quinta-feira, 4 de junho de 2020

NATUREZA DO ESOTERISMO


Uma das definições mais inadequadas do esoterismo é a de que diz respeito ao que está oculto e velado e que, embora pressentido, permanece desconhecido. Infere-se que ser esoterista é estar entre aqueles que procuram penetrar em certo reino secreto no qual o estudante comum não tem permissão de entrar.

A abordagem fundamental dos que procuram captar o esoterismo ou ensiná-lo aos estudantes consiste em enfatizar o mundo das energias e reconhecer que, por trás de todos os acontecimentos do mundo fenomênico existe o mundo das energias, as quais são da maior diversidade e complexidade, mas todas se movem e atuam sob a Lei de Causa e Efeito.

É desnecessário assinalar a natureza prática desta definição e sua aplicabilidade à vida do aspirante individual, à vida da comunidade e dos assuntos mundiais como aos níveis condicionantes imediatos das energias espirituais experimentais que procuram constantemente fazer impacto ou contato com o mundo dos fenômenos – e o fazem sob a direção espiritual, a fim de implementar o Plano Divino. A afirmação acima é de vital importância; todas as demais definições estão implícitas nela, e é a primeira verdade importante que todo aspirante aos mistérios e à universalidade do que move os mundos e fundamenta o processo evolutivo deve aprender e aplicar.

A primeira tarefa do esoterista consiste em captar a natureza das energias que procuram condicioná-lo e que se expressam no plano físico através do seu equipamento ou veículo de manifestação. Portanto, o estudante esoterista deve compreender que:

1. Ele é um agregado de forças herdadas e condicionadas pelo que foi, além de uma grande força antagonista que não é um princípio e que chamamos de corpo físico;

2. Ele é sensível a certas energias, das quais será cada vez mais consciente e que, embora hoje desconheça e não tenham utilidade para ele, deve se tornar consciente em um dado momento, para que possa penetrar com mais profundidade no mundo das forças ocultas. Tais energias poderiam ser malignas para ele se trabalhasse com elas e, portanto, deve saber diferenciá-las e descartá-las; há outras energias que deverá aprender a usar, porque são benéficas e aumentariam seu conhecimento e, portanto, devem ser consideradas boas. Mas tenham em mente que as energias em si não são boas nem más. A Grande Loja Branca, a nossa Hierarquia espiritual, e a Loja Negra empregam as mesmas energias universais, mas com motivos e objetivos diferentes; ambos os grupos são compostos de esoteristas treinados.

Portanto, o esoterista em treinamento deve:

1. Tornar-se consciente da natureza das forças que constituem o equipamento da sua personalidade e que ele próprio levou magneticamente à expressão nos três mundos (físico/etérico, astral e mental), e que são uma combinação de forças ativas. Ele deve aprender a diferenciar entre a energia estritamente física, que responde automaticamente a energias internas e outras, e as que vêm dos níveis emocionais e mentais da consciência, as quais são enfocadas através do corpo etérico, o qual, por sua vez, mobiliza e energiza o veículo físico para certas atividades;

2. Tornar-se sensível às energias impulsionadoras da alma, que emanam dos níveis mentais superiores, as quais procuram controlar as forças do homem tríplice quando ele alcança um determinado grau de evolução bem definido;

3. Reconhecer as energias que condicionam seu meio ambiente, vendo-as não como eventos ou circunstâncias, mas como energias em ação; por esse meio aprende a abrir caminho por trás das cenas dos acontecimentos externos e para o mundo das energias, procurando fazer contato e se capacitar para gerar certas atividades. Assim penetra no mundo dos significados. Os fatos e circunstâncias, os acontecimentos e fenômenos físicos de todo tipo, são simplesmente símbolos do que ocorre nos mundos internos, mundos em que o esoterista deve penetrar até onde a sua percepção permitir; portanto descobrirá sequencialmente mundos que exigirão dele uma penetração científica;

4. Para a maioria dos aspirantes a própria Hierarquia espiritual é um reino esotérico a ser descoberto e que aceitará ser penetrado.

Reconhecer entre a energia e a força, saber discriminar entre os diversos tipos de energia, tanto com relação a eles mesmos (aspirantes e discípulos) como aos assuntos mundiais, e começar a relacionar o que se vê e experimenta com o invisível, o que condiciona e o que determina é a tarefa do esoterista.

As igrejas e os homens devem aprender que nada existe no mundo dos fenômenos, das forças e das energias que não possa ser controlado pelo espiritual. Tudo o que existe é, em realidade, espírito em manifestação. Os povos estão adquirindo mentalidade política, o que os Mestres veem como um grande passo para a frente. Há de se ter alcançado um grande progresso quando as pessoas de orientação espiritual incluírem esta área relativamente nova do pensamento humano e sua atividade internacional dentro do campo da investigação esotérica.

O esoterismo é uma ciência – essencialmente a ciência da alma de todas as coisas – e tem terminologia, experimentos, deduções e leis próprias. Quando digo alma refiro-me à consciência animadora que se encontra na natureza toda e nos níveis que estão fora da zona que de maneira geral chamamos de natureza. Os estudantes se esquecem de que todo nível de consciência, do superior ao inferior, é um aspecto do plano físico cósmico e em consequência – do ponto de vista do processo evolutivo – é de natureza material e – do ponto de vista de determinados Observadores divinos – é absolutamente tangível e formado de substância criadora. O esoterista trabalha todo o tempo com substância; com a substância vivente e vibrante de que são feitos os mundos e que – herdada de um sistema solar anterior – está matizada pelos fatos passados e, como se disse , “já tingida pelo carma”.

O estudo esotérico, unido a uma forma de viver esotérica revela, no devido tempo, o mundo dos significados e conduz oportunamente ao mundo das significações. O esoterista procura descobrir a razão do porquê; luta com o problema dos fatos, acontecimentos, crise e circunstâncias a fim de chegar ao significado que possam ter para ele; quando descobre o significado de qualquer problema específico, utiliza-o como estímulo para penetrar mais profundamente no mundo de significados que recém lhe foi revelado; aprende então a incorporar seus pequenos problemas pessoais ao Todo maior, perdendo assim de vista o eu inferior e descobrindo o eu superior.

O verdadeiro ponto de vista esotérico é sempre o do Todo maior. O estudante vê o mundo de significados como uma rede intrincada e estendida sobre todas as atividades e aspectos do mundo fenomênico.

O esoterismo implica, portanto, em viver uma vida em sintonia com as realidades subjetivas internas, o que só é possível quando o estudante está inteligentemente polarizado e mentalmente enfocado, e que só é útil quando ele pode se mover entre estas realidades internas com destreza e compreensão.

Toda verdadeira atividade esotérica produz luz e iluminação; cujo resultado é a intensificação e qualificação da luz herdada da substância mediante a luz superior da alma – no caso da humanidade que trabalha conscientemente. Por conseguinte, podemos definir o esoterismo e sua atividade em termos de luz. 

O esoterista se ocupa da luz nos três aspectos, mas atualmente é preferível que se ocupe de uma abordagem diferente até que – mediante desenvolvimentos, ensaios e experimentos – conheça as triplas diferenciações em um sentido prático e não somente teórico e místico.

Desafiaria todos os esoteristas a procurarem uma abordagem prática do que delineei e pediria para viverem uma vida redentora, desenvolverem a sensibilidade mental inata e atuarem continuamente de acordo com o significado que há por trás dos assuntos mundiais, nacionais, comunais e individuais. Se assim o fizerem, então a luz brilhará repentina e crescentemente sobre seu caminho. Portanto, poderão ser portadores de luz e saber que “nessa luz verão a Luz”, e que também seus semelhantes a verão.


Alice A. Bailey



Fonte: Lucis Trust - Escola Arcana
www.lucis.org
Fonte da Gravura: Tumblr.com

UM PADRÃO DE MEDITAÇÃO DIÁRIA


Permitir que o padrão da meditação diária prevaleça entre tantos outros padrões da nossa vida, não só imaginária, mas, efetivamente, é um desafio para o que há de melhor em nós; para o melhor em nós. É uma introdução mundana para uma lei cósmica de sacrifício.

Há uma história indiana que nos conta como Vishnu vinha todo dia trazer oferendas para Shiva, colocando mil flores de lótus aos seus pés. Um dia, após alguns milhares de anos desta adoração, ele descobriu, ao deitar as flores de lótus, que havia apenas 999 naquele dia. (Estas coisas acontecem, eventualmente.) Sem hesitar ele arrancou um de seus olhos, lindo, com a forma de uma flor de lótus, para completar a oferenda, colocando-o entre as 999.

A adoração é uma outra forma de compreendermos a auto-renúncia, que é a dinâmica no coração da meditação e de todo amor. Nos oferece uma forma diferente de encarar o sacrifício. Não como uma perda de alguma coisa preciosa, algo arrancado de nós enquanto interiormente esperneamos e gritamos. Mas, como uma oportunidade preciosa para entrarmos em contato com maior bem-aventurança e plenitude. Aceitar, e ceder a estes momentos, é um presente do louvor que reúne todo nosso ser, nos unifica e nos simplifica na súbita alquimia do amor.

Esta é a ação multi-dimensional do mantra na meditação, e esta é a razão pela qual precisamos ser tão simples ao repetirmos o mantra, para que todas estas dimensões sejam harmonizadas e desenvolvidas conjuntamente. Não é apenas um sacrifício de tempo... O sacrifício inclui nossos pensamentos e imaginação, as mil e uma conversações em todos os níveis de nossa mente. Assim como o foi para Vishnu, é uma oferenda de toda nossa forma de ver e conhecer, uma cegueira parcial e temporária, que é um ato de fé, noutra e superior forma de ver e conhecer.

O mantra introduz… na experiência da oração um ato espontâneo de louvor que envolve todo nosso ser. Não apenas dizendo a Deus... quão onipotente, onisciente e onipresente "ele" é. Mas aceitando o convite inerente à nossa verdadeira existência para nos tornarmos como Deus é: pela graça, pela adoção, pelo amor.

Nesta cooperação entre graça e natureza nosso ser torna-se pleno. Cristo, aquele que cura, opera mais unindo profundidade e superfície, o interior e o exterior, na pura dádiva do louvor que é nosso e dele, à medida em que ouvimos o mantra. Como o Padre John Main, OSB ensinou, nossa meditação se torna uma oração mais pura, não só na ação de repetirmos o mantra em face às distrações, mas na facilidade em ouvi-lo.


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "Caríssimos Amigos" - Leitura de 06/04/2008
WCCM International Newsletter - Janeiro de 1997 - Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/santo-medita%C3%A7%C3%A3o-ioga-meditando-198958/

O ALFA E O ÔMEGA DE TODA A FILOSOFIA E RELIGIÃO


A quintessência, o Alfa e o Ômega de toda a filosofia e religião resume-se no seguinte:

– que existe uma Realidade absoluta, infinita, eterna, consciente,

– que todas as coisas do universo, percebidas como várias e distintas, não são senão manifestações múltiplas dessa única Realidade...

A pluralidade dos fenômenos é meramente aparente – a unidade do Noúmeno é real.

A Realidade não teve princípio, nem terá fim – ao passo que seus fenômenos começam e acabam, nascem e morrem. Os fenômenos transitórios são causados – a eterna Realidade é incausada, mas causadora de todos os efeitos.

A perfeição do homem consiste na faculdade de perceber a unidade da Causa absoluta através da pluralidade dos efeitos relativos. Os seres irracionais, dotados de sentidos mas destituídos de razão, não percebem senão a pluralidade dos fenômenos, ignorando a unidade do Noúmeno. Quanto mais próximo está um homem da animalidade do irracional, tanto mais percebe a pluralidade dos fenômenos e tanto menos conhece a unidade do Noúmeno – e vice-versa.

Perceber a pluralidade sem a unidade, é analfabetismo filosófico; perceber a unidade sem a pluralidade, é unilateralismo de principiante; perceber a unidade na pluralidade, é que é o mais alto grau de perfeição. O primeiro estado é caos, o segundo é monotonia, o terceiro é harmonia.


Huberto Rohden



Fonte: do livro "Profanos e Iniciados", Ed. Alvorada, 1990
Fonte da Gravura: Tumblr.com

ENCONTRAR A DEUS


Receio que não haja um meio fácil, porque encontrar Deus é coisa muito difícil e árdua.

O que chamamos Deus não será algo que a mente cria?

Você sabe o que é a mente. A mente é o resultado do tempo e pode criar qualquer coisa, qualquer ilusão. Ela tem o poder de criar ideias, de projetar-se em fantasias, em imaginação; está constantemente acumulando, eliminando, escolhendo. Sendo preconceituosa, estreita, limitada, a mente pode delinear Deus, ela pode imaginar o que seja Deus, de acordo com suas próprias limitações. Porque certos instrutores, sacerdotes e chamados salvadores disseram que há Deus e o descreveram, a mente é capaz de imaginar Deus nesses termos; mas essa imagem não é Deus. Deus é algo que não pode ser encontrado pela mente.

Para compreender Deus, você precisa primeiro compreender a sua própria mente - o que é muito difícil. A mente é muito complexa, e compreendê-la não é fácil. Mas é bastante fácil sentar e embarcar em algum tipo de sonho, ter várias visões, ilusões, e depois pensar que se está muito próximo de Deus. A mente pode ludibriar-se muito.

Assim, para realmente experimentar aquilo que se possa chamar Deus, você precisa estar completamente tranquilo; e acaso não verificaram já como isso é extremamente difícil? Nunca observaram que mesmo as pessoas mais velhas nunca se sentam e ficam quietas, como elas se agitam irrequietas, como movem os dedos e gesticulam com as mãos? Fisicamente, é difícil sentar e ficar quieto; muito mais difícil é a mente aquietar-se! Você pode seguir um guru e forçar a mente a aquietar-se; mas sua mente não estará realmente quieta. Ela ainda estará desassossegada como uma criança que se pôs de castigo num canto. É uma grande arte ter a mente completamente silenciosa sem coerção; e só então há a possibilidade de experimentar aquilo que se pode chamar de Deus.

Você está mesmo interessado em descobrir? Você faz perguntas e depois se senta; você não ouve realmente. Já notaram como as pessoas mais idosas quase nunca ouvem vocês? Elas raramente os ouvem porque estão muito encenadas em seus próprios pensamentos, em suas próprias emoções, em suas próprias satisfações e tristezas. Espero que vocês tenham notado isto. Se souberem observar e ouvir, realmente ouvir, vocês descobrirão uma porção de coisas, não só sobre as pessoas mas também sobre o mundo.

Aqui está esse rapaz perguntando se Deus está em toda parte. Ele é muito novo para fazer esse tipo de pergunta. Não sabe o que ela realmente significa. Ele provavelmente tem alguma vaga ideia de alguma coisa - a sensação da beleza, uma percepção dos pássaros no céu, de águas correntes, de um rosto bonito, sorridente, de uma folha dançando ao vento, de uma mulher carregando um fardo. E há ira, ruído, tristeza - tudo isto está no ar. Então, ele está naturalmente interessado e ansioso por descobrir o que significa a vida. Ouve as pessoas mais velhas falarem sobre Deus e fica intrigado. É muito importante para ele fazer tal pergunta, não é mesmo? E é igualmente importante que todos vocês busquem a resposta; portanto, como eu disse outro dia, vocês começarão a captar o sentido de tudo isto interiormente, inconscientemente, no mais profundo de si mesmos; e então, à medida que crescerem, terão ideias de outras coisas além deste horroroso mundo de conflitos. O mundo é belo, a Terra é farta; mas nós a estragamos.


J. Krishnamurti



Fonte: do livro "O Verdadeiro Objetivo da Vida", Ed. Cultrix, SP
Fonte da Gravura: La Fuente