terça-feira, 15 de janeiro de 2013

CHAPEUZINHO VERMELHO




A história de Chapeuzinho Vermelho tem finais diferentes nas versões de Perrault e dos Grimm.

Perrault não pretendia usar os contos apenas como forma de entretenimento, e sim usá-los como uma forma de passar lições de cunho moral, por isso nos seus contos existia sempre ao final, frases de sua autoria onde explicitava a “mensagem” da história.

Na sua versão de Chapeuzinho Vermelho, a história termina quando a menina chega à casa da avó e após tirar a roupa e deitar-se na cama com o lobo, é devorada por ele.

Por isso, nas suas considerações finais, escreveu que menininhas bonitinhas não deveriam falar e dar ouvidos a qualquer estranho, pois poderiam acabar sendo devoradas por um lobo astuto.

Um outro ponto a ser considerado nessa versão é que o lobo, após chegar à casa da avó e devorá-la, não veste suas roupas. Deita-se na cama como lobo mesmo, sem disfarce. Esse é um dos motivos pelo qual Bettelheim (2000, p.205) considerou a versão de Perrault não muito apropriada. Segundo ele, essa versão perde muito de seu atrativo pois o lobo fica muito claramente sendo apenas uma metáfora e não um animal, por isso pouco resta à imaginação do ouvinte. Essa forma que ele usou para simplificar a história junto com a moral que apregoa, faz com que o conto perca muito de seu significado. O valor do conto de fadas para a criança é destruído se alguém detalha os significados  (BETTELHEIM, 2000, p.205). Além disso, um conto de fadas só será realmente importante e significativo se a criança tiver a oportunidade de descobrir espontaneamente e por ela mesma os significados ocultos. Esta descoberta transforma algo recebido em algo que ela cria parcialmente para si mesma (BETTELHEIM, 2000, p.206).

As versões dos Irmãos Grimm (que foram duas) são mais apropriadas às necessidades da criança. Na história de Chapeuzinho Vermelho o tema é a ameaça de ser devorada. Esse tema está presente em muitos contos de fadas, mas mesmo tendo um tema em comum, cada conto desempenha um papel, pois depende do contexto onde ocorre a história.

A história de Chapeuzinho Vermelho aborda questões referentes às ligações edípicas, (que uma menina em idade escolar ainda não conseguiu resolver), bem como o dilema comum a todos os seres humanos, entre o princípio da realidade e o princípio do prazer.

Chapeuzinho Vermelho, de forma simbólica projeta a menina nos perigos do conflito edípico durante a puberdade, e depois salva-a deles, para que ela possa amadurecer livre de conflitos. (BETTELHEIM, 2000, p.208)

Nessa história, as figuras femininas são quase insignificantes, pois tanto a mãe quanto a avó nada podem fazer pela menina. Ao contrário, o macho desempenha um papel fundamental na história. Aparece em duas facetas distintas: o sedutor perigoso e o do caçador, que sugere a figura paterna responsável, forte e salvadora.

É como se Chapeuzinho tentasse entender a natureza contraditória do homem vivenciando todos os aspectos da personalidade dele: as tendências egoístas, associais, violentas e potencialmente destrutivas do id (lobo); e as propensões altruístas, sociais, reflexivas e protetoras do ego (caçador). (BETTELHEIM, 2000, p. 208)

Além da identificação que ocorre com a figura de Chapeuzinho Vermelho, o lobo também exerce fascínio. Se não houvesse algo em nós que aprecia o lobo mau, ele não teria poder sobre nós (BETTELHEIM, 2000, p.209). Isso acontece porque a figura do lobo não representa apenas um caráter sedutor, simbolicamente representa também todas nossas tendências animalescas e não aceitas socialmente, tendências ligadas ao id.

Segundo Bettelheim (2000, p.210) outro ponto de grande importância na história é o próprio título. O vermelho é uma cor que representa emoções fortes e de conotação sexual. Além disso, ainda no título, fica claro que se trata de uma menina pequena, e portanto, incapaz de lidar emocionalmente com sua sexualidade, pois não está suficientemente madura para isso. Quando alguém não preparado ainda, precisa lidar com  o sexo, é comum que regrida aos conflitos edípicos, justamente por não se sentir segura para isso. Por isso, a forma como Chapeuzinho Vermelho dá as dicas ao lobo de onde é a casa de sua avó, facilita as coisas para que ela seja destruída. A avó nesse caso representa a própria mãe e aparecem aí desejos inconscientes de vencê-la.

Esta luta entre o desejo consciente de fazer as coisas corretamente e o anseio inconsciente de vencer a mãe (avó) é o que nos faz amar a menina e a estória torna-se supremamente humana. Quando crianças, muitos de nós tínhamos ambivalências internas que, apesar de nossos esforços, não podíamos controlar (BETTELHEIM, 2000, p.210).

Na versão de Perrault, há uma forte conotação sexual. Já com os Grimm, não ocorre isso, portanto, acontece como deve ser para a criança: as implicações sexuais ficam apenas a níveis pré-conscientes. Conscientemente, o tema central da história é a desobediência da menina.

A figura paterna aparece de forma velada na historia de Chapeuzinho. Ele está presente em dois simbolismos totalmente opostos: o lobo (externalização dos perigos de sentimentos edípicos reprimidos) e o caçador (função resgatadora e protetora).

Após ser salva pelo caçador, e a menina que decide o que fazer para acabar com o lobo (enchendo sua barriga de pedras). Se o caçador tivesse matado o lobo, talvez se perdesse aí uma mensagem importante do conto. Isso porque, ao livrar-se do lobo, Chapeuzinho simbolicamente está vencendo uma fraqueza, estará  se libertando por si só.

Um outro tema presente nessa história e em quase todos os outros contos é o renascimento. Na verdade, Chapeuzinho Vermelho não morre, mas sim ressurge para uma nova vida, de forma melhor. Essa é uma mensagem  de extrema importância, pois todos os seres humanos (não só crianças) precisam acreditar na superação de dificuldades e no seu próprio aprimoramento, acreditar na possibilidade de uma forma de existência mais plena, acreditar nas suas próprias capacidades.

Muitos adultos hoje em dia tendem a tomar literalmente o que e dito nos contos de fadas, quando estes deveriam ser encarados como relatos simbólicos de experiências de vida cruciais. A criança o compreende intuitivamente, embora não o saiba explicitamente (BETTELHEIM, 2000, p.215).

Assim, a história de Chapeuzinho Vermelho trata de questões de extrema importância para a criança, paixões humanas, voracidade oral, agressão e desejos sexuais pubertais (BETTELHEIM, 2000, p.218). A narrativa leva-nos a perceber (ainda que em nível pré consciente ou mesmo inconsciente) que as pessoas mudam, amadurecem, transformam-se interiormente a partir de suas experiências, inclusive das adversidades. Pois assim aconteceu com Chapeuzinho, a menina aprendeu a lição a partir das experiências que viveu, mostrando o valor da autodireção interna, ou seja, ela mesma tirou suas conclusões e aprendeu com os acontecimentos, renascendo de forma mais completa.


(Anônimo)



Fonte: do texto "Interpretação de Alguns Contos Infantis"
http://pt.scribd.com/doc/6810908/Anonimo-InterpretaCAo-de-Alguns-Contos-Infantis
Fonte da Gravura: https://www.culturagenial.com/conto-chapeuzinho-vermelho/

O CENTRO DIVINO EM NÓS



Quereis encontrar o equilíbrio, a paz? Esforçai-vos diariamente por encontrar o centro divino em vós mesmos. Nesse momento, todas as partículas do vosso ser, todas as energias que circulam em vós, se harmonizam e se ordenam em relação a esse centro divino, em torno do qual se põem a gravitar.

O segredo da vida espiritual está em reunir de novo essa multidão de elementos díspares que se espalharam em todas as direções e fazê-los girar em torno do vosso Sol interior como os planetas giram em torno do Sol cósmico. Então, sim, pode-se falar de ordem, de harmonia e de paz, pode-se falar do Reino de Deus: porque existe um centro, existe um Sol, um núcleo em torno do qual todos os outros elementos encontram o seu lugar e descobrem a trajetória a seguir.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal