terça-feira, 14 de março de 2023

REENCARNAÇÃO: OPORTUNIDADES PARA O EXERCÍCIO DO AMOR INCONDICIONAL


A reencarnação é uma bênção para o crescimento do espírito imortal, descanso entre refregas, refazimento entre estágios evolutivos, aula de imortalidade ante o infinito das múltiplas experiências.

Enquanto estagias sobre o terreno das provas e expiações do planeta, jungido ao corpo mais denso que arrastas sob o efeito da gravidade, exercita-te no aprendizado contínuo para voos mais altos. As lições da dor e do sofrimento, da angústia e da tristeza, bem como as experiências da alegria e da saúde, da riqueza e do êxito são memórias que guardamos para além do corpo somático que logo entregarás à natureza.

Ao mesmo tempo em que para muitos espíritos, a reencarnação é a bênção do esquecimento do passado doloroso, torna-se para outras almas viajantes da eternidade, um excelente exercício para as manifestações do amor incondicional que bafeja de esperança e de luz por muito tempo, como ecos da realidade imorredoura aos que ainda jazem adormecidos.

Seja como momento de esquecimento, de refrega, de pausa ou de lutas acerbas, vale-te dessas horas que passam céleres, fagueiras como oportunidades únicas de tua felicidade. Estejas onde estiveres, em qualquer tempo, reflete tua luz interior! Ama um pouco mais! Silencia nas horas necessárias para ouvir as vozes interiores e escutar o Verbo Divino que ecoa sempre!

A vida na Terra é muito curta diante a eternidade, mas preciosa para as lições que diariamente somos chamados a vivenciar. Enquanto libertos do corpo, além das paisagens corpóreas, vislumbramos outros horizontes. No entanto, aguardamos ansiosamente o retorno ao gládio terreno, a fim de demonstrar nossas lições anteriormente aprendidas, nossos valores da imortalidade.

Utiliza-te dos horários disponíveis para o refúgio da prece. Alimenta-te de esperança sempre, confiando em Deus. Revigora tuas energias e busca superar as lições do sofrimento, libertando-te para mais alto.

Através desse recurso divino, os viajores cansados da luta renovam as esperanças e prosseguem. Faze também tu o mesmo.

Esperança, sempre!



Robson Santos / Irmã Diva




Fonte: Jornal "Vórtice", ano 3, nº 6, novembro/2010, Aracaju/Sergipe
jvortice@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

FOCO NO REAL


O propósito de toda religião é focar nossa atenção no Centro Divino e iluminar nossa atenção com o conhecimento de que esse centro é a fonte de todo Amor, de toda Vida. O que nossa tradição religiosa nos ensina é que somente pelo contato e pela contemplação é que neste centro divino o homem é capaz de ser verdadeiramente ele mesmo. Em outras palavras, é apenas focando no divino que podemos nos concentrar em nós mesmos.

A busca que toda religião propõe é para nos guiar à busca do real. Toda verdadeira religião lida com a realidade, e a sabedoria que prova a autenticidade da religião é simplesmente o dom de distinguir ilusão e realidade. A sabedoria é adquirida concentrando todo o nosso ser, com toda a nossa atenção, no centro divino.

Este é o centro da consciência que se encontra ao mesmo tempo, tanto em nossos corações quanto além de nós, nas profundezas de Deus. É esse ato de concentração que leva à sabedoria e ao conhecimento do que é importante na vida. Esse conhecimento não é estático. Capacita-nos constantemente nas diversas situações da vida para poder distinguir o que é sério e o que é essencial do que é trivial e frívolo; distinguindo o que passa e o que dura.

A sabedoria é a capacidade de focar no real e rejeitar a ilusão, ou pelo menos identificar a ilusão como ilusão: como trivial, transitória, superficial e bidimensional.

O homem verdadeiramente espiritual é a pessoa que tem um foco profundo, que pode ver as coisas em seu relacionamento interdependente porque tudo pode ser visto em relação ao centro divino. Precisamos desta sabedoria e absolutamente precisamos dela se quisermos viver nossas vidas de forma plena, sincera, séria e com amor. Acima de tudo, para viver nossas vidas com amor devemos estar em contato com o amor como o centro do nosso ser.

A tradição a que me refiro é a que nos convida a entrar nesta sabedoria e que nos ensina que para entrar nela devemos aprender a ser recolhidos. Devemos nos recolher, devemos estar atentos, lembrar quem somos, onde estamos e porque estamos. Devemos encontrar a paz interior, a paz em nossas vidas. Essa paz é consciente, é saber o que é que nos permitirá começar a focar no centro divino, o centro por onde tudo flui. Meditar é nos colocar em harmonia com o que flui da vida por Ele, com Ele e nEle.



Fr. John Main, OSB




Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ANIMAIS NAS OBRAS DE ANDRÉ LUIZ


André Luiz é explícito, no seu livro “Nosso Lar” no que diz respeito à presença naquela colônia espiritual de animais desencarnados.

Não iremos pensar, portanto, que esses seres não são utilizados para atividades no umbral, uma vez que aquela colônia está localizada nessa região.

O emprego de animais desencarnados em atividades socorristas no umbral faz parte da rotina das equipes de resgate.

Não será qualquer família animal que se prestará a esse tipo de trabalho, mas sim aquelas adequadas, como os grandes felinos, os cães de porte avantajado etc.

André Luiz evitou estender-se em detalhes, esclarecemos aqui aos prezados leitores, porque, mesmo restringindo-se ao mínimo, Chico Xavier foi taxado por muitos confrades como obsidiado, tão logo surgiram os livros da série “Nosso Lar”, segundo afirmou Yvonne do Amaral Pereira.

Imagine-se se relatasse aspectos reais do que viu e viveu na sua passagem pelo umbral e nos trabalhos socorristas de que participou posteriormente, sendo certo que muitos recusariam sumariamente seus livros e nenhum resultado se obteria com seus relatos.

Mas é necessário que as revelações continuem, pois a progressividade da Verdade obriga sempre a alguém se expor publicamente para identificá-la aos olhos atônitos da maioria, que vive a rotina do ganha-pão e da religiosidade primária.

André Luiz descreve uma cidade localizada nas trevas. Atentemos para alguns aspectos, principalmente a referência a animais. A narrativa, neste ponto, refere-se aos arrabaldes da mencionada urbe:

“Que empório extravagante era aquele? Algum país onde vicejassem tipos sub-humanos? Eu sabia que semelhantes criaturas não envergavam corpos carnais e que se congregavam num reino purgatorial, em beneficio próprio; entretanto, vestiam-se de roupagens de matéria francamente imunda. Lombroso e Freud encontrariam aí extenso material de observação. Incontáveis tipos que interessariam, de perto, à criminologia e à psicanálise.

Vagueavam absortos, sem rumo. Exemplares inúmeros de pigmeus, cuja natureza em si ainda não posso precisar, passavam por nós, aos magotes (bandos). Plantas exóticas, desagradáveis ao nosso olhar, ali proliferam, e animais em cópia abundante, embora monstruosos, se movimentavam a esmo, dando-me a ideia de seres acabrunhados que pesada mão transformara em duendes.

Becos e despenhadeiros escuros se multiplicavam em derredor, acentuando-nos o angustioso assombro.”

Mais adiante, identificando a região central da metrópole, diz (atentemos para a menção a animais):

“Subimos, dificilmente, a rua íngreme e, em pequeno planalto, que se nos descortinou aos olhos espantadiços, a paisagem alterou-se.

Palácios estranhos surgiam imponentes, revestidos de claridade abraseada, semelhante à auréola do aço incandescente. Praças bem cuidadas, cheias de povo, ostentavam carros soberbos, puxados por escravos e animais.”

No episódio do maravilhoso reencontro entre Matilde e Gregório, André Luiz relata a chegada do terrível obsessor (atentemos para a utilização de animais):

“Alguns minutos se desdobraram apressados e Gregório, com algumas dezenas de assalariados, surgiu em campo, investindo-nos com palavrões que se caracterizavam pela dureza e violência. Os recém chegados apareceram acompanhados de grande cópia de animais, em maioria monstruosos.”

Agora, os leitores podem formar uma ideia clara sobre a utilização de animais desencarnados para o bem e para o mal.

Concluiremos por informar que a responsabilidade perante a Justiça Divina pela utilização boa ou má desses nossos irmãos e irmãs ainda não adentrados na fase da racionalidade recai sobre quem lhes emprega a energia psíquica, pois eles próprios não podem responder pelos atos que são levados a praticar.

Assim como quem transforma um cão em verdadeira fera responde por isso, todo desvio que se imponha a outros seres fica por conta do indutor.

Se apresentou-se à nossa vidência um leão como nosso companheiro nos trabalhos de socorro espiritual é porque nossa afinidade com essa família animal vem da época em que vivenciamos essa realidade na trajetória evolutiva.

“Com a Supervisão Celeste, o princípio inteligente gastou, desde os vírus e as bactérias das primeiras horas do protoplasma na Terra, mais ou menos quinze milhões de séculos, a fim de que pudesse, como ser pensante, embora em fase embrionária da razão, lançar as suas primeiras emissões de pensamento contínuo para os Espaços Cósmicos.” (André Luiz)

“Cada espécie de seres, do cristal até o homem, e do homem até o anjo, abrange inumeráveis famílias de criaturas, operando em determinada frequência do universo. E o amor divino alcança-nos a todos, à maneira do sol que abraça os sábios e os vermes. Todavia, quem avança demora-se em ligação com quem se localiza na esfera próxima. O domínio vegetal vale-se do império mineral para sustentar-se e evoluir. Os animais aproveitam os vegetais na obra de aprimoramento. Os homens se socorrem de uns e outros para crescerem mentalmente e prosseguir adiante...” (André Luiz)

Alguém duvida de que tais animais estejam ligados, desde tempos imemoriais, a determinadas pessoas, tanto quanto Jesus mantém um elo afetivo em relação a cada um dos seres que habita a Terra? Sejamos razoáveis e de “mente aberta”. Tudo que é novidade para certas pessoas, apesar de conhecidas de outras, costuma assustá-las e descartam essas realidades, normalmente, pelo receio de “ficarem mal vistas”. Há, realmente, animais desencarnados ligados afetivamente a seres humanos reencarnados, tanto quanto esses animais estão ligados afetivamente aos animais afins reencarnados: o que isso tem de estranho? E esses espíritos sub-humanos podem ajudar seus “protetores” humanos reencarnados, pois sim! Assim é que há quem os invoque mentalmente e receba auxílio de várias maneiras construtivas, dentro das possibilidades desses espíritos em evolução, que também se tornarão “perfeitos, como vosso Pai, que está nos Céus, é Perfeito”.

Desde a mais remota Antiguidade isso é conhecido, daí surgindo a crença nos “deuses” e “deusas” representados por animais, como, por exemplo, no Egito Antigo.



Luiz Guilherme Marques



Fonte: do livro "Os Felinos sob a Ótica Espiritual"
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/olhos-de-gato-gato-preto-procurando-2944820/

NOSSO VERDADEIRO SER


“Os caracóis não sabem que são caracóis” - título de um romance de Nuria Roca - poderia servir para apontar uma diferença fundamental entre animais e seres humanos que sabem o que somos. Mas não é fácil chegar ao conhecimento do nosso verdadeiro ser e, menos ainda, percebê-lo em cada um de nós, apesar da sua importância para nos tornarmos plenamente humanos. Uma razão para se ter em mente é que os seres humanos se debatem entre dois extremos: agir a partir de nosso ego ou de nosso verdadeiro ser.

O ego, na verdade, não tem identidade ou vida própria, e tem muito a ver com a imagem que cada pessoa tem de si; um "fantasma" que se recusa a desaparecer e morrer, baseado na procura e acumulação: aceitação dos outros (aparência, fama); nível econômico (ter); e status social (poder), com a vã ilusão de que com isso poderia alcançar a imortalidade que inutilmente almeja.

Somos seres humanos ou, como dizia Theillard de Chardín, “seres espirituais com uma dimensão temporal humana”. Portanto, somos tanto mais humanos quanto mais conscientes nos tornamos de nossa dimensão espiritual. [...] a consciência é definida como "a capacidade do ser humano de perceber a realidade e se reconhecer nela". E, como essa é a nossa realidade, podemos nos reconhecer e agir nela e a partir dela. Qualquer um pode se considerar ateu, é uma opção tão aceitável quanto a do crente; mas quem nega sua dimensão espiritual comete um grave erro conceitual que lhe dificultará saber quem é.

Mas como saber se agimos a partir do ego ou a partir do nosso verdadeiro ser? Se estamos tristes (o que não é o mesmo que sentir pena de algo específico que nos aconteceu), pode ser um sinal claro de que estamos agindo a partir do ego. Se alguém nos é insuportável a ponto de “revoltar nossas entranhas”, estamos agindo a partir do ego. A psicologia já nos adverte através da "identificação projetiva" que não há nada que nos cause mais rejeição do que observar em outra pessoa um defeito que não aceitamos em nós mesmos. Como consequência, projetaremos nossa fraqueza rejeitada no outro, tornando-o insuportável. "Tudo que é criticado cai por cima", diz o velho ditado; não como consequência da crítica em si, mas porque o que nos move a fazê-lo é o nosso ódio ao que estamos criticando no outro. Da mesma forma - independentemente de qualquer desordem - se nossa vida deixa de fazer sentido, se somos movidos pela inveja ou ressentimento ou ódio etc., ou se somos invadidos por um medo irracional, ou dominados pela obsessão de encontrar segurança, também estamos a serviço do nosso ego que não suporta a incerteza.

O ego quer: transformar pedras em pão (corrupção, ganância, ter); lançar-se do pináculo do templo e sentir o aplauso dos outros por sua coragem (aparência, fama); e possuir sem limite (ter).

Quando agimos a partir do nosso verdadeiro ser, as consequências são: paz, compaixão e compreensão dos outros; a ausência de julgamentos, inveja, ódio ou ressentimento; autoconfiança, desde que agimos de acordo com quem realmente somos; a ausência de medo da vida, com a qual fluiremos aceitando o que vier, simplesmente porque veio. A mãe de uma amiga minha costumava dizer: “o que vem depois é conveniente. E por que é conveniente? Porque vem." Até mesmo em um recente anúncio publicitário, uma canção italiana, diz: Non ti preoccupare, quello che arriva dovrebbe arrivare (Não se preocupe, o que chega é o que tinha que chegar).

Do nosso verdadeiro ser desaparece também o medo da morte, porque ele nunca morrerá. É a vida, a consciência, o mistério que nos habita que, assim como no caso do ego, o perceberemos por seus efeitos sobre nós quando agirmos a partir dele e quando entrarmos nas profundezas de nós mesmos, apaziguando a tagarelice de nossa mente e sua eventual aliança com o ego.


Ignacio Gallego Cubiles



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O PRINCÍPIO DA EVOLUÇÃO ESTÁ NA VONTADE


É pela vontade que dirigimos nossos pensamentos para um objetivo preciso. Na maioria dos homens, os pensamentos flutuam sem parar. Sua mobilidade constante, sua variedade infinita oferecem pequeno acesso às influências superiores. É preciso saber se concentrar, colocar seu eu em sintonia com o pensamento divino. Então se produz a fecundação da alma humana pelo Espírito Divino que a envolve e penetra, a torna apta a realizar nobres tarefas, prepara-a para a vida no além, cujos esplendores entrevê enfraquecidamente desde este mundo. Os Espíritos elevados vêem e ouvem entre si os pensamentos que são harmonias penetrantes, enquanto os nossos são, na maioria das vezes, apenas discordância e confusão. Aprendamos a nos servir de nossa vontade e, por ela, a unir nossos pensamentos a tudo o que é grande, à harmonia universal, cujas vibrações enchem o espaço e embalam os mundos.

A vontade é o maior de todos os poderes. Em sua ação, ela é comparável a um ímã. A vontade de viver, de desenvolver em si a vida, atrai para nós novos recursos vitais. Está aí o segredo da lei de evolução. A vontade pode agir com intensidade sobre o corpo fluídico, ativar suas vibrações e, dessa forma, apropriá-lo a um modo sempre mais elevado de sensações, prepará-lo para um estágio mais alto de existência.

O princípio de evolução não está na matéria; está na vontade, cuja ação se estende tanto à ordem invisível das coisas quanto à ordem visível e material. Essa é simplesmente uma consequência daquela. O princípio superior, o motor da existência, é a vontade. A Vontade Divina é o grande motor da vida universal.

O que importa acima de tudo é compreender que podemos realizar tudo no domínio psíquico. Nenhuma força permanece estéril quando se exerce de um modo constante, visando a um objetivo coerente com o direito e a justiça.

É o que se dá com a vontade; ela pode agir igualmente no sono e na vigília, porque a alma corajosa, que estabeleceu para si mesma um objetivo, procura-o com tenacidade em ambas as fases de sua vida e determina assim uma corrente poderosa que mina lenta e silenciosamente todos os obstáculos.

Com a preservação dá-se o mesmo que com a ação. A vontade, a confiança, o otimismo são outras tantas forças preservadoras, outras tantas muralhas opostas em nós a toda causa de problema, de perturbação interior e exterior. Bastam, às vezes, por si sós, para desviar o mal, enquanto o desânimo, o temor, o mau humor nos desarmam, nos expõem a ele sem defesa. O simples fato de olhar de frente o mal, o perigo e a dor, e a resolução de afrontá-los, de vencê-los, diminuem-lhes a importância e o efeito.


Léon Denis



Fonte: do livro "O problema da Dor"
Tradução de Renata Barboza da Silva & Simone T. Nakamura Bele da Silva
Ed. Petit, São Paulo, 2000
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

DO ISOLAMENTO AO AMOR


Meditamos porque sabemos com absoluta certeza que devemos superar nossa própria esterilidade. Devemos transcender a inutilidade de um sistema fechado, de uma mente puramente introspectiva. Sabemos, cada vez com mais clareza, que devemos ir além do isolamento em que nos encontramos rumo ao amor. É curioso que a introspecção, a mente observando a si mesma, nos leve a tamanha esterilidade. Por que uma mente egocêntrica se torna tão estéril? Suponha, por exemplo, que tentemos analisar algumas de nossas próprias experiências. A consequência quase inevitável é que acabamos nos observando no mesmo ato de observação. Quanto mais profundo o grau de introspecção, mais complexo será o grau em que ficaremos obcecados com nossa própria consciência. O resultado é como estar preso em uma sala cheia de espelhos onde constantemente confundimos a imagem com a realidade. E tudo o que temos são imagens de nós mesmos.

E é aqui que nos perguntamos: por que a meditação é diferente? Todos nós, quando começamos a meditar, chegamos a um ponto em que nos perguntamos "o que eu ganho com isso?", "o que a meditação está fazendo por mim?...". E é justamente nesse momento que temos que fazer um ato de fé. Pode parecer que a fé é ir para a escuridão e abraçar a esterilidade, mas não há como abraçá-la se não tivermos total abandono. Tem que ser um salto total de fé. Em outras palavras, nos envolvemos em meditação e mantra como uma forma de liberar a autoconsciência. E assim, nos comprometemos a deixar para trás nossa própria esterilidade.

Então, a aridez que experimentamos se transforma em pobreza. Uma pobreza que abraçamos plenamente. Neste ponto, somos conduzidos àquela manifestação da nossa pobreza que nos revela que só existe Deus e que Nele tudo é riqueza e amor... A esterilidade torna-se pobreza: um estado de total simplicidade, total vulnerabilidade e total abandono, em Deus e no seu amor.

Desta forma, a autoconsciência dá lugar à verdadeira consciência. Tomamos consciência de tudo o que está além do nosso próprio horizonte: as coisas como realmente são, o que é Deus, e que Deus é Amor. Portanto, a introspecção torna-se uma visão de autotranscendência porque tudo o que vemos agora vemos com luz divina expandida ao infinito. Vemos a realidade, tudo o que existe, banhado no amor infinito de Deus. E podemos entender claramente por que isso é assim. Porque nos comprometemos com o caminho da fidelidade à meditação e ao mantra: compromisso com Deus. O compromisso com a fé, com o que está além de nós. Assim, nos apropriamos de nosso destino e encontramos nosso sentido na maravilha de Deus.

“Del aislamiento al Amor”, extracto de “El camino de lo Desconocido” de John Main, OSB, (Nueva York: Crossroad, 1990), pp. 44-46.


Carla Cooper



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A VONTADE COMO ORIENTADORA A IDEAIS ELEVADOS


Há em toda alma humana dois centros, ou melhor, duas esferas de ação e de expressão: uma, a exterior, manifesta a personalidade, o eu, com suas paixões, suas fraquezas, sua mobilidade, sua insuficiência. Enquanto ela regular nossa conduta, teremos a vida inferior, semeada de provas e de males. A outra, a interior, profunda, imutável, é, ao mesmo tempo, a sede da consciência, a fonte da vida espiritual, o templo de Deus em nós. Somente quando este centro de ação domina aquele, quando seus impulsos nos dirigem, é que se revelam nossos poderes ocultos e que o Espírito se afirma em seu brilho e sua beleza. É por ele que estamos em comunhão com “esse Pai que reside em nós”, segundo a palavra do Cristo, esse Pai que é o foco de todo amor, o princípio de todas as grandes ações. Por um, perpetuamo-nos nos mundos materiais onde tudo é inferioridade, incerteza e dor; pelo outro, ascendemos aos mundos celestes, onde tudo é paz, serenidade e grandeza. É somente pela manifestação crescente do Espírito Divino em nós que chegamos a vencer o eu egoísta e a nos associar plenamente à obra universal e eterna, a criar uma vida feliz e perfeita.

Como poremos em movimento esses poderes interiores e os orientaremos para um ideal elevado? Pela vontade! O uso persistente, tenaz dessa faculdade soberana nos permitirá modificar nossa natureza, vencer todos os obstáculos, dominar a matéria, a doença e a morte.


Léon Denis



Fonte: do livro "O problema da Dor"
Tradução de Renata Barboza da Silva & Simone T. Nakamura Bele da Silva
Ed. Petit, São Paulo, 2000
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal