sábado, 15 de fevereiro de 2014

ESPÍRITO - A "INDIVIDUALIZAÇÃO" DO PRINCÍPIO INTELIGENTE

O espírito é a individualização do princípio inteligente, isto é, do princípio espiritual, como um dos elementos constitutivos do universo.

Desligado do corpo material ou físico, é o ser inteligente do mundo espiritual revestido de um envoltório (corpo espiritual) formado de uma matéria sutil, de natureza intermediária entre a matéria física e a extrafísica.

O corpo espiritual é o veículo de exteriorização do espírito, que lhe preside a formação. O espírito propriamente dito, como o princípio inteligente do universo, é a mente espiritual que tece seu invólucro sutil, isto é, seu corpo espiritual através do qual a consciência imortal prossegue em sua manifestação incessante no plano extrafísico, após a morte do corpo físico.

O corpo espiritual é uma formação sutil, tecida de recursos dinâmicos, extremamente plástica e maleável à influência da mente espiritual.

É através do corpo espiritual que o espírito se liga ao corpo físico, desde que se inicia a formação deste no plano físico. A configuração do corpo físico reflete o corpo espiritual, em cada nova encarnação do espírito no mundo físico. Portanto, o corpo espiritual é o veículo de exteriorização do espírito no mundo extrafísico. E o corpo físico é o veículo de exteriorização do espírito no mundo físico, por intermédio de sua ligação com o corpo espiritual.

O desenvolvimento dialético da consciência, portanto, consiste no desenvolvimento dialético do espírito, o qual encerra em si o germe de todas as faculdades e potencialidades.

O espírito é a essência do ser destinado a desenvolver as suas faculdades e potencialidades trabalhando no seio da natureza, em interação (ação recíproca) com a matéria, vestindo-se de matéria densa no plano físico e desnudando-se dela no fenômeno da morte, para revestir-se de matéria sutil no plano extrafísico e depois renascer no plano físico, elevando-se, gradativamente, por vidas sucessivas e inumeráveis, desde as formas inferiores e rudimentares da natureza, até alcançar a perfeição na plenitude da existência.

Embora permaneça em sua unidade, ao passar por milhares e milhares de corpos que anima na escalada da evolução, o espírito é sempre diferente pelas qualidades superiores adquiridas, as quais vão enriquecendo  a sua individualidade, tornando-a cada vez mais consciente e mais livre na espiral evolutiva de suas existências no plano físico e no plano extrafísico.

Até  configurar-se no indivíduo humano, o princípio inteligente atravessou lentamente as faixas elementares da natureza, incorporando em seu próprio veículo de exteriorização as conquistas das experiências infinitamente repetidas, que lhe propiciaram o automatismo dos impulsos fisiológicos e psicológicos, transformando, gradativamente, toda a atividade nervosa em vida psíquica.

O automatismo que revela a inteligência de todas as ações espontâneas do corpo espiritual, com repercussão no corpo físico do indivíduo, é sustentado pelo mecanismo dos reflexos. O reflexo é definido como a resposta involuntária a um estímulo, envolvendo, portanto, uma reação automática. Os reflexos podem ser incondicionados e condicionados.

Os reflexos incondicionados são os reflexos congênitos, os quais são seguros e estáveis, como que hauridos da espécie, tais como os relacionamentos com as funções de nutrição e proteção.

Os reflexos condicionados são os que se utilizam da intervenção necessária do córtex cerebral (substância cinzenta que recobre o cérebro), e que não surgem espontaneamente, mas são adquiridos pelo indivíduo, no curso da existência. Estes reflexos se desenvolvem sobre os reflexos preexistentes, à maneira de construções emocionais, por vezes instáveis, e sobre os alicerces das vias nervosas pertencentes aos reflexos incondicionados.

Os reflexos condicionados, adquiridos como efeito acumulado das experiências, determinam o comportamento do indivíduo perante o meio em que atua, ou diante de qualquer situação a que for submetido.

Ao propiciarem a expansão da vida mental, os reflexos condicionados assumem, em tais condições, um caráter psíquico, passando então a ser denominados de reflexos psíquicos. Estes reflexos são de suma importância nos processos mentais, que constituem o psiquismo do indivíduo.

Os reflexos psíquicos são, assim, o desdobramento dos reflexos condicionados na zona mais profunda do campo mental, sede da consciência, onde se processam as reações que condicionaram os diversos estados mentais do indivíduo.

No homem, essas reações mentais condicionam o caráter de sua personalidade  e o seu comportamento na vida de relação, com vastas implicações no campo moral. A conquista da razão, que lhe faculta o livre-arbítrio e o discernimento, também lhe impõem, perante sua consciência de espírito imortal, a responsabilidade dos próprios atos e suas consequências.

O espírito, assim, ao imprimir em seu corpo espiritual os reflexos condicionados  adquiridos como efeito acumulado das experiências vividas em cada existência, na condição de homem terreno, transforma esse efeito em reflexos psíquicos responsáveis pelas reações que condicionam a sua personalidade. Daí a necessidade das reencarnações, para que ele possa se libertar de condicionamentos psíquicos inferiores, pois o espírito imortal é destinado à perfeição.

Na vida mental do espírito humano, esteja o espírito ligado ou não a um corpo físico, cada mente emite e recebe estímulos e pensamentos, estabelecendo uma ligação sob a forma de influência recíproca com outras mentes.

O desenvolvimento mental e, consequentemente, o desenvolvimento da consciência é o produto da interação (ação recíproca) da individualidade espiritual, inteligente, com a natureza e com os outros seres inteligentes. A consciência, entretanto, é uma propriedade, um atributo do espírito, embora necessite dessa interação para desenvolver-se.

O desenvolvimento é o processo de realização de um fenômeno que, como tal, só pode ocorrer ao se reunirem todas as condições necessárias à sua manifestação.

Ao iniciar cada nova existência na condição de homem terreno, o espírito traz consigo as conquistas resultantes de suas experiências anteriores, bem como os condicionamentos que constituem sua herança psíquica, os quais vão interferir na formação da personalidade do indivíduo.

Por esse aspecto, pode-se dizer que o homem, como espírito, é o herdeiro de si mesmo. Em relação ao futuro, todavia, ele é o arquiteto de si mesmo. Por já ter conquistado a razão, que lhe concede o livre-arbítrio e o discernimento, ele é responsável pela construção de seu próprio destino, com todas as consequências que possam advir de sua escolha entre o bem e o mal. Daí a importância da educação moral do homem, ao lado da educação intelectual.

O homem, no seu estado atual de desenvolvimento, físico e espiritual, é o resultado de um longo e lento processo de evolução, através de milhões e milhões de anos, realizada sob a ação do princípio inteligente, após ter este passado pelas faixas elementares da natureza.

Portanto, o homem é um espírito imortal, em permanente evolução, na qual deverá desenvolver progressivamente as suas faculdades e potencialidades.

O desenvolvimento dialético do espírito deverá se estender ao infinito, em direção a níveis mais elevados de aperfeiçoamento, em que o espírito passará a ter consciência, com senso de responsabilidade, do seu papel de co-criador.

Esse desenvolvimento dialético consiste no movimento compreendido nos momentos dialéticos do nascer, morrer e renascer, os quais caracterizam o processo palingenésico, ou seja, das reencarnações sucessivas do espírito, sempre visando ao seu progresso na espiral evolutiva.





José Marques Mesquita





Fonte: do livro "A Dialética Espiritualista", Ed. Mandarino, Rio de Janeiro, 1985.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

A MENTE SOBRE A MATÉRIA ESTÁ AQUI

A mente sobre a material está aqui, agora. Sempre esteve aqui. Sempre tivemos esse poder. Nascemos com ele. A habilidade para alcançar a mente sobre a matéria é tão natural quanto respirar.

Então, qual é o problema?

Nós também nascemos com uma força de consciência chamada "o oponente" ou ego, embutida em nossas próprias células cerebrais. O ego nos diz que a mente e a matéria estão separadas; que há um espaço entre nós e a cadeira à nossa frente. E assim, com o nosso poder inato da mente sobre a matéria, acreditamos naquilo que o nosso ego nos diz, e agora, com esse poder inato da mente sobre a matéria, literalmente, abrimos mão de todo o poder e controle sobre a matéria e sobre o mundo externo em torno de nós. Isso só acontece porque nós acreditamos que a matéria e o mundo exterior são mais poderosos do que a nossa mente! Bom trabalho, ego! Você nos enganou. Você nos iludiu. Você usou o nosso próprio poder contra nós.

Nossa crença de que a matéria é mais poderosa se torna uma profecia auto-realizável, porque a nossa consciência cria essa mesma realidade.

Nós já temos a certeza perfeita. O problema é que temos certeza em nossas dúvidas. Como resultado, nós damos poder a nossas dúvidas e preocupações e elas se tornam a nossa realidade. Portanto, o verdadeiro problema não é uma incapacidade de liberar o poder de nossas mentes. O único problema é o poder do nosso ego de seduzir nossas mentes para a construção de uma realidade que o nosso ego quer, não a realidade que nós queremos.

Nós somos controlados pelo ego e, portanto, temos um mundo fabricado pelo ego humano. 

Há, em essência, três estágios de consciência, que todos nós viemos a este mundo para alcançar:

1. Mente e Matéria

2. Mente sobre a matéria

3. A mente é Matéria.

Mente e matéria é um estado de consciência em que percebemos o espaço entre nossas mentes e o mundo físico que nos rodeia. Nós vemos a mente e o mundo material como entidades distintas e separadas. Dentro deste espaço vêm a escuridão e o caos e eventos aleatórios. Como nós acabamos de aprender, isso ocorre apenas através da influência do ego, que constantemente nos conta esta mentira sobre o mundo exterior ser separado e mais poderoso.

O estágio chamado Mente sobre a Matéria surge quando aprendemos a sabedoria da Kabbalah e usamos as ferramentas kabalísticas para elevar a nossa consciência para fora do reino do ego. Em seguida, nós começamos a experimentar momentos de controle sobre a realidade física. Nós experimentamos um milagre maior ou menor, aqui e ali. Testemunhamos momentos de sincronicidade, que nos revelam uma ordem por trás do caos. Percebemos que nossas mentes podem, muitas vezes, assumir o controle sobre o mundo e sobre os acontecimentos que se desenrolam ao nosso redor. Na verdade, nós reduzimos o ego para reduzir o espaço entre a mente e a matéria. Nós forjamos uma ligação entre a mente e a matéria, nos dando uma pequena medida de controle.

O terceiro estágio, chamado Mente é Matéria, é o estado de consciência que um mestre Kabalista alcançou, um nível que toda a humanidade está destinada a alcançar. Existe zero espaço entre a mente e o mundo físico. Na verdade, a mente é o fabricante do mundo físico e, portanto, há 100% de controle sobre todos os eventos e situações. É por isso que um Kabalista é capaz de ajudar seus alunos a experimentar bênçãos, milagres e maravilhas extraordinários.

Mais uma vez, é o ego que cria a ilusão da Mente e Matéria. Quanto maior o ego, maior o espaço entre os dois.

Podemos alcançar uma medida de mente sobre a matéria em proporção direta com a quantidade de ego que estamos preparados para abrir mão. Entretanto, esteja avisado: Esta não é uma tarefa fácil, pois o ego é a força mais poderosa, dominante e formidável na Terra.

A completa erradicação do ego é a maneira como conseguimos o controle total sobre a realidade física. É quando nossas mentes serão capazes de fabricar um universo de perfeita paz e de paraíso duradouro, uma vez que esse universo se torna livre de todos os egos, eliminando assim todo o espaço entre os nossos pensamentos e a realidade física.

Nós não precisaremos de computadores quânticos. O maior computador quântico no universo é a mente humana, livre de ego. Mas, enquanto nós tivermos o nosso ego no controle, nós estaremos convencidos de que o mundo exterior, incluindo um supercomputador quântico, é a resposta para os nossos problemas e o poder supremo da humanidade.

Quando a revelação aconteceu no Monte Sinai, todo o mundo experimentou o paraíso e existência imortal.

Então o que aconteceu? Onde estão?

Moisés foi para a montanha e não retornou quando os israelitas esperavam que ele retornasse.

Os israelitas estavam convencidos de que um bezerro de ouro, uma tecnologia externa, física, era necessária para se conectar à Luz do Criador, a realidade dos 99%, de onde toda a sabedoria, o conhecimento, as soluções, a felicidade e as bênçãos irradiam.

Os israelitas acreditavam que precisavam construir o Bezerro de Ouro, porque eles viram que na verdade Moisés estava morto!

É isso mesmo!

A força chamada de "Satan" ou O Oponente, foi autorizada a testar a certeza dos israelitas! Os israelitas tinham apenas que demonstrar certeza no Sinai, na existência imortal e no êxtase que estavam experimentando.

O Oponente (ego), em seguida conjurou uma imagem de Moisés morto! Todos os 600.000 israelitas foram testemunhas disso. E porque os israelitas acreditaram no que eles viram, porque eles tinham certeza na ilusão que o Oponente fabricou, eles deram poder para o mundo físico externo, e a morte renasceu no Sinai.

Este foi o nascimento da religião.

Este foi o momento em que nós entregamos todo o controle para o mundo que nos rodeia - um bezerro de ouro, um rabino, um pregador, ou qualquer tipo de religião organizada que iria trabalhar em nosso favor – ao invés de nós alcançarmos nossa própria conexão direta e pessoal com a Luz do Criador, através da nossa própria transformação de caráter.

Durante os últimos dois mil anos, nós temos permitido que o nosso ego governe, e assim, a religião organizada continuou a governar e causar estragos em todo o mundo, apesar dos ensinamentos poderosos de Moisés, Jesus e do profeta Maomé.

Tudo tem sido distorcido. A guerra à qual a Torá, o Novo Testamento e o Corão se referem é na verdade a guerra contra o ego. Mas quando você lê esses textos sagrados de forma literal, você lê que a guerra é contra um inimigo externo. Este é o teste!

Vamos realmente cair na ilusão de que meu inimigo está lá fora? Que o mundo externo pode controlar e afetar a minha vida? Ou vamos passar no teste e perceber que apenas o meu próprio ego precisa ser derrotado e é assim que eu construo uma ponte para o meu vizinho e uma ponte para me dar acesso e controle sobre o mundo ao meu redor.

Então, como vamos conseguir de volta esse poder?

Amar ao Próximo significa espaço zero entre as pessoas.

Amar ao Próximo é o que remove o espaço entre a mente e a matéria.

Derrotar a influência negativa do ego é como nós alcançamos a tecnologia do Amar ao Próximo. É apenas o ego que cria um espaço entre as pessoas.

Espaço entre as pessoas cria espaço entre a mente e a matéria em nossas mentes. E essa é a fonte de todo o caos.

Amar ao Próximo não é um conceito moral. Não é um conceito ético ou algum nobre ideal "espiritual".

É tecnologia. Pura e simples. É a nano tecnologia, é a tecnologia de computação quântica, que nos dá controle absoluto sobre a realidade física, a remoção do caos, da escuridão, da pobreza, da dor, da fome, da poluição, do medo, da preocupação e da falta da perspectiva do mundo material.

Simplesmente através de nossos pensamentos e do poder da consciência humana, podemos transformar o mundo. Mas só quando o ego se vai.

É apenas o nosso ego que nega o poder da consciência e nos torna cínicos e céticos em relação a esta profunda, mas simples verdade.

Essa é uma guerra mortal e quase impossível de ganhar.



(Texto adaptado)




Billy Phillips




Fonte: Estudantes de Kabbalah
http://estudantesdekabbalah.com/2014/02/13/mente-sobre-materia-esta-aqui/
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/

CASTIGOS E PRÊMIOS --- O HOMEM-EGO

Roda do Samsara 250 Castigos e prêmiosA roda do Samsara, simbolizando a inevitável alternância dos opostos da existência







É próprio do ser humano considerado social e psicologicamente “normal” agir em proveito próprio, no interesse do “eu” e dos “meus”. Há sempre nele uma indagação engatilhada – “quanto é que eu levo nisso?”.

Motivação é o termo técnico com que os psicólogos nomeiam "um conjunto de fatores, intrínsecos e extrínsecos (instintos, necessidades, impulsos, apetências, homeostase, libido e outras variáveis intervenientes) que determina a atividade persistente e dirigida para uma finalidade ou recompensa. Entre o fator variável e a finalidade (ou recompensa) situa-se o comportamento que a ela conduz…".

O comportamento humano é sempre motivado, e a Ciência tem se empenhado em pesquisar sobre a motivação, procurando saber a natureza dessa fantástica força motriz que leva o homem a agir ou evitar agir. Foi a partir da tese do determinismo evolucionário de Darwin que o estudo começou. Da doutrina darwiniana partiram W. James e S.Freud para concluírem que é o instinto a força maior. Em McDougall já se encontra a explicação em termos de propósitos… Outras propostas de teoria para a motivação foram aparecendo: o impulso, o prazer, o ajustamento à realidade social… foram sendo apontados como os motivos predominantes.

Embora respeitáveis, nenhuma das teses conhecidas poderá, no entanto, explicar comportamentos como os de Sócrates de Atenas, Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Madre Tereza de Calcutá, Joaquim José da Silva Xavier, Irmã Dulce de Salvador, Aurino Costa do Rio de Janeiro, Mahatma Gandhi da Índia, Albert Schweitzer da Alemanha, Bahá’U'Llah do Irã e outros apóstolos da Verdade e do Amor. Como os cientistas materialistas explicariam, com suas teses sobre motivação, a conduta dos mártires cristãos na arena dos romanos? Como poderão entender como aquele que é Onipotente se deixou torturar nas masmorras dos romanos, nos escárnios dos fariseus, na morte infame do Gólgota? Que faz um ser evoluído se deixar imolar? Instinto?! Alguma necessidade biológica?! Impulso?! Alguma apetência?! Manutenção da estabilidade do meio interno orgânico (homeostase)?! Libido?! Inclinações “propositárias”?! Conveniências sociais?!

Será que os materialistas (e alguns racionalistas) ainda não tentaram encontrar, em suas “teses científicas”, uma resposta a tais questionamentos? Ou pesquisaram, mas, concluindo que seriam forçados a contradizer suas famosas doutrinas, optaram por uma fuga ao desafio, no velho estilo: “deixa isso pra lá!”?

A ortodoxia científica não terá como contestar uma evidência que a experiência impõe e nos permite dizer: na alma há motivos sublimes, muito acima dos motivos próprios da horizontalidade dos homens “normais”. Foram tais motivos que levaram sábios e santos a se conduzirem de modo tão discrepante e até mesmo contrário àquilo que os cientistas entendem como sendo a normalidade humana.

O instinto de conservação é normalmente humano, na medida em que só se vê no homem um animal. Um santo ou um sábio, que se recusa a matar mesmo em “legítima defesa” e mesmo prefere morrer a matar, é tido por estranho (anormal?!), mas clamam veementemente aos teóricos: “Há valores e motivos bem mais altos que o instinto de conservação“.

O instinto de reprodução, ou o princípio do prazer (Freud), é um forte e mesmo dominante motivo humano. No entanto, quando um jovem brahmacharya, isto é, um estudioso da Realidade Divina, embora eroticamente válido, com sublimação e compreensão, e, portanto, sem repressão, se mantém abstêmio de sexo, pode dizer, com autoridade, a Freud: “Eu sou movido por valores e motivos que estão muito além do princípio do prazer“.

O equívoco dos pesquisadores materialistas parece ter sido que seus estudos, predominantemente, foram feitos sobre pessoas primitivas ou (e) perturbadas ou (e) enfermas, e a partir de suas observações e experimentações (metodologicamente, até certo ponto, corretas), violentando um princípio epistemológico, estenderam suas conclusões ao ser humano em geral, ignorando os Sãos e os Santos. É verdade – e eles efetivamente descobriram – que indivíduos primitivos, perturbados e enfermos ou, até certo ponto, indivíduos medíocres, vivendo ainda quase no reino animal, agem por instinto; são impelidos por impulsos; se entregam ao império de suas necessidades; obedecem a apetências; curtem ou padecem a libido; ou, numa hipótese melhor, buscando “ajustar-se” à “realidade social de seu tempo”, se submetem ao processo massificante ou mesmificante do grupo no qual se enturmam.

Aos psicólogos Jung, Frankl, Fromm e outros, lúcidos e não comprometidos com o dogma materialista, nossa homenagem. A eles não cabem as observações acima propostas. Eles não se ativeram às aparências; não reduziram o campo de suas pesquisas à mediocridade e à patologia humanas, mas mergulharam em realidades sublimes da alma, que nem a todos é dado vislumbrar. Suas sábias teses servem de base a suas eficientes terapias, que estão aí­, ajudando os seres humanos a superar as tristes fronteiras obsedantes da doença e da horizontalidade.

Nos meios científicos ocidentais, os estudos sobre a motivação humanas são recentes, isto é, do século XIX. Na Índia, há milênios, os sábios (rishis) postularam que os seres humanos são almas (Jivas) empenhadas no processo da evolução. Não da evolução conforme conceituada por Darwin, que a descreveu como mudanças que se processam na forma anátomo-fisiológica, mas nas mudanças que se passam na consciência. O evolucionismo na consciência, que é destino e desafio às almas todas, é que determina o evolucionismo na forma. À medida que a consciência se amplia, precisa de formas mais aprimoradas, que lhe permitam os movimentos para uma expansão maior; para expressar e gozar um grau maior de liberdade.

Dentro do que poderíamos chamar de “reino humano”, almas há que estão à frente, no rumo do Objetivo Maior. Outras, atrasadas, com uma pobre consciência ainda cativa nas formas grosseiras, têm muito ainda que avançar.

Quem não vê diferenças profundas entre um sábio e um homem rude; entre um santo e um corrupto, um terrorista, um traficante de drogas?

Conforme a amplitude de sua consciência, isto é, conforme seu nível evolutivo, um homem pode ser motivado pelo Amor e atraído para a Paz, para a Beleza, para a Verdade, para a Libertação; um outro, motivado pelo egoísmo, e seduzido pelo dinheiro, pelas altas posições sociais, pela curtição erótica…

Segundo os Mestres hindus, em sua evolução, as almas atravessam duas fases bem nítidas:

1) Na primeira, enquanto primitiva e medíocre, as motivações predominantes na alma, parecidas com aquelas de que os cientistas se aproximaram de caracterizar, são três: poder, gozo e status social. Elas impelem o indivíduo a sobreviver, se expandir, se impor, se gratificar a qualquer custo, mesmo em detrimento do mundo e de Deus. É a fase em que a alma é presa de uma “doença”, que me acostumei a chamar “egosclerose” pois, com o ego pessoal hipertrofiado, todos os talentos são empenhados na promoção, no fortalecimento e no império do mesmo. Assim se expressa um indivíduo “egosclerosado”: “Eu quero, eu posso, e vou tomar tudo para mim. Eu quero, eu posso e vou gozar prazeres ainda maiores e mais intensos. Eu estou numa religião (partido, doutrina, nação, escola de samba, time de futebol…) que é o máximo e que é a (o) única (o) que merece prevalecer. Eu quero, eu posso, e vou explorar e dominar todos… Eu sou o mais inteligente, mais bonito, mais forte, mais brilhante, mais merecedor… Eu ganho na corrida, na força, na esperteza… Eu mereço e vou crescer cada vez mais…”. São tais pessoas que atraem a si grandes dores e geram os sofrimentos maiores da família humana. Nessa primeira fase, quando a alma se auto-afirma, fase da conquista e crescimento ilusórios e neuróticos, os motivos, segundo a lição dos sábios (rishis), são, em resumo:

a. Kama – desejo de prazer sensual, material, mundanal;

b. Artha – o desejo de poder, sob todas as suas formas (econômico, político, parapsíquico ou mental);

c. Dharma – o desejo de se manter e se sentir segura, mediante aceitar o dever (social e religioso) conforme proposto por homens do mundo para homens do mundo.

2) Em sua segunda fase, a alma, já amadurecida pela experiência e curtida pela dor, já plenamente convencida sobre a impermanência do prazer, do poder, das boas posições sociais, inspirada pela Sabedoria, tendo já escutado a sábia “voz que clama no deserto”, tendo já o vislumbre de sua unidade real com todos, com tudo, comungando com a Luz, consegue ver seu egoísmo (o sentir-se distante e diferente do Todo) como o obstáculo que a mantém exilada da Suprema Felicidade. Nessa fase, a alma começa a com-doer-se do sofrimento mundanal, começa a com-padecer-se da dor do próximo, e vê que o ego-separatista, movido por suas motivações inferiores, é a causa do drama universal. Agora, só uma força a motiva: a Libertação. Essa dependerá de autonegação ou abnegação, que a levará a sacrificar a Deus e sacrificar-se pelos filhos de Deus.

A motivação da fase de renúncia (vairagya), é, segundo os sábios (rishis):

d. Moksha – Libertação.

Libertação – de quê?!

Da ignorância, do sofrimento, da morte e da “obrigatoriedade de renascer“.

Em sua primeira fase, a alma é um indefeso joguete atirado à voragem dos opostos existenciais. O prazer a fascina e ela é levada ao gozo quimérico. Cessado o gozo – e sempre cessa! – se sente infeliz. Servidão e dor, orgasmos e lágrimas, pequenas conquistas e perdas dramáticas… Enquanto egocentrada, isto é, alienada de Deus-Uno-Sem-Segundo, a alma é frágil e vacilante, iludida e padecente. Em seu cativeiro, a alma é levada a nascer, a morrer, a re-nascer, a re-morrer…

É renunciando e sacrificando que a alma pode retornar à sua origem e identificar-se com o Uno-Bem-Aventurado-Ser, libertando-se definitivamente. O único meio de uma alma alcançar Moksha (a Libertação) é a abnegação, ou humildação ou minimização do ego pessoal.

Quando um ser humano se deixa imolar e morre com um hino nos lábios, doçura na mente e paz no coração, é que, evoluindo na segunda fase, já não lhe importa a existência, pois já saboreia a Divina Essência.

Tudo isso continua um absurdo aos olhos dos egoístas. Continua estranho aos pesquisadores “cientistas”.

Ora, se estou aqui alertando você (e por que não a mim também?!) sobre as responsabilidades que nos pesam como gerentes dos dons que Deus em nós investiu, não é pretendendo apelar para o medo ao “pranto e ranges de dentes”, castigo inevitável ao administrador negligente ou doloso. O medo não é uma motivação desejável nem digna.

Também não desejo fazer apelo ao prêmio concedido ao “servo bom e fiel”, que consiste em receber mais talentos e maior confiança do Senhor. É, sem dúvida, uma nobre motivação.

Preferível, no entanto, a evitar castigo e ganhar prêmio, é a motivação da fase segunda – a Libertação.

Conduzir-se como “servo bom e fiel” é condição a entrar na iniciação, isto é, na segunda fase da evolução. A motivação predominante, numa alma evoluindo na segunda fase, é fazer render os bens confiados e corresponder, portanto, à confiança do Investidor. É assim que castigos não a amedrontam. Nem prêmios a seduzem. E o resultado disso é Moksha, a Libertação. É o ego-pessoal que, para se salvar, foge dos castigos e ambiciona prêmios. Se uma onda do mar for verdadeiramente sábia, só terá por motivação seu retorno ao Mar, seu identificar-se com o Mar, seu libertador sumir no Mar.

Mas… que há um castigo certo para o “servo mau e infiel”, isso há mesmo. Se não, o Mestre não teria mencionado as “trevas exteriores”. Se assim não fosse, onde a Justiça?!

“Tudo o que o homem semear, isso também colherá” – disse São Paulo, expressando o que os hindus chamam de “Lei do Karma“.

Conforme nosso karma (ação, comportamento, conduta) de agora, tal virá a ser nosso destino. Hoje, nosso destino é aquele que andamos programando mediante nosso agir no passado. Nossa conduta é um rígido decreto, que nos condena a penar ou nos permite curtir – tal é a Lei.

A Lei do Karma é tão válida e inexorável, tão precisa e certa, como qualquer das leis da Biologia, Física ou Química. É tão lei quanto a da gravidade, por exemplo.

É habitual e fácil driblar as leis humanas. Há muitos truques que são manipulados pelos “espertos” deste mundo. Mas não se iludam eles. As penas kármicas os alcançarão e os farão pagar “até o último ceitil“. As consequências do karma – agradáveis ou desagradáveis, isto é, prêmios e castigos – seguirão nossos atos tal qual, como disse Buddha, as rodas do carro perseguem as patas do boi que o puxa. Segundo a Lei-do-Karma, ninguém sofre sem culpa e ninguém goza sem mérito. A sanção é rigorosamente justa e inevitável.

Embora consiga distrair-se com suas gratificações sensuais e com a ilusão de que é poderoso e importante na escala social (colunável, aplaudível, magistrável, reitorável, prefeitável…), o homem-ego realmente não sabe o que seja Felicidade. Apenas distrai-se gozando, e se supõe feliz. Acredita ser proprietário, e assim se sente forte. Bem situado no society, se julga importante. No entanto, quando sobrevém um desastre, quando só e desiludido sobre suas agradáveis quimeras, cai em depressão, se vê desamparado (derrubável, adoecível, fenecível, arruinável, miserável, defuntável…). Em meu modo de ver, é isso que se pode chamar “trevas exteriores”, em contraste com a “Luz interior“.

O homem só conseguirá saber o que seja “Luz interior” onde, em vez de “choro e ranger de dentes”, se desfruta a Paz, “no gozo do Senhor”, mediante dedicação, abnegação, autodoação, renúncia, humildação e boa gerência dos talentos.

E o Senhor tem ainda uma recomendação que nos convém cumprir: “Assim também vós, todas as vezes que tiverdes cumprido todas as ordens, dizei: somos servos inúteis, (pois) fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lucas, 17:10).




Prof. José Hermógenes




Fonte do Texto e da Gravura: 
extraído das páginas 24 a 31 da 1ª edição, de 1985, 
do livro "Deus investe em você", de José Hermógenes, 
e digitado por Cristiano Bezerra.
Ekadanta Yoga
http://www.ekadantayoga.com.br/

LUZ - O CENTRO DE NOSSA VIDA

É importante construir a sua existência a partir de uma ideia fundamental. Esta ideia será como um núcleo, um ponto central. Depois, vários círculos poderão formar-se à volta, mas no centro deve haver uma só ideia; é esta a condição para que a vida ganhe verdadeiramente um sentido, uma coerência. Não é proibido ter a cabeça cheia de ideias e projetos, mas só se pode construir algo de sólido a partir de um ponto central. Poucas pessoas se levantam de manhã com uma ideia fundamental que guiará a sua atividade e o seu comportamento durante todo o dia. A maior parte, desde que acordam, agitam-se interiormente em todos os sentidos e, mesmo que desempenhem corretamente as suas tarefas, alimentam em si um estado de dispersão que prejudica o seu equilíbrio físico e psíquico. Elas devem decidir-se a assentar a sua vida numa só ideia, e então, forças que elas nem sequer conhecem mas que, contudo, estão presentes nelas, em todas as células dos seus corpos, despertarão, associarão os seus esforços, e elas sentir-se-ão guiadas, apoiadas em cada uma das suas atividades. A ideia que devemos pôr no centro da nossa vida, eu resumi-la-ei numa só palavra, mas essa palavra pode desenvolver-se infinitamente: LUZ.





Omraam Mikhaël Aïvanhov





Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: http://www.imageafter.com/