sexta-feira, 7 de abril de 2023

6ª FEIRA SANTA - CRUCIFICAÇÃO



Fonte: Sociedade Antroposófica no Brasil
https://www.sab.org.br/
Rua da Fraternidade, 156
Sao Paulo, SP 04738020
Brazil

NOTAS DE UM SERMÃO NA SEXTA-FEIRA SANTA (ESOTERISMO CRISTÃO)


A Páscoa é considerada o maior dos festivais cristãos, pois nela é celebrada o mistério da morte e ressurreição de Cristo, Nosso Senhor. Cada dia da Semana Santa possui um significado especial, como se fosse uma preparação para a glória do Domingo de Páscoa, que marca o triunfo da Vida Imortal sobre a morte aparente.

Mas para compreendermos claramente o mistério da Páscoa devemos meditar detidamente sobre o significado da Sexta-feira Santa, também chamada de Sexta-feira da Paixão. Ao nos determos sobre o profundo significado desse dia somos chamados a refletir sobre a misteriosa relação existente entre a morte e a vida.

Nossa percepção do mundo, da vida e de seus múltiplos relacionamentos é viciada pelo viés da separatividade e da dualidade. Não existe espaço em nossa mente para a coexistência de opostos. Acreditamos e insistimos que os opostos são sempre excludentes, contrários e impossíveis de coexistir: ou existe vida ou existe morte, luz ou escuridão, atividade ou repouso, e assim por diante. Mas tal percepção existe apenas na criação imaginária da mente humana, pois a Natureza provê inúmeros exemplos de que os opostos aparentes são partes integrantes de um único movimento que é a Vida Divina.

Na natureza não há separação entre vida e morte; ao contrário, existe uma íntima relação entre ambas. No outono, uma árvore perde todas as suas folhas, que, ao morrerem, estão nutrindo o solo e gerando condições para o advento de nova vida. A morte das folhas está diretamente ligada à regeneração da árvore como um organismo vivo. A menos que haja morte não pode haver nova vida.

A morte que é rememorada na Sexta-feira Santa não é necessariamente a morte física. Jesus, com seu exemplo ímpar, não está convidando seus discípulos para o martírio físico. No curso de nossa evolução como Individualidades reencarnantes morremos centenas de vezes e seguiremos morrendo muitas mais, mas a morte física compulsória, que se dá pela degradação do organismo físico, não traz consigo aquela mudança psicológica fundamental que faz com que o ser humano "renasça" numa nova dimensão, numa esfera de inocência, beleza e santidade, que traz consigo a certeza de que o "Reino do Pai está espalhado sobre a Terra" embora os homens não o vejam.

Algo em nós deve morrer, naturalmente, sem esforço ou intenção, e o que deve morrer é aquela natureza pessoal em nós que, nutrida pelo apego em suas múltiplas formas --- autoimportância, autopreocupação, vaidade, orgulho, presunção etc. --- resiste à verdade essencial da vida, que é unidade, absoluta não-separatividade, ou seja, amor ilimitado e imortal. Quanto mais nos apegamos à nossa segunda natureza, à nossa falsa identidade (o eu pessoal) mais nos alienamos da gloria da vida, aumentando assim nosso sofrimento e o dos demais.

Em João 12,23, Jesus comunica a seus discípulos aquele que talvez seja o ensinamento central do Mistério Pascal: "Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morrer permanecerá só; mas se morrer produzirá muito fruto. Quem ama sua vida a perde e quem odeia sua vida neste mundo guarda-la-á para a vida eterna. Se alguém quer servir-me, siga-me, e onde estou eu, aí também estará o meu servo."

Seguir a Cristo significa ouvir seu chamado nas profundezas de nossos corações e consagrar cada dia de nossas vidas ao serviço do mundo, pois é somente servindo de forma desinteressada que nos livramos da ilusão do "eu" e do "meu".



Rvmo. Pedro Rogério Moreno de Oliveira
Capela de São Miguel e Todos os Anjos
Adyar, Madras, Índia
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/gr%c3%a1fico-calv%c3%a1rio-p%c3%a1scoa-4072597/

O SACRIFÍCIO DA EUCARISTIA


Sacrifício da Eucaristia, um símbolo do Sacrifício eterno, o sacrifício diário da Igreja Católica em todo o mundo, espelhando o Sacrifício eterno pelo qual os mundos foram feitos, e pelo qual são eternamente mantidos. Por ser perpétua a existência do seu arquétipo, deve ser ele oferecido diariamente, e, para essa celebração, os homens põem em ação a própria Lei do Sacrifício, com ela se identificando, reconhecendo-lhe o caráter de unificação e voluntariamente se associando a ela na ação que exerce nos diferentes mundos.

Esta grande função do culto Cristão perde sua força e significado quando é considerada nada mais que uma mera comemoração de um sacrifício passado, como uma alegoria figurada sem uma verdade profunda que o anime, como uma partilha do pão e do vinho sem uma participação no Sacrifício eterno. Vê-la assim é torná-la uma mera concha, uma imagem morta em vez de uma realidade viva.

Todos os que comem de um sacrifício se tornam partícipes de uma natureza comum, e são reunidos num só corpo*, que está unido e participa da natureza do Ser que está presente no sacrifício. Aqui está envolvido um fato do mundo invisível... Seres invisíveis derramam sua essência nos materiais usados em qualquer rito sacramental, e aqueles que compartilham destes materiais - que são assimilados pelo corpo e passam a fazer parte de seus constituintes - são por isso unidos àqueles cuja essência está neles, e todos compartilham de uma mesma natureza.

Se entendermos o significado e uso da Eucaristia devemos compreender estes fatos dos mundos invisíveis, e deveremos ver nela um elo entre o terreno e o celeste, bem como um ato de adoração universal, uma co-operação, uma associação, com a Lei do Sacrifício, senão ela perde grande parte de sua significância.

O pão permanece como o símbolo geral para a comida que constrói o corpo, e o vinho como símbolo do sangue, considerado como o fluido vital, "pois a vida da carne está no sangue" (Levítico, XVII, 11). Na Eucaristia os adoradores participam do pão, simbolizando o corpo, a natureza, de Cristo, e do vinho, simbolizando o sangue, a vida do Cristo, e se tornando parte da Sua família, unos com Ele.

A Palavra de Poder é a fórmula "Este é o Meu Corpo", "Este é o Meu Sangue". Isto é o que produz a mudança..., e transforma os materiais em veículos para energias espirituais. O Sinal de Poder é a mão estendida sobre o pão e o vinho, e o Sinal da Cruz feito sobre eles. Estas são as partes externas essenciais do Sacramento da Eucaristia.

É importante entendermos a mudança que tem lugar neste Sacramento, pois ela á mais do que a magnetização..., embora ela também ocorra. Temos aqui um exemplo particular de uma lei geral.

Para o ocultista, uma coisa física é considerada como a expressão última, física, de uma verdade invisível. Tudo é uma expressão física de um pensamento. Um objeto não passa de uma ideia externalizada e densificada. Todos os objetos no mundo são ideias Divinas expressas na matéria física. Sendo assim, a realidade do objeto não está em sua forma exterior, mas em sua vida interna, na ideia que o modelou numa expressão de si mesma. Nos mundos superiores, sendo a matéria ali muito sutil e plástica, ela conforma-se rapidamente à ideia, e muda de forma quando o pensamento muda. À medida que a matéria se torna mais densa, mais pesada, ela muda mais lentamente, até que no mundo físico as mudanças estão em seu ponto mais lento, em consequência da resistência da matéria de que o mundo físico é composto.

Esta é a verdade que subjaz àquilo que é chamado de doutrina da Transubstanciação...  A "substância" que é alterada é a ideia que faz uma coisa ser o que é; "pão" não é meramente farinha e água; a ideia que governa a mistura, a manipulação da farinha e da água, esta é a "substância" que o faz ser "pão", e a farinha e água são o que se chama tecnicamente de "acidentes", os arranjos de matéria que dão forma à ideia. Com uma ideia, ou substância, diferente, a farinha e a água tomariam uma forma diferente, como o fazem quando são assimiladas pelo corpo. Assim também os químicos descobriram que o mesmo tipo e o mesmo número de átomos químicos pode ser arranjado em diferentes maneiras e se tornar assim coisas inteiramente distintas em suas propriedades, embora os materiais não tenham sido mudados.

O que, então, é esta mudança de substância nos materiais usados na Eucaristia? A ideia que faz o objeto foi mudada; em seu estado normal o pão e o vinho são alimentos, expressivos das ideias divinas de objetos nutritivos, objetos adequados á construção dos corpos. A ideia nova é a da natureza e vida de Cristo, adequada para a construção da natureza e vida espirituais do homem. Esta é a mudança de substância; o objeto permanece inalterado em seus "acidentes", seu material físico, mas a matéria sutil associada a ele mudou sob a pressão da ideia alterada, e por esta mudança novas propriedades são lhe comunicadas. Elas afetam os corpos sutis dos participantes, e os sintonizam na natureza e vida do Cristo. Da "dignidade" do participante depende a extensão em que ele poderá ser sintonizado.

Deste modo tem sido ensinado verdadeiramente na Igreja que aqueles que corretamente tomam parte na Eucaristia desfrutam de uma participação na vida Crística derramada para os homens. A transmutação do inferior no superior é o objetivo deste Sacramento. A mudança da força inferior por sua união com a superior é o que é buscado por aqueles que nela participam; e aqueles que conhecem a verdade interna, e compreendem o fato da vida superior, podem, em qualquer religião, através de seus sacramentos, entrar em contato mais pleno e completo com a Vida divina que sustém os mundos, se eles levam ao rito a atitude receptiva, o ato de fé, o coração aberto, que são necessários para a possibilidade do Sacramento ser realizado.

* Companheirismo - conforme Alice A. Bailey, em seu livro "De Belém ao Calvário". Ver texto em https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2023/04/a-eucaristia-e-o-companheirismo.html (Nota deste blog)



Annie Besant




Fonte: do livro "O Cristianismo Esotérico"
Ed. Pensamento, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/religi%c3%a3o-eucaristia-eucar%c3%adstico-1990055/