quarta-feira, 3 de junho de 2020

CONSIDERAÇÕES SOBRE A HUMILDADE


É quase impossível superestimar o valor da verdadeira humildade e seu poder na vida espiritual, pois o início da humildade é o início do caminho da bem-aventurança, e a consumação da humildade é a perfeição de toda alegria.

A humildade contém em si a resposta a todos os grandes problemas da vida da alma; é a única chave que dá acesso à fé, início da vida espiritual, pois fé e humildade são inseparáveis.

Na perfeita humildade desaparece todo egoísmo e a alma não vive mais para si nem em si mesma para Deus, mas se perde de vista, mergulha em Deus e é nele transformada.

A essa altura da vida espiritual, a humildade atinge o mais alto grau de exaltação da grandeza. É aqui que todos os que se humilham são exaltados, pois vivendo não mais para si ou no nível humano, o espírito é liberto de todas as limitações e vicissitudes da criatura e da contingência, e mergulha nos atributos de Deus, cujo poder, magnificência, grandeza e eternidade se tornam nossos pelo amor, pela humanidade.

Se formos incapazes de humildade, seremos incapazes de alegria, porque só a humildade pode destruir o egocentrismo que impossibilita a alegria.


Thomas Merton, OSB



Fonte: do livro "Novas sementes de contemplação"
Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/
Fonte da Gravura: http://www.good-will.ch/postcards_es.html

O SENTIDO ESOTÉRICO


[...] O “sentido esotérico” significa, em essência, o poder de viver e funcionar subjetivamente, possuir um contato interno constante com a alma e o mundo no qual se encontra, o que deve se efetuar subjetivamente através do amor, ativamente demonstrado; da sabedoria, constantemente vertida, e da capacidade de incluir e identificar a si mesmo com tudo que respira e sente, uma das notáveis características de todo verdadeiro Filho de Deus.

Quero dizer, portanto, que há de se manter internamente uma atitude mental que possa se orientar à vontade em qualquer direção. É capaz de reger e controlar a sensibilidade emocional, não somente do próprio discípulo, como também de todos com os quais entra em contato. Pela força do seu pensamento silencioso, é capaz de levar luz e paz para todos. Por meio do poder mental, é capaz de se sintonizar com os pensamentos do mundo e o reino das ideias e discriminar e escolher os elementos e conceitos mentais que o habilitarão, como trabalhador do Plano, a influenciar seu meio ambiente e a revestir os novos ideais nesta matéria mental que permitirá que sejam reconhecidos com mais facilidade no mundo habitual do pensamento e do viver cotidianos. Esta atitude mental também capacitará o discípulo a se orientar para o mundo das almas e, deste lugar de elevada inspiração e luz, descobrir seus colaboradores, se pôr em comunicação com eles e – em união com eles – colaborar no desenvolvimento das intenções divinas.

Este sentido esotérico é a principal necessidade do aspirante nesta época da história mundial. Até que os aspirantes tenham captado isto em alguma medida e possam utilizá-lo, não poderão fazer parte do Novo Grupo, nem trabalhar como magos brancos, e estas instruções permanecerão teóricas e sobretudo intelectuais, em vez práticas e operacionais.

A meditação é necessária para cultivar este sentido esotérico interno, e meditação contínua nas primeiras etapas de desenvolvimento. Mas, à medida que o tempo passa e o homem cresce espiritualmente, esta meditação diária dará lugar a uma orientação espiritual constante e a meditação, tal como a compreendemos e dela necessitamos agora, já não será necessária.

O desapego do homem pelas formas que utiliza será tão completo que ele viverá sempre no “centro do Observador” e, a partir deste ponto e atitude dirigirá as atividades da mente, das emoções e das energias que fazem a expressão física possível e útil.

A primeira etapa do desenvolvimento e cultivo do sentido esotérico consiste em manter uma atitude de observação constante e desapegada.


Fundação Lucis Trust - Escola Arcana



Fonte: www.lucis.org/pt-br/422-2/introducao-ao-livros/o-sentido-esoterico/
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/mandala-esot%C3%A9rico-m%C3%ADstico-magia-1866212/

REALIDADE ETERNA DA VIDA


Toda a tradição cristã nos diz... que, caso nos tornássemos sábios, deveríamos aprender a lição de que aqui não temos “nenhuma cidade que nos prende”... Mas, a principal fantasia de muitos dos interesses mundanos, opera a partir de um ponto de vista completamente oposto... sabedoria de nossa tradição..., é a de que a consciência de nossa fraqueza física nos permite enxergar, também, nossa própria fragilidade espiritual. Existe uma consciência profunda em todos nós, tão profunda que, frequentemente, permanece enterrada, na maior parte do tempo, de que devemos estabelecer contato com a integralidade da vida e, com a fonte da vida. Devemos estabelecer contato com o poder de Deus e, de alguma maneira, abrir esse nosso frágil vaso terreno ao amor eterno de Deus...

A Meditação é uma via de poder, pois é o meio de entendermos nossa própria mortalidade. É o meio de nos concentrarmos em nossa própria morte. Ela consegue isso, por ser uma via que segue além de nossa própria mortalidade. É uma via que segue, além de nossa própria morte, até a ressurreição, para uma nova e eterna vida, a vida que nasce de nossa união com Deus. A essência do Evangelho cristão é a de que somos convidados para essa experiência agora, hoje. Todos nós somos convidados a morrer para a nossa própria auto-importância, o nosso próprio egoísmo, nossas próprias limitações. Somos convidados a morrer para nossa própria exclusividade... Nosso convite a morrer, também é o de nascer para a nova vida, para a comunidade, para a comunhão, para uma vida plena e, sem medos. Suponho que seria difícil estabelecer o que é que as pessoas mais temem, a morte ou a ressurreição. Porém, na meditação perdemos nosso medo, pois compreendemos que a morte é morte do medo e, ressurreição é nascer para a nova vida.

Cada vez que nos sentamos para meditar, nos conectamos com esse eixo de morte e ressurreição. Isso se dá, pois em nossa meditação vamos além de nossa própria vida e, de todas as limitações de nossa vida, em direção ao mistério de Deus. Descobrimos, cada um de nós a partir de nossa própria experiência, que o mistério de Deus é o mistério do amor, amor infinito, amor que expulsa todos os medos.

Essa é a nossa ressurreição, elevarmo-nos à completa liberdade que se dá como um alvorecer em nós, uma vez que estejam em foco nossa própria vida e morte e ressurreição. A meditação é o grande meio de focalizarmos nossa vida na realidade eterna que é Deus, a eterna realidade que ali está para ser encontrada em nossos próprios corações. A disciplina de repetir o mantra, a disciplina do retorno diário, pela manhã e à tarde, à meditação, possui esse único e supremo objetivo: o de nos focalizarmos completamente no Cristo, com uma acuidade visual que veja nós mesmos e toda a realidade, como ela é. Ouçamos o que São Paulo escreveu aos Romanos: "Ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo, porque se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor". (Rom 14: 7-8)


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "Morte e Ressureição" - Leitura de 23/03/2008
MOMENT OF CHRIST (New York: Continuum, 1998), pp. 68-70.
Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/universo-c%C3%A9u-star-espa%C3%A7o-cosmos-3591579/

MASCARANDO A INFIDELIDADE


Ao falar de Ananda Moyi Ma, a "Santa Impregnada de Alegria", Yogananda nos diz: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma, de toda tua mente e de todas as tuas forças", Cristo proclamou, "este é o primeiro mandamento."

Rejeitando todo apego inferior, Ananda Moyi Ma oferece fidelidade exclusiva ao Senhor. Com a lógica segura da fé, e jamais recorrendo às distinções excessivamente rebuscadas dos eruditos, a santa, semelhante a uma criancinha, resolveu o único problema da vida humana: estabelecer unidade com Deus.

