domingo, 3 de abril de 2022

A GUERRA INTERIOR


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Acabar com a guerra interior significa fazer chegar ao fim o conflito entre todas as suas personalidades. Você pode aliviar o eu-sombra da carga de energias do passado, criando assim uma condição para a paz interior, visto que é o medo de ser ferido que faz com que suas vozes interiores não tenham confiança umas nas outras. Mas você não pode começar a resolver essas tensões interiores enquanto não conhecer os componentes das suas personalidades interiores.

As personalidades são sempre formadas pela mesma coisa — uma energia antiga apegada a uma memória. Digamos, por exemplo, que você se lembra de ter sido punido quando criança por algo que você não fez. A energia do ressentimento ou da injustiça se apegará a essa lembrança, e você começará a criar um fragmento de personalidade — uma criança ressentida — que viverá de acordo com sua visão estreita das coisas até que essa energia seja liberada.

A criança interior ressentida é apenas uma memória que quer descarregar sua energia retida, e enquanto essa descarga não acontecer, essa energia ficará retida. Como você tem recordações que encerram tanto associações felizes quanto associações dolorosas, as personalidades interiores se manifestam de maneiras agradáveis e desagradáveis. É agradável recordar ter sido elogiado por um bom trabalho; é desagradável lembrar ter sido criticado. Mas essas memórias opostas não se neutralizam; elas retêm sua integridade e conflito com seus opostos.

Faz parte da natureza dos julgamentos dizer "Estou certo", mesmo que a experiência seguinte seja totalmente contraditória. A crítica ou a punição injusta seguirá com você, repetindo várias vezes as antigas cenas, enquanto no compartimento seguinte outra energia, a de ser tratado com justiça e bem recompensado estará expressando seu ponto de vista.

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Todas as subpersonalidades desejam a mesma coisa: expressar-se através de você. O bebé que chora, a criança solitária, o adolescente frustrado, o amante esperançoso, o funcionário ambicioso, todos querem ter uma vida através de você. E eles o conseguem, até certo ponto. Nenhuma personalidade individual jamais se realiza completamente; por conseguinte todas precisam gritar para obter seu momento ao sol — ou à sombra. É o conflito resultante que torna a vida humana tão ambígua, tão cheia de luz e sombra ao mesmo tempo.

O mago, porém, vive somente na luz. A semelhança de um bebé, o mago não se agarra à energia. Tendo abandonado todos os apegos da memória que alimentam nossa guerra interior, o mago transcendeu a personalidade e vive na consciência pura.

A maneira de nos deslocarmos do estado mortal para o estado do mago pode parecer misteriosa, mas é, na verdade, totalmente natural. Tudo que é necessário é o equilíbrio, o qual o fluxo da vida é perfeitamente capaz de preservar.

Existem muitas maneiras de liberar antigas energias. Uma das mais poderosas é simplesmente reconhecer que elas estão presentes. Em vez de negar que você sente vergonha ou culpa, por exemplo, olhe para si mesmo e diga simplesmente: "É assim que eu me sinto". Com frequência esse momento de autoconsciência é suficiente, porque, em última análise, todas as energias retidas são capturadas e mantidas presas do lado de dentro através da negação. Supere a negação, e metade da batalha estará vencida. O reconhecimento é uma forma de autoaceitação. Você não precisa dizer: "É aceitável sentir vergonha e culpa", porque na verdade essas são energias das quais você quer se descartar, e não perpetuar. Mas certamente é aceitável dizer: "Tenho esses sentimentos. Eles são reais."
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Dr. Deepak Chopra




Fonte: do livro "O Caminho do Mago", Ed. Rocco, Rio de Janeiro, 1999
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

AUTODESOBSESSÃO - SOMBRA


Se você já pode dominar a intemperança mental...

Se esquece os próprios constrangimentos, a fim de cultivar o prazer de servir...

Se sabe escutar o comentário infeliz, sem passá-lo adiante...

Se vence a indisposição contra o estudo e continua, tanto quanto possível em contato com a leitura construtiva...

Se olvida mágoas sinceramente, mantendo um espírito compreensivo e cordial, à frente dos ofensores...

Se você se aceita como é, com as dificuldades e conflitos que tem, trabalhando alegremente com tudo aquilo que não pode modificar...

Se persevera na execução dos seus propósitos enobrecedores, apesar de tudo o que se faça ou fale contra você...

Se compreende que os outros têm o direito de experimentar o tipo de felicidade a que se inclinem, como nos acontece...

Se crê e pratica o princípio de que somente auxiliando o próximo, é que seremos auxiliados...

Se é capaz de sofrer e lutar na seara do bem, sem trazer o coração amargoso e intolerante...

Então, você estará dando passos largos para libertar-se da sombra, entrando, em definitivo, no trabalho da autodesobsessão.



Francisco Cândido Xavier / André Luiz



Fonte: do livro "Meditações Diárias"
IDE Editora - Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP, 1ª edição, 2009
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A VERDADE NUA (E CRUA)


“A Verdade saindo do poço armada do seu chicote para castigar a humanidade”, pintura de 1896, Jean-Leon Gérôme


“A Verdade saindo do poço armada do seu chicote para castigar a humanidade” é um quadro realizado pelo escultor e pintor francês Jean-Léon Gérôme em 1896. A pintura pertence às coleções do museu Anne-de-Beaujeu, em Moulins, na França , e está ligada a uma parábola do século XIX, que diz:



A Verdade e a Mentira se encontram um dia.

A Mentira diz à Verdade: Hoje é um dia maravilhoso!

A Verdade olha para os céus e suspira, pois o dia era realmente lindo.

Elas passaram muito tempo juntas, chegando finalmente ao lado de um poço.

A Mentira diz à Verdade: A água está muito boa, vamos tomar um banho juntas!

A Verdade, mais uma vez desconfiada, testa a água e descobre que realmente está muito gostosa.

Elas se despiram e começaram a tomar banho.

De repente, a Mentira sai da água, veste as roupas da Verdade e foge.

A Verdade, furiosa, sai do poço e corre para encontrar a Mentira e pegar suas roupas de volta.

O mundo, vendo a Verdade nua, desvia o olhar, com desprezo e raiva.

A pobre Verdade volta ao poço e desaparece para sempre, escondendo nele sua vergonha.

Desde então, a Mentira viaja ao redor do mundo, vestida como a Verdade, satisfazendo as necessidades da sociedade, porque, em todo caso, o Mundo não nutre nenhum desejo de encontrar a Verdade nua.



Existe um outro final dessa parábola que diz:



A verdade, por sua vez, recusou-se a vestir-se com as vestes da mentira.

E por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar pelas ruas e vilas.

E desde então, é por isso que, aos olhos de muita gente, é mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade, do que a verdade... nua e crua.




Gravura: “A Verdade saindo do poço”, de Jean-Léon Gérôme, 1896.
Via: Publicado originalmente em oversoso.com.br
https://overdoso.com.br/2019/04/16/a-verdade-e-a-mentira/