sábado, 7 de junho de 2014

SEU DEUS NÃO É DEUS

Ser teísta ou ateu, para mim, são ambos absurdos. Se você soubesse o que a verdade é, o que Deus é, não seria nem teísta nem ateu, pois nessa conscientização a crença é desnecessária. É o homem que não está consciente, que só espera e supõe, que confia na crença ou na descrença para apoiá-lo, e para levá-lo a agir de um modo particular. Ora, se vocês abordam isto de forma completamente diferente, descobrirão por vocês mesmos, como indivíduos, uma coisa real que está fora das limitações de crenças, fora da ilusão das palavras. Mas isso, a descoberta da verdade, de Deus, exige grande inteligência, que não é afirmação de crença ou descrença, mas o reconhecimento dos obstáculos criados pela falta de inteligência. Assim, para encontrar Deus ou verdade – e eu afirmo que tal coisa existe, eu percebi – para reconhecer isso, para perceber isso, a mente deve estar livre de todos os obstáculos que foram criados através dos tempos, baseados na autoproteção e na segurança. Você não pode se libertar da segurança simplesmente dizendo que está livre. Para penetrar nos muros desses obstáculos, você tem que ter muita inteligência, não apenas intelecto. Inteligência, para mim, é a mente e o coração em total harmonia; e então você descobrirá por si mesmo, sem perguntar a ninguém, o que essa realidade é.


Um homem que crê em Deus nunca pode encontrar Deus. Se você está aberto para a realidade, não pode haver crença na realidade. Se você está aberto ao desconhecido, não pode haver crença nisto. Afinal, crença é uma forma de autoproteção, e só uma mente insignificante pode crer em Deus. Olhem para a crença dos aviadores durante a guerra que diziam que Deus era a companhia deles enquanto lançavam bombas! Então você acredita em Deus quando mata, quando está explorando pessoas. Você adora Deus e vai extorquindo dinheiro cruelmente, apoiando o exército; também diz que acredita em piedade, compaixão, benevolência. Enquanto a crença existir, não pode haver o desconhecido; você não pode pensar no desconhecido, o pensamento não pode medi-lo. A mente é produto do passado, é o resultado do ontem, e pode tal mente estar aberta ao desconhecido? Ela só pode projetar uma imagem, mas essa projeção não é real; assim, seu Deus não é Deus, é uma imagem que você mesmo fabricou, uma imagem de sua própria gratificação. Só pode haver realidade quando a mente compreende a totalidade do processo de si mesma e chega a um fim. Quando a mente está completamente vazia – só então ela é capaz de receber o desconhecido. A mente não está purificada até compreender o conteúdo da relação – sua relação com a propriedade, com pessoas – até ter estabelecido relação correta com todas as coisas. Até compreender a totalidade do processo de conflito na relação, a mente não pode ser livre. Apenas quando a mente está totalmente silenciosa, completamente inativa, não projetando, quando não está buscando e está inteiramente imóvel – só então aquilo que é eterno e infinito surge.





J. Krishnamurti





Fonte: The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal