domingo, 24 de maio de 2020

O LABIRINTO DE CHARTRES (CATEDRAL DE CHARTRES - FRANÇA)


Quando alguém entra na grande Catedral de Chartres (construída na França do séc. XIII) pela porta oeste, encontra-se pisando e caminhando pelo Labirinto do Peregrino. O Labirinto é desenhado por pedras pretas no piso da nave da Catedral, abaixo dos vitrais da Rosácea, cujo diâmetro ele reflete com exatidão. Durante a idade média, peregrinos pobres que não podiam ir a Jerusalém, faziam uma “peregrinação” simbólica, de joelhos, ao longo de todas as curvas e voltas do labirinto, na própria catedral. Em Chartres, como em muitas outras catedrais europeias, onde desenhos similares também existiam, esta mandala espiritual adquiriu grande significado na devoção dos leigos. Muitas gerações experimentaram a alegria de chegar ao centro do labirinto após muitas dúvidas e hesitações.

Se você seguir o diagrama do labirinto com seu dedo você começará a entender porque John Main não considerava a meditação simplesmente como um método de oração, mas como uma peregrinação e um meio de vida. Assim como a meditação, realizar com devoção a peregrinação do labirinto ilumina a jornada de nossa vida. Todas as curvas e voltas do labirinto nos ajudam a colocar nossos momentos de acídia* e de apateia**, de turbulência e de paz, na perspectiva da concepção global da jornada.
Começamos pelo princípio. Todo percurso humano, mesmo aquele espiritual que transcenda o tempo e o espaço, tem um princípio definido. Não estamos longe do centro, mesmo no princípio, mas temos um percurso a realizar, um processo de compreensão e de autodescoberta, antes de percebermos estar, de fato, já e sempre, no centro. No princípio, parece que chegaremos ao centro num percurso em linha reta, mas logo encontramos os padrões recorrentes de voltas e curvas que testam e aprofundam a nossa fé. Eles podem nos fazer acreditar que estamos perdendo terreno, voltando atrás, e depois de anos de meditação pode nos parecer que não fizemos progresso, exceto pelo amadurecimento de nossa fé, que é o significado essencial de nosso crescimento espiritual. Esta mesma fé então nos mostra que as curvas e reviravoltas do caminho não são a forma como um Deus difícil torna a vida mais difícil, mas a maneira com que um mestre compassivo e sábio desata os nós de nosso coração.

O labirinto nos mostra a sabedoria de não tentar medir nosso progresso: precisamente porque a jornada não é linear e mental, mas cíclica e espiritual, como as espirais de uma mola. Tudo que importa é a confiança de sabermos estar a caminho. O caminho para o centro é estreito, mas leva à fonte da vida. A vida é eterna nessa origem. Precisamos apenas permanecer no caminho. Se tentarmos trapacear e pular do lugar onde estamos para onde queremos estar, sem passar pelo caminho que devemos seguir, ficamos perdidos e confusos. Mas, de qualquer ponto, podemos recomeçar. A compaixão de Deus, sempre presente, é mais diretamente vivenciada na constância da caminhada e na descoberta última, no centro, do significado da jornada que fizemos. Temos apenas que seguir adiante na fé. Quem busca, encontra.

A meditação é um caminho. Ela é, antes de tudo, um caminho de experiência, e não de pensamento ou imaginação. Até mesmo um símbolo como o labirinto indica isso. Um símbolo como o Labirinto do Peregrino de Chartres, ainda que rico em significado, só é verdadeiramente entendido quando vemos que ele aponta para além dele mesmo, completamente além do mundo dos signos. Olhar para uma ilustração do labirinto e traçar a rota até o centro com o dedo é muito diferente de fazê-lo na realidade, de joelhos. Quão diferente é então a prática diária da meditação da mera leitura ou conversação sobre ela.


 Dom Laurence Freeman, OSB



Notas deste blog:

* Indiferença, desânimo.
** O estado de espírito desencadeado pela percepção de eventos no mundo exterior mas sem emoção. Num sentido mais amplo, entende-se por apateia a ausência de todas as emoções, incluindo as agradáveis, mesmo que consideradas desejáveis.


Fonte: Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
"Christian Meditation Newsletter", março de 1992
http://www.wccm.com.br/escola-de-meditacao-wccm/76-escola/cartas/ano-1/915-carta-15
Fonte das Gravuras:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg73kiJBF97CcCa9t_jx7NqETBAXKh2j85Px9VayyglBkdBvKKMAR0NVAd706S9vMQJ6a9cOebHyrLhVKnsBujVgIiQw4V0-donwRhTk8os94MXoW7DNAjWV1OLEn_Iuo5AbeoH8Kb3cVA/s1600/chartres+labyrinth.jpg
https://img2.gratispng.com/20180508/wkw/kisspng-chartres-cathedral-labyrinth-walking-maze-meditati-5af1a6c3c2c551.4417732315257863077978.jpg

QUEBRANDO O ESPELHO


Não creio que seja exagero dizermos que o pecado original seja a consciência de si mesmo, a hiper-auto-consciência do egoísmo, pois a consciência de si mesmo dá origem à consciência dividida. Isto se parece a um espelho entre Deus e nós mesmos. Sempre que olhamos para o espelho, nos vemos. O propósito da meditação é o de quebrar esse espelho, para que não mais olhemos para os reflexos das coisas e, consequentemente vejamos as coisas às avessas, inclusive nós mesmos. A essência da meditação é a de tomarmos de assalto o reino dos céus. O espelho precisa ser quebrado. E, quando Jesus nos diz que ninguém pode ser seu seguidor a menos que deixe para trás a si mesmo, ele está falando acerca da superação da consciência de si mesmo.

Ora, de fato, não se faz necessária muita experiência de vida, para que percebamos que essa consciência de si mesmo nos ilude a ponto de entendermos que todo o universo gira ao nosso redor; ou, para concluirmos que essa consciência de si mesmo é um pavoroso estado de ser. Talvez seja isso o que leva a maioria de nós à meditação. Não queremos passar o resto de nossas vidas olhando para esse espelho e enxergando tudo às avessas. Queremos olhar, com coragem, para o infinito mistério de Deus. Porém, quando começamos a sentir essa primeira perda da consciência do si mesmo e, quando começamos a adentrar o profundo silêncio que é a meditação, podemos vir a nos sentir perturbados e assustados. Nesse ponto, precisamos do apoio de nossos irmãos e irmãs. É por isso que nossos encontros regulares são tão importantes. Precisamos compreender que a fé é um dom, que nos é dado, como nos diz São Paulo, em abundância, caso apenas estejamos abertos a ele e, continuemos a martelar esse espelho, até que ele se despedace inteiramente. Com nosso mantra, nós o "martelamos suavemente".

Não há nada de passivo acerca da meditação. Trata-se de um estado de crescente e mais profunda abertura para a fonte do poder de toda a realidade, que só podemos descrever em palavras adequadamente como Deus-que-é-amor. A meta de nossa vida e, o convite de nossa vida, não é nada menos do que a união completa, a ressonância completa com aquela fonte de poder. Quais são os frutos da não-consciência-de-si-mesmo? Felicidade, paz, controle-de-si, paciência, fidelidade, todas aquelas coisas de que nos fala São Paulo como sendo os frutos do espírito. Esse é o estado de ser, no qual estamos livres para sermos nós mesmos, livres para receber o dom de nossa vida sem medo, em estado de graça, de amor.


Dom John Main, OSB



Fonte: MOMENTO DE CRISTO (São Paulo, Paulus, 2004).
Via Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/838-quebrando-o-espelho-190922
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/china-est%C3%A1tuas-de-buda-religi%C3%A3o-1177009/

O CARMA NÃO OPRIME


O karma é a grande lei da natureza, com tudo o que isso implica. Assim como somos capazes de nos movermos no universo físico com segurança, conhecendo suas leis, também podemos nos mover com segurança nos universos mental e moral quando aprendemos suas leis.

A maioria das pessoas, a respeito de seus defeitos mentais e morais, estão muito como na posição do homem que recusa subir as escadas por causa da lei da gravidade. Ele senta-se desanimado, e diz: "Esta é minha natureza, não posso fazer nada". É verdade, é a natureza do homem, já que ele a construiu no passado, e é "seu karma". Mas com um conhecimento sobre o karma ele pode mudar sua natureza, tornando-a amanhã diferente do que é hoje. Ele não está nas garras de um destino inevitável, imposto de fora sobre si; ele está num mundo de lei, cheio de forças naturais que ele pode utilizar para produzir o estado de coisas que ele deseja. O conhecimento e a vontade - isto é o que ele precisa.

Ele deve perceber que o karma não é um poder que oprime, mas um estabelecimento de condições das quais derivam resultados invariáveis. Enquanto ele viver negligente, em um caminho fortuito, enquanto ele for como um homem flutuando na corrente, atingido por qualquer entulho que passa, soprado por qualquer brisa casual, sugado por qualquer redemoinho casual, isto promete fracasso, azares e infelicidade.

A lei lhe possibilita atingir seus fins com sucesso, e coloca a seu alcance forças que ele pode usar. Ele pode modificar, alterar e reconstruir ao longo de outras linhas a natureza que é o resultado inevitável dos seus desejos, pensamentos e ações anteriores; esta natureza futura é tão inevitável como a presente: o resultado das condições que ele cria agora deliberadamente.

"O hábito é uma segunda natureza", diz o provérbio, e o pensamento cria hábitos. Onde existe Lei nenhuma conquista é impossível, e o karma é a garantia da evolução do homem até a perfeição mental e moral.


Dra. Annie Besant, MST



Fonte: do livro "Um Estudo Sobre o Karma", Ed. Pensamento, SP
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO


Todos estamos cientes de que há trevas em nosso mundo. Todos os dias temos notícias de injustiças horríveis, de violências, de ódio, de feudos e de ganância. Vemos isso tanto no nível pessoal, quanto no nível global. Todos também estamos cientes das trevas em nosso interior...

Quando começamos a meditar, começamos a compreender que não podemos entrar na experiência com apenas uma parte de nosso ser. Tudo aquilo que somos, a totalidade de nosso ser, precisa estar envolvida... Em outras palavras, todas as partes de nosso ser precisam estar expostas à luz. Todas as partes de nós precisam ir para a luz. Não meditamos apenas para desenvolver nossa capacidade ou lado religioso. O homem ou a mulher que é verdadeiramente espiritualizado está em harmonia com todas as capacidades que tem...

A meditação não é o processo pelo qual tentamos ver a luz. Nesta vida não podemos ver a plena luz e continuar a viver. A meditação é o processo pelo qual nós vamos para a luz, pelo qual começamos a ver todas as coisas, a plenitude da realidade. Começamos a ver tudo isso por meio da energia da luz. E, tal como nos diz Jesus, vemos que a energia da luz é o amor.

A medida de nosso progresso na meditação é o quanto nos modificamos no sentido de vermos a todos e a todas as coisas por meio da luz de Deus. Ver por meio da luz do amor, também, nos faz amar a todos. Sem julgar, sem rejeitar, mas ver todos e toda a criação por meio dessa luz que precisamos descobrir em nosso próprio coração.


Dom John Main, OSB



Fonte: John Main OSB, THE HUNGER FOR DEPTH AND MEANING, editado por Peter Ng (Cingapura: Medio Media, 2007), pp. 188-189.
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/840-o-caminho-da-iluminacao-191006
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

PROTEÇÃO CONTRA VIBRAÇÕES NEGATIVAS


O Método de proteção contra as forças do pensamento, sejam elas intencionais ou inconscientes, é a LEI DO AMOR e a ausência do medo. O ser humano que tenha controle sobre o medo e viva em harmonia com esta Lei e com suas exigências, nada tem a temer.

No princípio fundamental do AMOR, na bondade e no perdão encontramos proteção contra todas as influências daninhas e contra as forças destrutivas, que proveem das ações mentais que possam nos afetar, sejam elas conscientes ou não. Recordemos sempre este manto de proteção divina. Cultivemos um espírito de bondade e façamos um julgamento generoso dos atos praticados pelos nossos semelhantes.

Devemos ter uma atitude mental positiva, livre dos temores de tais influências indesejáveis e manter o pensamento: NENHUMA FORÇA MALIGNA NO UNIVERSO É SUFICIENTEMENTE PODEROSA PARA ENTRAR EM MINHA MENTE, EM MEU CORAÇÃO OU EM MINHA ALMA.

Não existe poder suficientemente forte na Terra para influenciar pessoas cujo coração esteja guardado pela couraça do AMOR PURO e generoso para com todos os seres.

Da mesma forma que um ferro em brasa desintegra uma gota d’água que sobre ele caia, assim o calor de um coração puro, contra o qual se dirigem vibrações mentais de natureza maligna, imediatamente transmutará todas essas forças malignas, em forças construtivas de poder e em meios para o seu adiantamento e êxito.

O coração em que o Amor e o perdão habitam é mais poderoso do que a mais forte vontade ou a mais forte mentalidade. A Alma, que guarda como relíquia a CHAMA DO AMOR e a boa vontade, está tão afastada das perversões. que mesmo uma vontade gigantesca não a alcançará.

Protegemo-nos de uma invasão de forças de outras mentes e de vontades alheias, à medida que depuramos nosso coração e nossos desejos de todas as inclinações indesejáveis dos pensamentos afastados de Deus e das paixões indignas.

A pureza de coração e a elevação dos desejos é o seguro da completa proteção. Não importa onde estejamos ou quais sejam os nossos ambientes. Pelo cultivo destas qualidades, que conduzem ao despertar do CRISTO INTERNO e à CONSCIÊNCIA DA ALMA adquirimos essa proteção que nenhum poder na Terra pode atacar.


Dr. Reuben Swinburne Clymer, FRC



Fonte: Revista GNOSE, da Fraternitas Rosicruciana Antiqua, ano 9, n° 113
http://www.fra.org.br
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

ESPAÇO PARA SER


Para nos conhecermos, para nos compreendermos e, para... obtermos uma perspectiva correta de nós mesmos e de nossos problemas, precisamos simplesmente entrar em contato com nosso espírito. Toda auto-compreensão surge como resultado de nos entendermos como seres espirituais e, apenas o contato com o Espírito Santo pode nos conferir toda a amplitude da compreensão... Esse caminho não é difícil. É muito simples. Mas, realmente demanda um sério comprometimento...

O caminho da meditação é muito simples. Tudo o que cada um de nós precisa fazer, é ficar tão imóvel quanto possível, física e espiritualmente... Aprender a meditar, é aprender a abandonar seus pensamentos, ideias e imaginação e, a descansar nas profundezas de seu próprio ser. Lembre-se sempre disso. Não pense, não utilize quaisquer palavras, a não ser sua própria palavra (mantra), não imagine nada. Apenas entoe, repita a palavra nas profundezas de seu espírito e, ouça-a. Concentre-se nela, com toda sua atenção.

Por que isso é tão poderoso? Basicamente, porque nos dá o espaço que nosso espírito precisa para poder respirar. Nos dá, a cada um de nós, o espaço para sermos nós mesmos. Quando você medita, você não precisa se desculpar e, você não precisa se justificar. Tudo o que você precisa fazer, é ser você mesmo, é aceitar, das mãos de Deus, a dádiva de seu próprio ser... E, nessa aceitação você começará a viver sua vida em harmonia, harmonia interior, porque todas as coisas em sua vida passarão a se harmonizar com toda a criação, pois você terá encontrado o seu lugar. E aquilo que é surpreendente é que o seu lugar não é nada menos do que o de estar enraizado e fundamentado em Deus.


Dom John Main, OSB



Fonte: extraído do livro de JOHN MAIN - O MOMENTO DE CRISTO (São Paulo, PAULUS, 2004), p. 132.
http://www.wccm.com.br/leitura-john-main-osb/841-espaco-para-ser-191013
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

ESTADO DO ESPÍRITO APÓS A MORTE DO CORPO FÍSICO


Morto o corpo, a individualidade sobrevivente é tomada de um estado psíquico original, dependendo muito, esse estado, das crenças do indivíduo, seu modo de agir quando vivia na Terra, sua moralidade, finalmente, seu grau de evolução Espiritual.

[...] Uns custam muito a compreender o seu estado, a sua situação; muitos querem crer que não morreram, pois encararam a morte como o fim da existência; mas, sentindo que continuam a existir, percebem que algo ocorreu e sentem-se em grande confusão. Outros consomem largo tempo em busca de um céu imaginário, com que foram acalentados na Terra; muitos, sentindo-se culpados e convencidos de já haverem deixado a vida terrena, julgam-se no purgatório, e outros, ainda, fustigados pelo remorso de suas más obras, sentem-se abrasados por um fogo terrível, que as dores morais ocasionam, julgando-se num inferno candente, sem luz, sem paz no coração, blasfemando contra a própria existência.

A passagem do mundo terreno para o Mundo Espiritual ocasiona tantas dúvidas; tantas agonias, tão terríveis perturbações aos espíritos não preparados para essas mudanças fatais, irremediáveis, que a maior parte raramente consegue adaptar-se logo à nova fase de vida.

Quantos se acham noutro mundo, uns como que adormecidos, outros delirando, outros continuando em seu viver material, sem compreenderem, o meio em que vivem e a sua situação!

É lógico que aqueles que não se prepararam para essa mudança, nem tiveram quem lhes preparasse um lugar para, ao chegarem a esse mundo de luzes, serem recebidos e logo iniciados; aqueles que não quiseram dar ouvidos às vozes espirituais, à Lei de Deus, que a todos mostra a trilha que devemos palmilhar para um bom empreendimento futura, devem passar por acérrimos sofrimentos morais.

Os viciosos, os contumazes, os que excluíram Deus da consciência, que enxovalharam e lesaram o próximo; os que venderam sua inteligência, sua alma, seu coração; os que traficaram com as coisas divinas, sofrem terríveis reprimendas, de acordo sempre com as faltas cometidas; porque a penalidade, não só na Terra, como na Outra Vida, está em proporção às infrações da Lei.

Não há uma só falta que não exija imediata corrigenda, e essa correção começa sempre pelo sofrimento.

Enfim, a perturbação ou o estado de inconsciência dos Espíritos é muito variável; cada um sofre-as de acordo com a sua evolução, a sua constituição psíquica, o papel de responsabilidade social que assumiu na existência terrestre, a sua instrução intelectual etc. Entre dois indivíduos, um ignorante e outro letrado, que tenham incorrido na infração da mesma lei, a pena do letrado se agrava, ao passo que a do ignorante, será atenuada. Tudo está em relação com o indivíduo e o crime cometido. Assim também é a natureza da perturbação, peculiar a cada indivíduo.

Um fato notável tem sido verificado com muitos Espíritos: o não saberem eles que "morreram", segundo a expressão usual. Esse fato se verifica com os Espíritos muito materializados e muito materialistas, especialmente com os suicidas. É uma espécie de condenação a que ficam sujeitos, em virtude da sua teimosia na negação.

Enfim, todos esses Espíritos atrasados ficam presos à Terra; caminham aqui e ali; mas as suas vistas abrangem mais a Terra que o mundo Espiritual. Eles se apinham em torno do globo, presos sempre à pátria e à família, acompanhando todos os movimentos do planeta, como se estivessem encarnados e, muitos deles, sofrem as variações atmosféricas e outras sensações peculiares aos que ainda estão incorporados na matéria.

Quando veem o Mundo Espírita não o compreendem. Pasmam ao observarem a Vida Espírita, o modo porque agem os Espíritos adiantados; admiram-se ao atravessarem grandes cidades, metrópoles flutuantes, ao verem casarios transparentes e multicolores, majestosos edifícios, cuja luz os ofusca; veículos céleres a deslizarem de um a outro ponto; jardins aprimorados com flores belas e aromáticas como nunca viram na Terra. Tudo isso lhes causa estranheza tal e ocasiona-lhes perturbação tão profunda, que preferem, muitas vezes, não prestar atenção senão ao mundo onde deixaram seus corpos e ao qual se acham ligados por afinidades antigas.

São esses Espíritos que vivem numa ânsia contínua de se comunicar com os homens, não tanto para demonstrarem sua sobrevivência, mas para, se possível, prosseguirem no seu antigo modo de viver.

Eles desenvolveram ao extremo os seus sentidos físicos, e, havendo aniquilado o sentido espiritual, ficam, por isso, entre as trevas e a luz, entre o mundo da carne e o mundo do espírito, sem poderem prosseguir na sua vida material e sem poderem viver na vida espiritual, até que as preces, as instruções, os bons conselhos os encaminhem à realidade e sejam então iniciados na vida nova, na qual sentirão grande gozo, gozo esse que se tornará, para eles, um incentivo para trabalharem em prol de seu progresso e bem-estar espiritual.


Cairbar Schutel



Fonte: do livro A VIDA NO OUTRO MUNDO, Publicação original de 1932
Versão digital de 2011, Casa Editora O Clarim - www.oclarim.com.br
Fonte da Gravura: https://i.ytimg.com/vi/56fdNQXlVaM/maxresdefault.jpg

MEDITAÇÃO - AÇÃO PELA QUAL DESCOBRIMOS A UNIDADE


Neste ponto da evolução humana, estamos todos bem conscientes dos problemas a serem enfrentados... acerca do quanto estamos des-unidos, do quanto estamos coletivamente distanciados da verdade que Jesus revela acerca de nossa natureza humana... a de que somos um em essência. Nesse nosso tempo acreditar na unicidade da natureza humana é muito desafiador, assim como, na possibilidade de que os seres humanos podem amar, perdoar, serem justos, absterem-se da violência. É muito difícil acreditar na divina e potencial natureza da humanidade, quando vemos como nos comportamos e, os fracassos dos líderes que, por vezes receamos merecer... e, quando ao nosso redor se dissolvem e entram em colapso tantas daquelas estruturas políticas, religiosas e econômicas, que nos faziam sentir seguros. [...]

A divisão destrói a unidade porque, tal como o termo sugere, ela é diabólica, ela separa. A intenção de dividir para conquistar, é o jogo político que as pessoas inescrupulosas jogam, não pode ser de Deus... porque Deus é uno. Deus não está fragmentado em um panteão de pequenos deuses, que competem entre si, como projeções de nossa própria imaginação, desejos e medos. Apesar de suas diferenças e conflitos, as três grandes religiões irmãs compreenderam... e, evoluíram com o mesmo discernimento acerca da natureza humana e divina, o de que Deus é um. A profunda unidade do ser humano vem do Deus que nos habita, como o disse São Paulo e, a descoberta dessa unicidade em nosso interior, no interior de nossa natureza, é a única maneira de curarmos as feridas da violência e da divisão.

A meditação é a ação pela qual descobrimos essa unidade em nosso interior e, entre nós... Nos desafios de nosso tempo, a unidade que compartilhamos é a coisa mais importante de que devemos nos lembrar – o grande mistério da humanidade – apesar de nossa diversidade racial, cultural e religiosa. Esse não é um aprendizado que se dá de fora para dentro. Ter esse conhecimento significa adentrar um silêncio em que a mente dualista é deixada para trás. A consciência contemplativa não é dogma, nem provém do pensamento analítico, mas da própria experiência da unicidade, que é muito simplesmente a experiência que nos permitimos saborear na meditação.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: Extraído da Conferência de Laurence Freeman OSB na Austrália em outubro 2019.
http://www.wccm.com.br/leitura-laurence-freeman-osb/868-meditacao-200119
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/medita%C3%A7%C3%A3o-budismo-monge-templo-2214532/

PSICOLOGIA DO MISTICISMO HEBRAICO


O misticismo, que pretende desvendar verdades extraordinárias no domínio profundo do universo em relação com o homem, não parece concernir aos patriarcas, a Moisés, e nem mesmo aos profetas. Esses grandes homens esforçavam-se por ligar-se unicamente a Deus, sem preocupar-se com as coisas misteriosas, insuspeitadas, à margem de Deus, já que a seus olhos, tudo o que existe, visível e invisível, só pode emanar da potência criadora divina. Em outras palavras, para eles, apegar-se profundamente, intimamente, à Divindade é possuir pela revelação a chave de tudo o que nos parece misterioso, incompreensível.

Visto sob esse ângulo, o misticismo, tal como hoje o conhecemos, parece incompatível com a espiritualidade dos hebreus ilustres da Alta Antiguidade. Sua essência, no entanto, é espiritual, se o concebermos fora de toda consideração de ordem fictícia, mágica, supersticiosa, embora se situe num plano inferior, se assim se pode dizer, ao do verdadeiro misticismo. O misticismo real é apanágio dos homens de gênio, que encontram, sem procurar, o mistério do ser. Abrange a alta metafísica, a estrutura íntima do universo, concebido como um reflexo da Divindade. É para Deus que tende o místico, é nele se concentrando em profunda meditação, é amando-o que consegue ver coisas extraordinárias que o tornam feliz, alegre e otimista aqui na Terra. Sob esse aspecto, os patriarcas Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, e os profetas, a quem Deus se revelou mais de uma vez, podem, assim, ser considerados como místicos, já que seu amor extremo os põe em comunhão íntima com Ele. O primeiro filósofo foi Abraão, que procura, medita, se concentra para descobrir aquele que rege verdadeiramente o universo. Os ídolos, os deuses que conheceu em casa de seus pais, objetos inertes, são absurdos. Tampouco o Sol, a Lua, as estrelas podem ser como deuses, já que são movidos por uma força superior a eles. Espiritualmente, invisivelmente, pouco a pouco, descobre o Deus verdadeiro, senhor de todo o universo. Moisés jejua e recolhe-se durante quarenta dias no Monte Sinai para ter a felicidade de conhecer a Deus de perto. Os grandes profetas, embora excepcionalmente favorecidos, só vêem a Deus em estado de êxtase, mais ou menos como mais tarde os essênios, os grandes cabalistas ou os santos.

A filosofia, na sua especulação mais profunda, movendo-se no meio da lógica pura (Fílon, esse grande místico, já o havia observado), vê-se impotente para resolver problemas de ordem metafísica que se lhe apresentam, a ela como ao misticismo. Para resolvê-los tem de recorrer ao misticismo, ao qual o racionalismo, seu guia individual, deve subordinar-se, como foi o caso de Espinosa. Uma filosofia não pode atingir a transcendência pelo raciocínio rigoroso do lógico, mas só por uma visada essencialmente mística e intuitiva.

Por isso dizemos que o misticismo ultrapassa a filosofia. Mas a filosofia pode, como já o demonstramos em outra parte, revestir-se de um caráter místico. É o que ocorre em Platão, Fílon, Plotino, Espinosa, Bergson.


Henri Sérouya



Fonte: do livro "A Cabala", Henri Sérouya, Difusão Europeia do Livro, SP, 1970, pp. 11-2.
Fonte da Gravura: Artista ucraniano Alexey Leonov
http://leonov.idea.in.ua/