terça-feira, 30 de agosto de 2016

A VERDADEIRA EDUCAÇÃO E O SIGNIFICADO DA VIDA

Eu quisera saber se alguma vez já perguntamos a nós mesmos o que significa educação. Por que vamos para a escola, por que estudamos tantas matérias, por que fazemos exames e competimos uns com os outros pelas melhores notas? Que significa essa chamada educação, e qual a sua finalidade?

Esta é, com efeito, uma questão muito importante, não só para os estudantes, mas também para os pais, para os professores e para todo aquele que ama esta Terra. Por que tanta luta para sermos educados? É unicamente porque precisamos passar em certos exames e obter emprego? Ou a função da educação é preparar-nos, enquanto jovens, para compreender o inteiro "processo" da vida?

Ter emprego e ganhar o próprio sustento, é necessário; mas, isso é tudo? É só para isso que estamos sendo educados? Ora, por certo, a vida não é, meramente, um emprego, uma ocupação; a vida é algo extraordinariamente amplo e profundo, um grandioso mistério, um vasto reino em que funcionamos como entes humanos. Se meramente nos preparamos para ganhar o sustento, perderemos o significado essencial da vida; e compreender a vida importa muito mais do que simplesmente nos prepararmos para exames e nos tornarmos bem proficientes em Matemática, Física etc.

A educação, por certo, nenhuma significação tem se não vos ajuda a compreender a vastidão da vida com todas as suas sutilezas, sua extraordinária beleza, seus pesares e alegrias. Podeis conquistar graus, acrescentar uma série de letras ao vosso nome e conseguir uma boa colocação; mas — e daí? Qual o sentido de tudo isso se, nesse "processo", a vossa mente se torna embotada, cansada, estúpida?

Assim, não deveis, enquanto estais jovens, tratar de descobrir o significado da vida? E a verdadeira função do educador não é cultivar em vós a inteligência que tentará encontrar a solução de todos esses problemas? Sabeis o que é inteligência? É, sem dúvida, a capacidade de pensar livremente, sem medo, sem nenhuma fórmula, de modo que, por vós mesmo, comeceis a compreender o que é real, o que é verdadeiro; mas, se tendes medo, nunca tereis inteligência. Qualquer forma de ambição espiritual ou mundana, gera ansiedade, medo; a ambição por conseguinte, não concorre para o aparecimento de uma mente clara, simples, direta e, portanto, inteligente.




J. Krishnamurti






Fonte: do livro "A Cultura e o Problema Humano"
Ed. Cultrix, São Paulo, 3ª. ed., 1977
Tradução de Hugo Veloso
Fonte da Gravura: Tumblr.com

MUNDO DO ALTO E O MUNDO DE BAIXO - RESSONÂNCIAS

A alma universal sustenta a vida em todas as criaturas, alimenta-as, sacia-as: elas recebem continuamente algo dessa abundância. Então, por que não havemos de inspirar-nos nessa generosidade esforçando-nos por partilhar com os outros tudo aquilo que possuímos: a beleza, a inteligência, a riqueza, um dom artístico, o saber?

Nunca esqueçais que existe uma ligação entre o mundo de baixo e o mundo do alto: quando fazeis alguma coisa aqui em baixo, na Terra, provocais algo de idêntico no alto, no Céu. De uma maneira ou de outra, aquilo que dais ser-vos-á retribuído um dia, ao passo que o que guardais para vós é parcialmente perdido, não beneficiareis disso tanto quanto aconteceria se o désseis.

Quando sentis alegria, quando sentis amor, confiai-os também ao Senhor, à Mãe Divina, para que Eles os utilizem para o bem de outras criaturas. Será assim que essa vossa alegria e esse vosso amor serão conservados.




Omraam Mikhaël Aïvanhov






Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Tumblr.com

VISÃO E ROTINA NO CAMINHO BUDISTA

Todas as atividades humanas podem ser vistas como uma interação entre dois fatores contrários, mas igualmente essenciais: a visão e a rotina repetitiva. A visão é o elemento criativo na atividade, cuja presença assegura que as condições estabelecidas, as quais nos pressionam desde o passado, dêem ainda margem a uma abertura para o futuro, uma liberdade para discernir os fins significativos e descobrir caminhos mais eficientes para atingir estes fins. A rotina repetitiva, ao contrário, provê o elemento conservador na atividade. É o princípio que assegura a persistência do passado no presente, e que possibilita às conquistas bem sucedidas no presente serem preservadas intactas e serem transmitidas fielmente para o futuro.

Apesar de atraírem para direções opostas - uma em direção à mudança, e a outra em direção à estabilidade - visão e rotina se mesclam em variadas formas, e dentro de todo curso de ação ambas participam em alguma medida. Para que qualquer ação em particular seja ao mesmo tempo significativa e efetiva, a conquista de um equilíbrio saudável entre as duas é necessária. Quando um fator prevalece às custas do outro, as consequências são invariavelmente indesejáveis. Se ficarmos presos em um ciclo repetitivo de trabalho que nos priva de nossa liberdade de inquirir e entender, logo nos tornaremos atolados, totalmente envoltos pelas correntes da rotina. Se, por outro lado, nos envolvemos em ideais elevados, mas carecemos da disciplina para implementá-los, eventualmente nos encontramos voando em sonhos, ou exaurindo nossas energias em objetivos frívolos. Somente quando as rotinas habituais recebem um influxo de visão que venha de dentro é que elas se tornam um trampolim para a descoberta, ao invés de rotinas destruidoras. E somente quando a visão inspirada dá nascimento a um curso de ações que podem ser repetidas é que nós podemos trazer nossos ideais da esfera etérea de nossa imaginação para o sombrio reino dos fatos. Foi necessário somente um flash de gênio para Michelangelo conceber a figura de Davi, invisível no bloco de pedra sem forma, mas foram precisos anos de treinamento anterior e incontáveis batidas do martelo e do cinzel para construir o milagre que nos legou esta obra de arte.

Estas reflexões sobre o relacionamento entre a visão e a rotina aplicam-se com igual validade na prática do caminho buddhista. Como todas as outras atividades humanas, seguir o caminho da cessação do sofrimento requer que a compreensão inteligente das novas facetas da realidade seja fundida com a disciplina paciente e estabilizadora da repetição. O fator da visão entra no caminho sob o título de “compreensão correta”, como o entendimento das verdades não-distorcidas relacionadas à nossa existência, e como a penetração continuada destas mesmas verdades, através do aprofundamento da contemplação e da reflexão. O fator da repetição entra no caminho como a árdua tarefa imposta pela própria prática: a necessidade de seguir modos específicos de treinamento, e cultivá-los diligentemente na sequência prescrita até que eles tenham o seu fruto. O curso do crescimento espiritual ao longo do caminho buddhista pode ser de fato concebido como uma sucessão alternada de duas fases: numa, o elemento da visão é predominante; na outra, o elemento da rotina. É um flash de visão que abre o nosso olho interior para o significado essencial do Dhamma; o treinamento gradual que torna a nossa compreensão mais segura e que estimula a ter ainda mais visão, a qual impulsiona a prática em direção à sua culminação no conhecimento final. Mesmo que a ênfase se alterne, estando ora numa ora noutra fase, o sucesso derradeiro no desenvolvimento do caminho sempre termina com uma visão equilibrada entre a visão e a rotina, de tal modo que cada uma dá sua contribuição máxima.

Entretanto, pelo fato de nossas mentes estarem condicionadas a se fixar sobre o novo e o diferente, nossa prática pode adquirir uma ênfase de um só lado, sobre a visão, às custas da rotina repetitiva. Ficamos, assim, excitados pelas expectativas concernentes aos estágios do caminho muito além de nosso alcance, enquanto que, ao mesmo tempo, tendemos a negligenciar os estágios mais baixos - os quais se encontram exatamente sob nossos pés. Adotar tal atitude, entretanto, é esquecer o fato crucial de que a visão sempre opera sobre a rotina estabelecida previamente, e deve por sua vez dar surgimento a novos padrões de rotina adequados à conquista de seu objetivo desejado. De modo que, se pretendermos acabar com a separação que existe entre o ideal e o fato - entre o objetivo de nosso esforço e a experiência vivida de nosso dia-a-dia - é necessário prestarmos uma maior atenção à tarefa da repetição. Cada pensamento sadio, cada intenção pura, cada esforço em treinar a mente representa um potencial para o crescimento ao longo do Nobre Caminho Óctuplo. Mas, para que se transformem de mero potencial em um poder ativo que leve ao fim do sofrimento, as passageiras formações mentais positivas devem ser repetidas, incentivadas e cultivadas até se tornarem qualidades duradouras de nosso ser. Apesar de tênues na sua individualidade, quando estas forças são consolidadas pela sua repetição, elas adquirem uma força que é invencível.

A chave para o desenvolvimento ao longo do caminho buddhista é a rotina repetitiva guiada pela visão inspirada. É o insight que leva à liberdade final - a paz e a pureza de uma mente liberta - que nos levanta e nos impele a superar nossos limites. É pela repetição - o cultivo metódico de práticas sadias - que conseguimos acabar com a distância que nos separa do nosso objetivo e nos aproximamos cada vez mais da libertação.




Venerável Bhikkhu Bodhi







Fonte: capítulo do livro “Pensando o Buddhismo”
Edições Nalanda, 2000
"Visão e Rotina" também foi publicado na Newsletter nº 3, Inverno de 1985
Tradução: Equipe Nalanda por Ricardo Sasaki
Fonte da Gravura: Tumblr.com