domingo, 6 de setembro de 2020

O INÍCIO DA ESPIRITUALIDADE É O ESPÍRITO... ÓBVIO


A frase do jesuíta francês Teilhard de Chardin, é um desafio frontal ao pensamento materialista: "Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual, somos seres espirituais passando por uma experiência humana."

Se isso é verdade - que a nossa existência essencial é como espíritos ou almas, então somos eternos, sem começo nem fim. Isto conduz a uma área totalmente inconvencional de exploração. É muito além da ideia popular de que o universo físico passou a existir (de alguma maneira) e que a vida apareceu sobre ele (de alguma maneira) e evoluiu (de alguma maneira) até as suas formas atuais. A alma parece não ter lugar no pensamento Darwiniano. E se somos almas, qual é o significado de assumir um corpo e passando pela experiência humana, especialmente considerando a possibilidade da reencarnação? Ambas as experiências têm de ser relevantes - o espiritual e o humano. Pelo menos, devemos estar abertos a buscar o significado do maior de todas as enigmas da vida - quem sou eu e o que eu estou fazendo aqui?

Ninguém jamais viu uma alma humana através dos olhos. Para provar a sua existência através de meios físicos e instrumentos se provou impossível. Muito pouca informação real tem sido disponível e muito menos provas. Lembro-me de ter lido sobre experiências no final do século 19, no qual pesquisadores nestas questões tentaram capturar a alma escapando do corpo, colocando uma garrafa de vidro sobre a testa. Eles pensaram que o espírito fosse talvez um ser gasoso que poderia ser capturado e rotulado - aqui jaz a alma do grande fulano. A única prova real só pode haver no laboratório das nossas vidas.

Se a frase acima de Chardin é verdade, então, a nossa identidade mais profunda é como um espírito. Automaticamente, este ‘fato’, (se é) se torna o começo, meio e fim do empenho espiritual. ‘Fim’, porque o que chamamos de morte seria apenas a energia espiritual e consciente, saindo dos limites de seu veículo físico, o corpo. Conhecendo-nos profundamente torna-se também, a porta para relacionamentos significativos com os outros, o Divino e, portanto, a uma vida de maior liberdade. No entanto, é um conceito tão básico e fundamental que muitas vezes esquecemos de prefaciar o que fazemos com essa consciência. Poderíamos até dizer que tudo o que acontece no mundo que se forma em torno de cada um de nós, é um reflexo específico da medida em que entendemos e aceitamos a nós mesmos. Aqueles que chegam a este entendimento tem a chance de mergulhar profundamente naquilo que se move e forma a realidade. Eles se movem alguns passos a mais na escada do autoprogresso.


Ken O'Donnell



Fonte: Espiritualidade na Vida
http://espiritualidadenavida.blogspot.com/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A PLENITUDE DO SER


Cada um de nós está convidado a um desenvolvimento ilimitado, infinito, na medida em que deixamos a limitação de nosso próprio ego para trás, e adentramos o mistério de Deus. [...] O espírito, ao qual estamos convidados a descobrir em nosso próprio coração, é a fonte de energia que enriquece todos os aspectos de nossa vida. E o espírito é o Espírito de Amor. O chamado não é o de estarmos parcialmente vivos, o que significa estarmos parcialmente mortos, mas o de estarmos vivos em plenitude, vivos, ... se apenas nos for possível adotar a disciplina de nos encaminharmos a isso, dia após dia. [...] Desde o início precisamos de um destemor, à medida que deixamos o eu para trás e começamos a encontrar o outro. Precisamos estar isentos de medo. O espírito em nosso coração, o espírito para o qual nos abrimos na meditação, é o espírito da compaixão, da gentileza, do perdão, da total aceitação, o espírito de amor.


Dom John Main, OSB


Fonte: Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - https://www.wccm.com.br/
Leitura de Domingo, 06 Setembro 2020 - Extraído de “Fullness of Being” in THE HUNGER FOR DEPTH AND MEANING, editado por Peter Ng (Cingapura: Medio Media, 2007), pp. 26-28.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ILUMINAÇÃO PELO CAMINHO DAS TREVAS


[…] Liberto de tudo o que é visto e de tudo o que vê, penetra na treva do não-conhecimento, a treva autenticamente mística e, renunciando às percepções intelectivas, chega à total intangibilidade e invisibilidade; entrega-se inteiramente ao que está acima de tudo e de nada (e não é ele próprio nem outro), unindo-se da forma mais perfeita ao que é completamente incognoscível mediante a total inatividade do conhecimento, conhecendo além do espírito graças ao ato de nada conhecer […] (Areopagita)

Chegar a esta treva mais que luminosa é o que suplicamos e, pela privação da visão e pelo não-conhecimento, ver e conhecer Aquele que está acima da contemplação e do conhecimento, precisamente pelo ato de não ver nem conhecer – nisto consiste, de fato, a verdadeira observação e conhecimento -, e celebrar Aquele que é mais que substancial de um modo mais que substancial, pela aférese* sistemática das coisas existentes; tal o artista que esculpe uma estátua ao natural, desbastando todas as excrescências que entravam a contemplação pura da figura oculta, e apenas mediante essa aférese faz aparecer a formosura escondida tal como ela é em si mesma.

... "treva de silêncio, mais que luminosa... que na maior obscuridade é mais que manifesta, mais que brilhante e completamente intangível e invisível…". A ela se chega – lê-se – pelo distanciamento (ekstasei) ou renúncia "de tudo" e "de todas as coisas" com o auxílio, porém, da Trindade, ela que "guarda a sabedoria divina dos cristãos". A treva é a ocultação dos mistérios da teologia (theologia mysteria) contidos nos escritos místicos (mystikon logion).

Assim ouvimos de São João da Cruz:

Das muitas imperfeições em que vivem os principiantes, o que até aqui referimos é suficiente para mostrar quão grande seja a necessidade de que Deus os ponha em via de progresso. Realiza-se isto na noite escura de que entramos a falar. Aí, desmamando-os Deus de todos os sabores e gostos, por meio de fortes securas e trevas interiores, tira-lhes todas estas impertinências e ninharias; ao mesmo tempo, faz com que ganhem virtudes por meios muito diferentes. Por mais que a alma principiante se exercite na mortificação de todas as suas ações e paixões, jamais chegará a consegui-lo totalmente, por maiores esforços que empregue, até que Deus opere passivamente nela por meio da purificação da noite.

É que na noite escura, — verificando-se a palavra do Profeta: “Luzirá tua luz nas trevas” (Is 63,10), — Deus iluminará a alma, dando-lhe a conhecer, não somente a própria miséria e vileza, mas também Sua divina grandeza e excelência. Uma vez amortecidos os apetites, gostos e apoios sensíveis, fica o entendimento livre para apreender a verdade, pois é certo que esses gostos e apetites do sentido, mesmo sendo em coisas espirituais, sempre ofuscam e embaraçam o espírito. Além disto, aquela angústia e secura da parte sensitiva vem ilustrar e vivificar o entendimento, segundo declara Isaías: “A vexação nos leva a conhecer a Deus” (Is 28,19). Assim vemos que à alma vazia e desembaraçada, bem disposta a receber o influxo divino, o Senhor, por meio desta noite escura e seca de contemplação, vai instruindo sobrenaturalmente em sua divina Sabedoria, como o não fizera até então pelos gostos e sabores sensíveis.

Surge, porém, a dúvida: por que à luz divina (que, conforme dissemos, ilumina e purifica a alma de suas ignorâncias) chama a alma agora “noite escura”? A isto se responde: por dois motivos esta divina Sabedoria é não somente noite e trevas para a alma, mas ainda pena e tormento. Primeiro, por causa da elevação da Sabedoria de Deus, que excede a capacidade da alma, e, portanto, lhe fica sendo treva; segundo, devido à baixeza e impureza da alma, e por isto lhe é penosa e aflitiva, e também obscura.

Para provar a primeira afirmação, convém supor certa doutrina do Filósofo: quanto mais as coisas divinas são em si claras e manifestas, tanto mais são para a alma naturalmente obscuras e escondidas. Assim como a luz, quanto mais clara, tanto mais cega e ofusca a pupila da coruja; e quanto mais se quer fixar os olhos diretamente no sol, mais trevas ele produz na potência visual, paralisando-a, porque lhe excede a fraqueza. Do mesmo modo quando esta divina luz de contemplação investe a alma que ainda não está totalmente iluminada, enche-a de trevas espirituais; porque, não somente a excede, como também paralisa e obscurece a sua ação natural. Por este motivo, São Dionísio e outros místicos teólogos chamam a esta contemplação infusa “raio de treva”. Isto se entende quanto à alma não iluminada e purificada, pois a grande luz sobrenatural desta contemplação vence a força natural da inteligência, privando-a do seu exercício. Por sua vez disse David: “Nuvens e escuridão estão em redor d’Ele” (SI 96,2); não porque isto seja realmente, mas por ser assim para os nossos fracos entendimentos, os quais, em tão imensa luz, cegam-se e se ofuscam, não podendo elevar-se tanto. Esta verdade o mesmo David o declarou em seguida, dizendo: “Pelo grande resplendor de sua presença, as nuvens se interpuseram” (SI 17,13), isto é, entre Deus e nosso entendimento. Daí procede que este resplandecente raio de secreta Sabedoria, derivando de Deus à alma ainda não transformada, produz escuras trevas no entendimento.

A terceira espécie de sofrimento e pena que a alma agora padece provém de outros dois extremos que aqui se encontram: o divino e o humano. O divino é esta contemplação purificadora, e o humano a própria alma que a recebe. O divino a investe a fim de renová-la, para que se torne divina; despoja-a de suas afeições habituais e das propriedades do homem velho, às quais está a mesma alma muito unida, conglutinada e conformada. E de tal maneira é triturada e dissolvida em sua substância espiritual, absorvida numa profunda e penetrante treva, que se sente diluir e derreter na presença e na vista de suas misérias, sofrendo o espírito como uma morte cruel. Parece-lhe estar como tragada por um bicho no seu ventre tenebroso, e ali ser digerida: assim padece as angústias que Jonas sofreu no ventre daquele monstro marinho. De fato, é necessário à alma permanecer neste sepulcro de obscura morte, para chegar à ressurreição espiritual que espera.

Pelo que já foi dito, vemos claramente que esta obscura noite de fogo amoroso, como vai purificando a alma nas trevas, assim também nas trevas a vai inflamando. Observamos igualmente que, assim como se purificam os espíritos na outra vida por meio de um tenebroso fogo material, de maneira semelhante são purificadas e acrisoladas as almas nesta vida presente, por um fogo amoroso, tenebroso e espiritual. E está aí a diferença: lá no outro mundo, a expiação é feita pelo fogo, e aqui na Terra a purificação ilustração se opera tão só mediante o amor. Tal é o amor que pediu David ao dizer: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (Sl 50,12): que a pureza de coração não é outra coisa senão o amor e graça de Deus. Nosso Salvador chama bem-aventurados aos puros de coração, o que é tanto como chamá-los enamorados, pois a bem-aventurança não se dá por menos que por amor.

Não quero deixar de indicar agora o motivo pelo qual a luz divina, embora sendo sempre luz para a alma, não a ilumina logo que a investe, como fará depois, mas causa primeiramente as trevas e sofrimentos já descritos. As trevas e demais penas que a alma sente quando esta divina luz investe não são trevas e penas provenientes da luz, e sim da própria alma; a luz apenas esclarece para que sejam vistas. Desde o princípio, portanto, esta divina luz ilumina, mas a alma tem de ver primeiro o que lhe está mais próximo, ou por melhor dizer, o que tem em si mesma, isto é, suas trevas e misérias, as quais vê agora pela misericórdia de Deus. Antes não as via, porque não lhe era infundida essa luz sobrenatural. Aqui se mostra a razão de sentir, no princípio, somente trevas e males. Depois, porém, de purificada por este conhecimento e sentimento, então terá olhos para ver, à luz divina, os bens da mesma luz. Expelidas, enfim, todas as trevas e imperfeições da alma, parece que aos poucos se revelam os proveitos e grandes bens que a mesma alma vai conseguindo nesta ditosa noite de contemplação.

Pelo que já dissemos, fica entendido quão grande mercê faz Deus à alma em limpá-la e curá-la com esta forte lixívia e este amargo remédio; purificação essa que se faz na parte sensitiva e espiritual, de todas as afeições e hábitos imperfeitos arraigados na alma, tanto a respeito do temporal e natural, como do sensitivo e espiritual. Para isto, Deus põe a alma na obscuridade, quanto às suas potências interiores, esvaziando-as de tudo que as ocupava; faz passar pela aflição e aridez às afeições sensitivas e espirituais; debilita e afina as forças naturais da alma acerca de todas as coisas que a prendiam, e das quais nunca poderia libertar-se por si mesma, conforme vamos dizer. Deste modo, leva-a Deus a desfalecer para tudo o que naturalmente não é Ele, a fim de revesti-la de novo, depois de a ter despojado e desfeito de sua antiga veste. E assim a alma é renovada, como a águia, em sua juventude, e vestida do homem novo, criado segundo Deus, como diz o Apóstolo (Ef 4,24). Esta transformação nada mais é do que a iluminação de entendimento pela luz sobrenatural, de maneira que ele se una com o divino, tornando-se, por sua vez, divino. É igualmente a penetração da vontade pelo amor divino, de modo a tornar-se nada menos que vontade divina, não amando senão divinamente, transformada e unida com a divina vontade e o divino amor. Enfim, o mesmo se dá com a memória, e também com as afeições e apetites, que são todos transformados e renovados segundo Deus, divinamente. Esta alma será agora, pois, alma do Céu, verdadeiramente celestial, mais divina do que humana. Todas estas transformações até agora referidas, da maneira que havemos descrito, vai Deus realizando e operando na alma por meio desta noite, ilustrando-a e inflamando-a divinamente, com ânsias de Deus só e nada mais.

Quanto mais a alma se aproxima d’Ele, mais profundas são as trevas que sente, e maior a escuridão, por causa de sua própria fraqueza. Assim, quem mais se acercou do sol, haveria de sentir, com o grande resplendor dele, maior obscuridade e sofrimento, em razão da fraqueza e incapacidade de seus olhos. Tão imensa é a luz espiritual de Deus, excedendo tanto ao entendimento natural, que, ao chegar mais perto d’Ele, o obscurece e cega. Esta é a causa por que no Salmo 17 diz David, referindo-se a Deus: “pôs seu esconderijo nas trevas como em seu tabernáculo: águas tenebrosas nas nuvens do ar” (Si 17,12). As “águas tenebrosas nas nuvens do ar” significam a obscura contemplação e divina Sabedoria nas almas, conforme vamos dizendo. Isto, as mesmas almas vão sentindo aos poucos, como algo que está próximo a Deus, e percebem este tabernáculo onde Ele mora, no momento em que Deus as vai unindo a Si mais de perto. E, assim, o que em Deus é luz e claridade mais sublime, é para o homem treva mais escura.

* cortar, separar, retirar


Fraternidade Martinista



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SOBRE A GRAÇA


Saudações nas quatro pontas do Sagrado Quaternário!

Muitos buscadores incautos confundem espiritualidade com paranormalidade – não anseiam por uma radical Transformação e Regeneração de suas Vontades, mas por espécies de fantasia onírica, de transes passivos e estimulações hipnagógicas, respirando vapores cadavéricos naquelas regiões em que “cada flor traz uma serpente enrolada” (como disse uma grande Adepta).

Querido Irmão, não se embriague.

Carne sutil ainda é carne, e não confunda os “anjos de luz” que a ti se apresentam – cheios do brilho fascinador da serpente astral – com a luz UNA E PURA do ILIMITADO. Caro buscador, as notas musicais mais altas (como as frequências emitidas pela música das esferas) são perfeitamente inaudíveis, tais como são imperceptíveis as ondas eletromagnéticas elevadíssimas que nos atravessam acima da luz visível. De maneira análoga, a LUZ ILIMITADA do PAI se apresenta a nós como um RAIO DE TREVA*... A Sabedoria do Incriado de tal maneira excede a nossa que, a infinita sabedoria criatural (das criaturas), em comparação com esta, ainda estaria mais próxima da ignorância infinita do que de apreender minimamente algo deste Fogo Eterno Incognoscível.

Com outras palavras, estimado buscador, não tome pelo Reino Celeste aquilo que não passa de uma inebriante sombra espelhada por nosso próprio psiquismo. O que não quer dizer, todavia, que devemos desprezá-lo, mas apenas colocá-lo em seu devido lugar. Se olharmos para estas sombras tais como realmente são, como para o reflexo da lua na água – isto é, sabendo não estar a lua ali submersa – então já não cometeremos o mesmo Erro de Narciso.

Há três séculos atrás, querido Irmão, a Hierarquia legou a Homens de Vontade operações e ritos por meio dos quais poderiam engendrar o Organismo Espiritual em si e receber progressivas confirmações do andamento de sua realização. A princípio, nossos Irmãos Maiores, mui louváveis agentes intermediários, deram-nos o Fenômeno como sinal de êxito, para que seguíssemos de regeneração em regeneração, de glória em glória, com Desejo e Perseverança. Entretanto, encantados como somos pela FORMA, tomamos a IMAGEM DA COISA pela coisa mesma, e o que antes nos instigava a perseverar na Senda tornou-se a própria coisa buscada, e foi quando nossos antigos irmãos prevaricaram e caíram nas garras da SERPENTE SIDERAL.

Acusado de desertor, foi nosso mestre LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN quem tentou avisá-los do perigo das artes supracitadas. Na época, nossos irmãos equivocados continuaram tão afoitos por suas visões e fenômenos que, perdendo contato com o adepto que os havia instruído, entregaram-se desregradamente às mais variadas experimentações com aquelas regiões sobre as quais o inimigo tem pleno domínio, e passaram a respirar os ares nervosos e éteres exaltados de damas histéricas em salas fechadas sob o império do sonho.

Queridos Irmãos – existe, de fato, o sobrenatural. Do latim SUPER (superior) NATURALIS (natureza), o termo em seu sentido puro refere-se a essa realidade invisível que transcende e engloba nossas existências particulares. Porém, da mesma maneira que precisamos de um organismo NATURAL para experimentar a realidade fenomênica com nossos sentidos, também necessitamos de um ORGANISMO SOBRENATURAL para tornarmo-nos receptivos aos Dons e Inteligências do Espírito, através dos quais algo de divino poderá se fazer ouvir e realizar em nós.

Assim como realizamos atos desta natureza (dormir, comer, andar) com nosso organismo natural, também o exercício de certas faculdades está intrinsecamente relacionado a nosso Organismo Espiritual – podemos citar, dentre estas, a Vontade, a Sabedoria, a Imaginação (Imaginatio), a Vida Moral, entre outras Atividades que abrem as portas superiores para o Invisível em nós. Todavia, da mesma forma que nosso Organismo Natural tem de ser gerado (como o é por nossos progenitores) e alimentado por nutrientes de sua própria natureza (alimentos materiais), esta Nova Alma também necessita de um Engendramento e de uma mui específica Alimentação.

Nosso Coração, de maneira análoga ao Óvulo, deve também estar fertilizado por nosso anseio incessante pela Regeneração, e devemos desejar ardentemente a fecundação pelo Espírito Santo. Uma vez gerado, este recém-nascido em nós necessita de um alimento muito especial, do qual a Hierarquia nos legou como símbolo os Sacramentos. É um processo análogo ao da Eucaristia, e por ela muito bem representado na sombra da matéria, mas que realizar-se-á no Invisível.

Meu Companheiro e Irmão, uma vez nascida em nós esta “Criança do Reino do Céu”, e só finalmente então, poderemos exercer plenamente nossas Faculdades e Potências, Virtudes e Dons Originais livres do brilho fulgurante da joia do príncipe deste mundo. Ao contrário do que esperávamos, quando isso acontecer não necessitaremos mais de buscar ver coisas divinas e astrais com nossos olhos humanos, porque já encontraremos suficiente e infinita Graça e Contemplação em olhar as próprias coisas humanas e mundanas com nossos novos olhos assim divinizados. Sim, pois da mesma forma que um cão vive meio a tantos carros, sons, sinais, gente e palavras que não compreende (e, não obstante o absurdo disto cercá-lo, continua a ocupar-se de farejar e procurar comida), é apenas com o nascimento do Novo Homem que descobrimos, então, quão mortos e adormecidos estávamos espiritualmente. Com a Mente de Compaixão que engendramos em nós, o antigo reino samsárico, dialético e binário, dominado pela divisão e pelas Forças Gêmeas, transfigurar-se-á diante de nós em um verdadeiro Plano Divino, uma Unidade Absoluta onde não há conflitos e nem particulares, senão um único e mesmo Soneto Eterno manifestando-se através de todas as coisas e todos os seres para a Glória da Reintegração Universal.

Estaremos salvos, querido candidato, não por sermos privilegiados, seletos ou muito menos “Cavaleiros Eleitos”, mas por simplesmente termos despertado para este Campo Uno e Oniabarcante, com os olhos do qual podemos nos compadecer profundamente de todos os nossos Irmãos Equivocados que sofrem e causam sofrimento por sua própria ignorância e egoidade. Saibamos ouvir Deus, que nos fala sempre. Nutrindo e defendendo incessantemente nossa Cidade Santa, reconheceremos cada vez melhor as consolações e movimentos deliciosos do Invisível, a graça dosada e santificante que nos será concedida – não para fugirmos do mundo e da vida rumo a um Astral Pseudoceleste – mas para participarmos da Vida Divina aqui e agora, como Agentes, servindo e realizando aquilo que é da Vontade do Espírito em nós. Inferno era apenas estar cego para a Contemplação de Deus. E, assim como o sol doa amorosamente sua luz e calor para todos os planetas que o rodeiam, esperaremos esperançosamente sermos sóis para nós mesmos e para os outros, exemplos vivos da Lei do Amor, aquecidos não pelo Fogo Colérico da Impiedade, mas pela Luz Doce e Amorosa do Espírito Santo que há de fazer morada em nós.

Pelo divino quaternário: Amor-Vontade-Sabedoria-Atividade,
Que as rosas floresçam em vossa cruz!


Fraternidade Martinista


* Vide texto neste blog, do dia 06 de setembro de 2020, supra publicado, com o título: Iluminação Pelo Caminho das Trevas.


Fonte: https://fraternidademartinista.wordpress.com/author/fraternidademartinista/
Fonte da Gravura: https://fraternidademartinista.files.wordpress.com/2019/04/sobre-a-grac387a.jpg?w=660

QUAL O MAIOR OBSTÁCULO AO PROGRESSO (MORAL)?


O Livro dos Espíritos, questão 785: Qual o maior obstáculo ao progresso?

O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem. Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais duradoura.

Comentário de Allan Kardec

Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio, mas que, no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado. Ora, sendo assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de preferência, ao moral, do que com relação ao intelectual? Por que será impossível que entre o dezenove e o vigésimo quarto século haja, a esse respeito, tanta diferença quanta entre o décimo quarto século e o século dezenove? Duvidar fora pretender que a Humanidade está no apogeu da perfeição, o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a experiência desmente.


Allan Kardec



Fonte: O Livro dos Espíritos, 76ª. ed., Rio de Janeiro, RJ, FEB, 1995.
Fonte da Gravura: Acervo de autorial pessoal

A SABEDORIA DO DESENCANTAMENTO


Uma das características mais intrigantes do mundo natural é o mimetismo: insetos inofensivos imitam o desenho de outros insetos mais nocivos para escapar de seus predadores. Os escaravelhos femininos (*) imitam os sinais de acasalamento de outras espécies para atrair machos ansiosos e levá-los a um destino fatídico. O louva-a-deus (mantis religiosa) atrai suas presas imitando as flores, e as plantas de seixos são muito parecidas com as pedras, evitando assim se tornar comida para os animais. E a lista continua. O que muitas vezes não é entendido é que a arte do engano, implícita no desenho da Natureza, também é uma característica dos mundos internos. No caminho em direção à alma, há muitas armadilhas para o investigador incauto.

Claramente, a discriminação é essencial ao longo do caminho, pois é muito fácil cair presa das visões e dos sons enganosos do mundo astral e dos muitos imitadores que residem lá. Entre esses "encantadores" estão os imitadores dos Mestres de Sabedoria e outros luminares espirituais, imitadores que não são almas propriamente. Muitos desses ensinamentos e comentários triviais sobre os assuntos humanos são realizados com um sentimentalismo que busca ser reconfortante. Essas conchas são animadas por vidas elementais do mundo astral que são energizadas por sua interação com os seres humanos.

Como distrações e enganos são uma característica do plano astral, o caminho de Atma-Vidya, o "conhecimento da alma", tem sido recomendado como a ciência esotérica para nossos tempos. Helena Blavatsky considera que todos os outros Vidyas são "artes baseadas no conhecimento da essência final de todas as coisas nos Reinos da Natureza". Essa essência vincula os fenômenos da natureza física, externa, com a natureza psíquica do mundo astral e é por isso que não é aconselhável entrar em contato com ela. Estes Vidyas menores incluem "o conhecimento dos poderes ocultos despertados na Natureza através de certos ritos e cerimônias religiosas...". (1)

O objetivo recomendado para todos os buscadores hoje é a fusão com a alma através da prática de Atma-Vidya, caso contrário, podemos inconscientemente desviar-nos do caminho direto para a alma e entrar em um reino de "encantamento". 'Encantar' significa enfeitiçar e seduzir. É uma palavra derivada do latim 'incantare', que significa entoar um feitiço mágico e está intimamente relacionada com a palavra 'glamour' que tem raízes escocesas medievais de uma época em que se dizia que os praticantes do lado obscuro das artes ocultas lançavam o glamour. (2)

Alice Bailey explica que o glamour ou miragem é a característica excepcional do plano astral, que "O assim chamado “plano astral” é simplesmente o nome dado à soma total das reações sensoriais à resposta sentimental e à substância emocional que o homem mesmo criou e projetou com tanto êxito, sendo hoje a vítima de sua própria obra." (3) Na era atual, a substância da miragem é generalizada na cultura popular e nas indústrias do entretenimento, e é considerada algo que deve ser ativamente buscada. O glamour é geralmente entendido como a qualidade de ser "mais atraente, emocionante ou interessante do que pessoas ou coisas comuns". (4) Na verdade, é uma aparência que distorce a realidade, a distorção a que as pessoas que estão emocionalmente polarizadas são mais suscetíveis. Em suas formas mais sutis, engana muitas pessoas inteligentes e aspirantes ao longo do caminho, como explicado extensivamente no livro de Alice Bailey, 'Miragem: um Problema Mundial'.

No caminho de Atma-Vidya, o desencantar-se, afastando a miragem, é uma lição difícil, mas constantemente coloca o buscador espiritual sob o controle direto da alma, que é o princípio mediador entre o espírito e a matéria. A alma funde em um relacionamento harmonioso essas duas grandes correntes de energia, os princípios masculino e feminino na vida. Só então pode começar o trabalho mágico de criar "o novo céu e a nova Terra". (...)

Nesta era tecnológica materialista, é apropriado abordar esta questão à medida em que a humanidade experimenta um impulso crescente para se reconectar mais profundamente com a Mãe Terra e o divino feminino. O caminho a seguir é claramente demonstrado por aqueles que expressam a luz e o amor da alma: o grupo de servidores do mundo, muitos dos quais estão trabalhando com os reinos inferiores da natureza. A luz clara da alma flui através deles, revelando leis que operam na natureza e despertando a humanidade para a necessidade de uma nova relação para com o meio ambiente. Da mesma forma, o trabalho que fazemos na meditação... envolve o contato com a alma para ajudar a fazer com que a luz, o amor e o poder desçam à Terra, através da humanidade e dos reinos inferiores da natureza, na grande obra da redenção planetária.

Aqueles que se dedicam a este grande trabalho são integrantes do grupo de servidores do mundo (sejam ou não conscientes disso), e todos estão trabalhando em maior ou menor medida com o conhecimento da alma - Atma-Vidya -, a sabedoria do desencantamento.


Lucis Trust - Escola Arcana - Triângulos - Boa Vontade Mundial



Fonte: https://www.encontroespiritual.org/bartigos/bartigos_desencantamento.html
Fonte da Gravura: Tumblr.com



Notas:

1.Escritos Colecionados, H.P. Blavatsky, Vol IX. pp. 252-252
2.https://www.etymonline.com/word/glamour
3.O Reaparecimento do Cristo, A. A. Bailey, p. 130
4.https://www.collinsdictionarv.com/dictionarv/enelish/elamorous
(*) http://www.nationalgeographic.es/animales/luciernaga-bicho-de-luz - NT

VENCER O MEDO


Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato.

Um mago teve pena dele e o transformou em gato.

Mas aí ele ficou com medo do cão.

Por isso, o mago o transformou em pantera.

Então, ele começou a temer os caçadores.

A esta altura o mago desistiu. Transformou-o em camundongo novamente e disse:

– Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo.

*   *   *

É preciso coragem para romper com o projeto que nos é imposto.

Mas saiba que coragem não é a ausência do medo, mas sim a capacidade de avançar, apesar do medo.

Caminhar para frente e enfrentar as adversidades, vencendo os medos...

É isto que devemos fazer.

Não podemos nos derrotar, nos entregar por causa dos medos.

Assim, jamais chegaremos aos lugares que tanto almejamos em nossas vidas...



José Emílio Menegatti



Fonte do texto e da gravura: Grupo Espírita Miguel Arcanjo
http://www.gema-rj.org/