(...) Uma das principais características do nosso tempo é a desorientação, qualidade negativa, expressão da atual fase involutiva. Enquanto a palavra de ordem do nosso tempo se mostra nas diretivas conceituais: razão e analise, a da época que se seguirá: intuição e síntese. Se se atentar para a palavra dos nossos homens de pensamento observar-se-á que ela está carregada de erudição e ciência, sendo complexa e difícil, mas que lhe falta orientação da suprema simplicidade da sabedoria e do verdadeiro.
É uma complicação crescente, que marcha para a confusão babélica, com que no fim desse século (20) se encerrará, mesmo no cérebro do dirigente, a nossa assim chamada civilização, para que, desta decomposição possa nascer uma nova civilização, baseada em outros princípios, sustentada por outros cérebros, próprios de um tipo biológico diferente.
O corpo social desta corrente de pensamento que a exauriu o seu ciclo e completou a sua tarefa, com a atual civilização, está se desfazendo. Nesta decomposição prosperam todos os princípios patogênicos que têm função biológica de acelerar a destruição. Em todo campo hoje tudo é destruição. Mas é na putrefação do corpo morto que a vida depõe a semente das suas novas formas. Os grandes criadores, pois, nascem e operam agora, lançando essa semente.
A civilização futura não é muito compreensível aos espíritos de hoje. Pela observação de algumas normas mentais do nosso mundo atual, verificamos que este, se é indiscutivelmente muito forte no campo da desorientação e da destruição é, de outro lado, fraquíssimo no campo da compreensão. Como é possível dirigir povos, provocar e desencadear guerras, legislar, impor isto ou aquilo, agir em qualquer campo sem ter compreendido o que seja a vida e a morte, a finalidade de cada coisa, o próprio plano do universo? O instinto que tudo guia, basta para o bruto, e ainda que em grande parte o homem esteja embrutecido, o problema da vida se tornou, atualmente, muito complexo para que esses instintos possam bastar. No mundo político, social, econômico, religioso, cultural, movemo-nos em um mar de contradições. Falamos de matéria, espírito, eletricidade, justiça, liberdade, direitos e deveres etc., sem compreender o que exatamente sejam e sem saber colocar cada conceito no seu devido lugar, como parte integrante de um plano que logicamente tudo engloba. Na cultura somos muito fragmentários e divergentes, perdidos em particularidades e em sutilezas inconcludentes. No campo prático se mata, rouba-se, age-se para o bem ou para o mal, sem saber a exata consequência das próprias ações. Não o sabe nem quem faz o bem nem quem pratica o mal. Apenas névoas. Existe a fé mas a fé não é exata, é vaga. E a razão de muito pouco vale. Impõe-se tudo esclarecer e tudo demonstrar, para que o homem tudo possa compreender seriamente.
Estranha transformação está sofrendo o materialismo! Escava e escava na matéria e eis que encontra o espírito que havia negado. E as religiões que clamam pelo triunfo porque vêem na ciência uma confirmação, encontrarão uma alma individualizado, designada com aqueles termos e conceitos que antes lhes pareciam tão adversos e demolidores. Hoje todos se encontram divididos sem conhecer a verdade pela qual lutam. Quem realmente luta pela verdade, que é una, simples, única, não pode estar dividido. Quem está dividido, está nas seitas, nos partidos, nos agrupamentos e interesses humanos, no próprio egoísmo, mas não na verdade. Quanto ainda estamos longe de a haver compreendido. A unidade esta no amor recíproco, filho da compensação que ainda falta. Deus e a vida estão na unidade. No exclusivismo e separatismo está "satanás", isto é, a involução e a morte.
O ridículo e o horror da nossa atual situação serão compreendidos pelas gerações futuras. Então se verá a imensa estupidez de matar, porque se concluía que não se mata uma pessoa destruindo-lhe o corpo. Os chamados mortos permanecem junto a nós mais vivos do que antes e, segundo foram por nós tratados, assim também nos tratarão. Aqueles que se arvoram em juízes e justiceiros, não o são mais do que por um momento, desempenham, para fins que eles mesmos o ignoram, uma dada função biológica. Eles serão, por sua vez, de acordo com o que fizeram, julgados e mesmo justiçados. O papel de rico e pobre é instável, e o de vencedor e vencido, é, como nos demonstra a história, transitório para os povos. As revoluções quase sempre devoram os próprios autores e filhos. Quem utiliza a espada perecerá pela espada. Trata-se de equilíbrios de forças, equilíbrios que obedecem a leis invioláveis que se resolvem em esquemas que o homem ignora e contra os quais nada podem. Como é efêmero para quem quer que seja, em tal ordem de coisas, exclamar vitória.
Os próprios imperialismos dissimulados sob máscaras diversas, sempre iguais, não constituem senão uma forma de obediência a Lei, que concede a palma ao vencedor, apenas para confiar-lhe o encargo de, dominando, coordenar, nutrir e permitir a evolução de outras nações menores. E estas, pela mesma lei, se deixam dominar, nutrir, guiar e instruir até se tornarem adultas, para então rebelar-se e se tornarem, como se diz, livres. É o mesmo que se dá com os novos rebentos que crescem sobre o velho tronco, nutrindo-se da sua ruína. Sempre o mesmo esquema: dualismo, centro e periferia, núcleo positivo e elétrons negativos que giram em seu derredor, pai e filhos. Crescidos os filhos, o pai nada mais tem a fazer. O mesmo se passa com as nações imperialistas. E todos, servos da mesma lei, todos enquadrados no desenvolvimento dos ciclos históricos do tempo. É fatal.
Mas hoje não estamos numa época de compreensão e sabedoria. As ideias são magras e poucas, frequentemente erradas; há trevas nas mentes e enormes vácuos. Que terríveis provações serão necessárias para apenas chegar-se a compreender pouca coisa Mas é necessário, porque a sabedoria não se pode conquistar com a eficiência alheia, mas apenas com a própria dor.
Assim progride lentamente o caminho da história. O destino é um desenvolvimento lógico e, quando se lhe conhecem todos os elementos, visto que o efeito esta fatalmente ligado à causa, pode-se então o rever o futuro, para o indivíduo e para os povos. Então a história estará toda presente e o tempo assinala por si só a sucessão de quadros conhecidos, e então também o tempo estagna no pensamento, a intuição supera essa dimensão e tudo aparece permanentemente no presente. O problema está em se conhecer todos os elementos construtivos do sistema de forças formado pelo eu individual, como pelo coletivo de um povo.
Hoje se age ao acaso, em geral por interesses materiais e imediatos, pouco se cuidando do depois que se ignora. Ouçamos as últimas palavras de Buda aos seus discípulos:
"Semeia um pensamento e colheras uma ação.
Semeia uma ação e colheras um hábito.
Semeia um habito e colheras um caráter.
Semeia um caráter e colheras um destino."
Hoje sabe-se pouco ou nada da realidade do imponderável em que se registra tudo quanto pensamos ou fazemos e do qual tudo renasce. Mas hoje domina o involuído e este tipo biológico vive na periferia, não procurando o poder senão na matéria, na força, no dinheiro. O evoluído de amanhã viverá mais em demanda do centro e procurará o poder no espírito, no mérito, na convicção das almas. Ele será mais rico, porque estará mais vizinho da fonte da vida que está no interior, no centro — Deus. Então a conquista imperialista pela guerra será substituída pela conquista das almas, pelo exemplo, pela iluminação, pela paz.
Que imensos continentes inexplorados serão alcançados pela ciência e pela mente de amanhã! É a descoberta feita com espírito de verdade e não com o utilitarismo de hoje, que cumprira o encargo de arredar todas as barreiras do medievalismo espiritual, que ainda nos asfixiam dentro do exíguo âmbito de suas paredes. O pensamento moderno está ainda encerrado em castelos torreados que fazem guerra entre si. O futuro forçará as portas e derrubará os muros. A vida está a céu aberto. As arquiteturas lógicas do passado são agora prisões e não casas. Quando se houver experimentalmente provado aquilo que agora a intuição me diz, isto é, que o espírito é um organismo de forças individualizáveis por onda, frequência e potencial, e que a sua vida se exprime em oscilações dinâmicas ou vibrações de um comprimento de onda que se situa além dos raios ultravioletas, então se poderão construir aparelhos radio-receptores de tais ondas, que revelarão o pensamento incorpóreo humano e super-humano. Então se poderá fazer mecanicamente tudo aquilo que hoje poucos sensitivos o fazem, sós e incompreendidos. Para penetrar-se cientificamente no mundo do espírito, é necessário atingi-lo através da decomposição do sistema dinâmico nas zonas de máxima frequência, assim como para atingir o mundo da energia se decompôs o sistema atômico da matéria nas zonas mais evoluídas, mais velhas e mais complexas. No fundo da matéria, além da energia que já encontramos nela, encontraremos o espírito. Isto é lógico e análogo no fisio-dínamo-psiquismo, trino-monismo do universo. As descobertas já feitas serão comparadas, com as do amanhã, a coisas pueris. Eis o imenso futuro.
Prof. Pietro Ubaldi
Fonte: do livro "Ascensões Humanas"
Tradutores: Erlindo Salzano, Adauto Fernandes Andrade e Medeiros Corrêa Júnior
FUNDAPU - Fundação Pietro Ubaldi
Campos/RJ
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/continentes-bandeiras-silhuetas-975936/