​O homem esqueceu esta simplicidade absoluta, agora obscurecida por milhões de controvérsias. Negando ao Criador um amor monoteísta, as nações tentam mascarar sua infidelidade com o respeito escrupuloso ao culto exterior da caridade. Estes gestos humanitários são virtuosos porque, por um momento, desviam a atenção do homem de si mesmo, mas não o eximem de sua primordial responsabilidade na vida,  "o primeiro mandamento" a que Jesus se referiu. A edificante obrigação de amar a Deus é assumida pelo homem desde o momento e que respirou pela primeira vez o ar concedido gratuitamente por seu único Benfeitor.


Paramahansa Yoganada



Fonte: do livro "Autobiografia de um Iogue"
Comunidade Monástica Anglicana
Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/espaco-de-partilha
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/b%C3%ADblia-crist%C3%A3-jesus-religi%C3%A3o-2989425/

FACULDADE INTUITIVA DO HOMEM


Como se pode desenvolver ou adquirir essa faculdade?

[...] Nenhum poder real, nenhuma faculdade poderosa pode aparecer no nosso ser fora das Leis eternas. A Lei primordial, que domina todas as faculdades e todas as percepções, é que o ser deve, antes de tudo, realizar, em si mesmo, uma síntese, uma harmonia, um conjunto que não deixe lugar a nenhuma dissonância. É dessa síntese que resultam os poderes superiores do espírito e do superconsciente; é por ela que podem nascer e se expandir as mais altas faculdades psíquicas. Esses poderes e essas faculdades se encontram em todos os seres, mas, em estado latente; basta realizar as condições de uma harmonia perfeita para que apareçam e, progressivamente, se desenvolvam.

O primeiro ponto que deve realizar aquele que quer iniciar-se nessas faculdades superiores, é criar, em si, essa síntese, essa harmonia: deve ser senhor de seu corpo, senhor de seu espírito, senhor de suas emoções, senhor de seus impulsos. É neste domínio que experimenta o sentimento de sua força, a soberana calma que lhe dá pleno poder em torno, este perfeito equilíbrio sem o qual nenhuma ação é possível. Esse domínio próprio dá uma severidade deliciosa, uma alegria sem sombra e sem limite que não se encontra em outra parte e que é uma das mais altas felicidades acessíveis ao homem. Com isso adquire a força de vencer, não somente nos seus interesses materiais, mas ainda nessas pesquisas apaixonadas que lhe fariam esquecer tudo, se os seus deveres não o solicitassem.

É aí que se encontra a Senda, a única Senda, a única que conduz aos poderes reais, às faculdades estáveis. Aquele que persevera nessa linha de conduta sentir-se-á, dia a dia, mais poderoso, e sua força crescerá à medida que se tornar mais calmo e mais em posse de si mesmo.

A faculdade intuitiva não se pode manifestar, brotar, expandir-se, até dar ao ser uma visão nova e inteiramente diferente da vida, senão quando a calma é obtida. Tocamos aí em um dos mais altos cumes iniciáticos. Os cimos, no ar que os rodeia, são, para nós, a imagem mais perfeita da paz e da estabilidade; mas, esses altos cimos não podem ser escalados se os declives precedentes não forem galgados. É, pois, de primordial necessidade ter, antes de tudo, obtido a calma do corpo, o apaziguamento dos sentimentos, o domínio das emoções, a posse das ideias antes de realizar outra ambição. [...]


Henri Durville



Fonte: do livro "Como Desenvolver as Faculdades Intuitivas", 2004
Ed. Professor Francisco Valdomiro Lorenz - Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento
São Paulo - SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/terceiro-olho-olho-espirituais-2886688/

COMO É QUE EU POSSO CONHECER-ME ?


Como é que eu posso conhecer-me? Não pelo pensamento, pois este só reflete meu consciente, mas pela meditação. A meditação vai além do consciente e penetra o inconsciente. Nela eu me torno cônscio do substrato de meu ser na matéria, na vida, na consciência humana. Posso experimentar minha solidariedade com o universo, com a estrela mais remota do espaço exterior e com as partículas mais ínfimas do átomo. Posso experimentar a união com todas as coisas vivas, com a terra, com estas flores e coqueiros, com os pássaros e esquilos, com todos os seres humanos. Posso ainda ir além de todas as formas externas das coisas no tempo e espaço, e descobrir o Substrato de onde provém. Posso conhecer o Pai, a Fonte e Origem, além do ser e não-ser, o Uno “sem segundo” da filosofia indiana.


Pe. Bede Griffiths, OSB



Fonte: Comunidade Monástica Anglicana - Igreja Anglicana Tradicional do Brasil
https://www.mongesanglicanos.org/pensamentos-semanais-2018
Fonte da Gravura: Grev Kafi (the pseudonym of two symbolist painters, Evdokia Fidel'skaya and Grigoriy Kabachnyi, a married couple, that work in co-authorship)
http://www.grevkafi.org

O RUGIR DA TEMPESTADE


Um dos mais desconcertantes problemas da vida espiritual é o de mantermos nosso interesse em meio às intermináveis dificuldades e aos mais cruéis desafios. É a rotina e monotonia de nossa vida diária que solapa nossa vitalidade e força. A vida da maior parte da humanidade é feita de pequenos fatos e incidentes que podemos chamar de trivialidades da existência. Grandes e extraordinários acontecimentos raramente ocorrem nas vidas de homens e mulheres comuns. Demonstrar entusiasmo por coisas extraordinárias é fácil, porém é extremamente difícil mantê-lo em meio à rotina diária. O maior dos desafios do ser humano consiste na manutenção da integridade espiritual em meio dos detalhes triviais da vida. Manter equilíbrio perfeito de pensamento e emoção entre as provocações incessantes causadas pelos fatos e acontecimentos da existência diária, demanda uma energia que a maioria não está em condições de apresentar. E, além disso, a prova da vida espiritual está no âmbito das atividades comuns e não na esfera de empreendimentos extraordinários.

Foi Emerson quem disse que jamais algo de grandioso fora conseguido sem o entusiasmo. [...] Isso tem sido bem evidenciado nas vidas de inumeráveis aspirantes, que retornaram à existência mundana devido à sua inabilidade em manter o entusiasmo na vida espiritual. Entretanto, o entusiasmo não deve ser confundido com o desempenho eficiente de nossas obrigações. A chamada eficiência do mundo é devida, geralmente, ao cultivo de certos hábitos. Uma vida eficiente não é necessariamente uma vida criadora - muitas vezes é uma vida automática. [...] O entusiasmo por alguma coisa emana de uma condição de profundo interesse.

[...] A dificuldade para a maior parte de nós é que vivemos nossas vidas num nível demasiado superficial; nossos pensamentos e emoções são extremamente rasos. Esta tendência para a superficialidade aumentou enormemente nos últimos tempos devido a uma primazia indevida dada à rapidez. Nossa civilização está num estado de precipitação terrível - embora não saiba para onde corre tanto! Ora, uma vida superficial tem constante necessidade de excitações, sejam materiais ou espirituais. Há um anseio por mais e mais excitações, sensações e entretenimentos.

[..] É quando a vida interna feneceu que as dificuldades objetivas parecem intransponíveis. Assim, é a falta de interesse profundo que arrefece o entusiasmo humano. O ser humano está ressequido por dentro e procura renovação de fora! Nenhuma mudança na condição objetiva, nenhuma alteração na disposição do Karma lhe trará renovação, enquanto não penetrar nas reais profundezas de seu próprio ser.

[...] A experiência de todos os místicos espirituais é de que as dificuldades objetivas são varridas pelo impacto do entusiasmo nascido do interesse profundo. Entusiasmo e interesse profundo são fenômenos conjugados, ou então podemos também dizer que um é a expressão e o outro a fonte. O entusiasmo surge somente num estado de interesse profundo intrinsecamente presente, não de forma relativa, porém absolutamente presente no indivíduo. Realmente significa que o interesse não é por alguma coisa, nem em relação a algo particular. É somente o estado de puro interesse que serve de base para o verdadeiro entusiasmo. O interesse por alguma coisa só produz superficialidade, porque constitui entrave para a mente. Uma sensibilidade apenas por alguma coisa não é de modo algum sensibilidade, porque pelo processo inconsciente da resistência, ela torna a mente insensível a outras coisas. A mente aberta unicamente a uma coisa é uma mente fechada. Assim, a condição de puro interesse é que é essencial para o despertar do entusiasmo. É a mente de grande amplitude que é capaz de interesse profundo. A mente sem amplitude é mente rasa ou superficial. Ter amplitude é ter profundidade para poder receber e reter as influências e os impulsos da vida. A mente rasa recebe pouco e, portanto, também dá muito pouco à vida. Quando o recebimento é escasso, a doação também é pequena, desprovida de toda generosidade.

[...] Porém a questão é: Temos de provocar tormentas e perturbações a fim de criar o entusiasmo de viver? Este remédio parece ser pior do que a doença! Afinal de contas o que é uma tormenta ou uma perturbação? Obviamente, é um desafio da vida. Devido a estes desafios, ficamos perturbados. Mas como no rio da vida correm novas águas a todo o momento, a vida é um desafio incessante. Não há momento em que não exista o desafio da vida.

[...] Não há dúvida de que a vida está constantemente enviando, de maneira incessante, desafios de todos os lados e em diversos níveis. Porém, a mente, através de suas respostas, emanadas das esferas de sua memória, trabalha como um "amortecedor de choques", em relação a estes desafios. É esta atividade da mente que nos leva à passividade. Somos, então, impedidos de enfrentar os desafios da vida, devido à intervenção da mente. A mente está interessada em agir como intermediária, porque só assim pode manter sua continuidade. Devido a essa mediação, nós nem mesmo nos tornamos conscientes dos desafios da vida. Algumas vezes, as suas fortificações desmoronam devido à natureza esmagadora do desafio, porém tais circunstâncias raramente acontecem na vida de uma pessoa comum. A pessoa não percebe os contínuos desafios da vida, devido às barreiras colocadas pela mente entre ela e o seu ambiente. Dessa forma a mente a mantém afastada de um contato direto com a vida.

[...] A maioria de nós está circunscrita a uma existência estagnada. Como haver entusiasmo numa existência assim? Se a mente pudesse receber os desafios da vida, sem emitir qualquer resposta de seus centros de memória, permaneceria viçosa e vital. Da mesma forma como a natureza é purificada pela tormenta que ruge, assim o será a mente humana pelos desafios da vida. Recebê-los, porém não reagir a eles, a partir dos centros de memória, é "ficar impassível" no meio da tempestade, é ficar quieto onde se está, porque qualquer movimento da mente, nesta hora de tormenta, conduzirá o peregrino espiritual a uma confusão cada vez maior.

[...] Mas permanecer impassível numa tormenta requer tremenda coragem. Não resistir à tormenta, nem fugir dela implica em receber em cheio o impacto da tormenta. E ao receber este impacto, o homem fica absolutamente só. O desafio sem resposta é um estado de solidão. Quando uma tempestade ruge na Natureza, cada árvore está sozinha, pois tem que se apoiar em sua própria resistência. Porém naquela solidão, se a árvore não resiste, torna-se mais leve devido à queda das folhas e galhos mortos. Da mesma forma, se a pessoa puder permanecer quieta, sozinha e renovada. E na renovação subjetiva, as dificuldades do ambiente objetivo se dissolverão na atmosfera. A solidão criada pela tormenta está cheia de tremendas possibilidades espirituais. [...]


Rohit Mehta



Fonte: do livro "Procura o Caminho", Ed. Teosófica, Brasília, DF
Fonte da Gravura: Mais Yoga - maisyoga.com