quinta-feira, 22 de agosto de 2013

PROGRAMA PARA PERDOAR

"... Perdoai e sereis perdoados.” (Lucas – 6:37)

Esforce-se para impedir que a ofensa se converta em mágoa.

Silencie o sucesso infeliz em que se viu envolvido.

Acautele-se, face aos comentários que lhe tragam os maledicentes e os levianos.

Reflita, maduramente, valorizando o ensejo e retirando proveito da lição que o alcança em forma de sofrimento.

Se você é inocente, exulte. Se é culpado, tranquilize-se diante do pagamento.

Não fique remoendo, mentalmente, o acontecido.

Pense na hipótese de o seu agressor estar enfermo.

A posição da vítima é sempre melhor.

Enseje ao desafeto oportunidade para a reparação e o retorno.

Se tudo estiver, aparentemente, contra você, fiscalizado por uns, perseguido por outros, mantenha inalterada sua confiança em Deus, que tudo sabe.

Desgraça verdadeira é perseguir, inquietar, comprazer-se na dor alheia, envenenar-se com o azedume e a cólera.

Perdoando, você estará sempre em paz, podendo auferir mais tarde as vantagens de haver sido enganado, perseguido ou ultrajado, com o espírito livre de outros débitos, de que, então, se encontrará liberado.



Marco Prisco / Divaldo Pereira Franco



Fonte: do livro "Momentos de Decisão"
www.caminhosluz.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O QUE MORRE NO AMOR É A IDEIA DE UM EGO

Perguntaram a Osho:

Por que parece que a gente está morrendo quando está amando? Apaixonar-se é um desejo suicida ou apenas um instinto autodestrutivo como a marcha dos lemingues para o mar ou o voo da mariposa para uma chama? Isso é bizarro.

O amor é morte, mas aquele que morre no amor jamais existiu realmente. O que morre é o eu irreal, é a ideia de um ego.

Portanto, o amor é morte, é suicida, é perigoso. É por isso que milhões de pessoas decidiram contra o amor; elas vivem uma vida sem amor e decidiram em favor do ego — MAS O EGO É FALSO. E você pode se apegar ao falso e o falso jamais se tornará real. Assim, a vida de um egoísta sempre permanece na insegurança. Como se pode tornar algo irreal real? Ele está sempre desaparecendo e você precisa se apegar a ele e com constância criá-lo repetidamente. Trata-se de uma autodecepção, e isso cria infelicidade.

A infelicidade é função do irreal. O real é bem-aventurança — satchitanand. A verdade é bem-aventurança e consciência. Sat significa verdade, chit significa consciência e anand significa bem-aventurança. Estas três coisas são as qualidades da verdade. Ela é assim, alerta e bem-aventurada.

A irrealidade é infelicidade. O inferno é aquilo que não existe, mas que você cria; e o paraíso é aquilo que existe, mas que você não aceita. O paraíso está onde você realmente está, mas você não é corajoso o suficiente para penetrar nele. E o inferno é a sua criação privada, mas, devido a ser sua criação, você se apega a ela.

O ser humano jamais deixou Deus. Ele vive em Deus, porém, ainda assim, sofre, pois ele cria um pequeno inferno à volta de si. O céu não precisa ser criado — ele já está presente e você precisa relaxar e desfrutá-lo. O inferno precisa ser criado.

Leve a vida num estado de ânimo relaxado. Não há necessidade de criar, proteger ou se apegar a coisa alguma. Aquilo que é permanecerá, esteja você se apegando ou não a ele, e aquilo que não é não pode permanecer, esteja você se apegando ou não a ele. Aquilo que não é não é, e aquilo que é é.



Osho, em "Vá Com Calma - Discursos Sobre o Zen-Budismo"



Fonte: www.palavrasdeosho.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ESTRESSE E DEPRESSÃO - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SEGUNDO A PSICOLOGIA ESPÍRITA

A Psicologia Espírita compreende a saúde mental a partir de um paradigma Holístico (ou seja, globalizante, amplo e sintetizador) bio-psico-sócio-espiritual (ou seja, que engloba as variáveis biológicas, psíquicas, sociais e espirituais, em seu conceito de ser humano integral). Sua intervenção se dá tanto em nível “curativo” (não no sentido médico ou psiquiátrico ortodoxo de “curar doenças mentais”, mas sim de melhorar a qualidade de vida psicossocial e ético-espiritual) quanto preventivo, e engloba também a atenção na relação ecológica entre o homem, a natureza e o ambiente. Essa resenha objetiva mostrar como esse modelo pode ser útil para nos ajudar a lidar melhor com dois grandes males modernos: o estresse e a depressão.

Inúmeras pesquisas sugerem existir relação entre Estresse e Depressão, e embora historicamente ambos acompanhem o homem desde o seu surgimento no mundo, é nos últimos tempos que a civilização mais tem se submetido a situações estressoras, criando uma sociedade altamente depressiva. Corroborando essa hipótese, observamos que os Estados Unidos perdem cento e cinquenta bilhões de dólares anualmente, com problemas acarretados pelo estresse, refletindo diminuição da produtividade, incidência maior de doenças, perdas por morte, incapacidade, e acidentes de trabalho. Nos países em desenvolvimento como o Brasil, a Argentina, e no continente africano a situação é ainda pior, devido a diversos estressores sociais como a instabilidade sócio-econômica, insegurança empregatícia e pública, corrupção, inflação, crises de abastecimento etc. Nas grandes metrópoles, milhões de pessoas vivem juntas, submetidas aos atritos de todas as disparidades anti-sociais, sob exigências do tempo, transporte, meio ambiente, e pressões de toda espécie (Fajardo, 1997).

O estresse, em si, não é “bom” nem “mau”. Um certo nível de estresse é normal, e ajuda o indivíduo a enfrentar os desafios da vida. Porém, muito estresse faz com que o corpo e a mente reajam de forma desagradável, perturbando a homeostase (ou seja, perturbando o equilíbrio de funcionamento psicossomático, e portanto, do próprio perispírito).

Sabemos que existe uma dialética entre o individual e o coletivo, que caminham lado a lado na história da humanidade. Assim, se por um lado, como vimos, existe uma série de fatores coletivos e sociais que determinam situações de estresse, por outro lado, é a atitude individual de cada um, constituindo a coletividade, que incrementa os estressores sociais.

Pesquisas mostram que a personalidade predisposta ao estresse caracteriza-se especialmente pela (1) destacada ambição social e financeira, (2) exibicionismo, (3) liderança, (4) auto-exigência e perfeccionismo, (5) competitividade, (6) dificuldade em relaxar, (7) responsabilidade e pontualidade extremadas, (8) gosto por desafios e situações novas etc. (Fajardo, 1997).

Esse perfil geral de personalidade é típico do materialista cético apegado a valores externos, mas não só dele. Na verdade, algumas dessas qualidades (não todas), quando presentes em moderação, e alicerçadas em consistentes parâmetros pessoais de ética e moral construtiva, resultam em pessoas produtivas, otimistas e eficazes.

O que ocorre, porém, na maioria dos casos, é o contrário. O ser humano ainda se deixa corromper pelos exageros do egoísmo, fonte maior de inúmeras misérias, segundo Allan Kardec. Como disse Kardec, em suas Obras Póstumas, como “cada um pensa em si, antes de pensar nos outros, e quer a sua própria satisfação antes de tudo, cada um procura, naturalmente, se proporcionar essa satisfação, a qualquer preço, e sacrifica, sem escrúpulos, os interesses de outrem, desde as menores coisas até as maiores, na ordem moral como na ordem material; daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, porque cada um quer despojar o seu vizinho”. Levando-se, em conta, que em maior ou menor grau, todos expressamos tal conduta, daí resulta, pela atitude conjunta de todos, a configuração de nossa cultura depressiva, estressada e ansiosa, expressa nos moldes da sociedade capitalista de consumo predominante.

A depressão, por sua vez, é um efeito definido pela sensação de tristeza, perda da esperança e desânimo, estando frequentemente associada a sintomas autônomos, como distúrbios que afetam o sono, perda do interesse nos prazeres usuais, distúrbios do apetite e dificuldade de concentração. Apenas um especialista (médico, psiquiatra, psicólogo clínico etc.) pode realizar um diagnóstico preciso de depressão.

Quando o organismo é continuamente sobrecarregado por tensões, a reação de estresse será seguida por depressão na esfera psíquica e na física por queda da resistência imunológica, dando origem à invasão microbiana, virótica, ou mesmo, ao acometimento de doenças auto-imunes, onde o organismo passa a atacar a si próprio.

Isso nos torna diretamente responsáveis pelo nosso próprio bem-estar. Alimentação inadequada (provocando azia, gastrite, diarréia, prisão de ventre etc.), atividades físicas desequilibradas, repouso insuficiente, cigarro e bebida, são todos estressores potenciais, segundo dados de pesquisas recentes, que também relacionam o binômio estresse-obesidade. O estudo do perispírito colabora para explicar como a inadequada atuação sobre a matéria biológica afeta a saúde da mente e do espírito e vice-versa.

A Psicologia, o Espiritismo e a ciência, como um todo, mostram que a solução se encontra na transformação de nós mesmos, em todos os níveis, inclusive no ético-moral. Há a necessidade de determinação vital para a modificação de hábitos, acrescentando vida aos nossos dias. A chamada Reforma Íntima deve se fazer acompanhar por um processo contínuo de Autoconhecimento (ver questão 919, em O Livro dos Espíritos). Quando uma pessoa não conseguir isso sozinha, ela não deve deixar de procurar a ajuda de amigos e parentes, de um terapeuta especialista, e de Deus.

Em relação ao estresse e a depressão, pesquisas mostram que as técnicas de psicoterapia em grupo e programas educacionais conseguem as maiores taxas de sucesso, seguidas pela Acupuntura e as técnicas variadas de relaxamento (massagem bioenergética, Yoga etc.), e depois pela medicação alopática. As técnicas de auto-ajuda com áudio e vídeo alcançam menos resultados, mas combinações das várias técnicas citadas conseguem resultados ainda melhores, pois uma técnica potencializa a outra. Psicoterapia Individual também tem alta taxa percentual de sucesso. Exercícios físicos, cultivo do bom-humor e reeducação alimentar possuem comprovadamente, efeitos terapêuticos contra o estresse e a depressão, especialmente quando presentes em contexto interdisciplinar com as terapias psicológicas citadas. Nesse caso, abre-se espaço de atuação para outros profissionais como fisioterapeutas, professores de educação física, nutricionistas e médicos naturalistas trabalharem em conjunto.

Quanto à dimensão espiritual, estudos embasados em pesquisas experimentais mostram que ao se buscar a verticalidade do relacionamento com a Providência (Deus), o estresse é modificado e administrado dentro dos parâmetros de máxima saúde e capacidade reprodutiva (Fajardo, 1997). O interessante é que esse fato é observado tanto por pesquisadores de orientação espírita, quando por pesquisadores não-espíritas. A pesquisa em ciência espírita conclui, portanto, que um serviço de orientação espiritual - coligado aos trabalhos terapêuticos citados nas pesquisas realizadas - é um procedimento complementar útil à manutenção da saúde integral do corpo, da mente e do espírito.



Adalberto Ricardo Pessoa*



Referência Bibliográfica Complementar:

- Fajardo, Augusto e cols. Qualidade de vida com saúde total. Vila Prudente: Editora Health Ltda, 1997. (Pág. 403: artigo “Como enfrentar o estresse” do Dr. Irineu César Silveira dos Reis).


*Psicólogo Clínico e Analista Junguiano e Transpessoal formado pela USP, Membro da Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas (ABRAPE)


Fonte: Jornal O Semeador – maio/2002
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

BASES ESPÍRITAS NA PSICOLOGIA

A psicologia, sem sombras de dúvidas, sofre grande impulso científico com o advento dos trabalhos de Freud, logo seguindo-se Jung com maior riqueza científica.

No final do século XIX e início deste (séc. XX), era voz corrente entre os estudiosos e laboradores da psicologia que, se abandonássemos as ideias freudianas, inapelavelmente cairíamos em Jung, porquanto, nesta época, os descortinadores dos véus da alma mostravam-se, com certa eficiência, dentro das razões científicas. Entretanto, novas escolas e modificações nos conceitos dos criadores da psicologia profunda muito deve a Jung, não só pela retomada das ideias freudianas onde ele parou, mas, principalmente, pelo enriquecimento de conceitos e hipóteses de trabalho. Jung divergiu de Adler, também seu contemporâneo, por este ter tomado rumos que se afastavam da psicanálise – em reentronizando o EU, fez uma espécie de volta da psicologia à superfície do psiquismo, valorizando, quase com exclusividade, a zona consciente, sem a devida penetração na energética de profundidade como exigência de uma época. Jung, ao contrário, ofereceu bons mergulhos no inconsciente criando muitas luzes, mas, mesmo assim, deu violentas paradas por faltarem lastros científicos de elementos outros que tinha receio de admitir oficialmente – a imortalidade do inconsciente (Espírito) e o processo renovador das reencarnações.

Todas essas discussões mostravam as fraquezas da psicologia profunda diante das estruturas de suas hipóteses. Os mais atilados de antanho e dos nossos dias, não combatem a ideia do inconsciente, pois reconhecem as autenticidades desse bloco de energias que carregamos; discutes-se, sim, principalmente nos dias atuais, a origem da zona inconsciente e sua estruturação.

Se Adler fez um retorno à zona consciente, Jung mergulha no estofo do bloco anímico. Freud fica numa posição intermediária com o mérito de ter sido o responsável pela abertura dos véus da alma. Foram, justamente, essas três escolas que possibilitaram os sentimentos onde o movimento psicanalítico tomava assento. Em seu movimento inicial, na Europa, houve muitas discussões, especulações, desconfianças, confianças excessivas, de modo a redundar num mar de hipóteses e interpretações; mas, com o tempo, se foi fixando e tomando um sentido baseado nas escolas que lhe modelaram os fundamentos.

Freud foi o pioneiro pela descoberta das atividades do inconsciente (a ideia do inconsciente é bem mais antiga); por ser mais um pesquisador deu pouca atenção à terapêutica nestes arraiais em que os médicos procuravam arrecadar novos conceitos. Tanto assim que Alexander, uma das grandes estrelas da psiquiatria, disse: "Essa tradição de pesquisa talvez seja uma das razões pelas quais o método de tratamento psicanalítico mudou muito pouco desde sua origem". Acrescentamos: o método, com sua evolução natural dentro dos conceitos psicológicos, seria mais um método antropológico do que terapêutico; método que buscará, nas novas aquisições por virem, a descoberta do próprio Espírito.

Jung, ao mergulhar no psiquismo, define o inconsciente coletivo, seus arquétipos e símbolos, faltando-lhe homologar o lastro imenso do pretérito, resultado de autênticas vivências sempre reedificadas pelo mecanismo reencarnatório. A estrutura do inconsciente, apresentada por Jung em 1902, foi o resultado de um estudo atento e bem penetrante sobre o desenvolvimento anímico de uma sonâmbula. Jung percebeu a existência dos mecanismos do inconsciente, mas esbarrou no processo de imortalidade. Isolando esta proposta, além da difícil aceitação pelo meio científico, criou, com sua enciclopédica cultura, uma psicologia de difícil entendimento. Em 1916, fez novo retoque sobre a conceituação do inconsciente e nos dá uma palavra final sobre o assunto, em 1928, assim mesmo afirmando que cabe ao futuro uma melhor avaliação de sua energética. Entretanto, deixou bem demarcado que a mente possui legados de conteúdos históricos, verdadeiras moldagens arcaicas que se tornam presentes na zona consciente, por diversos motivos, principalmente os de caráter emocional. Muitos quadros clínicos da psiquiatria, lastreados em exaltação emocional manifesta, podem remover para a zona periférica do psiquismo (zona consciente) aqueles blocos de energias internas como se fora uma drenagem.

Tudo isso vem mostrar uma verdade psicológica que só poderá ser entendida com a ideia de perenidade do inconsciente; o que vale dizer, de imortalidade. Inconsciente imortal, com seus conteúdos históricos, só poderá ser compreendido como o Espírito perene, lastreado nas experiências reencarnatórias. Dentro do pensamento espírito (imortalidade, reencarnação, comunicações entre Espíritos) melhor compreenderemos a abertura freudiana e a construção junguiana, apesar das suas ainda limitadas proposições.

Até hoje os psicologistas não conseguem bem entender Jung sobre os arquétipos, a ponto de Ramon Sarró dizer que os arquétipos não podem ser "a decantação de vivências de nossos antepassados pré-históricos. Serão produtos das atividades da imaginação? Mas, que é a imaginação? Mas, qualquer que seja o pensamento sobre os arquétipos a realidade dos mesmos não pode ser negada". A personalidade Maná, abordada por Jung, com suas estruturas arquetípicas, mostra a importância desses fatos psicológicos. Personalidade Maná – ser pleno de qualidades ocultas – em termos junguianos é merecedora de análise: "Reconheço que em mim atua um fator psíquico que se oculta diante de minha vontade consciente. Inspira-me ideias extraordinárias, ao lado de produzir afetos e caprichos em minha natureza. Sinto-me importante diante desses fatos e o que considero pior, estou atado a esses fatos de modo a admirá-los". Muitos consideram e traduzem essa confissão como típica de um temperamento artístico e mesmo filosófico. Acentua ainda Jung: "A personalidade Maná é dominante no inconsciente coletivo, é o arquétipo do homem poderoso em forma de herói, mago, santo, curandeiro, dono de homens e Espíritos, amigo de Deus".

Não podemos deixar de ver e sentir o tácito reconhecimento de Jung dos processos espirituais na psicologia, embora tendo de contorná-los e aproximá-los da ciência de seu tempo. Basta, para isso, analisar a essência da Doutrina Espírita.

Foram as expansões dos arquétipos que propiciaram a Jung a construção de interessantes explicações de muitos fenômenos psicopatológicos, incluindo as neuroses, afastando-se das ideias freudianas que tudo localizavam na infância. Ampliando os conceitos das neuroses chega a admitir uma espécie de amestralidade dos arquétipos neste contexto, coisa, aliás, que ficou muito a desejar. Tudo isso porque o método psicanalítico e os de psicanálise conduzem ao conhecimento das estruturas psíquicas, jamais a um vibrante método de analises do psiquismo como métodos de pesquisa antropológica. É bem verdade que diante de um melhor conhecimento poderemos ter melhores possibilidades de tratamento. A sondagem em uma boa trilha pode levar ao tratamento, mas ela, por si só, não é método terapêutico.

Se atentarmos para os arquétipos, a personalidade Maná, o relacionamento com as neuroses e tantas outras explosões do inconsciente na zona consciente, anotadas por Jung, quer as de caráter hígido e as conotações patológicas, chegamos à conclusão de quanto os conceitos da Doutrina Espírita asseguram melhor compreensão e avaliação da zona inconsciente que, em última análise, representa o Espírito.

Os arquétipos junguianos, nas malhas estruturais do inconsciente coletivo, só podem mostrar, autêntico sentido, se dermos a eles a natural formação arquimilenar ao lado da constante construção maturativa nas experiências das etapas reencarnatórias. Quando Ramon Sarró conclama que o arquétipo não pode ser a decantação de vivências de nossos antepassados pré-históricos e que somente a imaginação poderá assim concebê-los, é por ter ficado num grande impasse ao perceber, no arquétipo, a história da humanidade. Podemos mesmo afirmar: os arquétipos são as construções adquiridas nas imensas etapas reencarnatórias, às expensas das diversas personalidades corpóreas que vamos desfilando pela vida afora.

Por tudo, achamos que Jung foi um dos grandes missionários da psicologia: muito fez e mostrou, tentou muitas vezes aproximar-se da metafísica, naquilo que a ciência do seu tempo podia suportar. Se hoje retomarmos à psicologia de Jung e conceituamos as zonas do psiquismo, colocando os arquétipos sob forma de núcleos em potenciação e os situando numa zona específica denominada de inconsciente passado, e admitindo a esses núcleos um constante burilamento e crescimento diante das experiências milenares das reencarnações, cremos que melhor atenderemos à psicologia. Diante da imortalidade do inconsciente ou zona espiritual e da comunicabilidade dos Espíritos em face dos fenômenos mediúnicos com suas múltiplas facetas, melhor entenderemos os complexos afetivos e a personalidade Maná tão bem equacionados por Jung. Com isso, poderemos ajudar a construção da psicologia com as exigências próprias de cada época, compreendendo os lidadores e construtores onde os lugares de Freud e Jung já estão reservados.

A Doutrina Espírita, perante as aquisições e pesquisas dos dias atuais, lastreada nas experiências de todas as épocas, possui condições de oferecer ao homem aturdido de nossos tempos um caminho bem autêntico, sem afastá-lo de suas verdades científicas. A Doutrina Espírita se faz, por excelência, dinâmica, acompanhando o pensamento humano, dando-lhe, entretanto, lógica e fé raciocinada como elementos indispensáveis para o surgimento do homem novo. O homem novo, que nada mais seria do que a velha estrutura, mais bem burilada e temperada nos contratempos e gratificações psicológicas, em novos corpos, mais ágeis, exigindo, principalmente das estruturas espirituais, temas da evolução, o esclarecimento das estruturas espirituais.



Dr. Jorge Andrea



Fonte: do livro "Enfoques científicos na Doutrina Espírita"
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal