante que esteja, porque "ninguém penetra num educandário, para estágio mais ou menos longo, sem finalidade específica e sem conhecimento dos estatutos a que deve obedecer.", ainda em "Missionários da Luz" (1). "O grau de comando dos Espíritos Superiores, neste processo reencarnatório, é inversamente proporcional ao estágio evolutivo do Espírito." (1)

Ficará este conhecimento, como outros, de posse do Espírito e arquivado no seu perispírito por ocasião da reencarnação, a ser utilizado como intuição. Estabelecem-se fortíssimos compromissos, talvez os maiores que possam assumir os Espíritos, entre os pais e o Espírito reencarnante e vice-versa, cujo cumprimento é fundamental para que se concretize a reencarnação, revigorando-se assim laços preexistentes, estabelecendo-se novos ou reparando-se outros. A quebra deste protocolo terá repercussões importantíssimas sobre os compromissados Espíritos envolvidos no processo. Colaboram ainda, os Espíritos simpáticos e às vezes procuram interferir negativamente os Espíritos inferiores, de acordo com a possibilidade das sintonias, na reencarnação que se apresenta redentora para o seu desafeto. 

Na realidade nós somos o que fomos, encontrando-se gravados no nosso perispírito todas as vivências e experiências pregressas a se transmitir através do modelo organizador biológico ao novo corpo físico, não como uma fatalidade, mas como um ponto de partida, podendo ser modificada, na decorrência do que realizarmos de positivo ou negativo, na edificação da nossa proposta reencarnatória. 

"(...) Essa Energética Espiritual, resultado de vivências e experiências incontáveis, com suas emissões vibratórias, apresentam zonas intermediárias (perispirituais) até desembocarem nos genes... por onde as sugestões, informações, diretrizes, enfim todo o quadro de nossa herança espiritual tivesse possibilidade de expressões nas regiões cromossômicas da herança física." (2)

Nos genes, estão as moléculas de DNA, situando-se particularmente no núcleo das células(99,5% ) e no citoplasma (DNA mitocondrial - 0,5 %), que comandam a síntese das proteínas e a atividade celular, sem as quais não haveria vida. No DNA está implantado o nosso "relógio biológico" (8), gatilho de todas as doenças genéticas (natureza, tempo de surgimento, duração, gravidade, periodicidade), além dos caracteres e deficiências físicas.

Acrescenta Hermínio Miranda, (3): "O Dr. Jorge Andréa chega a admitir que o espírito possa estar presente e influir na seleção do espermatozoide que vai disparar o mecanismo de fecundação e consequente gestação. Naturalmente que para isso é necessário que o espírito tenha condições evolutivas e de conhecimentos bastante satisfatórias, pois há renascimentos regidos por leis emergenciais, em cujo processo pouco participa conscientemente o reencarnante. É certo, porém, que a presença do espírito ou, pelo menos, sua imantação ao feto é vital ao desenrolar o processo, dado que é seu perispírito que traz as matrizes cármicas que entram como componente decisivo na formação do corpo físico, interagindo com mecanismos puramente genéticos."

Não seríamos coerentes, se admitíssemos que só as células sexuais masculinas fossem selecionáveis, entre os 200 000 000 à 500 000 000 de espermatozoides (por ejaculação), que se propõem a fecundar o óvulo. Entrementes, ao completarem a sua formação os ovários contém de 300.000 à 400.000 folículos, cada um deles contendo um ovócito primário, e durante a vida da mulher, apenas cerca de 300 deles consegue atingir a maturação (4), sendo que os outros vão sofrer involução e regredir, sem progredir para óvulo. Portanto aqueles ovócitos são selecionáveis, no processo de maturação para a ovulação. Aceita a proposição de que os espermatozoides são escolhidos, não há porque negar que os óvulos também o são. Existiria pois um óvulo selecionado que chega, para um espermatozoide também pinçado pela espiritualidade, que irá alcança-lo. Não fora assim, haveria uma seleção para o espermatozoide e um acaso, para o óvulo. Desta maneira se dá a fecundação, formando-se o ovo ou zigoto, e o início da vida física e da ligação espiritual, quando existe um Espírito designado e já fixado por seu cordão fluídico, caminhando o ovo e o Espírito com seu sonho reencarnatório "dolorosamente conquistado e insistentemente solicitado" (5), em busca da nidificação no útero materno, preparado "carinhosamente" para recebe-lo na sua majestade, intensificando-se os laços perispiríticos com o corpo físico, (6) quase completamente ao nascimento e finalizando-se até aos sete anos de idade, aproximadamente. "A união começa na concepção, mas só se completa por ocasião do nascimento." (7). "A diferença é sutil, mas interessante de considerar: ele não está encarnado, mas ligado, da concepção ao nascimento." ( 8)

Concomitantemente, os movimentos vibratórios do perispírito vão diminuindo e restringindo-se, ocasionando a obnubilação da memória e "um véu cada vez mais espesso envolve a alma e apaga-lhe as radiações interiores." (6).

Esta maravilhosa construção encarnatória, realizada pelos Espíritos Superiores, é uma concessão da bondade, da misericórdia e da justiça divina, "demonstrando que a vida é uma realidade, antes da nossa organização biológica." (9)

Albert Einstein, ao analisar que a fecundação e o desenvolvimento do ovo violavam todas as regras da Termodinâmica, assim se pronunciou: "Posso afirmar que o Universo não explica o Universo e a matéria não se explica a si mesma. Fora do Universo e independente dele existe um poder pensante e atuante, que é responsável pela aglutinação das moléculas, no campo da energia material." , e conclui: "A ciência sem religião é capenga e a religião sem ciência é cega." (9)

O Espiritismo nos mostra a grandeza desse elo entre a genética e a reencarnação, entre a Ciência e a Religião.



Fonte do Texto: Revista Internacional de Espiritismo - Março/2000
https://www.oclarim.com.br/link/revista+internacional+de+espiritismo+rie
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal



Bibliografia:
(1) XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito André Luiz. Missionários da Luz. FEB 28ª edição; pp. 187 à 189 e 208.
(2)  KÜHL, Eurípides. Genética e Espiritismo, FEB 1 ª edição, 1996; p. 40.
(3) MIRANDA, Hermínio P. Nossos filhos são Espíritos. Publ. Lachâtre, 1995; p. 47.
(4) SOARES, José Luis. Biologia. Ed. Scipione, 1997; p. 195.
(5) GANDRES, Doris Madeira. Tesouro maior, Revista Internacional do Espiritismo, Jan. 1999, p. 219.
(6) DÊNIS, Leon, O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Ed. FEB, 1936, 4ª ed., p. 193.
(7) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. FEB, 1987: perg.199, 344 358 e 359.
(8) ROCHA, Alberto de Souza. Além da matéria densa. Ed. Correio Fraterno, 1997, p. 153.
(9) FRANCO, Divaldo Ferreira. Encontro com médicos. S. José do Rio Preto, S.Paulo. 1992. Studio Alvorada.