Eis o terreno comum sobre o qual toda a humanidade se firma. E, aconteça o que acontecer no campo dessa consciência, somos responsáveis. Noutras palavras, se eu for violento, estou acrescentando violência a essa consciência que é comum a todos nós. Se eu não for violento, não estou fazendo esse acréscimo, estou introduzindo um fator completamente novo a essa consciência. Então, sou profundamente responsável, ou por contribuir para essa violência, para essa confusão, para a terrível divisão; ou, como reconheço profundamente no meu coração, no meu sangue, nas profundezas do meu ser, que sou o resto do mundo, sou a humanidade, sou o mundo, o mundo não está separado de mim, então, me torno totalmente responsável. (Social Responsibility, pp. 19-20)
O homem procura o tempo todo, tornar-se não violento. Então, há conflito entre “o que é” (a violência), e “o que deveria ser” (a não-violência). Há conflito entre os dois. Essa é a própria essência do desperdício de energia. Enquanto houver dualidade entre “o que é” e “o que deveria ser” – o homem procurando tornar-se outra coisa, esforçando-se para alcançar “o que deveria ser” – esse conflito será desperdício de energia. Enquanto houver conflito entre os opostos, o homem não terá energia bastante para mudar. Por que devo ter o oposto – a não-violência – como ideal? (The Flight of the Eagle, p. 56)
A não-violência tem sido largamente apregoada por vários líderes políticos ou religiosos. A não-violência não é um fato; é só uma ideia, uma teoria, um conjunto de palavras; o fato real é que você é violento. Esse é o fato. Isso é “o que é”. Mas não somos capazes de compreender “o que é”, e, por isso, criamos essa tolice chamada de não-violência. E isso dá lugar ao conflito entre “o que é” e “o que deveria ser”. Quanto mais você buscar a não-violência, mais estará semeando violência. Isso é tão óbvio! Portanto, será que podemos olhar para “o que é” sem nenhum tipo de fuga, sem nenhum ideal, sem suprimir ou fugir do “que é”? (The Flame of Attention, p. 74)
Se não houvesse nenhum ideal, só restaria a você “o que é”. Será que isso tranquilizaria as pessoas? Ou você teria então a energia, o interesse, a vitalidade para resolver “o que é”? Não seria o ideal da não-violência uma fuga ao fato da violência? Quando a mente não está fugindo, mas é confrontada com o fato da violência – que ela é violenta, não a condenando nem a julgando – então certamente tal mente tem uma qualidade inteiramente diferente e já não há violência. (The Flight of the Eagle, p. 32)
Quando se defronta com a violência, o cérebro passa por uma rápida
mudança química; ele reage muito mais rapidamente do que o golpe. O
corpo todo reage e há resposta imediata; a pessoa pode não revidar, mas a
própria presença da raiva ou do ódio causa essa resposta e existe ação.
Na presença de uma pessoa com raiva, veja o que acontece quando se está
ciente disso sem que haja resposta a isso. No momento em que se está
cônscio da raiva de outrem, e não se reage, há uma resposta muito
diferente. O instinto da pessoa é responder ao ódio com ódio, à raiva
com raiva; há uma injeção química que enseja reações nervosas no
sistema. Mas acalme tudo isso na presença da raiva, e uma ação diferente
se manifestará. (Questions and Answers, p. 23)
Violência não é só matar outra pessoa. É violência usarmos palavras ferinas, fazermos um gesto para afastar uma pessoa, obedecermos por medo. Portanto, violência não é somente matança organizada em nome de Deus, em nome da sociedade ou do país. Violência é coisa muito mais sutil, mais profunda, e estamos investigando-a em toda a sua profundidade. Quando você se denomina indiano, muçulmano, cristão, europeu, ou qualquer outra coisa, está sendo violento. Sabe por que isso é violência? É porque você está se destacando do resto da humanidade. Quando você se separa por crença, por nacionalidade, por tradição, isso produz violência. Portanto, um homem que busque compreender a violência, não pertence a nenhum país, a nenhuma religião, a nenhum partido ou sistema político; ele está interessado na compreensão total da humanidade. (Freedom from the Known, pp. 51-52)
Há tantos tipos de violência. Vamos examinar cada tipo de violência ou vamos considerar toda a estrutura da violência? Podemos olhar para todo o espectro da violência, e não para uma parte dela?... A fonte da violência é o “eu”, o “ego”, que se expressa de muitos modos – em divisão, em tentar tornar-se alguém – o que se divide em “eu” e “não eu”, como inconsciente e consciente; o “eu” que se identifica ou não com a família, que se identifica ou não com a comunidade, e assim por diante. É como uma pedra lançada em um lago: as ondas espalham-se cada vez mais, estando no centro o “eu”. Enquanto o “eu” sobreviver sob qualquer forma, muito sutil ou grosseira, haverá necessariamente violência. (Beyond Violence, p. 74)
J. Krishnamurti
Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/