Alguém viveu uma vida individualista, preocupado consigo mesmo e com os seus problemas. Esses problemas nunca acabam, eles aumentam. A pessoa viveu esse tipo de vida. Ela foi criada, educada, condicionada para esse tipo de vida. Você se aproxima como amigo e me diz: “Olhe, sua consciência não é sua; você sofre como as outras pessoas sofrem”. Eu escuto isso e não rejeito o que você diz, pois isso tem sentido, é razoável, e percebo que no que você me disse pode haver paz no mundo. E digo para mim mesmo: “Posso livrar-me do medo?” Percebo que sou responsável, completamente, pela totalidade da consciência. Percebo que, quando estou investigando o medo, estou ajudando a totalidade da consciência humana a reduzir o medo. (The Network of Thought, pp. 70-71)
Medo e prazer são os dois lados de uma moeda: você não pode livrar-se de um, sem se livrar do outro também. Você quer ter prazer toda a vida e também ficar livre do medo – é só com isso que você se preocupa. Mas você não vê que fica frustrado se o prazer de amanhã lhe for negado, você se sente irrealizado, raivoso, ansioso e culpado, e todos os sofrimentos psicológicos vêm à tona. Portanto, você deve olhar para o medo e para o prazer juntos. (The Impossible Question, pp. 50-51)
Estivemos considerando o problema do medo. Vimos que a maioria de nós tem medo, e que o medo impede a iniciativa, porque faz com que nos apeguemos às pessoas e às coisas, da mesma forma que uma planta trepadeira se apega a uma árvore. Apegamo-nos aos pais, aos maridos, aos filhos, às filhas; às esposas e às nossas posses. (…) (O Verdadeiro Objetivo da Vida, pp. 30-31)
(…) Esta é a forma exterior do medo. Estando interiormente amedrontados, receamos ficar sós. Podemos ter muitas roupas, jóias ou outras propriedades; mas, interiormente, psicologicamente, estamos muito pobres. Quanto mais pobres interiormente, tanto mais procuramos enriquecer exteriormente, apegando-nos a pessoas, a uma posição, às propriedades. (Idem, p. 31)
Que entendemos por medo? Medo de que? Medo de não ser? Medo do que sois? Medo de perder, de ter prejuízo? O medo, quer consciente, quer inconsciente, não é abstrato: ele só existe em relação com alguma coisa. (…) Temos medo de estar inseguros (…) economicamente (…) interiormente. Isto é, tememos a solidão, (…) o ser nada (…) (Por que não te Satisfaz a Vida?, p. 32)
Desejo falar sobre o medo, porque o medo perverte todos os nossos sentimentos, pensamentos e relações. É o temor que impele a maioria de nós a tornar-nos (…) “espiritual”; é ele que nos impulsiona para as soluções intelectuais que tantos oferecem; é ainda o temor que nos leva a praticar ações estranhas e peculiares. (…) O medo existe por si só? Ou só há medo em consequência do pensamento (…)? (O Passo Decisivo, p. 234)
Assim, o que agora me cabe inquirir é como ficar livre do temor inspirado pelo conhecido, que é o temor de perder minha família, minha reputação, meu caráter, meu depósito no banco, meus apetites, etc. Direis que o temor surge da consciência; mas vossa consciência é formada pelo vosso condicionamento, pode ser insensata ou sensata; a consciência, pois, também é resultado do conhecido. (…) (Que Estamos Buscando?, p. 94)
Existe temor enquanto há acumulação do conhecido, que gera o medo de perder. Por conseguinte, o temor do desconhecido é, na realidade, o medo de perder o conhecido, por nós acumulado. A acumulação, invariavelmente, importa em temor, o qual por sua vez importa em sofrimento; (…) (Idem, p. 95)
Nasce o temor quando desejo permanecer em determinado padrão. Viver sem temor significa viver sem padrão algum. Quando desejo determinada maneira de viver, esse desejo, em si, é uma fonte de temor. (…) Não posso quebrar o molde? Só posso quebrá-lo ao perceber essa verdade; que o molde está causando temor, e que o temor está reforçando o molde. (…) (Idem, p. 96)
O medo é tempo psicológico. Não há medo, quando não temos o tempo psicológico. (…) Nasce o medo quando o pensamento se projeta no futuro, ou se compara com o que ele próprio foi no passado. Psicologicamente, o tempo é pensamento, tanto consciente como inconsciente; e é o pensamento que cria o medo. (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., p. 22)
(…) O medo está sempre em relação com alguma coisa, não existe sozinho. Temos medo do que ontem sucedeu e que pode repetir-se hoje. (…) O pensar a respeito da dor de ontem “projeta” o medo de tornar a senti-la amanhã. Por conseguinte, é o pensamento que produz o medo. O pensamento gera o medo, e também cultiva o prazer. Para compreenderdes o medo, precisais compreender também o prazer, ambos estão relacionados. (Fora da Violência, p. 60-61)
Há medo do escuro (…) do marido ou da mulher, ou do que os “outros” dizem, ou pensam ou fazem; medo da solidão ou do vazio da vida, do tédio (…); medo do futuro, da incerteza e insegurança do amanhã (…); (…) da morte, do findar da vida. Há temores em inúmeras formas – tanto neuróticos, como racionais, sãos. (…) A maioria de nós teme neuroticamente o passado, o hoje e o amanhã; de maneira que o tempo está implicado no medo. (Fora da Violência, p. 58)
Há não só temores conscientes, (…) mas também temores profundamente jacentes, ocultos nos recessos profundos da mente. Como investigar tanto os temores conscientes como os ocultos? O medo, por certo, é um movimento de afastamento de “o que é”; é fuga, evasão, evitação da realidade, de “o que é”. Essa fuga é que produz o medo. Também, quando há qualquer espécie de comparação, cria-se medo (…) O medo, pois, se encontra no movimento de afastamento do real. (…) (Idem, p. 58)
O medo destrói a liberdade. (…) O medo perverte todo pensamento, destrói toda relação. (…) Medo da opinião pública, (…) de não ser bem sucedido, medo da solidão, (…) de não ser amado; e há ainda o comparar-nos a nós próprios com o herói do que “deveria ser” (…) (O Mundo Somos Nós, p. 114)
O temor existirá sob diferentes formas, grosseira ou sutilmente, enquanto existir o processo auto-ativo da ignorância, gerado pelas atividades de carência. (…) Se existir medo não pode haver inteligência, e, para despertar a inteligência, é preciso compreender plenamente o processo do “eu” na ação. (Palestras em Ommen, Holanda, 1936, p. 41-42)
J. Krishnamurti
Fonte: http://www.jkrishnamurti.org/pt
Fonte da Gravura:
http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/16865761/Jiddu-Krishnamurti.html
http://fightlosofia.com/krishnamurti-en-imagenes-krishnamurti-in-pictures/