sábado, 16 de maio de 2020

LEI DE CAUSA E EFEITO (CARMA)


Os centros de força, que são fulcros energéticos, são influenciados pelas energias originárias das vidas pretéritas da alma que, na nova encarnação, imprime às células a especialização extrema na formação do corpo denso do homem, especialização que todos detemos no corpo espiritual em recursos equivalentes. Essas células obedecem às ordens do espírito, diferenciando-se e adaptando-se às condições por ele criada, procedendo do elemento primitivo, comum, de que todos provimos em laboriosa marcha no decurso dos milênios. É assim que “A enfermidade, como desarmonia espiritual, sobrevive no perispírito”. Pois tal seja a viciação do pensamento, tal será a desarmonia no centro de força, que reage nosso corpo a essa ou àquela classe de influxos mentais, uma vez que toda a mente é dínamo gerador de força criativa. Quando a nossa mente, por atos contrários à lei divina, prejudica a harmonia de qualquer um desses fulcros de forças, a nossa alma naturalmente se escraviza aos efeitos da ação desequilibrante obrigando-se ao trabalho de reajuste. E é assim que, muitas vezes, numa nova encarnação, encontramos pessoas com problemas mentais ou de paralisias físicas, “apresentando estado morfológico conforme o campo mental a que se ajusta”.

A zona de remorso

A recordação dessa ou daquela falta grave, principalmente daquelas que repousam recalcadas no espírito, sem que o desabafo e a corrigenda funcionem por válvulas de alivio às chagas ocultas do arrependimento, cria na mente um estado anormal que podemos classificar de “zona de remorso”, em torno da qual a onda viva e contínua do pensamento passa a enrolar-se em circuito fechado sobre si mesmo, com reflexo permanente na parte do veículo fisio psicossomático ligada à lembrança das pessoas e circunstâncias associadas ao erro de nossa autoria. Isso é bem exemplificado por André Luiz no livro Entre a Terra e o Céu, onde ele relata a questão de Júlio, que, em uma existência, teria aniquilado o veículo físico tomando uma grande quantidade de corrosivo e, mesmo sobrevivendo à intoxicação, fez uma nova tentativa de aniquilar o corpo físico lançando-se à funda corrente de um rio, nela encontrando o afogamento. Na oportunidade seguinte que lhe foi dada, reencarnou junto das almas com as quais se mantinha associado para a regeneração do pretérito, mas infelizmente encontrou dificuldades naturais para recuperar-se, desencarnando ainda menino, vítima de um novo afogamento. E quando chegou o momento de um novo renascimento, para que pudesse se reajustar dentro das leis divinas e recuperar-se mentalmente, equilibrando o “centro laríngeo”, reencarnou, dessa vez, com o corpo fisiológico deficiente, sofrendo do órgão vocal que se caracterizou por fraca resistência aos assaltos microbianos e que, de algum modo, lhe retratou a região lesada. Nesse exemplo, observamos que estabelecida a ideia fixa sobre “o nódulo de força mental desequilibrado”, foi indispensável que houvesse acontecimentos reparadores para que Júlio se sentisse redimido perante a lei, mudando, portanto, seu campo mental.

Somos todos responsáveis

Não podemos esquecer que a imprudência e a ociosidade se responsabilizam por múltiplas enfermidades, como sejam os desastres circulatórios provenientes da gula, os quadros infecciosos pela ausência da higiene comum, os desequilíbrios nervosos da toxicomania e o depauperamento decorrente de vários excessos.

De modo geral, porém, as doenças perduráveis, que destroem o corpo físico, têm suas causas no corpo espiritual, pois as energias na nossa alma expressam as chamadas dívidas cármicas, por serem consequências das causas infelizes que nós mesmos plasmamos, e são transferíveis de uma existência para outra, uma vez que é a nossa mente, através da energia do nosso pensamento, que, de forma inconsciente, muitas vezes, nos cobra ou nos absolve das faltas cometidas, lançando-nos ou tirando-nos da “zona de remorso”. Existem casos em que, mesmo em estado de recuperação perispirítica, a presença de pessoas desafetas responsáveis por essas zonas pode levar a violentos choques psíquicos, com o que as emoções se lhe desvairam afastando-se da necessária harmonia. A mente desorientada perde o controle da organização perispirítica e dos elementos fisiológicos, assumindo condições excêntricas, dispersando as energias que lhe são peculiares. Essas energias passam a atritar-se e a emitir radiações de baixa frequência, aproximadamente igual à de que lhe incide o pensamento das vítimas, trazendo, consequentemente, as mais variadas repercussões no corpo somático.

Devemos também lembrar que não apenas os pensamentos voltados para nossas ações pretéritas mantêm-nos presos a esse circuito fechado do pensamento do qual falamos. O pensamento é muito mais amplo do que a nossa consciência pode alcançar. Subsistem aqueles (o pensamento) em que se fazem inconscientes em nossa mente, também trazidos por lembranças das faltas por outros cometidas, que nos atingiram, deixando marcas no nosso corpo espiritual e que, hoje, ao depararmo-nos em um novo reencontro, sentimos no corpo carnal os efeitos desses males, efeitos estes apresentados muitas vezes na forma de simples sintomas ou mesmo de uma enfermidade instalada.

O pensamento, como uma modalidade de energia sutil atuando em uma forma de onda, com velocidade muito superior à da luz, quando de passagem pelos lugares e criaturas, situações e coisas que nos afetam a memória, agem e reagem sobre si mesmos, em circuito fechado, trazendo-nos, assim, de volta as sensações desagradáveis hauridas ao contato de qualquer ação desequilibrante. Isso tudo acontece porque, quando nos rendemos ao desequilíbrio ou estabelecemos perturbações em prejuízo dos outros, plasmamos nos tecidos fisio psicossomáticos determinados campos de ruptura na harmonia celular, criando predisposições mórbidas para essa ou aquela enfermidade e, consequentemente, toda a zona atingida torna-se passível de invasão microbiana.

Reforma íntima

Quando é desarticulado o trabalho sinergético das células nesse ou naquele tecido, intervêm as unidades mórbidas, quais o câncer, que nessa doença imprime acelerado ritmo de crescimento a certos agrupamentos celulares, entre as células sãs do órgão em que se instalam, causando tumorações invasoras e metastáticas, compreendendo-se, porém, que a mutação no início obedeceu à determinada distonia, originária da mente, cujas vibrações sobre as células desorganizadas tiveram o efeito das projeções de raios x ou de irradiações ultravioletas, em aplicações impróprias.

Quando o doente adquire um comportamento favorável a si mesmo, num crescente de humildade, paciência, devotamento ao bem, num profundo processo de renovação moral, as forças físicas encontram sólido apoio nas radiações de solidariedade e reconhecimento que absorve de quantos lhe recolhem o auxílio direto ou indireto, conseguindo conter a disfunção nos neoplasmas benignos que ainda respondem à influência organizadora dos tecidos adjacentes. Devemos, portanto, reconhecer o quanto é importante o equilíbrio de nossa mente, pois com as aquisições e observações da psicopatologia, podemos observar a intervenção dos fatores internos ou psicogênicos em todas as atividades do organismo físico.

O aparelho cerebral

André Luiz, no livro No Mundo Maior, falando sobre o sistema nervoso, observa em preciosa síntese que: “No sistema nervoso, temos o cérebro inicial, repositório dos movimentos instintivos e sede das atividades subconscientes. Na região do córtex motor, zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, temos o cérebro desenvolvido, consubstanciando as energias motoras de que se serve a nossa mente para as manifestações imprescindíveis no atual momento evolutivo do ser. Nos planos dos lobos frontais, silenciosos ainda para a investigação científica do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que conquistaremos gradualmente, no esforço de ascensão, representando a parte mais nobre do nosso organismo divino em evolução.

Não podemos dizer que possuímos três cérebros simultaneamente. Temos apenas um que se divide em três regiões distintas, onde, no primeiro, situamos a “residência de nossos impulsos automáticos”, simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados; no segundo, localizamos o “domicílio das conquistas atuais”, onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos edificando; no terceiro, temos a “casa das noções superiores”, indicando as eminências que nos cumpre atingir. Num deles, moram o hábito e o automatismo. No outro, residem o esforço e a vontade; e, no último, moram o ideal e a meta superior a ser alcançada. E assim distribuímos o subconsciente, o consciente e o superconsciente. Como vemos, possuímos em nós mesmos o passado, o presente e o futuro”.



Fonte do Texto e da Gravura: TDM e MAGNETISMO da A.B.C.E. BATUÍRA: Lei de Causa e Efeito (Karma)
tdmmagnetismobatuira.blogspot.com/2014/02/lei-de-causa-e-efeito-karma.html

APRENDER A SER


A meditação é um estado de ser em que não estamos a pensar, não estamos a imaginar, não estamos a ter conversas imaginárias com ninguém. Estamos em perfeita paz, em perfeita quietude, em perfeita tranquilidade. No silêncio da meditação, quando vamos além do pensamento e da imaginação, estamos a aprender a ser. A ser nós mesmos, não a ser como se nos estivéssemos a autodefinir através de alguma atividade, quer esta seja alguma forma de trabalho ou de processo de pensamento, mas simplesmente a ser. Ser a pessoa que somos, sem tentar justificar a nossa existência ou inventar desculpas pela nossa existência. Ser apenas como somos. […]

Passamos além de todas as imagens, acima de tudo da imagem que temos de nós mesmos. Despimo-nos de todas as nossas máscaras. Depomo-las […] ao nosso lado, à medida que começamos a tornar-nos a pessoa real que somos, em absoluta simplicidade. Estamos a dizer o nosso mantra, não para impressionar alguém; estamos a dizer o nosso mantra para deixarmos todas as imagens, todas as palavras, para trás, para podermos estar em total simplicidade. […]

Quando estamos a meditar, não só não tentamos responder a uma imagem de nós próprios ou à imagem que qualquer outra pessoa tem de nós, mas, ao meditar, abrimos mão de todas as imagens. É o processo de nos esvaziarmos de toda a fantasia, de todas as imagens, de toda a irrealidade, abrindo espaço para o verdadeiro eu, a pessoa verdadeira que somos. Estamos a libertar-nos das imagens, das fantasias, dos medos e desejos que nos retiram a liberdade de ser quem somos. Na visão cristã da meditação, todo o propósito do processo é libertar o nosso espírito para ficar aberto à infinidade, permitir que o nosso coração e a nossa mente, o nosso ser todo, se expanda para além das barreiras do nosso próprio eu isolado e atingirmos a união com todos, com Deus.


Dom John Main, OSB



Fonte: “Aprender a Ser” - John Main OSB, (excerto) in “A Fome de Profundidade e Sentido” (no original: “THE HUNGER FOR DEPTH AND MEANING” - Singapore:Medio Media, 2007 -  pp. 125-6.)
https://www.meditacaocrista.com/leituras-semanais/archives/09-2016
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

DOS CORPOS ESPIRITUAIS (A VISÃO DE ANDRÉ LUIZ)


[...] algumas considerações a respeito do problema dos corpos espirituais na obra de André Luiz, psicografada pelo médium Chico Xavier, procurando esclarecer alguns detalhes que parecem bastante importantes.

A partir de seu primeiro livro, Nosso Lar, no qual relata suas primeiras experiências no plano espiritual, André Luiz faz referência a vários corpos espirituais: duplo etérico, corpo astral, corpo mental e corpo causal.

Inicialmente, devemos lembrar que ele utiliza o termo perispírito em sentido estrito, para significar apenas o segundo corpo após o organismo físico, que sobreviverá a este com algumas diferenças. Ele usa os termos corpo astral, corpo espiritual e psicossoma como sinônimos. Para os outros corpos, utiliza vocábulos consagrados entre os magnetizadores e espiritualistas (duplo etérico, corpo mental e corpo causal). Ele não se refere à existência de outros corpos que correspondessem aos denominados corpos moral, intuitivo e consciencial, isto é, os Aerossomas V, VI e VII da classificação de Charles Lancelin. A divergência pode se tornar uma simples questão de palavras se encararmos o perispírito como sendo um corpo complexo, formado, por assim dizer, de “camadas”, sintetizando todos os corpos espirituais.

Para o dr. Antônio J. Freire, a concepção clássica do ternário humano não implica necessariamente a homogeneidade do perispírito. As palavras pouco importam aos espíritos, competindo ao homem formular uma linguagem que elimine controvérsias.

Duplo Etérico

No primeiro volume de Doutrina e Prática do Espiritismo, Leopoldo Cirne (1870-1941) já deduzia, das experiências de materialização, a existência de um corpo invisível no ser encarnado, distinto do perispírito, que poderia subsistir por algum tempo depois da morte física, mas que não permaneceria ligado ao espírito desencarnado. Ele o denominou como corpo etéreo, duplo astral, corpo astral, que seria responsável pela possibilidade de materialização dos espíritos. Depois, em O Homem Colaborador de Deus, publicado após sua morte, Cirne manteve seu ponto de vista sobre a existência de um corpo não-físico durante a vida.

Em Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz diferencia o perispírito (tratado por ele também como corpo astral, corpo espiritual e psicossoma) do duplo etérico, cuja natureza ele esclarece ser “um conjunto de eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, (...) formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior afastamento da organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao instrumento carnal por ocasião da morte renovadora”.

O duplo etérico não é mais do que o corpo vital, também denominado de corpo ódico e corpo ectoplásmico, exatamente o que cede o ectoplasma para a produção de efeitos físicos. Nas ocorrências de materialização, por exemplo, ele pode se desdobrar a partir do corpo físico, permitindo ao espírito comunicante uma sobreposição, quando a manifestação acontece com apropriação por parte daquele, ou apenas ceder o ectoplasma disforme, que possibilita ao espírito construir um corpo. No primeiro caso, o espírito materializado guarda uma certa semelhança com o médium, proporcionando aos críticos apressados a alegação de fraude. No entanto, sua função em relação à mediunidade não se limita a esses fenômenos, dizendo respeito a toda espécie de fenômeno mediúnico.

Tendo perdido o duplo etérico ou corpo vital, constituído dos fluidos vitais aos quais Kardec se referia, ao se desligar do corpo físico pelo desencarne, o espírito dele necessita para sua ligação com o médium, modo pelo qual se recupera parcialmente o elemento perdido, possibilitando-lhe agir sobre a matéria. Quando o médium se desdobra sem muita prática, faz com que o duplo etérico seja levado para fora do corpo físico, aparecendo ao vidente como se fosse um duplo do indivíduo, porém, com deformações. Por isso, ele não poderá ficar mais do que cinco ou dez metros longe do corpo físico, pois a ultrapassagem desse campo causaria sua morte. Por outro lado, pode surgir ao vidente como um fantasma, com cores diferentes do lado direito e esquerdo, às vezes, também com a cor azul.

Nas experiências realizadas pelo coronel Albert de Rochas com Eusápia Paladino em estado de hipnose, a médium descreveu o surgimento de um fantasma de cor azul, de cuja substância o espírito de John se servia durante as reuniões. O fato confere com as explicações fornecidas pelo espírito Katie King e constantes no relatório de Florence Marryat, que abordavam a existência de um corpo do qual se servia, mas que lhe apresentava tamanha resistência passiva que não era possível evitar os traços de semelhança com o médium durante as materializações. A vidente Prevorst denominou esse corpo de “espírito de nervos” ou “princípio de vitalidade nervosa”, cuja função seria permitir a ligação do espírito com o corpo. Uma sonâmbula do reverendo Werner também se referiu a um “fluido nervoso” que seria indispensável para que a alma entrasse em relação com o corpo.

Durante suas experiências de magnetização dos sensitivos, Albert de Rochas, Hector Durville, H. Baraduc e outros verificaram que estes descreviam o desdobramento de um “fantasma ódico” que tinha uma cor alaranjada à direita e azulada à esquerda, estando ligado ao corpo físico por um cordão fluídico fixado na região esplênica.



Fonte do Texto e da Gravura: TDM e MAGNETISMO da A.B.C.E. BATUÍRA
tdmmagnetismobatuira.blogspot.com/2013/05/dos-corpos-espirituais-visao-de-andre.html

CORPO FÍSICO E VIBRAÇÕES DA CONSCIÊNCIA SUPERIOR


Eis aqui as providências essenciais, que permitem ao corpo físico responder às vibrações da consciência superior:

- Eliminar os materiais grosseiros que este corpo encerra, por meio de uma alimentação e vida puras;

- Subjugar inteiramente as paixões e cultivar sempre um equilíbrio emocional e mental que não seja afetado pelo turbilhão e vicissitudes da vida exterior.

- Acostumar-se à meditação calma sobre assuntos elevados, desviando a mente dos objetos dos sentidos, assim como das imagens mentais deles derivadas, para fixá-la em coisas superiores.

- Evitar toda a pressa, e sobretudo esta excitação febril do pensamento, que obriga o cérebro a trabalhar continuadamente, saltando de um assunto para outro.

- Desenvolver um amor sincero pelas coisas do mundo superior, que as torna mais atraentes que as do inferior, de modo que a mente descanse em sua companhia como na de um amigo querido.

De fato, estas providências são semelhantes às que se necessitam para que a alma se separe conscientemente do corpo, e que já foram assim descritas (*):

- O estudante deve começar pela prática de uma extrema ponderação em todas as coisas, cultivando um estado equânime e sereno da mente.

- Sua vida deve ser limpa e os seus pensamentos puros, trazendo o seu corpo numa constante submissão à alma, e sua mente treinada a se ocupar com assuntos nobres e elevados.

- Deve fazer da compaixão e da simpatia um hábito constante, sempre disposto a ir em auxílio dos outros sem se preocupar com as contrariedades e satisfações que o afetam pessoalmente.

- Deve cultivar a coragem, a constância e a devoção.

- Em resumo, deve viver a religião e a ética que, para outras pessoas, é apenas verbal.

- Tendo aprendido, por uma aplicação perseverante, a governar a sua mente até certo ponto, de modo a mantê-la fixa, durante algum tempo, em uma mesma linha de raciocínio, deve iniciar para ela um treinamento mais rígido ainda, por uma prática diária de concentração sobre algum assunto difícil ou abstrato, ou sobre algum objeto de elevada devoção. Esta concentração significa a firme fixação da mente em um ponto único, sem oscilar, sem distrair-se com objetos exteriores ou com a atividade dos sentidos, ou mesmo com a da mente. Ela deve ser mantida com fixidez e energia inflexíveis, até que, finalmente, aprenda assim a retirar sua atenção tão completamente do mundo exterior e do próprio corpo, que os sentidos possam permanecer calmos e tranquilos, enquanto a mente está intensamente ativa, com todas as suas energias concentradas para o interior e dirigidas sobre um único ponto de pensamento, o mais elevado que lhe seja possível alcançar.

- Uma vez que ela seja capaz de manter-se assim com certa facilidade, está pronta para mais um passo: por um esforço poderoso, mas calmo da vontade, a mente lançar-se-á além do mais elevado pensamento que possa atingir enquanto funcionar no cérebro físico, e nesse esforço se elevará e se unirá com a consciência superior e achando-se livre de seu corpo físico.

- Quando isto for conseguido, não se experimenta nenhuma impressão de sono ou de sonho, nem de qualquer perda de consciência. O homem acha-se fora de seu corpo, com a sensação de sentir-se aliviado de um fardo pesado, e não de haver perdido qualquer parte de si mesmo. Não está realmente privado do corpo, apenas elevou-se fora de seu corpo físico para um corpo de luz que obedece aos seus mínimos pensamentos e lhe serve como um belo e perfeito instrumento para a execução de sua vontade. Revestido deste corpo, pode percorrer à vontade os mundos sutis, mas as suas faculdades necessitarão de uma educação longa e cuidadosa, antes de poderem trabalhar, de maneira confiável, nestas condições novas.

- Pode-se chegar a libertar-se do corpo ainda por outros métodos: pelo êxtase intenso de devoção, ou por métodos especiais que um grande Instrutor pode comunicar ao seu discípulo. Qualquer que seja o método, o fim é o mesmo: a libertação da alma plenamente consciente, capaz de examinar seus novos ambientes que se situam em regiões inacessíveis ao homem de carne. Pode retornar à vontade ao corpo e nele entrar, e nestas condições, pode imprimir no cérebro físico e transmitir ao estado de vigília a lembrança das experiências que adquiriu.


Annie Besant


Nota: (*) Em "Condições da Alma Depois da Morte", Nineteenth Century, Nov. 1896.


Fonte: do livro "A Sabedoria Antiga"
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

A REALIDADE DURA E CRUA DA IMPERMANÊNCIA E DO VAZIO


Se quisermos abraçar a eternidade da completude do ser (o “EU SOU” de Deus), temos que, primeiro, encarar a realidade dura e crua da impermanência e do vazio. Temos sempre a tentação de lhe reduzir a intensidade, de descê-la a um grau inferior de consciência e, até, de adormecer. O Buda chamou-nos a atenção para este enevoar da mente, neste ou até mesmo em qualquer outro momento da nossa viagem, com intoxicantes e sedativos, estimulantes ou tranquilizantes. Jesus instou todos a manterem-se totalmente conscientes:

“Ficai alerta, ficai despertos. Não sabeis quando o momento chegará… Vigiai pois não sabeis quando virá o dono da casa. À noitinha ou à meia-noite, ao cantar do galo ou ao início da madrugada; se ele vier subitamente, que não vos encontre a dormir. E o que vos digo a vós digo a todos: vigiai.” (Mt. 13:33-37)

Na Epístola aos Efésios, S. Paulo diz que este estado de vigília conduz aos “poderes espirituais da sabedoria e da visão” e em direção à gnose, ao conhecimento espiritual. Mas, mesmo com a mais forte das fés, o sentimento de separação, pleno de tristeza, não é imediatamente dissipado, mesmo quando a sabedoria começa a refulgir. O muro do ego pode parecer um obstáculo insuperável, um beco sem saída que não nos deixa qualquer escapatória. Mas, tal como nos recorda a Ressurreição, o que parece ser o fim, não o é, na realidade. Encarando o nosso egoísmo entrincheirado e reconhecendo a sua morte lenta, a meditação ajuda-nos a verificar a nossa ressurreição na nossa própria experiência.

A lei da natureza inferior, do “karma”, e a dominação pelo ego limitador reinam, reinam, até que aparece um buraco no muro. Primeiro, é um só tijolo que é removido, como se fosse por uma mão invisível, e vislumbramos uma perspectiva para além de tudo o que alguma vez pensamos ou fomos capazes de conhecer. É uma experiência e, no entanto, é conhecida de uma forma diferente de qualquer outra coisa que tenhamos experienciado anteriormente. Já não somos aquela mera pessoa individual que pensávamos ser. A vida mudou de forma irreversível. Vivemos e, no entanto, tal como S. Paulo, já não vivemos. Eu sou porque não sou.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: “O Labirinto” (excerto) – Laurence Freeman OSB, in “Jesus, o Mestre Interior”
(no original: JESUS THE TEACHER WITHIN - New York: Continuum, 2000 - pp. 231-32.)
https://www.meditacaocrista.com/leituras-semanais/archives/01-2015
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html