Estamos enfrentando uma tremenda crise; uma crise que os políticos nunca conseguem resolver porque estão programados para pensar de um modo específico – nem os cientistas conseguem compreender ou resolver a crise; nem ainda o mundo dos negócios, o mundo do dinheiro. O momento decisivo, a decisão perceptiva, o desafio, não está na política, na religião, no mundo científico; está na nossa consciência. Tem de se compreender a consciência da humanidade, que nos trouxe a este ponto. (The Network of Thought, p 9)
E nós somos responsáveis. Não se engane dizendo: “Que posso fazer? Que posso fazer como indivíduo, vivendo uma vidinha de imitação, com toda a sua confusão e ignorância?” A ignorância só existe quando você não conhece a si mesmo. Autoconhecimento é sabedoria. Você pode desconhecer todos os livros do mundo, todas as teorias mais recentes, mas isso não é ignorância. Ignorância é não se conhecer profundamente; e você não pode se conhecer se não conseguir olhar para si mesmo, ver-se como é realmente, sem nenhuma distorção, sem nenhum desejo de mudar. (Talks in Europe 1968, p 56)
É a nossa Terra, não a sua ou a minha ou a dele. Estamos destinados a viver nela, ajudando-nos uns aos outros, não nos destruindo uns aos outros. Isto não é nenhuma bobagem romântica, mas o fato real. Mas o homem dividiu a Terra, tendo esperança de que com isso no particular ele vá encontrar felicidade, segurança, uma sensação de permanente conforto. Até que ocorra uma mudança radical e apaguemos todas as nacionalidades, todas as ideologias, todas as divisões religiosas, e estabeleçamos um relacionamento global – primeiro psicologicamente, interiormente, antes de organizarmos o exterior – continuaremos com guerras. Se você causar dano a outros, se você matar outros, quer por raiva quer pelo assassinato organizado que é chamado de guerra, você – que é o resto da humanidade, não um ser humano separado combatendo o resto da humanidade – está destruindo a si mesmo. (Krishnamurti to Himself, p 60)
Um ser humano é, psicologicamente, a humanidade inteira. Ele não só a representa: ele é a totalidade da espécie humana. Ele é essencialmente toda a psique da humanidade. Contra essa realidade, várias culturas impuseram a ilusão de que cada ser humano é diferente. Nessa ilusão a humanidade tem sido presa durante séculos, e essa ilusão acabou se tornando uma realidade. Se a pessoa observar de perto toda a estrutura psicológica de si mesma, descobrirá que, quando uma pessoa sofre, toda a humanidade sofre em graus variados. Se você é solitário, a humanidade inteira conhecerá essa solidão. A agonia, o ciúme, a inveja e o medo são conhecidos de todos. Portanto, psicologicamente, interiormente, uma pessoa é como a outra. Pode haver diferenças em termos físicos e biológicos; uma pessoa é alta, baixa etc., mas, basicamente, uma pessoa é o representante de toda a humanidade. Assim, psicologicamente você é o mundo; você é responsável por toda a humanidade, e não por si mesmo como ser humano à parte, o que é uma ilusão psicológica... Se compreende todo o significado do fato de que uma pessoa é psicologicamente o mundo, então a responsabilidade se torna amor irresistível. (Letters to the Schools vol I, p 20)
Por que existe, temos de perguntar, esta divisão, – os russos, os americanos, os britânicos, os franceses, os alemães etc. – por que existe esta divisão entre homens, entre raças, cultura contra cultura, uma série de ideologias em oposição a outra? Por quê? Onde é que existe esta separação? O homem dividiu a Terra entre sua e minha – por quê? Será que tentamos encontrar segurança, autoproteção, em um grupo específico ou em uma crença, fé, específica? Porque as religiões também dividiram os homens, colocaram homem contra homem – os hindus, os muçulmanos, os cristãos, os judeus etc. O nacionalismo, com o seu lamentável patriotismo, é na realidade uma forma glorificada, uma forma enobrecida, de tribalismo. Numa tribo pequena ou numa tribo muito grande, há um sentido de estar unido, de ter a mesma língua, as mesmas superstições, o mesmo tipo de sistema político, religioso. E a pessoa sente-se segura, protegida, feliz, confortada. E por essa segurança, esse conforto, estamos dispostos a matar outros que têm o mesmo tipo de desejo de estarem seguros, de se sentirem protegidos, de pertencerem a algo. Este terrível desejo de nos identificarmos com um grupo, com uma bandeira, com um ritual religioso etc., dá-nos a sensação de termos raízes, de não sermos andarilhos sem lar. (Krishnamurti to Himself, pp 59-60)
O que é que fica magoado? Diz-se que sou eu que fico magoado. O que é esse “eu”? Desde a infância que se constrói uma imagem de si mesmo. Uma pessoa tem muitas, muitas imagens, não só as imagens que as pessoas lhe dão, mas também as imagens que a própria pessoa construiu: como americano – isso é uma imagem – ou como hindu, ou como especialista. Portanto o “eu” é a imagem que a pessoa construiu de si mesma, como um grande homem, ou um homem muito bom, e é essa imagem que fica magoada. A pessoa pode ter uma imagem de si mesma como um grande orador, escritor, ser espiritual, líder. Estas imagens são o núcleo da pessoa; quando a pessoa diz que está magoada, ela quer dizer que as imagens estão magoadas. Se alguém tem uma imagem de si mesmo e outra pessoa vem e diz: “Não seja idiota”, esse alguém fica ofendido. A imagem que foi construída acerca de si mesmo como não sendo idiota é o “eu”, e esse “eu” fica ofendido. A pessoa carrega essa imagem e essa ferida pelo resto da vida. (The Flame of Attention, p 88)
Ao produzir uma mudança radical no ser humano, em você, você está naturalmente produzindo uma mudança radical na estrutura e na natureza da sociedade. Penso que tem de ser muito claramente compreendido que a mente humana, com toda a sua complexidade, sua intricada rede, faz parte deste mundo externo. O “você” é o mundo, e ao ocasionar uma revolução fundamental – nem comunista nem socialista, mas um gênero de revolução totalmente diferente, dentro da própria estrutura e natureza da psique, de você mesmo – você ocasionará uma revolução social. Ela precisa começar, não exteriormente mas interiormente, pois o exterior é o resultado da nossa vida interior, privada. Quando há uma revolução radical na própria natureza do pensamento, do sentimento e da ação, então obviamente haverá uma mudança na estrutura da sociedade. (Talks with American Students, pp 8-9)
J. Krishnamurti
Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/