quarta-feira, 21 de setembro de 2022

INTROVERSÃO EQUIVOCADA E VERDADEIRA INTERIORIDADE


Sempre existiu um grande perigo, que existe hoje, especialmente para nós em nosso mundo autoconsciente e narcisista, de introversão equivocada, falsa autoanálise, em vez de verdadeira interioridade. A alta prevalência de lesões sofridas psicologicamente e socialmente aumenta esse perigo e requer tratamento gentil e compassivo. Ser verdadeiramente interno é o oposto de ser introvertido. Na percepção da presença interior, nossa consciência muda, transforma-se para que não sejamos mais os mesmos; já não nos vemos da mesma forma, antecipando ou lembrando sentimentos, reações, desejos, ideias ou sonhos. No entanto, estamos nos transformando em algo mais. E isso é sempre um problema para nós.

Seria mais fácil pensar que poderíamos deixar a introspecção se soubéssemos para onde estávamos indo. Se tivéssemos apenas um objeto no qual fixar nossa atenção. Se Deus pudesse ser representado por uma única imagem. Mas o verdadeiro Deus nunca pode ser uma imagem. As imagens de Deus são deuses. Formar uma imagem de Deus é simplesmente restaurar uma imagem que temos de nós mesmos. Ser verdadeiramente interior, abrir os olhos do coração, significa viver sem a visão das imagens. Isso é fé e é a visão que nos permite “contemplar Deus”. Na fé, a atenção é controlada por um novo Espírito, não pelos espíritos de materialismo, egoísmo ou auto-sobrevivência, mas pelo espírito de fé, que por sua natureza é um espírito despossuído.

É um constante desapego, abdicar continuamente das recompensas da própria resignação, que, sendo mais valiosas, tornam ainda mais necessária a nossa volta. Podemos vislumbrá-lo lembrando todos aqueles momentos ou fases de nossa vida em que experimentamos grande paz e alegria e reconhecendo que não foram momentos de posse, mas de entrega aos outros ou a algo, nos quais nos abandonamos para nos dar para outros. O passaporte para o Reino exige a condição de pobreza. No entanto, aprender a centrar-se nos outros é uma disciplina que exige uma atitude de discipulado e implica uma vida de "ascetismo". Não há nada mais difícil do que aprender a desviar a atenção de nós mesmos. Todos nós constantemente tendemos a deixar nossa atenção vagar de volta para a autoconsciência, o egocentrismo e as distrações. Há, portanto, uma verdade simples a descobrir: quando fixamos nossa atenção em Deus, com a visão da fé, tudo nos revela Deus.



Fr. Laurence Freeman, OSB
Carla Cooper (Organ.)



Fonte: do livro “THE SELFLESS SELF”: “The Power of Attention”
Norwich: Canterbury Press, 2008, pp. 31-35
Traducido por WCCM España
Via: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana - http://wccm.es/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/anjo-cemit%c3%a9rio-parque-escultura-348951/

EXPRESSÕES DA UNIDADE


Na realidade, a dualidade não passa de uma expressão da unidade. O número 1 é o primeiro e o único número. Só existe o número 1, é isto que é preciso compreender. E o que representam o 2, o 3, o 4?... Divisões do 1. Arbitrariamente, divide-se o 1 em 2, 3, 4, 5, 6... e cada divisão é apresentada como um novo número, quando não passa de um aspeto diferente do 1. O que é o 2? O 1 polarizado. Pegai num ímã: ele está polarizado, mas não dividido, é um e continuará a ser um. Em parte alguma o 2 está separado do 1. Qualquer objeto, ou mesmo o ser humano, tem duas extremidades, dois polos, mas é sempre um. E o 3? Ora bem, são os dois polos que ficaram ligados e que agem um sobre o outro para produzirem um ser, uma força ou um objeto, que é o 3; mas o 3 também não está separado do 1. E o 4, o 5, também são novos aspetos do número 1; individualmente, eles não existem, só o 1 existe.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/matriz-tecnologia-dados-digital-3109378/

O MENOR É O MAIOR


"Todo o que receber este menino em meu nome, a mim recebe; e todo o que me receber, recebe aquele que me enviou. Porque aquele que entre vós todos é o menor (pela sua humildade), esse é o maior (no reino dos céus).... porque aquele que dentre vós for o menor de todos, esse é que é grande." (Lc 9,48)


Essa colocação também pode ser vista como uma alusão aos complexos que se revezam entre a consciência e o inconsciente. Quando atribuímos poder ao ego, inflacionando-o, reduzimos a capacidade de aprender pelo Self. Quando diminuímos o poder do ego, ampliamos a capacidade do Self em apreender a realidade. O indivíduo ao elevar-se sem méritos, atribui poder ao ego, inflando-o; dessa forma, vive-se a vida do ego, e não a do Self. Quem deliberadamente exalta suas qualidades, mesmo que as possua, torna-se orgulhoso e vaidoso de si. Esse orgulho cada vez mais estimulado inibe o conhecimento de si mesmo e impede a percepção da sombra, isto é, de suas qualidades negativas e do que desconhece da própria personalidade.

A psicologia do Cristo é cristalina quando a aplicamos ao nosso mundo interior. Não há como fugir de si mesmo. A humildade facilita o processo de autopercepção e de manifestação do Self. O orgulho embota a visão do Espírito, cegando-o à compreensão da realidade.

Quando o orgulho aparece, através da auto-elevação do ego, surge a primazia de uma das personas consolidadas nas encarnações anteriores. Essas personas inconscientes se tornam uma espécie de sub-personalidade. O indivíduo vive artificialmente pela manifestação de uma sub-personalidade, emergida pela energia demasiada atribuída ao ego que lhe dá sustentação. Essa sub-personalidade é nucleada por um ou mais complexos. Como exemplo podemos ver nas pessoas que, em outras encarnações estiveram em posições sociais importantes, mas que na atual encarnação não ocupam lugar de destaque na sociedade, poderá permitir que, pela inflação do ego, essa sub-personalidade assuma a consciência.

Quando não adicionamos excessiva energia ao ego, ampliamos a percepção de nossas próprias limitações, permitindo que enxerguemos a nossa sombra, antes inconsciente.

Da mesma forma, a simplicidade facilita a percepção dos complexos inconscientes, trazendo-os equilibradamente à consciência sem que eles predominem sobre o ego. Na humildade o verdadeiro Eu sobressai-se, para que o Espírito possa crescer, desenvolver-se e alcançar sua plenitude.



Adenáuer Marcos Ferraz de Novaes




Fonte: do livro "Psicologia do Evangelho"
Fundação Lar Harmonia, Salvador, BA, 1999
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/ligado-conectado-rede-equipe-152575/

FELICIDADE PERENE


Acontece a toda a gente: sentir-se feliz, mas por muito pouco tempo! Estar feliz porque se obteve o que se desejava – sucesso, vantagens materiais ou mesmo o amor de um homem ou de uma mulher – não é realmente a felicidade, porque nunca se pode estar certo de que isso vai perdurar. A verdadeira felicidade assenta numa compreensão correta. Os Iniciados sempre insistiram no fato de a felicidade ser um estado de consciência que resulta da maneira como se sente e se compreende as coisas. Os humanos não poderão ser felizes enquanto o seu intelecto e o seu coração forem um campo de batalha em que se defrontam pensamentos e sentimentos caóticos e devastadores. O trabalho dos Iniciados sempre foi o de ensinar aos humanos a sabedoria e o amor, porque da luz do intelecto e do calor do coração nasce o movimento harmonioso, uma atividade construtiva, equilibrada. E isso é que é a felicidade.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

INSTRUMENTOS DE COMUNHÃO


É muito comum nos encontrarmos subitamente fora de nós mesmos, um tanto exteriorizados, longe da percepção da presença divina ou com sentimento de solidão, como se Deus fosse um estranho inacessível, alguém distante do nosso cotidiano.

Nesses momentos tendemos a esquecer o que é importante, ficamos preocupados com isso ou aquilo e a preocupação é o saldo resultante. A confiança parece ausente e uma perda imediata de força nos rouba a vitalidade, enquanto a mente escurece ao ritmo de pensamentos tempestuosos.

... Examinamos diferentes ferramentas ou recursos que podemos usar para voltar para casa, refazer nossos passos e nos recolher novamente no eremitério interior. Esse recolhimento em princípio nada mais é do que uma mudança de atitude, uma posição que adotamos de espírito diante do que acontece.

Este retorno ao “modo orante” de viver, carregado de sentido e pleno de um sentido íntimo do sagrado, requer, em primeiro lugar, uma firme determinação. É preciso decidir em profundidade o rumo da vida, do próprio comportamento. Tomarei a inquietação como um chamado do espírito, como um aviso para parar e mudar a maneira como estou vivendo o momento? Ou assim que eu sentir desconforto, vou rapidamente "para fora" de mim procurando uma mudança nesta ou naquela situação?

Quando vivemos em paz de coração, muitas vezes descobrimos que não há nada a mudar nas situações ou que essas mudanças são muito mais fáceis de fazer do que imaginávamos. Existem diferentes métodos que podemos usar para retornar ao ser essencial que somos, mas essa decisão prévia que mencionamos é importante, pois nos poupa o exaustivo diálogo interno sobre o que fazer.

O que fazer? Nós já sabemos! Somente retorne ao sagrado que se encontra nas profundezas da alma. Então, se isso não é mais discutido em nossa mente, resta apenas trabalhar quando nos distanciamos de nós mesmos e da presença sagrada. Viver do espírito não implica negar o corpo ou negar a mente, mas integrar as diferentes funções de acordo com o desígnio original.

O corpo e a mente como instrumentos de comunhão e criação a serviço do espírito são maravilhosos. Mas se eles estão no comando, eles se tornam a mais cruel das ditaduras. Peçamos a graça da atenção vigilante, esse dom inestimável que nos mantém ligados ao Espírito Santo.



El Santo Nombre




Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal