O Espírito Santo cujo princípio é celebrado no Pentecostes, nos recorda nesta segunda parte do ano (de Pentecostes ao Advento, seis meses) o que foi ensinado na primeira parte do ano (do Advento ao Pentecostes, seis meses).
A ideia fundamental em torno do qual o cristianismo gravita é este da Santíssima Trindade, de Quem tudo nos vem e a Quem todos devem regressar. Depois de nos lembrar no decorrer do ano litúrgico o Pai Criador, o Filho Redentor e o Espírito santo Santificador e Regenerador das almas, nesta comemoração é recapitulado os elementos concernentes ao grande mistério em que adoramos a Deus Uno em Natureza e Trino em Pessoas.
O tema da Santíssima Trindade aparece constantemente na liturgia. É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que se começa e acaba a Missa e o Ofício e se conferem os Sacramentos. Todos os salmos fecham pelo "Gloria Patri", os hinos pela doxologia e todas as orações concluem em termos cheios de devoção e de ternura para com as Três Pessoas divinas. O simbolismo da Santíssima Trindade resplandece ainda nos templos. Sempre e em toda a parte, no menor detalhe da ornamentação, o número três tem lugar de honra, marca um pensamento de fé na Santíssima Trindade. A iconografia cristã também nos traduz, de diferente maneira, o mesmo pensamento. Até o século XII era comum representar o Pai, a Primeira Pessoa, por uma mão que saía dentre as nuvens do Céu a abençoar. Nos séculos XIII e XIV começou a aparecer primeiramente a face e depois todo o busto. A partir do século XV começou o Pai a ser figurado por um ancião revestido das vestes pontificais. Até o século XII a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade era figurada com mais frequência pela cruz ou pelo cordeiro e ainda por um gracioso jovem no jeito do Apolo grego. Do século XI ao XV, é o Cristo forte, já no vigor da idade, que nos aparece. A partir do século XVI entra o costume de lhe pôr a cruz e de o representar frequentemente pelo cordeiro. O Espírito Santo, a Terceira Pessoa, aparecia nos primeiros séculos sob a figura tradicional da pomba, tocando com as asas abertas na boca do Pai e na do Filho como argumento da sua procedência. A partir do século XI é na figura dum menino que o encontramos por vezes. No século XV, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, assume as proporções dum homem feito semelhante ao Pai e ao Filho, somente com a pomba na mão ou na cabeça para se distinguir das outras Pessoas. Depois do século XVI, a pomba volta a tomar o lugar exclusivo na representação do Espírito Santo. A geometria concorreu também para a simbólica da SS. Trindade. O trevo teve por sua vez lugar de relevo na simbologia tradicional, e igualmente os três círculos enlaçados com a palavra unidade inscrita no lugar vazio pela intersecção. Foi ainda representada por uma cabeça com três faces distintas.
Esotericamente falando, o Espírito Santo corresponde à Terceira Pessoa do Logos, o "Espírito de Deus que paira sobre a face das águas" do espaço e assim traz à existência a matéria qual a conhecemos hoje. À sua energia se devem tosas as combinações primárias dos átomos últimos de nossos planos (de existência).
"O Senhor, o Dispensador de Vida": Bem merece tal título, não só pela grandiosa obra que realizou ao vir à existência o sistema solar e porque dele procede toda a vida de que conhecemos alguma coisa, pois o onipresente fluido vital é a manifestação de sua atividade nestes planos de existência inferiores, como também pela obra igualmente estupenda que mesmo agora ele está realizando.
Os princípios do homem, que chamamos espírito, intuição e inteligência, não são apenas simples correspondência, ou mesmo reflexos ou raios, das Três Grandes Pessoas do Logos, e, sim, em pura verdade, são essas próprias entidades gloriosas, incriadas, incompreensíveis, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Nos primeiros dias do Cristianismo, o Espírito Santo foi uma realidade na vida dos cristãos. Enquanto Cristo viveu na Terra, foi naturalmente o centro de inspiração de seus discípulos, os quais se dirigiam a ele pedindo ensinamentos e conselhos sobre todo assunto. Antes de sua morte, Cristo disse aos seus discípulos que ia partir mas não os deixaria desamparados, e sim, rogaria ao seu Pai que lhes enviasse outro Paracleto, o Consolador, isto é, o Espírito de Verdade, o Espírito Santo; e conferiu o poder de invocar o Espírito Santo àqueles em que ele pusesse as mãos, o que ainda se efetua na Igreja, ao conferir as Ordens sagradas. Enquanto o sacerdócio dos primitivos templos esteve ligado ao Deus Espírito Santo, foi possível a muitos, quando se esforçavam, por-se em contato com o Espírito Santo, e derivar desta Potestade os chamados dons do Espírito Santo, tais como o da profecia, ensinamentos inspiradores, cura dos enfermos, a expulsão dos espíritos malignos ou impuros, o poliglotismo e muitas outras manifestações análogas. Na Igreja primitiva, a inspiração do Espírito Santo, provinda do interior, substituiu a que os discípulos de Cristo receberam dele diretamente, durante toda a sua vida. Sem dúvida, nem sempre era fácil distinguir entre as genuínas manifestações desta grande Potestade e os frequentes excessos histéricos que a remedam e são indícios de uma natureza desequilibrada. Assim é que já São Paulo achou necessário prevenir suas congregações contra semelhantes, desequilibradas e às vezes falsas manifestações, que em algumas igrejas primitivas ocasionaram perturbações.
As coisas se modificaram quando o Cristianismo pouco a pouco foi se concentrando ao redor da Igreja de Roma. Desde o princípio, o mundo latino inclinou-se para o Cristianismo, não tanto pelos dons do Espírito Santo manifestado em seus fieis, e sim, pelo conceito de um Deus que era Pai de todos os homens e não apenas dos cidadãos romanos. A vida religiosa de milhões de pessoas submetidas ao governo de Roma já não estaria determinada por privilégios de berço ou cidadania, senão que dali em diante participariam dela todos os homens, porque todos eram filhos de um só Deus, o Pai de todos. O anelo da fraternidade universal dos homens, tanto romanos como estrangeiros, foi um dos sinais salientes da época e um sintoma do reavivamento espiritual do mundo.
Novamente a tônica do Cristianismo se modifica ao propagar-se pela Europa ocidental. Na Idade Média, nem Deus Pai nem Deus Espírito Santo inspiram a vida religiosa daqueles tempos profundamente devotos, senão que a figura central da vida da Igreja é Jesus Cristo, o Homem das Aflições, que suporta o fardo da espécie humana e com divina compaixão pelos pecados do mundo oferece Sua vida em sacrifício para salvá-lo. Assim, a Idade Média nos mostra um Cristianismo em que a figura de Cristo é o objeto capital da intensa devoção e mística piedade de que a mente medieval foi capaz no mais alto grau. Nunca adornou a Igreja uma tão ardente adoração, uma compaixão tão terna e uma tão íntima unidade com a vida de Cristo, como naqueles dias, quando os insignes santos e místicos medievais, com sua fervente adoração e a veemente devoção de suas consagradas vidas, alcançaram os pináculos espirituais e ficaram na história da religião cristã como luzeiros entre as tenebrosas páginas de ignorante hipocrisia e perseguição cruel.
Contudo, o Renascimento assinalou a transição e o começo de um novo período da história do Cristianismo, em que o fator predominante ia ser Deus Espírito Santo. A teoria da evolução, os conceitos filosóficos de Bergson, a hipótese da relatividade de Einstein, que formará época na história da ciência, bem como a arte cinematográfica, e em geral o mais vivo reconhecimento da obra de Deus neste mundo que nos rodeia, são todos eles, e ainda outros mais, os sinais dos tempos que anunciam o reinado do Espírito Santo. No Cristianismo, num imediato futuro, Deus Espírito Santo ocupará o mesmo lugar proeminente que durante a cristandade latina ocupou Deus Pai, e durante a Idade Média Deus Filho, na vida da Igreja. Incontestavelmente o Cristo vivo, o verdadeiro coração da fé cristã será sempre a suprema realidade da Igreja cristã; porém, assim como nas passadas idades da história cristã predominaram sucessivamente as duas primeiras Pessoas da Trindade, da mesma forma na idade futura prevalecerá a influência do Espírito Santo. Por isto, faz-se necessário hoje, mais do que nunca, obter-se um melhor conhecimento da terceira Pessoa da Trindade e de Sua atuação e influência em nossa vida diária, não apenas na religião cristã, como em todas as religiões fundamentais do mundo, pois em toda a parte a dita influência se fará sentir.
Na Trindade divina o Pai é a vontade criadora; o Filho é Deus crucificado em sua própria criação; e Deus em sua criadora atividade, que projeta seu universo e o cria pelo poder de sua mente, é o Deus Espírito Santo. Com esta energia de Deus nos pomos em contato, por meio da mente superior, e ao experimentar este contato nos convencemos de que há um só Poder, uma Força, uma Energia em todo o Universo, isto é, a Energia criadora de Deus o Poder do Espírito Santo.
É fácil compreender a importância que tem para nossa vida diária o conceito dinâmico do Universo do Espírito Santo. Isto nos capacita a considerar tudo sob o seu aspecto de energia, e entrar em contato, por assim dizer, com o poder criador que impulsiona tudo para a perfeição. Este contato infunde em nós a criadora energia do Espírito Santo, inflama em nós o Fogo criador, e então somos capazes de empreender e realizar obras que comumente éramos incapazes de realizar. O contato com o dinâmico Universo converte o homem em vidente e profeta, em reformador entusiasta, e lhe vitaliza todas as modalidades de sua existência. Certamente o de profecia é um dos dons do Espírito Santo, pois o passado e o futuro são constante realidade no ritmo da criação, na qual se manifesta o Espírito Santo, a cujo reino pertence o conhecimento do ciclo máximo da criação e dos inumeráveis ciclos menores da historia da Natureza, das raças, das nações e dos indivíduos.
O Festival do Espírito Santo é o terceiro e último dos principais festivais é o que ocorre na Lua Cheia, no signo de Gêmeos. É o festival do Espírito Santo no qual a humanidade aspira alcançar o Divino (Santo Espírito). Mais do que em qualquer outro dia do ano, as forças e energias de Reconstrução estão presentes, atuando com a máxima intensidade.
Ao encerrar essas reflexões sobre a experiência do Espírito Santo, poder-se-ia parafrasear Paulo: Vivei e convivei sempre alegres e em equilíbrio com todas as formas de vida emanadas pelo Deus-em-nós. Em todas as circunstâncias dai graças e espaço ao Reino de Deus e ao sopro do Espírito. Não extingais o Espírito, sua dinâmica e seus impulsos de vida. Não desprezeis as profecias e escutai sempre de novo a voz dos profetas. Examinai tudo e ficai com o que é bom, com o que é belo, com o que é saudável, com o que é justo, com o que é amoroso. Abstende-vos de toda espécie de mal, de injustiça, de opressão, de morte.
Fontes:
- "Missal Quotidiano e Vesperal", de Dom Gaspar Lefebvre
- "O Credo Cristão", de Charles W. Leadbeater
- "O Fogo Criador", de J. J. van der Leeuw
- "O Espírito Santo Deus-em-nós: uma pneumatologia experiencial", de Volney J. Berkenbrock