sexta-feira, 23 de setembro de 2022

DO PRINCÍPIO INTELIGENTE DOS ANIMAIS AO ESPÍRITO HUMANO


Essa questão já preocupava Kardec, que a expõe aos amigos espirituais nas questões 606a, 607 e 607a de "O livro dos Espíritos", tendo como resposta a informação de que é nesses seres (os animais) que o princípio inteligente se elabora e ensaia para a vida, até sofrer uma transformação para se tornar Espírito. Mais detalhes sobre esse processo são encontrados em "A Gênese", de A. Kardec, cap. XI, itens 15 e 16, onde lemos:

"Corpos de macacos teriam sido muito adequados a servir de vestimentas aos primeiros Espíritos humanos, necessariamente pouco avançados, que vieram encarnar-se na Terra [...], como não há transições bruscas na natureza, é provável que os primeiros homens que apareceram sobre a Terra pouco diferissem do macaco em sua forma exterior e, sem dúvida, também quanto à sua inteligência."

A primeira coisa que nos chama a atenção nesse texto é a informação de que os primeiros Espíritos humanos que encarnaram em nosso planeta teriam se servido de corpos de macacos, pois isso estaria dentro da estrutura da Metempsicose, doutrina da transmigração das almas, de um corpo para outro, havendo a possibilidade de Espíritos humanos reencarnarem em corpos de animais, o que a Doutrina Espírita não aceita (vide questão n. 612 de "O livro dos Espíritos"). Ficamos, então, diante de duas informações, constantes de obras da codificação, que aparentemente se contradizem. No entanto, encontramos dados conciliadores:

• LE 609 – "Não há transição brusca, há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos".

• LE 611 – "No momento em que o princípio inteligente [...] entra no período de humanidade, não tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais, como a árvore não é a semente".

• GE XI.23 – "[...] passando pelos diversos graus da animalidade – seu período de incubação [...] haveria, assim, uma filiação espiritual, como há uma filiação corporal".

O exposto em a "Hipótese sobre a origem do corpo humano", como Kardec ("A Gênese", XI, 15 e 16) coloca, portanto, é bastante razoável, ao considerar:

"Sob a influência da atividade intelectual de seu novo habitante (princípio inteligente que se encontrava entrando no período de humanidade), o envoltório (corpo de macaco) se modificou [...]. Os corpos aperfeiçoados, ao procriarem, deram origem a uma nova espécie que, pouco a pouco, se afastou do tipo primitivo [...]. O Espírito do macaco, que não foi aniquilado, continuou a procriar corpos de macacos [...] o tronco se bifurcou [...]."

É de se imaginar, no contexto da hereditariedade, o trabalho preparatório realizado pelos orientadores desse processo no plano maior. Basta referir o relatado por André Luiz ("Evolução em Dois Mundos", cap. X):

"É assim que, atingindo os alicerces da humanidade, o corpo espiritual do homem infraprimitivo demora-se longo tempo em regiões espaciais próprias, sob a assistência dos Instrutores do Espírito, recebendo intervenções sutis nos petrechos da fonação para que a palavra articulada pudesse assinalar novo ciclo de progresso."

O que foi exposto em "A Gênese", de Kardec, encontra hoje confirmação nos estudos de historiadores ("Sapiens - Uma breve história da humanidade", Y. N. Harari) e de antropólogos ("A saga da humanidade", W. Neves), segundo os quais as várias espécies do gênero humano teriam sua origem no Australopithecus afarensis (austral = sul, pithecus = macaco), espécie de macaco de posição tendendo a ereta que teria vivido no Sul da África há cerca de 3,2 milhões de anos (Figura 1).

Há de se perguntar, das primeiras espécies que emergiram do Australopithecus, qual delas já poderia ser considerada propriamente humana! Por exemplo, o Homo habilis (viveu há 2,3 milhões de anos), apesar de ter sido chamado de Homo, atualmente é rejeitado por muitos pesquisadores como pertencente ao gênero humano, por ter características morfológicas mais parecidas com as do Australopithecus (Figura 1).
Figura 1. Idealização, com base na estrutura óssea dos fósseis encontrados, da figura do Australopithecus afarensis (à esquerda) e do Homo habilis (à direita). Nota-se neste o pequeno desenvolvimento do neurocrânio (parte da estrutura óssea da cabeça correspondente à cavidade craniana, que contém o encéfalo) em comparação ao desenvolvimento mais pronunciado do viscerocrânio (parte da estrutura óssea da cabeça correspondente à face) Fonte: Google imagens.



Comparativamente às características da nossa espécie – Homo sapiens –, sem dúvidas o Homo eretus é o que já corresponderia ao padrão humano. Com essas informações, somos levados a concluir que as espécies intermediárias entre o Australopithecus e o Homo eretus correspondem ao enunciado em "A Gênese", A. Kardec, XI,16: "[...] como não há transições bruscas na natureza, é provável que os primeiros homens que apareceram sobre a Terra pouco diferissem do macaco em sua forma exterior e, sem dúvida, também quanto à sua inteligência”.

Quando nos referimos à essência espiritual do Homo habilis, seria adequado falarmos em princípio inteligente ou em Espírito? Em "O Livro dos Espíritos", questão 611, pode-se ler: "No momento em que o princípio inteligente [...] entra no período de humanidade, não tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais, como a árvore não é a semente". Na visão antropocêntrica, esses dizeres podem parecer sugestivos de que não existe qualquer vínculo do ser humano com os animais. Entretanto, há de se considerar que, além do Criador, só existem dois elementos no Universo: o Espírito e a matéria ("O Livro dos Espíritos", questão 27). Não sendo matéria, conclui-se que o princípio inteligente (dos animais) se encontra na mesma categoria do Espírito (humano).

Com o recurso de uma metáfora, vamos comparar uma semente de laranja a uma laranjeira. Quanto à forma e ao estágio de desenvolvimento, são diferentes, mas se o critério for a essência, veremos que ambas se correspondem e diferem da essência do abacaxi, da uva ou da melancia. Com esse mesmo raciocínio, podemos concluir que o princípio inteligente (dos animais) e o Espírito (humano) encontram-se em diferentes estágios de conformação e de estágio evolutivo, mas correspondem, ambos, à mesma essência ("O Livro dos Espíritos", questões n. 606a e 607).

Mais importante que a tentativa de uma resposta adequada ao dilema proposto é a evidência de que a transformação do princípio inteligente em Espírito representa um processo dentro do qual, para uma grande faixa limítrofe com o Australopithecus, permanece a dúvida. Não por outra razão, André Luiz ("Evolução em Dois Mundos", cap. X) refere-se à criatura que ocupa essa faixa como “homem infraprimitivo”, sendo nesse indivíduo que os artífices do plano maior investiram intensamente para o progresso de sua evolução e consequente eclosão do gênero humano. Assim, o autor espiritual continua:

"Aprende então o homem, com o amparo dos Sábios Tutores que o inspiram, a constituição mecânica das palavras [...] para a criação, enfim, da linguagem convencional, com que reforça a linguagem mímica e primitiva, por ele adquirida na longa viagem através do reino animal."

No item seguinte, “Pensamento contínuo”, André Luiz ("Evolução em Dois Mundos", cap. X) esclarece:

"Pela compreensão progressiva entre as criaturas, por intermédio da palavra, fundamenta-se no cérebro o pensamento contínuo e, por semelhante maravilha da alma, as ideias-fragmentos da crisálida de consciência, no reino animal, se transformam em conceitos e inquirições, traduzindo desejos e ideias de alentada substância íntima."

Quanto ao despertar do senso moral, ensina André Luiz ("Evolução em Dois Mundos", cap. X):

"Começando a fixar o pensamento em si mesmo [...] [o homem infraprimitivo] passa a exteriorizar, inconscientemente, as próprias ideias e, durante o sono comum, a desprender-se do carro denso de carne [...] para receber, junto do corpo adormecido, a visita dos Benfeitores Espirituais que o instruem sobre as questões morais. A vida moral começa a ocupar-lhe o crânio [...].

No ("Evolução em Dois Mundos", cap. XI), “Evolução morfológica e moral”, André Luiz complementa:

"A evolução prosseguiu [...]. O crânio avançou [...] os braços refinavam-se, as mãos adquiriam excelência táctil, os sentidos progrediam [...]. Assim, interpreta a importância de sua presença na Terra [...]. Incorporando a responsabilidade, pela consciência desperta, os princípios de ação e reação funcionam [...] assegurando-se a liberdade de escolha e impondo-lhe os resultados respectivos.



Dr. Carlos Eduardo Accioly Durgante
Dr. Paulo Rogério Dalla Colletta de Aguiar
(organ.)



Fonte: do livro "Psiquiatria Iluminada - As contribuições de André Luiz pela psicografia de Chico Xavier", 1ª Ed., 2021
Conversão para ebook: Cumbuca Studio
Associação Médico-Espírita do Brasil/AME-Brasil - São Paulo (SP)
www.amebrasil.org.br
amebrasil@amebrasil.org.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/evolu%c3%a7%c3%a3o-intelig%c3%aancia-artificial-3885331/

A QUESTÃO FEMININA NA INICIAÇÃO

Todas as Tradições nos ensinam que o acaso não existe, que a manifestação seja somente unida e participante de um único plano providencial e geral, e diferenciado em partes desiguais e que se harmonizam entre seus dias. Que as duas partes sejam complementares não significa que sejam iguais nem intercambiais, significa que no drama de sua existência uma parte é necessária à outra. A desigualdade entre as partes depende dos seus diversos modos de ser. A lei da manifestação é a diversidade e, portanto, duas partes não podem ser iguais sem que uma elimine a outra.

Assim a existência de uma “criatura” é determinada pelo próprio modo de ser e a diferença física vai de acordo com a correspondente de uma diferença espiritual. Não se é homem ou mulher fisicamente se não se o é espiritualmente. O sexo não é outro que uma consequência de uma variação inicial. No momento da separação algumas qualificações essenciais foram atribuídas ao macho e outras a fêmea, determinando dois diversos modos de ser e duas diversas funções. O macho e a fêmea, distanciando-se do Centro Divino, se tornaram involuídos na materialidade adquirindo características, que vez por outra, foram apensadas (acrescentadas, reunidas, incorporadas) e tornaram-se grosseiras e distorcidas qualificações de que foram dotados na origem. Além disso, o macho e a fêmea são postos em contínua oposição entre si e em recíproca procura de uma integração que até hoje se expressa somente na prevaricação de um ser sobre o outro; é a fonte de confusão entre os dois. Isto tem acentuado sempre mais os sinais da “queda” até os nossos dias, onde não são nem macho nem fêmea, mas híbridos, quebrados, despedaçados, porque são necessários num e noutro ser para recompor a essência específica, restituindo nos dois seres as suas especificas qualificações e funções originais, que podemos indicar, sinteticamente: “virilidade espiritual” para o macho e “espiritualidade feminina” para a fêmea.
O despertar de tais qualificações, segundo a Tradição, pode vir seguindo duas vias que, separadas ou unidas, deverão ser diversas para cada uma das duas. É necessário que na reconstituição harmônica e ordenada de cada um dos dois seres, que sigam uma "via iniciática" semelhante, mas não iguais, voltando a exaltar no macho todos os valores perfeitamente machos e na fêmea todos os valores perfeitamente fêmeos, para que ao término possamos reconduzi-los ao ponto de origem onde os Dois formarão Um.

Vale a pena recordar que, segundo a Tradição, o rito consiste em uma ação sacrificial na qual intervém forças do alto e forças de baixo, ocultas e sutis, voltadas imediatamente à purificação da personalidade humana.

Havíamos dito que a lei da manifestação é a diversidade. Podemos também afirmar, como Julius Evola, que a diversidade não provoca retorno idêntico, e que as várias partes do todo retornem promiscuamente unas, mas quer que tais partes sejam sempre mais SI MESMO exprimindo sempre mais o próprio modo de ser.

Na Tradição helênica, macho é o uno, isto é, em si mesmo, fêmea é a dualidade, princípio do outro ser.

Na Tradição hindu macho é o espírito impassível (purusha), fêmea é prakriti, matriz de toda forma condicionada.

Na Tradição oriental o princípio masculino (yang) se refere a “virtude do céu” enquanto o princípio feminino (yin) se refere a “virtude da terra”.

Na Tradição bíblica, Eva, como imagem de Narciso, representa a força universal em forma sedutora. Adão, como Narciso, representa a força do ser seduzido ao desejo de conhecimento. Através da iniciação as duas forças resultam sublimadas e transmutadas. (...)

Em matéria iniciática não se trata de igualdade nem desigualdade entre dois seres, que diante de toda a manifestação tem cada um os próprios valores e a própria dignidade, se trata de diversidade e necessidade. (...)



Sebastião Caracciolo

(Sebastião Caracciolo, falecido Hierofante do Supremo Conselho Adriático, mantenedor do Rito maçônico de Mizraim-Memphis. Trecho retirado do seu livro "A Ciência Hermética", Edição e tradução APROMM, pp. 45 e 46.)



Fonte do texto e da gravura: http://martinismocuraecaridade.blogspot.com/

ORA ET LABORA - TRABALHO E ORAÇÃO


O trabalho e a oração eram para os Padres e Madres do Deserto o caminho para alcançar a oração incessante: “Aquele que acompanha sua oração com as suas obrigações e as suas obrigações com a oração, reza incessantemente. Só assim é possível cumprir o mandato de rezar sempre. Consiste em observar a existência cristã como uma única grande oração. O que costumamos chamar de oração é apenas uma parte disso.” (Orígenes, “Tratado sobre a Oração”)

É importante lembrar que, tanto no deserto egípcio quanto nos mosteiros, os monges eram completamente autossuficientes: os monges e as monjas cultivavam seus alimentos, cuidavam de suas construções e da saúde e bem-estar de seus irmãos e irmãs e a comunidade que os cercava. Os Padres e Madres do Deserto também trabalhavam para se sustentar; faziam cordas, teciam tapetes e cestos e faziam sandálias que depois vendiam no mercado para comprar as necessidades da vida. Alguns trabalhavam como diaristas no fértil vale do Nilo ou no processo de tecelagem de linho. Até os convidados, depois de uma semana de carência, tinham que trabalhar. Eles desaprovavam aqueles que usavam a oração como desculpa para não trabalhar.

Alguns monges vieram ver o abade Lucius e disseram: “Não trabalhamos com as mãos; obedecemos à ordem de Paulo de orar incessantemente”. O velho perguntou-lhes: "Vocês não comem nem dormem?" Eles responderam: "Sim, nós o fazemos". Ele disse: "Quem ora por vocês enquanto dormem? Com licença irmãos, mas vocês não praticam o que dizem. Eu vou mostrar-lhes como eu rezo sem parar, mesmo que eu trabalhe com minhas mãos: Com a ajuda de Deus, pego algumas palmas e me sento para tecê-las, dizendo: 'Com sua imensa bondade, tem misericórdia de mim, ó Deus; perdoe minhas ofensas com sua infinita misericórdia.'" Ele lhes perguntou: "Isto é oração ou não?" Eles responderam: "Sim, é". E ele continuou: "Quando trabalho e oro em meu coração por um dia inteiro, eu ganho cerca de 16 pences. Dois deles eu deixo do lado de fora da minha porta e com o resto compro comida. Aquele que encontra os dois pences do lado de fora da minha porta reza por mim enquanto eu como e durmo. E assim, com a ajuda de Deus, rezo incessantemente."

Neste mundo moderno, todos podemos combinar trabalho e oração através da meditação, o que de fato leva à oração incessante: "Normalmente começamos recitando o mantra, mas à medida que avançamos descobrimos que é preciso menos esforço para perseverar em repeti-lo ao longo do tempo da nossa meditação. Então, parece que não estamos tanto pronunciando o mantra em nossas mentes, mas deixando que ele ressoe em nossos corações. É neste momento que nossa meditação realmente começa: em vez de dizer ou deixar o mantra ressoar, começamos a escutá-lo a cada momento com uma atenção cada vez mais profunda." (John Main, “Uma Palavra Silenciada”)

A partir desse momento, mesmo fora do nosso tempo de meditação, estamos conscientes do mantra que está ressoando em nosso ser, independentemente do que estamos fazendo. No trabalho, quando o silêncio cai de repente, ouvimos nosso mantra ressoando por todo o nosso ser; quando acordamos à noite, lá está ele. É a nossa âncora no meio das tempestades da vida.



Kim Nataraja




Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
Traducido por WCCM España
http://wccm.es/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O FOGO QUE QUEIMA AS IMPUREZAS


Se os humanos não sofressem, jamais se decidiriam a transformar-se. Por isso, em vez de se revoltarem contra o sofrimento, deveriam compreender a sua utilidade, pois o sofrimento é um fogo que queima as impurezas. O fogo possui uma propriedade que se deve conhecer: nunca destrói o que é da mesma natureza que ele. Quando penetra no homem, ele queima somente as suas impurezas; a matéria que é pura não é consumida, resiste ao fogo e torna-se luminosa, porque vibra em uníssono com ele. É essa matéria que forma o corpo da glória, o corpo de luz de que falam as Escrituras. Quando o Iniciado consegue acender o fogo divino em si, inflama a matéria do seu ser e fá-la brilhar como um Sol.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal