Quanto à abolição da consciência individual, é uma realidade, se como consciência individual se entende essa consciência fragmentária, passageira, que vos acompanha no curso da vida terrestre; mas, semelhante consciência desaparece, sem que a consciência total seja atingida. Pondera que já perdeste a tua consciência de criança, a tua consciência de mancebo. Contudo, tens nítida a impressão de que a tua individualidade é sempre a mesma, de que és o continuador, se assim me posso exprimir, do bebê que carreguei nos braços. Pois bem: ao dar-se a vossa morte terrena, encontrareis de novo a consciência total, que vos permitirá apreciar o caminho que haveis percorrido e o progresso que houverdes realizado, assim como tomar acertadas resoluções para o futuro.
— Mas, a prova, a prova disso? Dirás.
— Insensato! Poderias demonstrar a um menino que ele virá ter uma consciência de velho? Poderás afirmar-lho; provar-lho nunca o lograrás.
— Apontar-lhe-ei, como exemplos, os seres que o cercam aos milhares e que já foram crianças como ele.
Tudo, então, dependerá da criança. Se a sua espiritualidade já estiver desperta, ela compreenderá. Nada obstante, uma dúvida sempre poderá insinuar-se-lhe no espírito. O menino não se imagina um velho e o próprio mancebo não acreditaria que passará pelas mesmas veredas que guardam as pegadas de seu pai. De sorte que, se é fácil convencer a uma criança de que ela se tornará fisicamente um ancião, possível não é provar-lhe que a sua consciência se modificará sob o feixe dos anos. Um homem, que viveu e sofreu, sabe que a criatura muda com o tempo. A criança não pode apreender isso. E qualquer exceção, que me possas apresentar, em nada alterará as coisas, porquanto, assim como se encontram crianças muito evolvidas, também se encontram medíocres entre os homens. Ora, se não vos é possível provar a uma criança que ela terá futuramente uma consciência de velho, ainda mais difícil é a um Espírito provar ao homem que a sua consciência individual, uma vez abolida, lhe facultará encontrar a sua consciência total.
Em vós, tudo é função do que cai sob os vossos sentidos. Creríeis na luz, se a Humanidade houvesse vivido sempre nas trevas? Conceberíeis o ruído, se sempre houvésseis vivido no seio de um silêncio absoluto? Faríeis, sequer, ideia da necessidade de comer, se tal necessidade não existisse? Então, por que não admitir as outras coisas que ainda não conheceis, mas que aqui existem e que não vos podemos explicar, pela mesma razão por que a ninguém é possível dar explicações sobre as cores a um cego de nascença.
Georges Dejean
Fonte: do livro "A Nova Luz", FEB
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal