sábado, 25 de maio de 2019

SUPOSTA "DISTÂNCIA" ENTRE O EMANADOR E O RECEPTOR DE LUZ


Por que entramos no ciclo das perturbações? Onde se encontra a ação da Luz do Mundo Infinito? Quando e como a bênção pode chegar ao ser humano? Por que algumas pessoas recebem a bênção e outras não? Existe algum mecanismo que permite que a Luz do Mundo Infinito chegue a nós com mais eficiência?

Para os cabalistas, a verdadeira Luz do Mundo Infinito é imóvel e de natureza eterna. Não se desloca no espaço, portanto ela está neste exato momento atuando imensamente sobre nossas vidas. A Luz não se desloca no espaço e no tempo em função do fato de que não há espaço e não há tempo em que ela não se encontre. Sendo assim, a Luz do Mundo Infinito sempre é. A Luz é um elemento constante e onipresente do Todo Unificado. O nosso sentimento de falta se deve ao nosso esquecimento da natureza onipresente da Luz. Para a Cabalá, este esquecimento é a causa de todo o desequilíbrio e de toda a dor na humanidade.

O que estabelece uma suposta “distância” entre o Emanador e o Receptor desta Luz é o seu sistema de comunicação muitas vezes falho. Se fortalecermos o nosso sistema de comunicação com o Mundo Infinito, evitaremos o esquecimento da unicidade. Segundo nos ensinam os sábios da Cabalá, é esse sistema de comunicação que promove a adesão necessária para que o cabalista perceba constantemente a manifestação desta Presença Divina. Quando perdemos a nossa adesão com o mundo entramos no ciclo robótico das repetições sistemáticas de nossos erros. Esse é o preço do nosso esquecimento da onipresença da Luz – entrarmos no “ciclo das perturbações” de Olam Tohú.

Sendo assim, para o cabalista, a Luz do Mundo Infinito não “viaja” do Mundo Infinito para o mundo físico. E esse é um dos tantos paradigmas que a Cabalá abala. Outros exemplos poderiam ser descritos como: os semelhantes se atraem; o espaço e o tempo são algo ilusório; você é a causa e o efeito de si mesmo, entre outros tantos. O tempo, como nós o percebemos, só existe na perspectiva das sete sefirot inferiores. Mas não possui nenhuma utilidade nas Três Superiores, ligadas com o Mundo Infinito. É por isso que nas sete sefirot inferiores só vemos o mundo da fragmentação, o ilusório mundo do tempo, do espaço e do movimento, como sendo a totalidade da existência. Aqui reside a causa de muitas das dores deste mundo. Quando nos desligamos da Luz, passamos a nos ligar a uma existência negativa da Luz (o não-Él) e por associação nos tornamos fracos e impotentes diante do caos.

É por causa do esquecimento do passado (principalmente dos ciclos de vidas passadas) que mergulhamos no caos de nossos equívocos cotidianos. Para os cabalistas, o presente, o passado e o futuro estão todos presentes no mesmo instante-espacial. O mundo real está, na verdade, unificado. Há um aspecto de unificação em todas as manifestações do universo. Esta condição é plenamente indicada no aspecto circular de todas as coisas, dos planetas ao átomo, tudo está sujeito à regência da esfera e sua estrutura unificadora. O grande paradoxo é que o mundo verdadeiro deve permanecer oculto, pois o ato de descobri-lo é em si o desenvolvimento do mérito espiritual. Nos mantermos ignorantes diante da Luz nos faz acentuar a reatividade (cujo ponto de concentração energética é a narina) e nos lança às dimensões inferiores do desejo de receber para si mesmo.

Uma consciência fragmentada faz com que o mundo a nossa volta se torne impermanente e incapaz de gerar “frutos”. A Cabalá nos ensina que o AMEN que falamos nas orações possui um poder espiritual de adesão com o Mundo Infinito. Quando falamos “AMEN” nas orações, estando certos de seu poder de adesão, resgatamos as centelhas de nossa consciência que tenham se ligado aos mundos de baixo.

Em função de nossa perspectiva limitada e finita, o tempo parece ser um tirano implacável. Estamos tão acostumados a medir nossa percepção de acordo com o relógio e a aparente sequência de nascimento, vida e morte, que aceitamos a tirania do Satan (Energia Inteligente do Ego) e sua manipulação temporal, e nos submetemos a Olam Tohú como um resultado inevitável. A Cabalá nos direciona a reconhecer que o Infinito se encontra presente no aparente finito e que ao nos conectarmos com nosso próprio aspecto infinito, podemos abrir as portas do Ein Sof (Mundo Infinito). A Cabalá nos ensina a nos retirar do ciclo de negatividade, de luta, de fracasso, e da morte, nos ensinando que estes ciclos são empobrecedores e que devemos nos conectar com o Mundo Infinito. Lá onde o tempo, o espaço e o movimento estão entrelaçados, onde todos os seres e todas as coisas se encontram interconectados, onde o “aqui” é “aí” e onde o “futuro” é “agora”.

Assim, devemos nos manter sempre em estado de alerta e procurar sermos sempre cautelosos com a ilusão que parecem ser as chamadas “fases negativas” em nossas vidas. Trata-se de uma grande armadilha do Satan (Energia Inteligente do Ego) . Uma análise do momento nos faz esquecer o passado e também o futuro, pois apaga de nosso registro de consciência a nossa percepção da eternidade. Esquecendo, nos tornamos prisioneiros, mas, como em qualquer prisão, é possível escapar. Esta é uma prisão construída em sua mente e pode ser destruída por ela também. Para ver melhor o que está do outro lado dos muros altos desta prisão, é necessário fecharmos os olhos e abrirmos o coração...



Rav Mario Meir



Fonte: Academia de Cabala
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal