sexta-feira, 8 de setembro de 2023

AUTOCONSCIÊNCIA x AUTOCONHECIMENTO


A importância atribuída ao despertar que leva ao verdadeiro autoconhecimento é destacada no conselho fundamental que nos foi dado por professores espirituais e filósofos ao longo da história: “ Homem, conheça a si mesmo ”. Somos encorajados não só a conhecer o ego e quais as suas motivações para mudar, mas também a conhecer o verdadeiro “eu”, a consciência do nosso ser interior, do nosso ser total e divino. “Quando se conhecerem, então se conhecerão bem e compreenderão que são filhos do Pai vivo. Mas se não se conhecerem, viverão na pobreza e serão pobreza”. (Evangelho de São Tomé 3)

Embora o autoconhecimento seja essencial, a autoconsciência, entretanto, forma uma barreira poderosa para conhecer nosso “eu” mais profundo e nos cega para a Realidade Suprema. A autoconsciência é, obviamente, uma característica dos seres humanos, que nos distingue de outros seres sencientes. O problema é que utilizamos essa capacidade de forma muito restrita: em vez de ter consciência de todo o “eu”, nos limitamos e prestamos atenção apenas aos pensamentos superficiais do “ego”. Usamos a autoconsciência exclusivamente como ferramenta de sobrevivência. Assim, a maior parte dos nossos pensamentos, de uma forma ou de outra, gira em torno das nossas próprias preocupações, tentando aprender com o nosso passado e planejando o futuro em prol da sobrevivência. É claro que as nossas experiências passadas podem ser uma ajuda construtiva para moldar o presente e planear o futuro. Mas muitas vezes o resultado é que vivemos apenas no passado e no futuro e perdemos o momento presente.

Isto não significa que o nosso “ego” não seja importante. Principalmente na primeira fase da nossa vida dependemos do nosso “ego” e precisamos dele para nos desenvolvermos de forma saudável e bem adaptada. É a fase do desenvolvimento humano que Jung chamou de processo de “ individuação ”. É óbvio que sempre precisaremos da sabedoria do “ego”, pois nossas habilidades de sobrevivência continuarão sendo necessárias para lidar de forma madura e realista tanto com o mundo externo quanto com o interno. No entanto, devemos lembrar que a consciência daquele “eu” de que nos orgulhamos está a um nível superficial e é suscetível a constantes mudanças que são determinadas pelas nossas preocupações e medos atuais. O que precisamos trazer à consciência é a sabedoria mais profunda e permanente do “eu” que reside no inconsciente. Precisamos que o desenvolvimento do “ego” venha de mãos dadas com uma consciência crescente do “eu” espiritual. Precisamos de uma mudança de ênfase do “ego” para o “eu”.

A atenção que exercemos na meditação nos ajuda a produzir essa mudança. Ao deixar os pensamentos para trás, deixamos para trás o passado e o futuro. O mantra nos ancora no momento presente. Então nosso “ego” se torna um centro consciente que aceita tudo o que é inconsciente e se vê como parte integrante do todo. E assim, agimos a partir de uma base de equilíbrio na qual utilizamos todos os nossos recursos, todas as nossas capacidades conscientes e inconscientes, racionais e intuitivas.

Isto constitui a segunda parte do processo de "individuação", no qual chegamos a uma "síntese dos elementos conscientes e inconscientes da personalidade". Este verdadeiro autoconhecimento que leva à integração psicológica e à totalidade não é um fim em si mesmo, mas o passo para vivenciar a Realidade Única: “A realidade que chamamos de Deus deve primeiro ser descoberta no coração humano. Não posso conhecer a Deus a menos que me conheça”. (Mestre Eckhart)



Transcrição de Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: IA (AI)

O APOSENTO SECRETO


O aposento secreto é... um lugar de silêncio e de segredo. Os outros não devem perceber aquilo que dizeis, como o dizeis e a quem vos dirigis. É claro que algumas vezes não podereis impedi-los de se darem conta de que estais a orar. Mas, quanto menos eles se aperceberem, mais valor terá a vossa oração. Numa parábola, Jesus fala daquele fariseu que tinha subido ao templo de Jerusalém e que orava com grande ostentação... Pois bem, toda a sua atitude mostrava que ele não se encontrava no aposento secreto.

Podemos dizer que este aposento secreto é o coração, o silêncio do coração. Mas, evidentemente, o coração aqui não é o que corresponde ao plano astral, o lugar dos desejos inferiores, da avidez. O aposento secreto é o coração espiritual, quer dizer, a alma. Enquanto não se consegue chegar ao verdadeiro silêncio, não se penetrou nesse aposento. Há tantos "aposentos" no homem! E, de entre todos esses aposentos, muito poucas pessoas encontraram precisamente aquele em que o silêncio é valorizado. A maioria é desviada para os outros aposentos e é lá que ora; mas como aí não há aparelhos apropriados o Céu não recebe os seus pedidos.

Portanto, não é suficiente reservar um lugar da casa para a Divindade. Se, na verdade, quiserdes ser visitados, precisais de consagrar um lugar no vosso coração, na vossa alma, dizendo: "Este lugar é para o Senhor, ou para a Mãe Divina, ou para o Cristo, ou para o Arcanjo Miguel, porque - acreditai! - se houver um lugar para eles, eles virão.

Contudo, para que uma oração seja ouvida há que respeitar certas condições. Por que é que, por exemplo, os Iniciados do passado ensinaram o gesto de juntar as mãos quando se ora? É simbólico. É porque a verdadeira oração representa a união dos dois princípios: o coração e o intelecto. Se é o vosso coração que pede, mas o vosso pensamento não participa, não se junta a ele, a vossa oração não será recebida. Para ela ser recebida, tem que vir do coração e do intelecto, do pensamento e do sentimento, isto é, dos dois princípios, masculino e feminino, unidos.

Em quantos quadros se representam pessoas a orar, até crianças com as mãos juntas! Mas nunca se compreendeu a profundidade deste gesto. Isto não quer dizer que para orar é obrigatório juntar as mãos fisicamente. Não, não é a atitude física que conta, mas a atitude interior. É preciso juntar o coração e o intelecto, a alma e o espírito, porque é da sua união que resulta a força da oração. Nesse momento, projetais uma força para o Céu, e em resposta, o Céu envia-vos a luz, a paz. Portanto, ao mesmo tempo, vós dais e recebeis, sois ativos e receptivos.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: Publicações Maitreya, Porto, Portugal
https://publicacoesmaitreya.pt
Fonte da Gravura: via IA (AI)