segunda-feira, 17 de junho de 2013

MÉTODO SÁBIO E JUSTO

Você consegue imaginar outro método mais justo e sábio de nos fazer despertar, de nossos equívocos e muitas vezes insano comportamento, senão o de nos surpreendermos com os efeitos de nossas próprias escolhas?

Eis porque a expressão pedagogia é muito bem aplicada quando se refere ao modo como a vida encaminha a cada um de nós nos aprendizados necessários, porquanto em sua raiz grega original, pedagogo é o condutor de crianças.

Concorda o leitor o quanto ainda somos crianças? Sim, crianças no entendimento, nas fragilidades, nos equívocos. Quem de nós poderá erguer a própria voz e eleger o próprio comportamento e decisões com a segurança da sabedoria?

Não! Somos ainda aprendizes. Na infância, adolescência e mocidade ainda inseguros, vivendo os desafios da autoafirmação. Na madureza, quando a experiência começa a mostrar caminhos, muitos de nós nos perdemos na fragilidade da suposta auto competência; quando a madureza vai caminhando para a velhice, apesar da experiência acumulada, a fragilidade se acentua.

Seres humanos o que somos sujeitos aos equívocos próprios de nossa condição, necessitados todos do aprimoramento próprio e dos aprendizados da convivência.

Nada mais sábio e justo, portanto, do que o método utilizado pela vida, para não dizer por Deus, para nos ensinar a viver: nossas escolhas geram efeitos que vão nos surpreendendo gradativamente.

Somos responsáveis pelo que pensamos, sentimos, fazemos... Não temos de reclamar de ninguém, pois somos os próprios geradores de nossos infortúnios ou das alegrias que possamos colher.

São das consequências de nossas decisões e escolhas que colhemos a experiência do aprendizado.

Podemos mesmo reclamar da situação que nos encontramos? Podemos realmente culpar alguém pelo que nos aconteceu?

Antes de acusar ou reclamar, passemos em revista os próprios atos do passado. Voltemos, passo a passo, nos rumos que escolhemos. Avaliemos, friamente, as decisões, posturas e mesmo as intenções e vontades. E vamos nos surpreender com a realidade de que o que estamos colhendo hoje é fruto de nós mesmos!

Equívocos, paixões, acertos e desacertos, escolhas, inseguranças, omissões, iniciativas, medos, ousadia ou acomodação fazem parte desse processo de aprendizado que devolve a cada um o resultado das próprias ações e escolhas.

Nada mais justo. Nada mais sábio. Um autêntico método de aprendizado.



Nota do autor: inspirado em reflexões do livro "Despedindo-se da Terra", de Lúcius/André Luiz Ruiz, edição IDE.



Orson Peter Carrara



Fonte: www.adde.com.br
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A COMPAIXÃO ESTÁ ALÉM DAS REGRAS

Agora, a história zen.

Num dia de inverno, um samurai sem mestre foi ao templo de Eisai e fez um apelo:

Sou pobre e doente - disse - e minha família está morrendo de fome. Por favor, ajude-nos, mestre.

Dependente como era de doações de viúvas, Eisai levava uma vida muito austera e nada tinha para dar.

Ia mandar o samurai embora quando se lembrou da imagem do Buda Yakushi no saguão. Subiu até ela, arrancou-lhe o halo e o deu ao samurai.

Venda isso - disse Eisai. - Deve aliviar seus problemas.

O perplexo porém desesperado samurai pegou o halo e saiu.

Mestre! - gritou um dos discípulos de Eisai. - Isso é sacrilégio! Como o senhor pôde fazer tal coisa?

Sacrilégio? Bah! Simplesmente fiz bom uso, por assim dizer, da mente do Buda, que é plena de amor e misericórdia. Na verdade, se ele próprio tivesse ouvido aquele pobre samurai, teria cortado um braço ou uma perna por ele.

Uma história muito simples, porém muito significativa. Primei­ro, mesmo que você nada tenha para dar, olhe de novo. Sempre en­contrará algo. Mesmo que nada tenha, sempre poderá encontrar algo. Se não puder dar nada, pelo menos pode sorrir; se não puder dar nada, pelo menos pode se sentar com a pessoa e segurar-lhe a mão. Não se trata de doar algo, trata-se de se doar.

Eisai era um monge pobre, como geralmente são os monges bu­distas. Sua vida era muito austera e ele não tinha nada para dar. Nor­malmente, é um absoluto sacrilégio tirar o halo da estátua do Buda e dá-lo a alguém. Nenhuma pessoa que se diz religiosa pensaria nisso. Somente alguém realmente religioso o faria — é por isso que digo que a compaixão não conhece regras, está além das regras. E selvagem. Não segue formalidades.

De repente, o mestre se lembrou da imagem do Buda no saguão. No Japão, na China, eles colocam um halo de ouro em volta da ca­beça do Buda, só para representar a aura. De repente o mestre se lem­brou - ele devia venerar a mesma estátua todos os dias.

Subiu até ela, arrancou-lhe o halo e o deu ao samurai.

Venda isso - disse Eisai. - Deve aliviar seus problemas.

O perplexo porém desesperado samurai pegou o halo e saiu. 

O próprio samurai ficou surpreso. Não esperava aquilo. Até ele de­ve ter achado sacrilégio. Que tipo de homem era aquele? Era um se­guidor de Buda e destruiu a estátua. O mero toque na estátua é um sacrilégio, e ele arrancou o halo.

Essa é a diferença entre uma pessoa realmente religiosa e uma que se diz religiosa. Aquela que se diz religiosa sempre observa as regras, sempre pensa no que é apropriado e no que não é. Mas a pessoa ver­dadeiramente religiosa vive. Não há nada apropriado ou inapropriado para ela. A compaixão é tão infinitamente apropriada que tudo que ela fizer por compaixão se torna automaticamente apropriado.

Mestre! - gritou um dos discípulos de Eisai. - Isso é sacrilégio! Como o senhor pôde fazer tal coisa?

Até um discípulo sabe que isso não é certo. Algo impróprio foi feito. 

Sacrilégio? Bah! Simplesmente fiz bom uso, por assim dizer, da mente do Buda, que é plena de amor e misericórdia. Na verdade, se ele próprio tivesse ouvido aquele pobre samurai, teria cortado um braço ou uma perna por ele.

Compreender é diferente de apenas seguir. Quando você segue, torna-se quase cego; há regras que devem ser respeitadas. Se você com­preende, também segue, mas já não é cego. Cada momento é que de­cide; a cada momento sua consciência responde, e tudo que você fi­zer estará certo.


Osho, em "A Música Mais Antiga do Universo"



Fonte: www.palavrasdeosho.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

REGRAS PARA SER HUMANO

Quando você nasceu, não veio com manual do proprietário. Essas dicas fazem a vida funcionar melhor:

Você vai receber um corpo.

Pode amá-lo ou detestá-lo, mas é a única coisa que você com certeza possuirá até o fim da sua vida.

Você vai aprender lições.

Ao nascermos, somos imediatamente inscritos numa escola informal chamada "Vida no Planeta Terra". Todas as pessoas e acontecimentos são "professores universais".

Não existem erros, apenas lições.

Crescimento é um processo de experimentação, no qual as "falhas" são tão parte do processo quanto os "sucessos".

Uma lição é repetida até que seja aprendida.

Será apresentada a você em várias formas, até que você enfim entenda. Poderá, então, passar para a próxima lição.

Se não aprender as lições fáceis, elas se tornam difíceis.

Problemas externos são o preciso reflexo do seu estado interior. Quando você limpa obstruções, seu mundo exterior muda. A dor é o jeito do universo chamar a sua atenção.

Você saberá quando aprendeu uma lição quando suas ações mudarem.

Sabedoria é prática. Um pouco de alguma coisa é melhor do que muito de nada.

"Lá" não é melhor do que "aqui".

Quando "lá" se torna "aqui", você vai simplesmente arranjar outro "lá", que de novo parecerá melhor que "aqui".

Os outros são meros espelhos de você.

Você não pode amar ou odiar alguma coisa sobre o outro a menos que reflita algo que você ama ou odeia em você mesmo.

Sua vida, só você decide.

A vida dá a tela, você faz a pintura. Escolha as cores e pegue os pincéis. Tome para você o comando de sua vida ou alguém o fará.

Você sempre consegue o que quer.

Seu subconsciente determina quais energias, experiências e pessoas você atrai. Assim, o único jeito certeiro de saber o que você quer é ver o que você tem. Não existem vítimas, apenas estudantes.

Não existe certo ou errado, mas existem consequências.

Dar lição de moral não ajuda. Julgar também não. Apenas faça o melhor que puder.

Suas respostas estão dentro de você.

Crianças precisam de direção dos outros. Quando amadurecemos, confiamos em nossos corações, onde as leis universais estão escritas. Você sabe mais do que ouviu ou aprendeu. Tudo que você precisa é olhar, prestar atenção, e confiar.

Você vai esquecer tudo isso.

Mas pode lembrar sempre que quiser.



Chérie Carter-Scott



Fonte: Grupo "Mensagens Diárias" no Google
http://mensagensdiarias.com.br/regras-para-ser-humano/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ANTÍGONA (de Sófocles)


Considerando-se o aspecto da situação de confronto entre o humano e o divino, podemos verificar alguns detalhes a respeito dos limites entre o arbítrio humano e os preceitos divinos; uma marcante atuação do "logos" e do "mythos", ou uma oposição acentuada entre os deveres do Estado ("polis") e os deveres da família (Hegel) fortemente ligada ao "mythos", à religiosidade.

A discussão das honras negadas a um morto, Polinice, faz com que Antígona resolva dar-lhe sepultura, em aberto desrespeito aos decretos do novo governante, Creonte, de não sepultar Polinice, deixando-o exposto às aves. Antígona diz que tais decretos não foram promulgados por Zeus, "... nem eu creio que teu édito tenha força bastante para conferir a um mortal o poder de infringir as leis divinas ...". Confrontam-se, assim, as leis humanas às leis divinas. E Antígona prefere as últimas porque são obrigações sagradas. Eis a divergência dos deveres do Estado e os da família, ambos igualmente válidos.

Em meio a este conflito, Antígona, exemplo de amor fraternal e coragem ("Eu não nasci para partilhar de ódios, mas somente de amor!"), resolve expor-se ao perigo ao contrariar o decreto do tirano (Creonte). Isto é bem explícito no texto se observarmos as palavras de Antígona: "... e meu crime será louvado, pois o tempo que terei para os mortos é bem mais longo do que o consagrado aos vivos ...". Em Ismene (sua irmã) lemos as palavras: "... pensa na morte ainda mais terrível que teremos se contrariarmos o decreto e o poder de nossos governantes!". Ismene é tímida, reconhece a injustiça do decreto mas prefere acatá-lo.

É interessante destacar que a formação democrática dos atenienses desaprova também o decreto. Este decreto parece não sintonizar com a vontade democrática da "polis" que tem agora um tirano à sua frente.

Em todos os regimes políticos podemos encontrar os contrastes de liberdade e tirania, e mesmo na religião também os encontramos. Isto faz parte da natureza humana e se manifesta em qualquer época.

Para Antígona, as leis divinas estão acima de decretos humanos: "... as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis, não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! ...".

O caráter religioso e o mito estão sempre presentes no homem porque fazem parte da condição humana. Não são leis ou decretos, em qualquer regime político ou social, que podem excluir esta condição humana. É um confronto que parece não ter fim ou solução ideal. Desde a aurora humana até aos dias atuais encontramos esta oposição. E tudo indica ser uma limitação humana ainda sem perspectivas de uma solução ideal. Este confronto está no íntimo de todos, é universal, é doloroso. Até Creonte, o tirano, temendo os presságios de Tirésias, o moderado, cede ao seu "mythos" interior: "... ceder, é duro; mas resistir, e provocar desgraça certa, não o é menos!".

O que fazer o ser humano diante a confrontos e contradições públicas e privadas, diante do humano e o divino, diante do "mythos" e do "logos", diante de sua consciência e a tirania, diante da ponderação e a irreflexão? Vê-se que é um problema universal e que excita o homem em qualquer época; é atemporal.

A religião, como a política, atualmente, tornou-se um palco, um circo, um negócio muito lucrativo. Hoje já nem se fala tanto na Igreja Católica, mestra antiga no que se refere à sede de poder, ouro, corrupção, crime e falsidade, mas salta aos nossos olhos o "evangelismo" multinacional, estelionatários e enganadores que assaltam e fanatizam as multidões sem discernimento. Porém, a verdadeira educação advirá e as Leis Divinas estarão acima das leis dos homens, acima dos que se (auto)intitulam "intermediários" e "sábios do divino".

A evolução não pára. A Verdade sempre será a Verdade, mesmo que pervertida temporariamente pelos homens. E o caminho para a Verdade somente será encontrado na genuína fé, na boa vontade, no desinteresse, na busca sincera, com crivo e discernimento. Sejamos como Antígona: o Divino está acima dos interesses humanos (interesses geralmente disfarçados de lei, de pregadores, de "milagres", de "iluminação" instantânea, de intermediários, de "bênçãos"...).

Talvez cada um tenha que encontrar seu próprio caminho como solução de conforto e convicção como o fez Antígona. Pois o homem é perigosamente grande para a inclinação ao que é menos digno, ao mesmo tempo que é grande para a concretização da bondade, da justiça e do amor profundo. A contradição é visível, mas a solução e a busca é também intrínseca ao ser humano.




Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)



Fonte da Imagem: Acervo de autoria pessoal