quinta-feira, 24 de setembro de 2020

ESCUTA A CANÇÃO DA VIDA


Procura-a e escuta-a primeiro em teu próprio coração. A princípio talvez digas: "não consigo encontrá-la; ao procurar, encontro apenas discórdia". Procura mais fundo. Se ficares de novo desapontado, detém-te e busca mais fundo ainda. Existe uma melodia natural, uma fonte oculta em todo o coração humano. Pode escutar oculta e completamente escondida e silenciada - mas lá está. Na própria base da tua natureza encontrarás fé, esperança e amor. Aquele que escolhe o mal se recusa a olhar para dentro de si, fecha os ouvidos à melodia do seu coração, assim como tapa os olhos para a luz da sua alma. Ele procede assim porque acha mais fácil viver nos desejos. Porém, sob toda vida existe uma forte corrente que não pode ser detida; as grandes águas na realidade ali estão. Encontra-as e perceberás que ninguém, nem a mais maldosa das criaturas, deixa de ser parte dela, por maior que seja a sua cegueira em relação a esse fato, e mesmo que tenha construído para si uma horripilante máscara externa. É neste sentido que eu te digo: todos os seres entre os quais tu lutas são fragmentos do Divino. Tão enganadora é a ilusão em que vives, que é difícil que prevejas onde pela primeira vez detectarás a doce voz no coração dos outros. Sabe, porém, que ela está certamente dentro de ti. Procura-a em ti e, uma vez que a tenhas ouvido, mais prontamente a reconhecerás ao redor de ti.


Mabel Collins



Fonte: Luz no Caminho, Ed. Teosófica, Brasília-DF, 6ª ed. - www.editorateosofica.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ASPECTOS DO AMOR


Podemos aprender a enxergar a realidade. Apenas enxergá-la e viver com ela já tem efeito de cura. Nos conduz a uma nova espécie de espontaneidade, como a de uma criança que aprecia o frescor da vida, o caráter direto da experiência... Trata-se da espontaneidade dos verdadeiros princípios morais, de se fazer a coisa certa naturalmente, não vivendo a própria vida de acordo com livros de regras, mas vivendo-a por meio do único princípio moral, o princípio moral do amor. A experiência de amor ao ser, nos confere uma capacidade renovada de viver a própria vida com menos esforço. Diminui a luta pela vida, que se torna menos competitiva, menos aquisitiva, na medida em que abre para nós aquilo que todos nós alguma vez vislumbramos de alguma maneira através do amor, de que nossa natureza essencial é repleta de alegria. Lá no fundo, somos seres alegres. Se pudermos aprender a saborear os dons da vida e a enxergar o que a vida realmente é, estaremos melhor equipados para aceitar as atribulações e o sofrimento dela. Isso é o que aprendemos suavemente, paulatinamente, no dia-a-dia, à medida que meditamos.

A meditação nos leva a entender a maravilha daquilo que é comum. Tornamo-nos menos dependentes da busca por tipos extraordinários de estímulo, de excitação, de divertimento ou de distração. Começamos a perceber, nas próprias coisas comuns da vida cotidiana, que essa radiação de fundo do amor, o onipresente poder de Deus, está em toda parte, a todo momento.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: Leitura de Domingo, 13 Setembro 2020, extraído de “Part Five”, ASPECTS OF LOVE (London: Arthur James, 1997), pp. 54-55.
Via Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - https://www.wccm.com.br/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

PAISAGEM MENTAL

Inscrevem-se em todas as mentes, pensamentos, palavras e atos.

As paisagens mentais de cada ser humano resultam das suas reflexões, assim como dos seus interesses. Tudo aquilo que o atrai, impregna a mente, passando a fazer parte do seu patrimônio, que será utilizado oportunamente, quando as circunstâncias assim o impuserem.

A vida mental é, pois, o somatório das construções psíquicas que permanecem dando lugar às realizações e atividades do ser no seu processo de evolução. Em consequência, cada ser reside no local psíquico onde deposita as suas ideias.

São elas o natural resultado dos hábitos mantidos durante a vilegiatura orgânica.*

Todo pensamento que passa pelos registros mentais deixa traços de alto significado que, pela sucessão da ocorrência, transforma-se em cultivo para a reprodução oportuna, pelo automatismo dos equipamentos eletrônicos que constituem os chips de registro de tudo que ocorre. Portanto, tal vida conforme os ajustamentos mentais.

Jesus afirmou com muita beleza: Onde estiver o vosso tesouro aí estará também o vosso coração. (Mateus, 6:21) Equivale dizer: onde estiverem as tuas ideias, estará a tua realidade, o ser que és.

O seu Evangelho, em sua proposta de terapia preventiva aos males da existência física, oferece a ensementação** operosa, gentil e produtora de frutos nutrientes.

Em todos os momentos suas páginas registam as ocorrências edificantes: mesmo quando os primeiros registos apresentem algo de mau, a sua diretriz demonstrará o resultado equivalente aos seus conteúdos.

Não estranhes, pois, o pessimismo, o pânico e a insegurança quando fores defrontado com os testes do movimento da existência humana planificada para vivência da plenitude naqueles indivíduos de mente desabituada a reflexões positivas e a fixações primorosas, que serão as primeiras reações à manifestações do dia a dia.

Expulse-se da mente o hábito do mau julgamento, em particular quando chamam a atenção às más qualidades. Há razões que escapam ao observador apressado que tomam cada pessoa específica ou especial.

Compreendamos que existe em todos os seres humanos a outra face, isto é, o outro lado, talvez, sombrio, como num espelho.

A realidade é que ninguém se sente feliz por inspirar antipatia ou desagrado. E, se por acaso demonstra que sim, está oculto um conflito perverso que desarticula o seu possuidor.

Elege os melhores pensamentos, mesmo quando a situação for extremamente perigosa e negativa.

Vive-se num Universo de leis inalteráveis que funcionam por automatismos inflexíveis.

Se pensas bem, num momento mau, tornas o clima mental menos denso, portanto, favorável a um resultado inesperado.

Esforça-te por ser gentil com todos, pois que a gentileza, como afirma o brocardo popular, gera gentileza.

Conserva a ideia da vitória em circunstâncias aziagas***, porque, mesmo quando o resultado não é positivo, o aprendizado é de alto coturno.****

O pântano ignora a podridão que exala.

O matagal não sabe os prejuízos que produz...

A peste ignora as vidas que arrebata.

Desse modo, drena as águas paradas e dá-lhes movimento, capina a erva má e retira a mata que agasalha ofídios e aracnídeos perigosos e transforma o terreno em formoso jardim.

Precata-te da pestilência e a saúde triunfará em teu organismo.

A vida é um convite intérmino à ação edificante.

Cuida do teu jardim mental.

As boas conversações são os maravilhosos instrumentos da edificação do Bem.

As palavras carregam as vibrações do tônus que as envolvem. Nem sempre é o som do verbo, mas a emissão do seu conteúdo moral que tem significado.

Como não podes viver sem pensar, habitua-te a reflexionar nas belezas da vida: o desabrochar de uma flor, o gotejar da água, o leve perfume da brisa que beija o roseiral, as coisas simples da Natureza...

As questões complexas exigem mentes que sabem elaborar esquemas e equacionar enigmas.

Sê simples e acaricia tudo que é delicado e desconsiderado.

Sorri ante um amanhecer irizado da luz do Sul ou o poente em fogo do entardecer.

Olha a vegetação numa greta de pedra onde caiu um pólen, manifestando o poder da vida.

Detém-te e examina um grão de areia que reflete a luz, um pirilampo que brilha no escuro, e descobrirás a maravilha da vida em mil manifestações surpreendentes que fascinam.

Pensa em Deus, analisando a Sua obra e deslumbrando-te com um colibri no ar ou uma borboleta leve e também flutuante, bailando ao vento brando, ou uma laboriosa abelha, produzindo mel e fecundando a Natureza sem o saber.

Considera que a tua mente é um jardim portador de belezas inimagináveis. Seleciona o que nele irás plantar, com a certeza, porém, de que colherás conforme a semente que lhe entregares aos cuidados.

Jesus foi peremptório, afirmando que: (...) A cada um segundo as suas obras. (Mateus, 16:27)

Normalmente o momento da desencarnação libera a memória que evoca toda a existência, especialmente aquilo que mais se fixou na mente através da repetição.

Essas fixações são os pensamentos comezinhos, constantes, viciosos.

Desse modo, vive de maneira que, ao desencarnar, a tua memória te abençoe com o jardim de pensamentos elevados, a fim de poderes seguir feliz desde esse momento.


* Temporada; aqui, no caso, é o tempo de vida encarnada.
** Semeadura
*** Má sorte
**** Importante




Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis


Fonte: Mansão do Caminho - http://divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=644.
Via Centro Espírita Caminhos da Luz - http://www.caminhosluz.com.br/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sábado, 12 de setembro de 2020

A MAÇONARIA E A ESTÁTUA DA LIBERDADE



A vitória do Movimento Revolucionário de 1776, que deu origem à República dos Estados Unidos da América, foi também uma vitória da Maçonaria, pois os ideais maçônicos de Liberdade e Igualdade foram os alicerces para a construção do novo país.

A recém-nascida nação foi uma espécie de laboratório para a construção da primeira sociedade democrática do mundo, onde se organizou um governo que “em certo sentido, nascia de baixo para cima”.

Dois maçons notáveis contribuíram para declaração de Independência dos Estados Unidos da América: George Washington e Benjamin Franklin.

Benjamin Franklin ao lado de Thomas Jefferson atuou como um dos principais articuladores do ideário republicano, alicerçado no “pensamento Iluminista de Locke, Hobbes, Rousseau e Montesquieu e sorvido pelo próprio Benjamin Franklin nas Lojas e na literatura maçônica que conheceu”.

A declaração de Independência dos Estados Unidos, elaborada por Thomas Jefferson, é o melhor exemplo do pensamento Iluminista de Locke, Hobbes e Montesquieu tornado práxis na edificação da nova sociedade. Este importante documento exalta os valores eternos de Liberdade e Igualdade, que são fins supremos da Maçonaria. A Estátua da Liberdade que é uma síntese desses ideais foi construída por um maçom e inaugurada numa cerimônia maçônica.

O historiador e maçom francês Edouard de Laboulaye foi quem primeiro propôs a ideia do presente, e o povo francês arrecadou os fundos para que, em 1875, a equipe do escultor Bartholdi começasse a trabalhar na estátua colossal.

O construtor da estátua da liberdade foi o maçom Frederic-Auguste Bartholdi. Retornando à França, com a ajuda de uma campanha de nível nacional feita pela maçonaria, encabeçada por Edoard, levantou a quantia de 3.500.000 francos franceses, uma quantia muito grande para a época (1870).

O projeto sofreu várias demoras porque naquela época não era politicamente conveniente que, na França imperial, se comemorassem as virtudes da ascendente república norte-americana. Não obstante, com a queda do Imperador Napoleão III, em 1871, revitalizou-se a ideia de um presente aos Estados Unidos.

Em julho daquele ano, Bartholdi fez uma viagem aos Estados Unidos e encontrou o que ele julgava ser o local ideal para a futura estátua. Uma ilhota na baía de Nova Iorque, posteriormente chamada Ilha da Liberdade (batizada oficialmente como ilha Liberty em 1956). Cheio de entusiasmo, Bartholdi levou avante seus planos para uma imponente estátua. Para o rosto da estátua, escolheu o rosto da sua própria mãe.

Tornou-se patente que ele incorporara símbolos da Maçonaria em seu projeto - a tocha, o livro em sua mão esquerda, e o diadema de sete espigões em torno da cabeça, como também a tão evidente inspiração ligada à deusa Sophia, que compõem o monumento como um todo. Isto, talvez, não era uma grande surpresa, visto ele ser maçom.

Segundo os iluministas, por meio desta foi dado "sabedoria" nos ideais da Revolução Francesa. O presente monumental foi, portanto, uma lembrança do apoio intelectual dado pelos americanos aos franceses em sua revolução, em 1789.

Um primeiro modelo da estátua, em escala menor, foi construído em 1870. Esta primeira estátua está agora no Jardin du Luxembourg, em Paris. Um segundo modelo, também em escala menor, encontra-se no nordeste do Brasil, em Maceió. Este modelo, feito pelo mesmo escultor e pela mesma fundição da estátua original, está em frente à primeira prefeitura da cidade, construída em 1869, onde hoje é o Museu da Imagem e Som de Alagoas.

A estrutura em que a estátua se apóia foi construída pelo Maçom Gustave Eiffel, o famoso construtor da Torre Eiffel. O pedestal sobre o qual se apoiaria a estátua seria construído e financiado pelos americanos.

Essa estátua foi feita de chapas de cobre batido a mão, que foram então unidas sobre uma estrutura de suportes de aço, projetada por Eiffel, com 57 metros de altura, completa, pesando quase 225 toneladas. São 167 degraus de entrada até o topo do pedestal. Depois são mais 168 degraus até a cabeça. Por fim, outros 54 degraus levam à tocha.

A coloração verde-azul é causada por reações químicas, o que produziu sais de cobre e criou a atual tonalidade. Registros históricos não fazem qualquer menção da fonte de fios de cobre usados na Estátua da Liberdade, mas se suspeita que sejam provenientes da Noruega.

Foi desmontada e enviada para Nova York, onde então foi montada em um pedestal projetado pelo arquiteto americano e maçom Richard Morris Hunt.

A onda de perseguições na Rússia, aos judeus, que resultaram em uma migração em massa para os Estados Unidos, afetou a vida e as ações da poetisa judia americana, Emma Lazarus, de grande renome americano. Mas o que se tornou "o ponto culminante" na vida de Emma foi seu incansável trabalho de assistência aos milhares de refugiados judeus que perseguidos chegavam famintos. Emma juntou-se ao trabalho da Maçonaria e a grupos judaicos de assistência e lançou-se em todo tipo de trabalho. Nada era duro ou difícil para ela. Chegou a usar seu próprio dinheiro para ajudar os emigrantes em sua fase de adaptação. Trabalhou incessantemente na própria Stanten Island, a famigerada ilha, por onde os emigrantes eram obrigados a passar por uma humilhante seleção, que determinava quem poderia entrar em terras americanas. As palavras e as ações de Emma Lazarus foram de extrema importância nesta época, servindo de incentivo para que muitos outros se juntassem aos esforços dos comitês de ajuda aos refugiados e com grande relevância da Maçonaria Americana. O soneto de Emma Lazarus, intitulado "The New Colossus", com o famoso verso, está inscrito no pedestal. “Venham a mim as massas exaustas, pobres e confusas ansiando por respirar liberdade. Venham a mim os desabrigados, os que estão sob a tempestade. Eu os guio com minha tocha”.

A estátua foi terminada na França em julho de 1884 e a chegada no porto de New York, em 17 de junho de 1885. Para preparar-se para o trânsito, a estátua foi reduzida a 350 partes individuais e embalada em 214 containers de madeira. O braço direito e a tocha, que foram terminados mais cedo, tinham sido exibidos na exposição Centennial em Filadélfia, em1876, e depois disso no quadrado de Madison, em New York City. A estátua foi remontada em seu suporte novo em um tempo de quatro meses. Para tal, o navio Bay Ridge, levou para a ilha de Bedloy, onde hoje está erguida a estátua. Cerca de 100 maçons, onde o principal arquiteto do pedestal, o maçom Richard M. Hunt, entregou as ferramentas de trabalho aos maçons construtores.

A pedra fundamental, a primeira pedra, foi então assente conforme ritualística maçônica própria para esses eventos. As peças que iriam compor a estátua chegaram ao porto de New York, em Junho de 1885; foram montadas sobre a estrutura construída por Gustave Eiffel. A estátua foi inaugurada em 28 de Outubro de 1886.

O presidente Grover Cleveland presidiu à cerimônia em 28 de outubro de 1886 e o maçom Bispo Episcopal de New York fez a invocação. O maçom Bartholdi retirou a bandeira francesa do resto da estátua. O principal orador da cerimônia foi o maçom Chaucey M. Depew, senador dos Estados Unidos.


Nelson Célio Diniz, MM
                                   
                     

Fonte: não especificada
Fontes de consulta do Autor: 
- House, Random - The Secret Zodiacs
- English history - Texto: A Maçonaria e a Estátua da Liberdade
Fonte da Gravura: do próprio texto do Autor 
                                                                                                

                                                                     
                                                                                   

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

ALMA-GRUPO - UM PRINCÍPIO INTELIGENTE


O princípio inteligente no início do seu processo evolutivo, sem a conscientização de seus propósitos, que viria muito depois, quando alcançasse a fase hominal, seria conduzido por um “princípio orientador”, um princípio inteligente grupal que atuaria na matéria permitindo um processo evolutivo através das sucessivas reencarnações; a esse princípio denominamos alma-grupo.

A organização mineral, com todos seus sistemas, seria, portanto, a consequência de um “poder” na intimidade de suas unidades atômicas, na força de coesão e atração. Cada sistema de organização mineral seria impulsionado pelo seu próprio princípio específico, pertencente a um grupo, princípio inteligente grupo da espécie ou alma-grupo.

O princípio inteligente (alma-grupo) responsável pelas diretrizes da estrutura mineral depois de milênios de experiência passaria para a fase vegetal onde ganharia os novos potenciais da “sensibilidade”.

Se nos minerais, os atributos são as forças de coesão e atração das moléculas, nos vegetais temos o impulso mais categorizado que é a sensibilidade dos vegetais (não é aquela sensibilidade que nós entendemos junto das nossas posições cerebrais, nervosas, mas sim face às forças da natureza) como o heliotropismo (ligado ao Sol), como o Ph, as posições ácidas e alcalinas da própria terra, nutrindo os vegetais. Dessa forma o espírito vai avançando para depois de bastante trabalho e experiências nesse reino, alcançar o reino animal. Porque é nas experiências que o espírito adquire a posição espiritual definitiva.

A alma-grupo vegetal, com as aquisições no cenário orgânico de seu novo mundo, ir-se-ia tornando cada vez mais complexa, dentro de seu próprio ângulo, a ponto de possuir possibilidades de dirigir a vida vegetal com a mecânica metabólica de que se acha investida. Esses fatores de “sensibilidade vegetal” já foram detectados e mesmo registrados por eletrodos especiais assestados nas folhas de algumas plantas. E o mais interessante é que o registro se fez de tal forma eficiente e positivo, de modo a traduzir estados diversos que oscilavam da alegria ao medo e mesmo ao pavor, quando mentes humanas se aproximavam das plantas com variadas ideias de amor, ódio ou violência. Quando os registros foram feitos, gritaram os pesquisadores dizendo que as plantas possuem sensibilidade. Claro está que é uma sensibilidade sem o cortejo mais enriquecido que caracteriza o reino animal. O registro realizado nas plantas, com delicados eletrodos seria o resultado da influência da alma-grupo envolvente de toda a organização vegetal pelas suas irradiações.

A alma-grupo vegetal, mais vivida e experiente, despontará, no animal, buscando novas afirmações no instinto. Como os minerais e os vegetais estariam nas dependências de um condutor e orientador, os animais possuiriam o princípio inteligente mais avançado e evoluído, como uma alma-grupo de seu reino. Existiriam inúmeras colônias vibratórias correspondendo às necessidades das espécies animais. Portanto o princípio inteligente animal responsável pelas orientações vitais pertenceria a determinada alma-grupo da espécie, de acordo com a posição evolutiva em que se encontra a espécie animal.

Do mineral ao animal, a alma-grupo sedimentaria aptidões, num processo que vai buscando os fatores de um psiquismo cada vez mais consciente. Nas espécies mais simples - os vírus, insetos, peixes - a energética-espiritual estaria muito presa aos seus afins; alma-grupo da alma-grupo-espécie influenciando todo um conjunto de seres, um único campo vibratório controlando a espécie a que se destina.

À medida que as espécies vão perdendo o contato de colônia, próprio das formas mais simples, vão adquirindo relativa individualidade, “pequeno Eu”, mas que ainda não podem viver completamente fora dessa colônia que lhe deu origem e de onde se nutrem. Num determinado momento, quando a maturação atinge um grau bem maior, tornando-se independentes, esta fase desponta nas espécies animais que tenham possibilidades do nascimento de novos aspectos psicológicos, isto é, dos primeiros vagidos (gemidos, choros) emocionais e cujo mecanismo sexual se apresenta com outras tonalidades. Com certa lógica podemos incluir esta assertiva nos animais em que se evidenciam, na massa nervosa encefálica, as primeiras células da futura glândula pineal e que, por seus aspectos iniciais, são conhecidos e denominados de olho pineal. Isto acontece nos lacertídeos, certa variedade de répteis. A partir desses animais a alma-grupo, praticamente vai desaparecendo e dá margem ao nascimento das Individualidades. O “espírito-animal” já desligado da alma-grupo pela aquisição de seu Eu, após afastamento do corpo pela desencarnação, ainda não apresenta condições mentais para sustentar-se no lado espiritual como Individualidade, ou seja, ainda não possui condições de independência devido a insuficiência de campos emotivos específicos. Isto o impulsionará, por sintonia, para o lado da espécie a que pertence, a fim de aguardar a oportunidade de nova encarnação.

[...] E, dos lacertídeos (répteis) ao homem, milhões de milhões de experiências se darão até que o Espírito tenha condições, por aquisições, de expressar-se como Eu que começou a libertar-se da alma-grupo daquela fase animal.


Conselho Doutrinário



Fonte: Casas André Luiz - Centro Espírita Nosso Lar - www.nossolar.org.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal



Bibliografia:
- Impulsos Criativos da Evolução - Dr. Jorge Andréa

PONTO DE CRESCIMENTO


Deus é o alento da vida. Deus é presença, e Ele está profundamente presente dentro de nosso ser, em nossos corações. Só ao perseverarmos descobrimos que cada um de nós se regenera no poder de Seu Espírito, cada um de nós se renova, se recria, de modo a nos tornarmos uma nova criação. “Derramei meu Espírito,” disse ao profeta Ezequiel. E o Espírito é a presença do poder, o poder do amor. A meditação nos ensina que esta é a sabedoria fundamental, na qual podemos construir a vida e a verdadeira religião. O que descobrimos é que só podemos viver nossas vidas completamente se estivermos sempre abertos a essa misteriosa presença do Espírito, e sempre abertos à presença, mais profundamente. Esta é a peregrinação a que nos dedicamos toda vez que nos sentamos para meditar. Abrimos nossas mentes, nossos corações e nossas consciências mais permanentemente à mais elevada realidade que existe, que existe agora, que existe aqui.

Qual é o fundamento do mistério cristão? Seguramente, é o fato de que o além está em nosso próprio meio, de que a realidade absoluta está aqui e agora. A fé cristã ensina que ao nos abrirmos para o mistério desta realidade, somos levados para fora de nós mesmos, para além de nós mesmos, para o mistério absoluto que é Deus. Deus é como transcendemos o eu. Transcendemos todas as limitações, através da simples abertura para o Todo, que é agora.

O grande despertar para o mistério é o reino dos céus, e o reino dos céus é agora. É estabelecido por Jesus e proclamado por suas próprias palavras: “...é chegado o Reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho.” Arrepender-se significa simplesmente, voltar-se na direção de Deus. Arrepender-se é se voltar, não tanto para fora de nós mesmos (pois isso ainda nos mantém atados a nosso próprio centro), mas para além de nós mesmos. Isso não significa nos rejeitarmos a nós mesmos, mas encontrarmos nosso maravilhoso potencial ao entrarmos em completa harmonia com Deus. Essa consciência do potencial é o fundamento positivo do cristianismo e, portanto, a principal preocupação para um cristão... A realidade central é Deus e amor e, no que nos diz respeito, crescimento no amor de Deus. Crescimento que consiste tanto de nossa abertura a Seu amor por nós, quanto de nossa resposta ao devolvermos aquele amor. [...]


Dom John Main, OSB



Fonte: "Ponto de Crescimento " - Leitura de 06/07/2008 - The Heart of Creation (New York Continuum, 1998) pp. 105-107. - Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - https://www.wccm.com.br/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

A LEI DO SACRIFÍCIO E A UNIDADE DA VIDA


[...] O homem que vive segundo a Lei do Sacrifício compreende a unidade do Ser, e reconhece apenas uma diferença no veículo em que está contido e não na vida que nele habita; por esta razão, ele colhe, em seu veículo separado, sabedoria e conhecimento somente com a finalidade de compartilhar com os outros, e para os outros; perde completamente o senso de vida separada, e torna-se parte da Vida do Mundo.

À medida que compreende isso, e sabe que o único valor do corpo é ser um canal do superior, ser um instrumento daquela vida, lenta e gradualmente ele se eleva acima de todo pensamento, exceto o pensamento de unidade, e se sente parte deste grande mundo sofredor. Então ele sente que as aflições da humanidade são as suas aflições, os pecados da humanidade são seus pecados, as fraquezas do seu irmão são suas fraquezas; assim realiza a unidade, e, através de todas as diferenças, vê o subjacente Ser Uno.

Somente desta maneira podemos viver no Eterno.

"Aqueles que veem diferenças passam de morte em morte"; assim falam os Shruti*. O homem que vê diferenças, na verdade está morrendo continuamente, pois vive na forma - que está se deteriorando a cada momento e que portanto é morte - não no Espírito, que é vida.

Exatamente, então, na proporção em que... não reconheçamos a diferença entre um e outro, mas sintamos a unidade da vida, sabendo que essa vida é comum a todos, e que ninguém tem o direito de se vangloriar de sua parte dessa vida, nem de se sentir orgulhoso de que sua parte é diferente da de outro, somente assim e nessa proporção é que viveremos a Vida Espiritual.

Essa, ao que parece, é a última palavra da Sabedoria que os Sábios nos ensinaram. Nada menos do que isso é espiritual, nada menos do que isso é sabedoria, nada menos do que isso é vida verdadeira. [...]


Dra. Annie Besant



Fonte: do livro "As Leis do Caminho Espiritual", pp. 110-12, Tradução de Maria Teresa D. Moreira e Edvaldo B. de Souza. Ed. Teosófica, Brasília, 2011 - www.editorateosofica.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal


Nota:
* Shruti (do Sânscrito "aquilo que é ouvido") é um cânon de escrituras hindus. (Wikipédia)

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

RICHARD STRAUSS E A CONSCIÊNCIA DO "EU SOU"


Contrariando as teorias de Freud, muitos compositores, que a maioria chama de gênios, em suas missões neste planeta, revelaram, desde a mais tenra idade, com as suas obras sublimes, a consciência transcendental que possuíam.

Mozart, Beethoven, Saint-Saens e muitos outros deram com as suas obras, provas dessa verdade. Entre eles, porém, destaca-se a figura de Richard Strauss, porque o autor de Electra, Salomé, Till, tornou-se consciente da imortalidade da alma. O seu poema sinfônico "MORTE E TRANSFIGURAÇÃO" é uma afirmativa solene de quem sabe que SABE. Todo aquele que entrou no Caminho e ouve  essa obra espiritual em sons, pode acompanhar mentalmente o desligar do "EU" da matéria, o júbilo que sente ao se ver livre de mais uma prova árdua para a sua elevação espiritual, o de ter dado mais um passo na grande Ascensão. Richard Strauss com o seu poema sinfônico 'MORTE E TRANSFIGURAÇÃO", envia àqueles que o compreendem uma mensagem de Harmonia, Amor, Verdade e Justiça.

MORTE E TRANSFIGURAÇÃO (POEMA SINFÔNICO) - opus 24

Este poema sinfônico, 3º de uma longa série, foi terminado em 1889 e estreado aos 21 de junho de 1890, em Eisenacht, sendo regido pelo próprio autor.

Inspirado num poema de Alexandre Ritter, focaliza um tema de alta espiritualidade. Está dividido em 4 partes, que são executados sem interrupção.

1ª Parte - LARGO (SONO, MOLÉSTIA, SONHO) - Num escuro e pobre quarto, um homem agoniza à débil luz de uma vela. Jaz em letargo, e,, em breve, os sonhos se apossam do enfermo. São visões do passado, recordações da infância.

2ª Parte - ALLEGRO MOLTO AGITATO (FEBRE, LUTA COM A MORTE) - Não tarda vir a morte despertar o homem da prostração em que se encontra. Principia então, a terrível luta entre o homem e a indesejável, da qual ninguém se livra. A orquestração, rica de timbres e poderosos recursos, descreve a batalha, o esforço do homem para sobreviver. Mas a morte não tem pressa. Ela sabe que, no final, a vitória será sua... Por vezes, a esperança reanima o enfermo. Logo, porém, ele sente a inutilidade da luta, e é tomado pelo pavor das trevas. Que acontecerá depois que tiver transposto os umbrais da eternidade? Os movimentos agitados, os dedos convulsos e crispados falam do seu desespero.

3ª Parte - MENO MOSSO, MA SEMPRE ALLA BREVE  (SONHOS, MEMÓRIAS DA INFÂNCIA, MORTE) - O delírio da febre provoca-lhe visões. Voltam as recordações: a infância feliz, a juventude cheia de bons propósitos, os ideais acalentados... Toda a existência vai se desenrolando ante seus olhos. Das ilusões, dos sonhos, das aspirações, que resta? A colheita foi pequena. O homem sente as mãos vazias. Fracassos, amarguras, decepções. Sente-se exausto, aniquilado. Para que continuar lutando? De manso, muito manso, principia a se formar, à distância, o tema da TRANSFIGURAÇÃO (4ª parte). Não é bem o tema. É antes, a "preparação" para o tema. Permanece como fundo, enquanto que, no 1º plano, continua a efervescência dramática, a tragédia desencadeada. A morte, entretanto, cresce sobre o agonizante. Ergue a foice macabra, descarrega-a sobre o pobre corpo que se estorce, em convulsões. O homem solta o último suspiro. E, serenamente, mergulha no desconhecido.

4ª Parte - MODERATO (TRANSFIGURAÇÃO) - Dos espaços celestiais, ressoam as harmonias da Libertação. Principia o progressivo deslumbramento que é, para o homem, a descoberta da Eternidade. Tudo vai se tornando claro. Todas as perguntas tem resposta. A morte não é um fim, e, sim, um princípio. O tema de "preparação" vai alcançando preponderância, transforma-se, há uma eclosão de melodias por toda a orquestra. E a alma nobre e sã do que muito sofreu, e lutou, e viveu sem mácula, eleva-se em triunfo. E a música admirável vai se formando como um Hino de Graças, até desabrochar em majestosa solenidade.


Alcides Sparsbrod



Fonte: Revista "O Pensamento"
Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento - CECP
http://cecpensamento.com.br/
Fonte da Gravura: Edvard Munch, “Death Bed”, 1895
https://salonedellutto.files.wordpress.com/2013/12/munch3.jpg

domingo, 6 de setembro de 2020

O INÍCIO DA ESPIRITUALIDADE É O ESPÍRITO... ÓBVIO


A frase do jesuíta francês Teilhard de Chardin, é um desafio frontal ao pensamento materialista: "Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual, somos seres espirituais passando por uma experiência humana."

Se isso é verdade - que a nossa existência essencial é como espíritos ou almas, então somos eternos, sem começo nem fim. Isto conduz a uma área totalmente inconvencional de exploração. É muito além da ideia popular de que o universo físico passou a existir (de alguma maneira) e que a vida apareceu sobre ele (de alguma maneira) e evoluiu (de alguma maneira) até as suas formas atuais. A alma parece não ter lugar no pensamento Darwiniano. E se somos almas, qual é o significado de assumir um corpo e passando pela experiência humana, especialmente considerando a possibilidade da reencarnação? Ambas as experiências têm de ser relevantes - o espiritual e o humano. Pelo menos, devemos estar abertos a buscar o significado do maior de todas as enigmas da vida - quem sou eu e o que eu estou fazendo aqui?

Ninguém jamais viu uma alma humana através dos olhos. Para provar a sua existência através de meios físicos e instrumentos se provou impossível. Muito pouca informação real tem sido disponível e muito menos provas. Lembro-me de ter lido sobre experiências no final do século 19, no qual pesquisadores nestas questões tentaram capturar a alma escapando do corpo, colocando uma garrafa de vidro sobre a testa. Eles pensaram que o espírito fosse talvez um ser gasoso que poderia ser capturado e rotulado - aqui jaz a alma do grande fulano. A única prova real só pode haver no laboratório das nossas vidas.

Se a frase acima de Chardin é verdade, então, a nossa identidade mais profunda é como um espírito. Automaticamente, este ‘fato’, (se é) se torna o começo, meio e fim do empenho espiritual. ‘Fim’, porque o que chamamos de morte seria apenas a energia espiritual e consciente, saindo dos limites de seu veículo físico, o corpo. Conhecendo-nos profundamente torna-se também, a porta para relacionamentos significativos com os outros, o Divino e, portanto, a uma vida de maior liberdade. No entanto, é um conceito tão básico e fundamental que muitas vezes esquecemos de prefaciar o que fazemos com essa consciência. Poderíamos até dizer que tudo o que acontece no mundo que se forma em torno de cada um de nós, é um reflexo específico da medida em que entendemos e aceitamos a nós mesmos. Aqueles que chegam a este entendimento tem a chance de mergulhar profundamente naquilo que se move e forma a realidade. Eles se movem alguns passos a mais na escada do autoprogresso.


Ken O'Donnell



Fonte: Espiritualidade na Vida
http://espiritualidadenavida.blogspot.com/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A PLENITUDE DO SER


Cada um de nós está convidado a um desenvolvimento ilimitado, infinito, na medida em que deixamos a limitação de nosso próprio ego para trás, e adentramos o mistério de Deus. [...] O espírito, ao qual estamos convidados a descobrir em nosso próprio coração, é a fonte de energia que enriquece todos os aspectos de nossa vida. E o espírito é o Espírito de Amor. O chamado não é o de estarmos parcialmente vivos, o que significa estarmos parcialmente mortos, mas o de estarmos vivos em plenitude, vivos, ... se apenas nos for possível adotar a disciplina de nos encaminharmos a isso, dia após dia. [...] Desde o início precisamos de um destemor, à medida que deixamos o eu para trás e começamos a encontrar o outro. Precisamos estar isentos de medo. O espírito em nosso coração, o espírito para o qual nos abrimos na meditação, é o espírito da compaixão, da gentileza, do perdão, da total aceitação, o espírito de amor.


Dom John Main, OSB


Fonte: Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - https://www.wccm.com.br/
Leitura de Domingo, 06 Setembro 2020 - Extraído de “Fullness of Being” in THE HUNGER FOR DEPTH AND MEANING, editado por Peter Ng (Cingapura: Medio Media, 2007), pp. 26-28.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ILUMINAÇÃO PELO CAMINHO DAS TREVAS


[…] Liberto de tudo o que é visto e de tudo o que vê, penetra na treva do não-conhecimento, a treva autenticamente mística e, renunciando às percepções intelectivas, chega à total intangibilidade e invisibilidade; entrega-se inteiramente ao que está acima de tudo e de nada (e não é ele próprio nem outro), unindo-se da forma mais perfeita ao que é completamente incognoscível mediante a total inatividade do conhecimento, conhecendo além do espírito graças ao ato de nada conhecer […] (Areopagita)

Chegar a esta treva mais que luminosa é o que suplicamos e, pela privação da visão e pelo não-conhecimento, ver e conhecer Aquele que está acima da contemplação e do conhecimento, precisamente pelo ato de não ver nem conhecer – nisto consiste, de fato, a verdadeira observação e conhecimento -, e celebrar Aquele que é mais que substancial de um modo mais que substancial, pela aférese* sistemática das coisas existentes; tal o artista que esculpe uma estátua ao natural, desbastando todas as excrescências que entravam a contemplação pura da figura oculta, e apenas mediante essa aférese faz aparecer a formosura escondida tal como ela é em si mesma.

... "treva de silêncio, mais que luminosa... que na maior obscuridade é mais que manifesta, mais que brilhante e completamente intangível e invisível…". A ela se chega – lê-se – pelo distanciamento (ekstasei) ou renúncia "de tudo" e "de todas as coisas" com o auxílio, porém, da Trindade, ela que "guarda a sabedoria divina dos cristãos". A treva é a ocultação dos mistérios da teologia (theologia mysteria) contidos nos escritos místicos (mystikon logion).

Assim ouvimos de São João da Cruz:

Das muitas imperfeições em que vivem os principiantes, o que até aqui referimos é suficiente para mostrar quão grande seja a necessidade de que Deus os ponha em via de progresso. Realiza-se isto na noite escura de que entramos a falar. Aí, desmamando-os Deus de todos os sabores e gostos, por meio de fortes securas e trevas interiores, tira-lhes todas estas impertinências e ninharias; ao mesmo tempo, faz com que ganhem virtudes por meios muito diferentes. Por mais que a alma principiante se exercite na mortificação de todas as suas ações e paixões, jamais chegará a consegui-lo totalmente, por maiores esforços que empregue, até que Deus opere passivamente nela por meio da purificação da noite.

É que na noite escura, — verificando-se a palavra do Profeta: “Luzirá tua luz nas trevas” (Is 63,10), — Deus iluminará a alma, dando-lhe a conhecer, não somente a própria miséria e vileza, mas também Sua divina grandeza e excelência. Uma vez amortecidos os apetites, gostos e apoios sensíveis, fica o entendimento livre para apreender a verdade, pois é certo que esses gostos e apetites do sentido, mesmo sendo em coisas espirituais, sempre ofuscam e embaraçam o espírito. Além disto, aquela angústia e secura da parte sensitiva vem ilustrar e vivificar o entendimento, segundo declara Isaías: “A vexação nos leva a conhecer a Deus” (Is 28,19). Assim vemos que à alma vazia e desembaraçada, bem disposta a receber o influxo divino, o Senhor, por meio desta noite escura e seca de contemplação, vai instruindo sobrenaturalmente em sua divina Sabedoria, como o não fizera até então pelos gostos e sabores sensíveis.

Surge, porém, a dúvida: por que à luz divina (que, conforme dissemos, ilumina e purifica a alma de suas ignorâncias) chama a alma agora “noite escura”? A isto se responde: por dois motivos esta divina Sabedoria é não somente noite e trevas para a alma, mas ainda pena e tormento. Primeiro, por causa da elevação da Sabedoria de Deus, que excede a capacidade da alma, e, portanto, lhe fica sendo treva; segundo, devido à baixeza e impureza da alma, e por isto lhe é penosa e aflitiva, e também obscura.

Para provar a primeira afirmação, convém supor certa doutrina do Filósofo: quanto mais as coisas divinas são em si claras e manifestas, tanto mais são para a alma naturalmente obscuras e escondidas. Assim como a luz, quanto mais clara, tanto mais cega e ofusca a pupila da coruja; e quanto mais se quer fixar os olhos diretamente no sol, mais trevas ele produz na potência visual, paralisando-a, porque lhe excede a fraqueza. Do mesmo modo quando esta divina luz de contemplação investe a alma que ainda não está totalmente iluminada, enche-a de trevas espirituais; porque, não somente a excede, como também paralisa e obscurece a sua ação natural. Por este motivo, São Dionísio e outros místicos teólogos chamam a esta contemplação infusa “raio de treva”. Isto se entende quanto à alma não iluminada e purificada, pois a grande luz sobrenatural desta contemplação vence a força natural da inteligência, privando-a do seu exercício. Por sua vez disse David: “Nuvens e escuridão estão em redor d’Ele” (SI 96,2); não porque isto seja realmente, mas por ser assim para os nossos fracos entendimentos, os quais, em tão imensa luz, cegam-se e se ofuscam, não podendo elevar-se tanto. Esta verdade o mesmo David o declarou em seguida, dizendo: “Pelo grande resplendor de sua presença, as nuvens se interpuseram” (SI 17,13), isto é, entre Deus e nosso entendimento. Daí procede que este resplandecente raio de secreta Sabedoria, derivando de Deus à alma ainda não transformada, produz escuras trevas no entendimento.

A terceira espécie de sofrimento e pena que a alma agora padece provém de outros dois extremos que aqui se encontram: o divino e o humano. O divino é esta contemplação purificadora, e o humano a própria alma que a recebe. O divino a investe a fim de renová-la, para que se torne divina; despoja-a de suas afeições habituais e das propriedades do homem velho, às quais está a mesma alma muito unida, conglutinada e conformada. E de tal maneira é triturada e dissolvida em sua substância espiritual, absorvida numa profunda e penetrante treva, que se sente diluir e derreter na presença e na vista de suas misérias, sofrendo o espírito como uma morte cruel. Parece-lhe estar como tragada por um bicho no seu ventre tenebroso, e ali ser digerida: assim padece as angústias que Jonas sofreu no ventre daquele monstro marinho. De fato, é necessário à alma permanecer neste sepulcro de obscura morte, para chegar à ressurreição espiritual que espera.

Pelo que já foi dito, vemos claramente que esta obscura noite de fogo amoroso, como vai purificando a alma nas trevas, assim também nas trevas a vai inflamando. Observamos igualmente que, assim como se purificam os espíritos na outra vida por meio de um tenebroso fogo material, de maneira semelhante são purificadas e acrisoladas as almas nesta vida presente, por um fogo amoroso, tenebroso e espiritual. E está aí a diferença: lá no outro mundo, a expiação é feita pelo fogo, e aqui na Terra a purificação ilustração se opera tão só mediante o amor. Tal é o amor que pediu David ao dizer: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (Sl 50,12): que a pureza de coração não é outra coisa senão o amor e graça de Deus. Nosso Salvador chama bem-aventurados aos puros de coração, o que é tanto como chamá-los enamorados, pois a bem-aventurança não se dá por menos que por amor.

Não quero deixar de indicar agora o motivo pelo qual a luz divina, embora sendo sempre luz para a alma, não a ilumina logo que a investe, como fará depois, mas causa primeiramente as trevas e sofrimentos já descritos. As trevas e demais penas que a alma sente quando esta divina luz investe não são trevas e penas provenientes da luz, e sim da própria alma; a luz apenas esclarece para que sejam vistas. Desde o princípio, portanto, esta divina luz ilumina, mas a alma tem de ver primeiro o que lhe está mais próximo, ou por melhor dizer, o que tem em si mesma, isto é, suas trevas e misérias, as quais vê agora pela misericórdia de Deus. Antes não as via, porque não lhe era infundida essa luz sobrenatural. Aqui se mostra a razão de sentir, no princípio, somente trevas e males. Depois, porém, de purificada por este conhecimento e sentimento, então terá olhos para ver, à luz divina, os bens da mesma luz. Expelidas, enfim, todas as trevas e imperfeições da alma, parece que aos poucos se revelam os proveitos e grandes bens que a mesma alma vai conseguindo nesta ditosa noite de contemplação.

Pelo que já dissemos, fica entendido quão grande mercê faz Deus à alma em limpá-la e curá-la com esta forte lixívia e este amargo remédio; purificação essa que se faz na parte sensitiva e espiritual, de todas as afeições e hábitos imperfeitos arraigados na alma, tanto a respeito do temporal e natural, como do sensitivo e espiritual. Para isto, Deus põe a alma na obscuridade, quanto às suas potências interiores, esvaziando-as de tudo que as ocupava; faz passar pela aflição e aridez às afeições sensitivas e espirituais; debilita e afina as forças naturais da alma acerca de todas as coisas que a prendiam, e das quais nunca poderia libertar-se por si mesma, conforme vamos dizer. Deste modo, leva-a Deus a desfalecer para tudo o que naturalmente não é Ele, a fim de revesti-la de novo, depois de a ter despojado e desfeito de sua antiga veste. E assim a alma é renovada, como a águia, em sua juventude, e vestida do homem novo, criado segundo Deus, como diz o Apóstolo (Ef 4,24). Esta transformação nada mais é do que a iluminação de entendimento pela luz sobrenatural, de maneira que ele se una com o divino, tornando-se, por sua vez, divino. É igualmente a penetração da vontade pelo amor divino, de modo a tornar-se nada menos que vontade divina, não amando senão divinamente, transformada e unida com a divina vontade e o divino amor. Enfim, o mesmo se dá com a memória, e também com as afeições e apetites, que são todos transformados e renovados segundo Deus, divinamente. Esta alma será agora, pois, alma do Céu, verdadeiramente celestial, mais divina do que humana. Todas estas transformações até agora referidas, da maneira que havemos descrito, vai Deus realizando e operando na alma por meio desta noite, ilustrando-a e inflamando-a divinamente, com ânsias de Deus só e nada mais.

Quanto mais a alma se aproxima d’Ele, mais profundas são as trevas que sente, e maior a escuridão, por causa de sua própria fraqueza. Assim, quem mais se acercou do sol, haveria de sentir, com o grande resplendor dele, maior obscuridade e sofrimento, em razão da fraqueza e incapacidade de seus olhos. Tão imensa é a luz espiritual de Deus, excedendo tanto ao entendimento natural, que, ao chegar mais perto d’Ele, o obscurece e cega. Esta é a causa por que no Salmo 17 diz David, referindo-se a Deus: “pôs seu esconderijo nas trevas como em seu tabernáculo: águas tenebrosas nas nuvens do ar” (Si 17,12). As “águas tenebrosas nas nuvens do ar” significam a obscura contemplação e divina Sabedoria nas almas, conforme vamos dizendo. Isto, as mesmas almas vão sentindo aos poucos, como algo que está próximo a Deus, e percebem este tabernáculo onde Ele mora, no momento em que Deus as vai unindo a Si mais de perto. E, assim, o que em Deus é luz e claridade mais sublime, é para o homem treva mais escura.

* cortar, separar, retirar


Fraternidade Martinista



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SOBRE A GRAÇA


Saudações nas quatro pontas do Sagrado Quaternário!

Muitos buscadores incautos confundem espiritualidade com paranormalidade – não anseiam por uma radical Transformação e Regeneração de suas Vontades, mas por espécies de fantasia onírica, de transes passivos e estimulações hipnagógicas, respirando vapores cadavéricos naquelas regiões em que “cada flor traz uma serpente enrolada” (como disse uma grande Adepta).

Querido Irmão, não se embriague.

Carne sutil ainda é carne, e não confunda os “anjos de luz” que a ti se apresentam – cheios do brilho fascinador da serpente astral – com a luz UNA E PURA do ILIMITADO. Caro buscador, as notas musicais mais altas (como as frequências emitidas pela música das esferas) são perfeitamente inaudíveis, tais como são imperceptíveis as ondas eletromagnéticas elevadíssimas que nos atravessam acima da luz visível. De maneira análoga, a LUZ ILIMITADA do PAI se apresenta a nós como um RAIO DE TREVA*... A Sabedoria do Incriado de tal maneira excede a nossa que, a infinita sabedoria criatural (das criaturas), em comparação com esta, ainda estaria mais próxima da ignorância infinita do que de apreender minimamente algo deste Fogo Eterno Incognoscível.

Com outras palavras, estimado buscador, não tome pelo Reino Celeste aquilo que não passa de uma inebriante sombra espelhada por nosso próprio psiquismo. O que não quer dizer, todavia, que devemos desprezá-lo, mas apenas colocá-lo em seu devido lugar. Se olharmos para estas sombras tais como realmente são, como para o reflexo da lua na água – isto é, sabendo não estar a lua ali submersa – então já não cometeremos o mesmo Erro de Narciso.

Há três séculos atrás, querido Irmão, a Hierarquia legou a Homens de Vontade operações e ritos por meio dos quais poderiam engendrar o Organismo Espiritual em si e receber progressivas confirmações do andamento de sua realização. A princípio, nossos Irmãos Maiores, mui louváveis agentes intermediários, deram-nos o Fenômeno como sinal de êxito, para que seguíssemos de regeneração em regeneração, de glória em glória, com Desejo e Perseverança. Entretanto, encantados como somos pela FORMA, tomamos a IMAGEM DA COISA pela coisa mesma, e o que antes nos instigava a perseverar na Senda tornou-se a própria coisa buscada, e foi quando nossos antigos irmãos prevaricaram e caíram nas garras da SERPENTE SIDERAL.

Acusado de desertor, foi nosso mestre LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN quem tentou avisá-los do perigo das artes supracitadas. Na época, nossos irmãos equivocados continuaram tão afoitos por suas visões e fenômenos que, perdendo contato com o adepto que os havia instruído, entregaram-se desregradamente às mais variadas experimentações com aquelas regiões sobre as quais o inimigo tem pleno domínio, e passaram a respirar os ares nervosos e éteres exaltados de damas histéricas em salas fechadas sob o império do sonho.

Queridos Irmãos – existe, de fato, o sobrenatural. Do latim SUPER (superior) NATURALIS (natureza), o termo em seu sentido puro refere-se a essa realidade invisível que transcende e engloba nossas existências particulares. Porém, da mesma maneira que precisamos de um organismo NATURAL para experimentar a realidade fenomênica com nossos sentidos, também necessitamos de um ORGANISMO SOBRENATURAL para tornarmo-nos receptivos aos Dons e Inteligências do Espírito, através dos quais algo de divino poderá se fazer ouvir e realizar em nós.

Assim como realizamos atos desta natureza (dormir, comer, andar) com nosso organismo natural, também o exercício de certas faculdades está intrinsecamente relacionado a nosso Organismo Espiritual – podemos citar, dentre estas, a Vontade, a Sabedoria, a Imaginação (Imaginatio), a Vida Moral, entre outras Atividades que abrem as portas superiores para o Invisível em nós. Todavia, da mesma forma que nosso Organismo Natural tem de ser gerado (como o é por nossos progenitores) e alimentado por nutrientes de sua própria natureza (alimentos materiais), esta Nova Alma também necessita de um Engendramento e de uma mui específica Alimentação.

Nosso Coração, de maneira análoga ao Óvulo, deve também estar fertilizado por nosso anseio incessante pela Regeneração, e devemos desejar ardentemente a fecundação pelo Espírito Santo. Uma vez gerado, este recém-nascido em nós necessita de um alimento muito especial, do qual a Hierarquia nos legou como símbolo os Sacramentos. É um processo análogo ao da Eucaristia, e por ela muito bem representado na sombra da matéria, mas que realizar-se-á no Invisível.

Meu Companheiro e Irmão, uma vez nascida em nós esta “Criança do Reino do Céu”, e só finalmente então, poderemos exercer plenamente nossas Faculdades e Potências, Virtudes e Dons Originais livres do brilho fulgurante da joia do príncipe deste mundo. Ao contrário do que esperávamos, quando isso acontecer não necessitaremos mais de buscar ver coisas divinas e astrais com nossos olhos humanos, porque já encontraremos suficiente e infinita Graça e Contemplação em olhar as próprias coisas humanas e mundanas com nossos novos olhos assim divinizados. Sim, pois da mesma forma que um cão vive meio a tantos carros, sons, sinais, gente e palavras que não compreende (e, não obstante o absurdo disto cercá-lo, continua a ocupar-se de farejar e procurar comida), é apenas com o nascimento do Novo Homem que descobrimos, então, quão mortos e adormecidos estávamos espiritualmente. Com a Mente de Compaixão que engendramos em nós, o antigo reino samsárico, dialético e binário, dominado pela divisão e pelas Forças Gêmeas, transfigurar-se-á diante de nós em um verdadeiro Plano Divino, uma Unidade Absoluta onde não há conflitos e nem particulares, senão um único e mesmo Soneto Eterno manifestando-se através de todas as coisas e todos os seres para a Glória da Reintegração Universal.

Estaremos salvos, querido candidato, não por sermos privilegiados, seletos ou muito menos “Cavaleiros Eleitos”, mas por simplesmente termos despertado para este Campo Uno e Oniabarcante, com os olhos do qual podemos nos compadecer profundamente de todos os nossos Irmãos Equivocados que sofrem e causam sofrimento por sua própria ignorância e egoidade. Saibamos ouvir Deus, que nos fala sempre. Nutrindo e defendendo incessantemente nossa Cidade Santa, reconheceremos cada vez melhor as consolações e movimentos deliciosos do Invisível, a graça dosada e santificante que nos será concedida – não para fugirmos do mundo e da vida rumo a um Astral Pseudoceleste – mas para participarmos da Vida Divina aqui e agora, como Agentes, servindo e realizando aquilo que é da Vontade do Espírito em nós. Inferno era apenas estar cego para a Contemplação de Deus. E, assim como o sol doa amorosamente sua luz e calor para todos os planetas que o rodeiam, esperaremos esperançosamente sermos sóis para nós mesmos e para os outros, exemplos vivos da Lei do Amor, aquecidos não pelo Fogo Colérico da Impiedade, mas pela Luz Doce e Amorosa do Espírito Santo que há de fazer morada em nós.

Pelo divino quaternário: Amor-Vontade-Sabedoria-Atividade,
Que as rosas floresçam em vossa cruz!


Fraternidade Martinista


* Vide texto neste blog, do dia 06 de setembro de 2020, supra publicado, com o título: Iluminação Pelo Caminho das Trevas.


Fonte: https://fraternidademartinista.wordpress.com/author/fraternidademartinista/
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QUAL O MAIOR OBSTÁCULO AO PROGRESSO (MORAL)?


O Livro dos Espíritos, questão 785: Qual o maior obstáculo ao progresso?

O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem. Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais duradoura.

Comentário de Allan Kardec

Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio, mas que, no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado. Ora, sendo assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de preferência, ao moral, do que com relação ao intelectual? Por que será impossível que entre o dezenove e o vigésimo quarto século haja, a esse respeito, tanta diferença quanta entre o décimo quarto século e o século dezenove? Duvidar fora pretender que a Humanidade está no apogeu da perfeição, o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a experiência desmente.


Allan Kardec



Fonte: O Livro dos Espíritos, 76ª. ed., Rio de Janeiro, RJ, FEB, 1995.
Fonte da Gravura: Acervo de autorial pessoal

A SABEDORIA DO DESENCANTAMENTO


Uma das características mais intrigantes do mundo natural é o mimetismo: insetos inofensivos imitam o desenho de outros insetos mais nocivos para escapar de seus predadores. Os escaravelhos femininos (*) imitam os sinais de acasalamento de outras espécies para atrair machos ansiosos e levá-los a um destino fatídico. O louva-a-deus (mantis religiosa) atrai suas presas imitando as flores, e as plantas de seixos são muito parecidas com as pedras, evitando assim se tornar comida para os animais. E a lista continua. O que muitas vezes não é entendido é que a arte do engano, implícita no desenho da Natureza, também é uma característica dos mundos internos. No caminho em direção à alma, há muitas armadilhas para o investigador incauto.

Claramente, a discriminação é essencial ao longo do caminho, pois é muito fácil cair presa das visões e dos sons enganosos do mundo astral e dos muitos imitadores que residem lá. Entre esses "encantadores" estão os imitadores dos Mestres de Sabedoria e outros luminares espirituais, imitadores que não são almas propriamente. Muitos desses ensinamentos e comentários triviais sobre os assuntos humanos são realizados com um sentimentalismo que busca ser reconfortante. Essas conchas são animadas por vidas elementais do mundo astral que são energizadas por sua interação com os seres humanos.

Como distrações e enganos são uma característica do plano astral, o caminho de Atma-Vidya, o "conhecimento da alma", tem sido recomendado como a ciência esotérica para nossos tempos. Helena Blavatsky considera que todos os outros Vidyas são "artes baseadas no conhecimento da essência final de todas as coisas nos Reinos da Natureza". Essa essência vincula os fenômenos da natureza física, externa, com a natureza psíquica do mundo astral e é por isso que não é aconselhável entrar em contato com ela. Estes Vidyas menores incluem "o conhecimento dos poderes ocultos despertados na Natureza através de certos ritos e cerimônias religiosas...". (1)

O objetivo recomendado para todos os buscadores hoje é a fusão com a alma através da prática de Atma-Vidya, caso contrário, podemos inconscientemente desviar-nos do caminho direto para a alma e entrar em um reino de "encantamento". 'Encantar' significa enfeitiçar e seduzir. É uma palavra derivada do latim 'incantare', que significa entoar um feitiço mágico e está intimamente relacionada com a palavra 'glamour' que tem raízes escocesas medievais de uma época em que se dizia que os praticantes do lado obscuro das artes ocultas lançavam o glamour. (2)

Alice Bailey explica que o glamour ou miragem é a característica excepcional do plano astral, que "O assim chamado “plano astral” é simplesmente o nome dado à soma total das reações sensoriais à resposta sentimental e à substância emocional que o homem mesmo criou e projetou com tanto êxito, sendo hoje a vítima de sua própria obra." (3) Na era atual, a substância da miragem é generalizada na cultura popular e nas indústrias do entretenimento, e é considerada algo que deve ser ativamente buscada. O glamour é geralmente entendido como a qualidade de ser "mais atraente, emocionante ou interessante do que pessoas ou coisas comuns". (4) Na verdade, é uma aparência que distorce a realidade, a distorção a que as pessoas que estão emocionalmente polarizadas são mais suscetíveis. Em suas formas mais sutis, engana muitas pessoas inteligentes e aspirantes ao longo do caminho, como explicado extensivamente no livro de Alice Bailey, 'Miragem: um Problema Mundial'.

No caminho de Atma-Vidya, o desencantar-se, afastando a miragem, é uma lição difícil, mas constantemente coloca o buscador espiritual sob o controle direto da alma, que é o princípio mediador entre o espírito e a matéria. A alma funde em um relacionamento harmonioso essas duas grandes correntes de energia, os princípios masculino e feminino na vida. Só então pode começar o trabalho mágico de criar "o novo céu e a nova Terra". (...)

Nesta era tecnológica materialista, é apropriado abordar esta questão à medida em que a humanidade experimenta um impulso crescente para se reconectar mais profundamente com a Mãe Terra e o divino feminino. O caminho a seguir é claramente demonstrado por aqueles que expressam a luz e o amor da alma: o grupo de servidores do mundo, muitos dos quais estão trabalhando com os reinos inferiores da natureza. A luz clara da alma flui através deles, revelando leis que operam na natureza e despertando a humanidade para a necessidade de uma nova relação para com o meio ambiente. Da mesma forma, o trabalho que fazemos na meditação... envolve o contato com a alma para ajudar a fazer com que a luz, o amor e o poder desçam à Terra, através da humanidade e dos reinos inferiores da natureza, na grande obra da redenção planetária.

Aqueles que se dedicam a este grande trabalho são integrantes do grupo de servidores do mundo (sejam ou não conscientes disso), e todos estão trabalhando em maior ou menor medida com o conhecimento da alma - Atma-Vidya -, a sabedoria do desencantamento.


Lucis Trust - Escola Arcana - Triângulos - Boa Vontade Mundial



Fonte: https://www.encontroespiritual.org/bartigos/bartigos_desencantamento.html
Fonte da Gravura: Tumblr.com



Notas:

1.Escritos Colecionados, H.P. Blavatsky, Vol IX. pp. 252-252
2.https://www.etymonline.com/word/glamour
3.O Reaparecimento do Cristo, A. A. Bailey, p. 130
4.https://www.collinsdictionarv.com/dictionarv/enelish/elamorous
(*) http://www.nationalgeographic.es/animales/luciernaga-bicho-de-luz - NT

VENCER O MEDO


Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato.

Um mago teve pena dele e o transformou em gato.

Mas aí ele ficou com medo do cão.

Por isso, o mago o transformou em pantera.

Então, ele começou a temer os caçadores.

A esta altura o mago desistiu. Transformou-o em camundongo novamente e disse:

– Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo.

*   *   *

É preciso coragem para romper com o projeto que nos é imposto.

Mas saiba que coragem não é a ausência do medo, mas sim a capacidade de avançar, apesar do medo.

Caminhar para frente e enfrentar as adversidades, vencendo os medos...

É isto que devemos fazer.

Não podemos nos derrotar, nos entregar por causa dos medos.

Assim, jamais chegaremos aos lugares que tanto almejamos em nossas vidas...



José Emílio Menegatti



Fonte do texto e da gravura: Grupo Espírita Miguel Arcanjo
http://www.gema-rj.org/